José
Reinaldo Carvalho: O enterro da democracia - Violência autorizada por Hugo
Motta expõe escalada autoritária
Na
tarde desta terça-feira (9), cenas de violência tomaram o plenário da Câmara
dos Deputados, em episódio que marcará indelevelmente a data como o dia da
vergonha parlamentar.
A
atuação do presidente da Câmara, o deputado Hugo Motta, é reveladora de um
estilo fascistoide, que não se detém no uso da força e no recurso a práticas
autoritárias no exercício do cargo.
O
tumulto teve início quando agentes de segurança da Câmara, obedecendo a ordens
diretas da presidência, retiraram de maneira brutal o deputado Glauber Braga,
que fazia na mesa diretora um legítimo protesto em defesa do seu mandato. O
parlamentar, um dos nomes mais combativos da esquerda, foi agarrado pelo
pescoço, sufocado até perder momentaneamente a respiração e acabou arrastado
para fora da Mesa Diretora e do plenário. Outros deputados também sofreram
agressões e precisaram de atendimento no Serviço Médico da Casa, assim como o
principal agredido.
O que
se viu não foi um episódio isolado. A escalada autoritária de Hugo Motta,
produto de um conchavo político costurado por seu antecessor e sustentado pela
direita mal chamada de centrão, ficou ainda mais evidente com a proibição do
acesso da imprensa ao plenário no momento da ação truculenta. A tentativa de
impedir o registro audiovisual das agressões reforçou a combinação de violência
e censura, numa atmosfera que remeteu a práticas de tempos sombrios da história
brasileira, os tempos da ditadura militar.
O
chefete do centrão que preside a casa legislativa agiu como carniceiro de
Glauber. Este mesmo deputado de proveta agiu como cordeiro, quando se acovardou
há quatro meses, durante a ocupação por deputados do centrão e da
extrema-direita da mesa e do plenário da Câmara para impedir votações que
contrariavam seus interesses. À época, o grupo bloqueou a Mesa Diretora,
impediu o andamento dos trabalhos legislativos e exigiu a retirada de projetos
que tratavam da responsabilização de aliados políticos. A ação se deu à luz do
dia, diante dos servidores e da imprensa, e só terminou após intensa
negociação. Hugo Motta adotou então postura complacente e submissa aos
agressores do regimento e das normas democráticas, sem acionar qualquer medida
enérgica contra eles.
A
discrepância entre a docilidade exibida diante da ocupação e a violência
empregada contra Glauber Braga nesta terça-feira revela a instrumentalização do
poder interno da Câmara para atender aos interesses de uma coalizão entre a
extrema-direita e setores do centrão.
O
episódio desta terça-feira também foi marcado por ameaças vociferadas por
deputados da extrema-direita contra os progressistas que tentaram proteger
Glauber dos esbirros ordenados por Hugo Motta.
A
agressão contra Glauber Braga ocorre no contexto da manobra conduzida por Motta
para pautar simultaneamente os processos de cassação do próprio Glauber e dos
bolsonaristas foragidos Eduardo Bolsonaro, Alexandre Ramagem e Carla Zambelli.
A ação faz parte também do golpe legislativo destinado a pavimentar uma anistia
ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que se encontra preso por intentona golpista.
Anistia maquiada sob o eufemismo de “dosimetria de penas”.
A
condução antidemocrática de Motta e seu vínculo com a extrema direita alimentam
denúncias de que a Câmara já opera sob um regime interno de exceção, no qual
regras são reinterpretadas para favorecer aliados e intimidar adversários.
Diante
da sucessão de abusos, é inevitável que cresça a pressão para que Hugo Motta
deixe o comando da Câmara dos Deputados. Para setores democráticos, sua
permanência representa o avanço de um modelo de controle autoritário sobre o
Legislativo, calcado na força e em acordos com blocos como o centrão e a
extrema-direita , que nos temas fundamentais atuam de forma coordenada.
Sob
Hugo Motta a Câmara se tornou o sepulcro da democracia.
A crise
desta terça-feira permanecerá como um marco do agravamento de uma crise
institucional e evidencia os riscos de uma Câmara submetida ao arbítrio de seu
presidente, num momento em que decisões importantes para o país dependem da
preservação da normalidade democrática.
