Hora de mostrar, na prática, que “a ciência
voltou”
O governo federal e
algumas de suas principais lideranças gostam de se dirigir ao público em
determinados eventos e ações com o mantra “a ciência voltou”. De fato, há
argumentos favoráveis, desde o prestígio de questões básicas como apoio à
vacinação da população à retomada de investimentos em saúde e pesquisa
científica.
No entanto, parece
consensual que ainda há um longo caminho a percorrer para que a ciência e a
inovação ocupem lugares centrais no projeto de desenvolvimento social e
econômico brasileiro. Neste momento, as Conferências de Ciência e Tecnologia,
realizadas por todo o país e que culminarão num evento nacional em junho,
parecem revestidas de importância especial.
“Temos a segurança de
que estamos sendo partícipes da reconstrução das bases científicas e
tecnológicas nacionais. É o nosso compromisso”, afirma Jorge Bermudez, membro
do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia do MCTI e da comissão organizadora
da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Como já manifestado
nas diversas etapas preparatórias, o campo da Ciência, Tecnologia &
Inovação (CT&I) brasileiro é importante plataforma de elaboração de
políticas públicas, que devem se refletir no direito à saúde e no SUS, entre
outros âmbitos. No atual contexto, está diretamente relacionada com a nova
etapa do desenvolvimentismo elaborada pelo governo petista, que tenta
incrementar uma indústria nacional de saúde, bioeconomia, inovação e
sustentabilidade ambiental, conforme manifestado nas “missões” do projeto de
Nova Industrialização.
“Corroborando a
experiência das Conferências Nacionais de Saúde, o ministério deu partida à
organização e debates prévios necessários para a 5ª Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação, anunciada para 4 a 6 de junho deste ano em
Brasília, com o objetivo principal de promover o diálogo entre o governo e a
sociedade para ter um sistema de ciência e tecnologia, um planejamento
estratégico e recursos para os dez anos seguintes”, elucida Bermudez.
Médico, pesquisador da
Fiocruz e conselheiro da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) e da OMS
(Organização Mundial da Saúde), Bermudez deposita esperanças de que, após anos
de apagamento total de qualquer ideia razoável de progresso, quando o país orgulhosamente
se afirmou um “pária internacional”, de acordo com as palavras do ex-chanceler
Ernesto Araujo, o Brasil possa retomar um caminho condizente com os desafios do
século 21. “Acredito que a liderança, experiência política, parlamentar e de
gestão da ministra Luciana Santos e sua equipe colocam altas ambições na
política nacional de CT&I”.
Em sua visão, a
Conferência tem os méritos de ampliar vozes e atores participantes das inúmeras
propostas que chegarão a Brasília no mês de junho. E aqui é valido destacar a
construção de espaços institucionais de participação e escuta da sociedade. “A
Conferência Livre se caracterizou como um espaço amplo de debate sobre a
interação da C&T com a Saúde, questões de diversidade, iniquidades e
desigualdades presentes no Brasil e dos desafios a superar”, destacou.
Caberá ao governo,
suas lideranças, ministérios e também sociedade civil honrarem o lema oficial
da conferência: “para um Brasil justo, sustentável e desenvolvido”.
Confira a entrevista
completa com Jorge Bermudez.
• O que esperar da 5ª Conferência Nacional
de Ciência, Tecnologia e Inovação em junho próximo, e seus frutos posteriores?
Primeiramente, um
mergulho total com objetivo de consolidar propostas e projetos existentes, a
identificação clara de prioridades e diretrizes do Governo Federal e um
trabalho integrado no contexto das Comissões Temáticas Setoriais recentemente
aprovadas. Elas são, resumidamente: recuperação, expansão e consolidação do
sistema de CT&I; reindustrialização e apoio à inovação; CT&I para
programas e projetos estratégicos nacionais; CT&I para o desenvolvimento
social.
Certamente, será um
trabalho exaustivo, em que estaremos mobilizando nossas instituições e a
sociedade em geral. Podemos afirmar que temos uma enorme jornada antes, durante
e depois da 5ª Conferência Nacional, para incorporar as propostas e trabalhar
em cima das prioridades estabelecidas, sob a orientação da equipe de gestão do
MCTI.
De toda forma, temos a
segurança de que estamos sendo partícipes da reconstrução das bases científicas
e tecnológicas nacionais. É o nosso compromisso.
• O que é o projeto Integra e qual sua
função neste processo de elaboração de políticas de ciência?
O Projeto INTEGRA, do
qual participo como membro da Comissão Organizadora, consiste numa parceria
entre o Conselho Nacional de Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto
Escola Nacional dos Farmacêuticos. Conta com o apoio da Federação Nacional dos
Farmacêuticos, do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde.
