Flávio
Bolsonaro candidato? O vai e vem de senador na corrida pela Presidência
O
anúncio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na semana passada de que foi
escolhido por seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para disputar a
Presidência da República na próxima eleição, em 2026, teve grandes repercussões
nos mundos da política e economia.
Inicialmente,
na sexta-feira da semana passada (5/12), Flávio Bolsonaro falou na
"honra" que seria poder dar "continuidade ao nosso projeto de
nação". Mas o senador sugeriu que sua candidatura à Presidência pode não
chegar ao fim.
Ele
falou — sem dar maiores detalhes — que existe um "preço" para que ele
desista.
"Tem
uma possibilidade de eu não ir até o fim e eu tenho preço para isso. Eu vou
negociar. Tem um preço para não ir até o fim", disse ele. "Imagina
quanto custa. Quero que vocês pensem o que está em jogo no Brasil e quanto
custa retirar a minha candidatura."
Na
noite de domingo, em entrevista à TV Record, o senador disse que sua
candidatura à Presidência "não é um balão de ensaio".
"Meu
preço é justiça. E não é só justiça comigo. É justiça com quase 60 milhões de
brasileiros que foram sequestrados, estão dentro de um cativeiro, nesse
momento, junto com o presidente Jair Messias Bolsonaro. Então, óbvio que não
tem volta. A minha pré-candidatura à Presidência da República é muito
consciente", afirmou.
Ele
disse que a única forma de desistir de sua candidatura à Presidência "é se
Bolsonaro estiver livre, nas urnas, caminhando com seus netos, filhos de
Eduardo Bolsonaro, pelas ruas de todo o Brasil. Esse é meu preço".
Flávio
afirmou na entrevista que vai se reunir nesta segunda-feira (9/12) com os
presidentes do União Brasil, Antônio Rueda, do Progressistas, Ciro Nogueira, e
do PL, Valdemar Costa Neto, para discutir a sua candidatura. Segundo ele, o
presidente do Republicanos, Marco Pereira, foi convidado, mas não confirmou
participação.
Analistas
políticos acreditam que a candidatura de Flávio divide a direita brasileira,
potencialmente reduzindo as possibilidades de vitória em uma disputa contra o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2026.
Diversos
políticos de direita — incluindo governadores — buscam herdar os votos do
ex-presidente Jair Bolsonaro desde que ele foi declarado inelegível por abuso
de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, em decisão do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023. No mês passado, Jair Bolsonaro
começou a cumprir sentença de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de
Estado e outros crimes.
Na
eleição de 2022, Bolsonaro recebeu 58 milhões de votos contra 60 milhões de
Lula no segundo turno. Ao longo deste ano, até ser condenado no Supremo
Tribunal Federal (STF), Bolsonaro vinha sustentando que seria candidato em
2026, apesar de estar inelegível.
Até a
semana passada, Jair Bolsonaro não tinha sinalizado apoio explícito a nenhum
pré-candidato da direita.
No fim
de semana, Flávio disse que conversou com o governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas, tido por muitos como um dos principais nomes da direita para
disputar a eleição contra Lula — e possivelmente um dos mais prejudicados pelo
anúncio do senador.
"Foi
muito boa a reação, um cara que se mostrou de peito aberto, mais uma conversa
muito franca e sincera, como eu tive todas as vezes com ele. Para mim, o
Tarcísio é o principal cara do nosso time hoje", disse Flávio Bolsonaro.
"Ele
[Tarcísio] foi absolutamente transparente e direto, 'pode contar, estamos
juntos'. Eu não vou ficar cobrando do Tarcísio que ele se manifeste
publicamente porque ele já falou por várias e várias vezes que o objetivo dele
é ser candidato à reeleição no governo de São Paulo."
O
governador de São Paulo não se manifestou após o anúncio.
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Dólar em alta, bolsa em forte queda
O
anúncio da pré-candidatura de Flávio teve repercussões também na economia.
