sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Remédios comuns podem aumentar riscos à saúde em dias de calor extremo

As ondas de calor provocadas pelas mudanças climáticas estão se tornando mais intensas, desafiando até mecanismos que o corpo utiliza para regular a temperatura. No calor, o organismo transpira, aumenta o fluxo sanguíneo para a pele e altera os balanços de fluidos corporais para tentar nos resfriar. Entretanto, alguns medicamentos comumente prescritos para condições crônicas de saúde interferem nesses processos, dificultando a manutenção da temperatura corporal saudável.

“Nessas ondas de calor, há um aumento muito grande de mortalidade de pessoas idosas, de pacientes portadores de doenças crônicas e de crianças na primeira infância. São os chamados grupos vulneráveis ao calor extremo”, relata o médico clínico Henrique Grunspun, presidente do Centro de Bioética do Einstein Hospital Israelita.

As consequências desses episódios podem ser até fatais. “Nas ondas de calor extremo, quando as temperaturas ficam acima de 5 °C da média de máximas da região por quatro dias seguidos, há o risco de pacientes do grupo vulneral sofrerem hipertermia. Isso ocorre quando a temperatura corporal fica acima de 40 graus e aumenta o risco de desenvolver um colapso neurocirculatório por calor. Essa condição é muito grave e de alta mortalidade”, completa Grunspun.

<><> Medicamentos que elevam a vulnerabilidade

A lista de fármacos que prejudicam a termorregulação inclui diversas medicações. Entre elas estão os remédios diuréticos, muito usados no tratamento da pressão alta e de problemas no rim, mas que podem aumentar a sensibilidade a altas temperaturas. "Em períodos de muito calor, quando o corpo já está perdendo líquidos pelo suor, esses medicamentos podem causar queda de pressão e até desmaios”, explica a farmacêutica sanitarista Maria Fernanda Barros, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA).

Já os medicamentos para controlar a pressão arterial, usados para tratar várias condições cardíacas, podem causar a redução da sensação de sede, tornando os pacientes mais propensos à desidratação. Eles ainda reduzem a capacidade de dilatação dos vasos sanguíneos, prejudicando a capacidade do corpo de dissipar calor.

Pessoas que sofrem com diabetes também podem ter problemas em dias muito quentes. A metformina e os inibidores SGLT2 geram mais risco de desidratação por aumentarem a perda de líquidos do corpo, tornando os sintomas precoces da hipertermia mais difíceis de detectar. Além disso, o aumento de temperatura afeta a eficácia da insulina, o que pode comprometer o tratamento, se não for bem acondicionada.

Muitos pacientes com transtornos psiquiátricos e neurológicos também sofrem com interferências nos mecanismos de regulação da temperatura corporal por conta de seus tratamentos. “O efeito nesses casos é duplo: reduz o suor e a sede. Quanto menos suor, menor dissipação de calor. Além disso, a menor percepção de sede gera menor reposição de líquidos, o que reduz ainda mais a capacidade de suar, aumentando o risco de desidratação”, explica a farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP.

E alguns remédios, por si só, aumentam a temperatura corporal. É o caso dos anticolinérgicos, usados no tratamento da doença de Parkinson, que podem elevar em até meio grau a temperatura corporal média. Os estimulantes usados nos transtornos de atenção também aumentam a temperatura corporal, entre eles a quetiapina.

Indivíduos com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tendem ter uma temperatura corporal mais alta, especialmente na infância, devido à hiperatividade. Essa característica pode ser intensificada com o uso de algumas medicações, como o metilfenidato.

<><> Prevenção e atenção comunitária

Esses efeitos, porém, não devem servir como motivo para interromper qualquer tratamento. Sobretudo quando não há uma recomendação médica nesse sentido. “É importante ressaltar que as condições apresentadas não ocorrem necessariamente com todos os indivíduos, devendo ser levados em conta fatores como doenças pré-existentes e outros medicamentos usados”, frisa a farmacêutica Karin Juliana Bitencourt Zaros, do CRF-PR.

Para reduzir riscos, o médico do Einstein, ainda destaca medidas práticas. “É preciso garantir ambientes ventilados, hidratação constante e evitar exposição solar prolongada”, orienta Henrique Grunspun. Isso vale especialmente para idosos que moram sozinhos ou em instituições.

Aqueles que convivem com pessoas desses grupos de risco também devem ter atenção aos sinais de hipertermia nos dias de calorão. “Vizinhos, familiares e serviços comunitários podem ajudar a monitorar idosos e pacientes psiquiátricos em dias de calor extremo para contribuir na prevenção de doenças relacionadas ao calor nesses grupos vulneráveis", sugere o médico.