Seu objetivo principal é promover a integração de políticas públicas,
notadamente a Política Nacional de Assistência Farmacêutica, a Política
Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde e a Política Nacional de Vigilância
em Saúde, promovendo a capacitação de lideranças, profissionais de saúde,
gestores e usuários do SUS.
• O que pode nos falar sobre as etapas que
antecedem a Conferência Nacional, nas suas etapas regionais e a Conferência
Livre de 12 de março, já em Brasília?
A Conferência Livre
foi organizada e promovida pela Comissão Organizadora do Projeto INTEGRA e a
Secretaria Nacional de Participação Social da Presidência da República, como
parte integrante da etapa preparatória para a 5ª Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação, e obedece a toda uma regulamentação para sua
estruturação e agendamento.
Com cerca de 300
pessoas inscritas, a metade delas de maneira presencial, a Conferência Livre se
caracterizou como um espaço amplo de debate sobre a interação da C&T com a
Saúde, questões de diversidade, iniquidades e desigualdades presentes no Brasil
e dos desafios a superar.
Foram elaboradas uma
série de propostas e recomendações que estão sendo consubstanciadas em
relatório a encaminhar com vistas à Conferência Nacional. Todas as pessoas
presentes foram unânimes em concordar com a oportunidade e a riqueza dos
debates e a importância das contribuições para futuras ações nos campos da
Saúde e da CT&I.
• Qual é a importância política do
Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia nesta construção aqui descrita?
De acordo com a
regulamentação, o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT/MCTI) é um
órgão consultivo de assessoramento superior do Presidente da República, tendo a
seu cargo propostas de formulação e implementação da política nacional de
CT&I, como um dos eixos estruturantes do desenvolvimento econômico e social
do Brasil.
O CCT é composto de 67
membros, incluindo 17 ministros de Estado, 8 membros entre produtores e
usuários de ciência e tecnologia, 9 representantes de entidades, todos eles com
seus suplentes. A presidência do CCT cabe ao presidente da República e a vice-presidência
à ministra de Ciência Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. E acredito que a
liderança, experiência política, parlamentar e de gestão da ministra Luciana
Santos e sua equipe colocam altas ambições na política nacional de CT&I.
Uma das competências
do CCT é opinar sobre programas ou propostas que possam impactar a política
nacional de desenvolvimento científico e tecnológico, de maneira que podemos
ver um panorama fértil pela frente. Adicionalmente, a diversidade e solidez nos
membros do CCT permitem pensar numa interação altamente positiva e inovadora,
ainda mais em se tratando do ano da Conferência Nacional.
• Por que as autoridades vêm colocando que
a “Ciência está de volta” e “o Brasil de volta ao mundo”? O que é discurso
oficial e o que é realidade?
As políticas
implementadas pelo governo anterior tentavam desacreditar as evidências
científicas como essenciais na Medicina, implementando o que podemos denominar
do Negacionismo com a Ciência e a Medicina, expressado na negação da
necessidade de vacinar a população no auge da pandemia de covid-19 e propagação
de medicamentos sem nenhuma eficácia comprovada.
Mesmo nessas
circunstâncias adversas, as iniciativas da Fiocruz e do Instituto Butantan
conseguiram superar as dificuldades e incorporar as tecnologias para a produção
de vacinas para atender as necessidades do nosso SUS. Hoje, é possível fazer
esse tipo de afirmação não apenas pela ocupação da liderança no G20, no
Mercosul e na ampliação do escopo dos BRICS, mas pela dinâmica e integração
entre os diversos ministérios.
Neste curto espaço de
pouco mais de um ano de intenso trabalho e compromisso social, realizamos a 17ª
Conferência Nacional de Saúde, em julho de 2023, com ampla participação social,
onde se pregou o fortalecimento do SUS e se fez um relatório repleto de propostas
que refletem a maturidade do nosso Conselho Nacional de Saúde.
Corroborando a
experiência das Conferências Nacionais de Saúde, o MCTI deu partida à
organização e debates prévios necessários para a 5ª Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação, anunciada para 4 a 6 de junho deste ano em
Brasília, com o objetivo principal de promover o diálogo entre o governo e a
sociedade para ter um sistema de ciência e tecnologia, um planejamento
estratégico e recursos para os dez anos seguintes.
Uma série de reuniões
preparatórias certamente irão enriquecer o diálogo e as discussões durante a
etapa nacional, incluindo Conferências Livres, reuniões temáticas, conferências
municipais, estaduais e distrital e conferências regionais.
Fonte: Por Gabriel
Brito, em Outra Saúde
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