O
índice Bovespa teve maior a desvalorização diária desde fevereiro de 2021 — uma
queda de 4,31%, aos 157.369 pontos.
O dólar
registrou a maior alta desde outubro — de 2,3%, chegando a R$ 5,43.
A
percepção dos analistas de mercado é que a pré-candidatura de Flávio reduz a
competitividade do campo da direita nas eleições presidenciais de 2026,
beneficiando as possibilidades de reeleição de Lula.
"A
resposta do mercado hoje não tem a ver com a figura do Flávio Bolsonaro em si.
Ela reflete mais a percepção de que ele atrai votos do pai, mas atrai para si
mesmo também uma rejeição elevada do ex-presidente", afirmou o economista
Yihao Lin, da Genial Investimentos, em análise aos investidores da corretora.
Para
ele, a reeleição de Lula reforça temores no mercado de que os problemas fiscais
do país não serão resolvidos — o que poderia prejudicar a economia depois da
eleição.
"Nesse
contexto, as apostas são de que haverá uma reeleição do presidente Lula. E
nesse sentido tem a problemática da situação fiscal brasileira. Não temos uma
percepção de mudança do modo operandis da condução da política
brasileira", afirma.
"Vamos
continuar operando da mesma forma, com gastos que seguem crescendo, a tentativa
de fechar as contas através de aumento de arrecadação. Chegamos a um ponto da
trajetória da dívida em que o ajuste precisa ser feito do lado da
despesa."
Para o
economista André Perfeito, a decisão de Jair Bolsonaro "implode possíveis
alianças entre centro e direita para o ano que vem".
Segundo
Perfeito, o mercado financeiro apoiava a candidatura de Tarcísio de Freitas
(Republicanos) "para construir essas alianças e pavimentar a vitória da
direita em 2026".
"Mas
agora cabe avaliar se Flávio Bolsonaro consegue reunir esse amplo espectro
político", afirmou o economista em análise enviada à imprensa.
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Reações
O
anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro foi feito na sexta-feira da
semana passada em postagem no X.
"É
com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política
e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar
continuidade ao nosso projeto de nação", disse o senador.
A
escolha foi confirmada em nota assinada pelo presidente do PL, Valdemar Costa
Neto: "Flávio me disse que o nosso capitão confirmou sua pré-candidatura.
Então, se Bolsonaro falou, está falado!"
O
anúncio foi feito após semanas de desentendimentos entre membros da família
Bolsonaro e da oposição em torno de articulações para a próxima eleição e de
quem deve liderar a direita agora que o ex-presidente está preso.
Na
semana passada, num dos momentos em que esses desentendimentos ficaram mais
evidentes, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro criticou a negociação de uma
aliança entre seu partido, o PL, com o ex-governador Ciro Gomes (PSDB) para
disputar o governo do Ceará no ano que vem.
Em
evento em Fortaleza no domingo passado, Michelle fez ataques diretos a
dirigentes do PL, incluindo Valdemar da Costa Neto e o presidente estadual,
deputado federal André Fernandes — algo que abriu uma crise com os filhos do
ex-presidente e o comando do partido.
Segundo
Flávio Bolsonaro, porém, o ex-presidente deu aval ao PL do Ceará para negociar
o apoio do partido a Ciro.
Após o
anúncio da candidatura do filho de Jair, Michelle postou em suas redes sociais
nesta sexta-feira um texto desejando "sabedoria, força e graça" para
Flávio.
"Que
Deus te abençoe, @flaviobolsonaro, nesta nova missão pelo nosso amado Brasil.
Que o senhor te dê sabedoria, força e graça em cada passo, e que a mão d'Ele
conduza o teu caminho para o bem da nossa nação", escreveu a
ex-primeira-dama.