•        OMS alerta sobre remédios que afetam segurança na direção; veja quais são

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou diversos alertas recentes sobre a epidemia de transtornos mentais registrada atualmente e que inclui quadros como ansiedade e depressão. O cenário se agrava diante de casos de automedicação, prática comum em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil.

O que nem todos sabem é que o simples uso de um antidepressivo, de um ansiolítico, de um anti-inflamatório ou mesmo de um antialérgico pode comprometer a capacidade de guiar um veículo com segurança. O alerta foi feito durante o 16º Congresso Brasileiro de Medicina do Tráfego, em Salvador.

De acordo com o diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), Adriano Isabella, uma diretriz recente editada e publicada pela entidade lista e classifica medicamentos que podem comprometer a capacidade do motorista de conduzir um veículo com segurança.

“O ato de dirigir é um ato complexo e envolve exatamente a coordenação dos sentidos humanos”, disse, ao citar a capacidade de cognição e a função motora do condutor.

“O uso de determinados medicamentos aumenta e muito o risco de sinistros indesejáveis no trânsito”, completou.

Segundo o diretor, diversos fatores influenciam na intensidade e na duração dos efeitos de medicamentos que podem comprometer a condução de um veículo, incluindo a capacidade de metabolização, a idade, o peso, a dose, o horário em que o remédio foi tomado e a combinação com álcool.

<><> Analgésicos

Condutores que utilizam ácido acetilsalicílico não se envolvem mais significativamente em sinistros automobilísticos. Testes de desempenho cognitivo e de habilidades psicomotoras também não demonstraram comprometimento significativo do desempenho de motoristas em uso de paracetamol.

Já no caso de opióides, estudos epidemiológicos constataram resultados estatisticamente significativos da relação entre os medicamentos e sinistros de trânsito. O risco chega a ser oito vezes maior para ferimentos graves e cinco vezes maior para morte.

<><> Relaxantes musculares

Os efeitos do carisoprodol foram avaliados em simuladores de direção, constatando-se sedação, raciocínio lento e falha de atenção. Além disso, o prejuízo da psicomotricidade é subestimado e, muitas vezes, não percebido pelo condutor.

Há risco de envolvimento em acidentes de trânsito com vítimas logo na primeira semana de uso.

No caso da ciclobenzaprina, foram constatados efeitos adversos no desempenho da condução, como sonolência, visão turva, equilíbrio e coordenação motora prejudicados e confusão mental.

<><> Ansiolíticos, sedativos e hipnóticos

No caso dos benzodiazepínicos, foi constatado aumento significativo de risco de envolvimento em sinistros automobilísticos. A estimativa é que 2% da população adulta brasileira utilize esse tipo de medicação.

Testes de direção sob o efeito de buspirona comprovaram que não há alteração no desempenho do condutor. Há evidências consistentes de que hipnóticos Z têm efeitos prejudiciais para a condução veicular segura.

<><> Antidepressivos

No caso de tricíclicos, há maior risco de sinistros automobilísticos, sobretudo em condutores idosos. Mesmo doses baixas noturnas comprometem o desempenho na condução desde o primeiro dia de uso de forma similar ao que é observado em motoristas que consumiram álcool.

Já os inibidores seletivos de serotonina, em geral, são bem tolerados quanto aos efeitos colaterais. No caso da trazodona, efeitos colaterais significativos na condução veicular, como perda de memória, sedação, sonolência e alterações cognitivas e motoras.

<><> Antialérgicos

Anti-histamínicos de primeira geração (difenidramina, tripolidina, terfenadina, dexclorfeniramina, clemastina) prejudicam significativamente o desempenho ao dirigir.

Os de segunda geração (cetirizina, loratadina, ebastina, mizolastina, acrivastina, emedastina, mequidazina) também podem prejudicar o desempenho, mas com diferenças de pessoa para pessoa.

Já os de terceira geração (fexofenadina, desloratadina, levocetirizina) não produzem comprometimento após o uso.

<><> Antipsicóticos

A maioria é sedativo e tem potencial para afetar negativamente as habilidade de condução.

<><> Canabinóides

Entre os produtos medicinais provenientes da cannabis, muitos contêm THC, canabinóide com propriedades psicoativas que prejudicam a capacidade de conduzir um veículo devido aos efeitos na cognição, na função visual e na coordenação motora, que podem persistir por várias horas.

 

Fonte: Agencia Einstein/Agencia Brasil

 

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