As raízes da história da Páscoa: de onde
vieram as crenças cristãs sobre a ressurreição de Jesus?
Durante a Páscoa, os
cristãos de todo o mundo começam a se concentrar em dois dos princípios
centrais de sua fé: a morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré.
Outros mestres judeus
carismáticos ou operadores de milagres estavam ativos na Judeia na mesma época,
aproximadamente há 2.000 anos atrás.
O que diferenciava
Jesus era a crença de seus seguidores em sua ressurreição. Para os crentes,
isso não era apenas um milagre, mas um sinal de que Jesus era o tão esperado
messias, enviado para salvar o povo de Israel de seus opressores.
Mas será que a ideia
de uma ressurreição em si era uma crença única na Israel do primeiro século?
Sou um estudioso do
judaísmo antigo e sua conexão com o movimento cristão primitivo.
O conceito cristão de
Jesus ressuscitando dos mortos ajudou a moldar muitos dos principais
ensinamentos da fé e, por fim, a separação da nova religião do judaísmo.
No entanto, os
ensinamentos religiosos sobre a ressurreição remontam a muitos séculos antes de
Jesus ter vivido na Terra.
Há histórias que
provavelmente são anteriores às crenças judaicas primitivas em muitos séculos,
como a história egípcia do deus Osíris sendo ressuscitado por sua esposa, Ísis.
Entretanto, o mais
relevante para o cristianismo são as próprias ideias do judaísmo sobre a
ressurreição.
'Seus mortos viverão'
Uma das primeiras
referências judaicas escritas à ressurreição na Bíblia é encontrada no Livro de
Isaías, que discute uma era futura, talvez uma época de julgamento final, na
qual os mortos ressuscitariam e estariam sujeitos à justiça final de Deus.
"Seus mortos
viverão; seus cadáveres se levantarão", profetiza Isaías. "Os que
habitam no pó despertarão e gritarão de alegria."
Textos bíblicos
judaicos posteriores, como o Livro de Daniel, também faziam referência à
ressurreição.
Havia várias seitas
judaicas concorrentes na época em que Jesus viveu.
A mais proeminente e
influente, os fariseus, integrou ainda mais o conceito de ressurreição ao
pensamento judaico.
De acordo com o
historiador Josefo, do primeiro século, os fariseus acreditavam que a alma era
imortal e poderia ser reunida a um corpo ressuscitado - ideias que
provavelmente teriam tornado a ideia de Jesus ressuscitando dos mortos mais
aceitável para os judeus de sua época.
Em poucos séculos, os
rabinos começaram a fundir as referências bíblicas anteriores à ressurreição
corporal com as ideias posteriores dos fariseus.
Em particular, os
rabinos começaram a discutir o conceito de ressurreição corporal e sua conexão
com a era messiânica.
Os judeus acreditavam
que o Messias legítimo seria um descendente do rei bíblico Davi que venceria
seus inimigos e restauraria Israel à sua glória anterior. Nos séculos seguintes
à morte de Jesus, os rabinos ensinaram que as almas dos mortos seriam ressuscitadas
depois que o Messias aparecesse na Terra.
Por volta do ano 500
d.C., os rabinos desenvolveram ainda mais o conceito. O Talmud, a mais
importante coleção de escritos autorizados sobre a lei judaica, além da própria
Bíblia, observa que aquele que não acredita na ressurreição não tem
participação no "Olam Haba", o "Mundo Vindouro".
O "Olam
Haba" é o reino no qual esses sábios acreditavam que a alma de uma pessoa
acaba habitando após a morte. É interessante notar que o conceito de inferno em
si nunca foi incorporado ao pensamento judaico convencional.
Mesmo agora, o
conceito de Deus dando vida aos mortos é afirmado todos os dias no Amidah, uma
oração judaica recitada como parte dos ritos diários da manhã, da tarde e da
noite.
Velhas ideias, novas
crenças
O fato de os primeiros
seguidores de Jesus serem judeus provavelmente contribuiu para que o conceito
de ressurreição se tornasse arraigado no pensamento cristão.
No entanto, a
compreensão cristã da ressurreição foi levada a um nível sem precedentes nas
décadas seguintes à morte de Jesus.
De acordo com o
Evangelho de Mateus, Jesus, um judeu da Galileia, entrou em Jerusalém nos dias
anteriores à Páscoa.
Ele foi acusado de
sedição contra as autoridades romanas - e provavelmente de outras acusações,
como blasfêmia - em grande parte porque estava causando um distúrbio entre os
judeus que se preparavam para celebrar o feriado.
Naquela época, a
Páscoa era uma festa de peregrinação na qual dezenas de milhares de judeus
viajavam para Jerusalém.
Depois de ser traído
por um de seus seguidores, Judas, Jesus foi preso, levado às pressas a
julgamento e condenado à crucificação.
As autoridades romanas
desejavam manter a pax Romana, ou paz Romana. Elas temiam que a agitação em
meio a um grande festival pudesse levar a uma rebelião, especialmente devido à
acusação de que pelo menos alguns dos seguidores de Jesus acreditavam que ele
era o "rei dos Judeus", como foi registrado mais tarde nos Evangelhos
de Mateus e Marcos.
De acordo com os
Evangelhos, Jesus foi levado à morte no que hoje é a Sexta-Feira Santa e
ressuscitou no terceiro dia - que hoje é celebrado como Domingo de Páscoa.
Os primeiros
seguidores de Jesus acreditavam não apenas que ele havia ressuscitado, mas que
era o tão esperado messias judeu, que havia cumprido profecias judaicas
anteriores.
Por fim, eles também
adotaram a ideia de que ele era o divino Filho de Deus, embora os estudiosos
ainda debatam exatamente como e quando isso ocorreu.
Além disso, a natureza
da ressurreição de Jesus continua sendo uma fonte de debate entre teólogos e
estudiosos - por exemplo, se os seguidores acreditavam que seu corpo
ressuscitado era feito de carne e sangue, ou puro espírito.
No entanto, o
significado mais grandioso da ressurreição, que está registrado em todos os
quatro Evangelhos canônicos, permanece claro para muitos dos cerca de 2 bilhões
de cristãos em todo o mundo: eles acreditam que Jesus triunfou sobre a morte, o
que serve como base fundamental da fé cristã.
Fonte: Por Aaron Gale,
para Conversation
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