Em
pesquisa AtlasIntel realizada em novembro, um dos cenário eleitorais projetados
pelo instituto mostrou que, no primeiro turno, o presidente Lula teria 47,3%
das intenções de voto e Flávio viria em segundo lugar, com 23,1% — seguido
pelos governadores de direita Ronaldo Caiado (10,2%), Ratinho Jr. (7,1% ) e
Romeu Zema (5%).
O nome
do filho de Jair Bolsonaro não foi incluído nas projeções de segundo turno.
Considerando
diferentes características da população, Flávio só ganha de Lula na faixa
etária de 16 a 24 anos (31,3% contra 23,6%); e entre os evangélicos (34,9%
contra 27,1%).
Em
todas as categorias de gênero, nível educacional, região do Brasil e renda
familiar, Lula está à frente de Flávio.
O
anúncio da pré-candidatura de Flávio ocorre duas semanas após o senador
convocar uma vigília em apoio ao pai nas proximidades da residência do
ex-presidente.
A
vigília foi apontada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre
de Moraes como um dos motivos para a decretação da prisão de Bolsonaro (até
então, ele estava em prisão domiciliar).
Outro
motivo, segundo Moraes, foi a violação da tornozeleira eletrônica pelo
ex-presidente.
Em
resposta, Flávio disse que decisão do ministro do STF "criminaliza o livre
exercício da crença".
"O
que está escrito aqui nessa sentença é que eu não posso orar pelo meu pai, que
eu não posso orar pelo meu país, que eu não posso pedir a um padre para rezar
um pai nosso em cima de um carro de som, porque isso seria um subterfúgio e uma
fuga do Bolsonaro", disse Flávio na ocasião.
A
escolha de Flávio como pré-candidato foi elogiada por alguns apoiadores do
ex-presidente.
O
influenciador Paulo Figueiredo classificou o anúncio como uma "excelente
notícia".
"E,
na minha opinião, deve contar com enorme entusiasmo da base bolsonarista",
afirmou no X.
O ator
Mario Frias, que foi secretário da Cultura no governo Bolsonaro, também exaltou
a escolha.
"Flávio
sempre esteve na linha de frente, defendendo o Brasil, enfrentando
perseguições, ataques, injustiças e distorções simplesmente por carregar um
sobrenome que incomoda quem vive do sistema", o ator afirmou no X.
Mas, de
acordo com apuração do jornal O Globo, alguns integrantes do chamado Centrão
(grupo de partidos de direita e centro-direita que costumam apoiar diferentes
governos em troca de verbas e espaço na máquina pública) ficaram insatisfeitos
com a escolha feita por Jair Bolsonaro.
Isso
porque a aposta do grupo era na candidatura de Tarcísio de Freitas — que,
agora, consideram improvável seguir com os planos de concorrer ao Planalto,
pois isso iria de encontro à decisão de Jair Bolsonaro, de quem o governador é
próximo.
Fontes
do Centrão ouvidas pelo jornal carioca afirmaram que partidos como União
Brasil, PP, Republicanos e PSD não devem apoiar Flávio e podem optar pela
neutralidade.
Sem
citar o nome do senador, Antonio Rueda, presidente do União Brasil, postou em
suas redes um texto após o anúncio feito por Flávio Bolsonaro.
Rueda
afirmou que ele e Ciro Nogueira, presidente dos Progressistas com quem
compartilha a presidência da Federação União Progressista, têm um
"compromisso com o Brasil que precisa avançar".
O líder
do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, afirmou que a escolha de
Flávio foi um "movimento mais do que previsível da família".
Em suas
redes sociais, o petista afirmou que a candidatura de Tarcísio seria "o
beijo da morte para a família Bolsonaro".
"Os
marqueteiros do Tarcísio e do Centrão iriam trabalhar para esconder e construir
uma política de apagamento do Bolsonaro. Ele seria esquecido na prisão",
escreveu Lindbergh Farias, acrescentando que o nome do candidato de direita é
"indiferente" para seu campo político pois "Lula vai ser
reeleito".
Fonte:
BBC News Brasil

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