• Hugo, Motta tua cara. Por Oliveiros
Marques
Hugo,
Motta tua cara. Quero ver quem paga pra gente te ver assim. Hugo, qual é o teu
negócio, o nome do teu sócio? Ontem, a Câmara dos Deputados ofereceu ao país um
espetáculo que faria corar até os roteiristas mais ousados do absurdo. Foi um
recorde de escárnio em 24 horas. Um deboche explícito, sem maquiagem, sem
vergonha, sem pudor.
Com sua
atitude - covarde, que fique registrado nos anais - o presidente da Câmara
comunica ao Brasil que chutar a bunda de um provocador otário que insultou a
mãe de um parlamentar é igual ou até mais grave que o conjunto da obra de Carla
Zambelli: invadir sistema do Judiciário, manipular informações, perseguir
armada um cidadão pelas ruas de São Paulo e transformá-las num palco de
violência política. Na lógica de Hugo Motta, defender a honra de uma mãe pesa
mais do que atentar contra o Estado Democrático de Direito.
Mas
Hugo vai além. Ele diz ao país que participar da destruição das sedes dos Três
Poderes, ferir policiais legislativos e patrocinar a quebradeira golpista de 8
de janeiro - o caso do deputado Alexandre Ramagem - é, curiosamente, menos
grave do que Glauber Braga reagir ao ataque sórdido de um provocador.
É
impressionante o esforço para proteger uns e sacrificar outros. Carla Zambelli
e Alexandre Ramagem, já condenados pela Suprema Corte brasileira, estão
foragidos, um vivendo vida mansa em condomínios de luxo, enquanto deveria pesar
sobre eles não a expectativa de fuga, mas de julgamento. Há meses repousa, em
clima de spa institucional, sobre a mesa da Presidência da Câmara o cumprimento
da decisão judicial que determina a cassação dos mandatos de ambos. E Hugo
Motta? Nada. Nem um gesto. Nem um sopro. Apenas a repetição de uma omissão que,
vale lembrar, configura crime: descumprir ordem judicial não é opinião - é
ilícito.
Ao
mesmo tempo, Motta se mantém em absoluto silêncio sobre o comportamento de
Eduardo Bolsonaro, que, confortavelmente instalado nos Estados Unidos,
dedica-se dia sim, dia também, a atacar a democracia brasileira, a soberania
nacional e instituições do Estado e obstruir a Justiça, num regime de traição
permanente. Mas Hugo, que mostra a sua cara, mas não nos conta quem paga, finge
não ouvir.
Trata-se
- e aqui é importante reconhecer - de uma coreografia que não nasce do
improviso. Ela é deliberada. E é por isso que temo que a sorte de Glauber Braga
já esteja lançada. O Conselho de Ética, manejado convenientemente pela maioria
governada por Motta, preparou o prato principal para o banquete: a cassação de
Glauber como oferenda aos abutres de plantão.
E por
quê? Simples. Porque, inevitavelmente, Zambelli e Ramagem serão cassados, por
tratar-se de decisão judicial, realidade que Hugo tenta adiar. Diante disso,
entregar a cabeça de Glauber vira gesto político compensatório: se perde dois,
sacrifica um do outro lado para equilibrar o baralho - ou, melhor dito, para
manter o balcão funcionando.
A
diferença de tratamento é acachapante. É pedagógica. É brutal. Para Glauber,
quando ocupou a cadeira da Presidência da sessão, sanção exemplar, castigo
imediato, régua moral esticada ao limite. E com absoluta truculência e
violência. Para os representantes da direita, que praticaram o mesmo ato - ou
pior - houve tapete vermelho, risos contidos e espírito de tolerância
republicana, aquela que só existe quando convém. E tudo isso depois do episódio
dantesco de expulsar jornalistas do plenário com truculência, num gesto que
deixaria saudoso qualquer regime que despreza a luz da imprensa.
Restará,
diante desse carnaval de arbitrariedades, a judicialização. Não há dúvida de
que a decisão do Conselho de Ética e do Plenário - absolutamente
inconsistentes, desmedidas e politicamente manipuladas - será contestada. E
esgotada a via institucional, restará o que sempre restou nas horas mais
sombrias da história: a defesa do mandato no tribunal das ruas e das redes,
porque, como ensinou a velha Europa em sua pior noite, Hitler também cassou
opositores com argumentos supostamente legais, valendo-se do Decreto do
Incêndio do Reichstag.
A
história adora repetir seus avisos. O problema é que nem sempre gostamos de
ouvi-los.
• "Canalhas, canalhas,
canalhas". Por Pedro Maciel
A frase
"Canalhas! Canalhas! Canalhas!" foi dita por Tancredo Neves durante o
golpe de 1964, ele usou a expressão contra o Senador Auro de Moura Andrade, que
declarou vaga a presidência em 1964, durante o golpe militar.
O
Senador Auro, de maneira mentirosa e vil, declarou vaga a presidência da
república, alegando que Joao Goulart havia deixado o país, quando na verdade
ele estava voando do Rio Grande do Sul para Brasília.
Mais
recentemente a frase foi dita pelo então senador Lindbergh Farias (PT-RJ) em
2016, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, para protestar
contra o que ele via como uma injustiça política e um atentado à democracia,
usando a fala de Tancredo para condenar os que apoiavam o afastamento da
presidenta.
Escrevo
esse artigo para dizer para o presidente Hugo Motta que ele agiu como um
canalha, além de quebrar a ética e o decoro, além de tratar situações muito
parecidas de forma distinta (me refiro à ocupação da mesa pela extrema-direita
por 48 horas, cuja solução foi pacientemente negociada, e a decisão de mandar
agredir deputados e deputadas ontem).
A
atitude do Presidente da Câmara do Deputados ao chamar a Policia Legislativa
para retirar à força o deputado Glauber Braga da mesa diretora - que, por sua
vez, não tinha nada que criar todo aquele caso -, mandar desligar o sinal da TV
Câmara e expulsar jornalistas do Plenário da Câmara, também merecem ser
qualificadas como canalhices de um jovem deputado que, mesmo sem vivência
necessária, ocupa a presidência da casa que já foi presidida por Ulisses
Guimarães.
Não vou
discutir nesse momento o mérito, ou demérito, da tal Lei da Dosimetria, pois, o
Presidente da Câmara dos Deputados tem o poder de definir a pauta de votações,
presidir as sessões, desempatar votações, distribuir projetos em comissões,
gerenciar a administração da casa, convocar o congresso em conjunto, promulgar
emendas, além de ter um papel crucial na análise de impeachments, sendo o
segundo na linha de sucessão do Presidente da República, mas Hugo Motta é, a
meu juízo, o pior e mais negativo presidente da câmara desde Eduardo Cunha e,
também, com a devida vênia, creio que ele não reúne mais condições éticas de
presidir a casa; ele deveria renunciar e novas eleições serem convocadas para,
de forma consensual, ser colocado um adulto sentado na presidência.
O
presidente Hugo Motta claramente descumpriu o artigo 5º do Código de Ética e
Decoro Parlamentar, pois, atenta contra o decoro parlamentar: “III – praticar
ofensas físicas ou morais nas dependências da Câmara dos Deputados ou
desacatar, por atos ou palavras, outro parlamentar, a Mesa ou Comissão ou os
respectivos Presidentes;”, bem como “IV – usar os poderes e prerrogativas do
cargo para constranger ou aliciar servidor, colega ou qualquer pessoa sobre a
qual exerça ascendência hierárquica, com o fim de obter qualquer espécie de
favorecimento;”, e, salvo melhor juízo, o presidente praticou essas duas
faltas, pelo menos essas duas, além de passar boa parte da sessão de ontem
debochando daqueles que se indignaram com suas atitudes.Além de haver dado de
ombros a vários dispositivos constitucionais, o jovem presidente Hugo Motta
também descumpriu o artigo 5º da Lei 12.527/2001, que prevê se “...dever de o
Estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueada, mediante
procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de
fácil compreensão.”, a face autoritária e simpática ao golpista que não nos
serve foi revelada.
Hugo
Motta é apenas mais um canalha, colocado na cadeira de presidente da Câmara dos
Deputados, um canalha que não reúne mais condições de presidir a Casa.
Essas
são as reflexões que compartilho.
Fonte:
Brasil 247

Nenhum comentário:
Postar um comentário