'Rei das criptomoedas' condenado a 25 anos
de prisão: 'Nunca demonstrou remorso por crimes terríveis'
Em apenas oito dias,
Sam Bankman-Fried, de 30 anos, que era apelidado de "Rei das
Criptomoedas", decretou a falência de sua empresa, a FTX, e deixou o cargo
de diretor-executivo (CEO). Nesta quinta-feira (28/3), ele foi condenado a 25
anos de prisão por fraude contra clientes e investidores.
A Justiça determinou
ainda o bloqueio de 11,2 bilhões de dólares das contas dele, o equivalente a R$
56 bilhões na cotação atual.
Durante o julgamento
desta quinta, o advogado de defesa, Marc Mukasey, chegou a descrever o cliente
dele como apenas um “nerd desajeitado da matemática”, argumentando que ele não
era “um implacável assassino financeiro em série”, como alegam.
O próprio Sam
Bankman-Fried admitiu durante o julgamento ter tomado uma “série de decisões
erradas” que o “assombram” todos os dias. No entanto, não chegou a pedir
desculpas de maneira explícita.
A defesa ainda
argumentou que a SBF poderia ter resolvido os problemas na FTX se tivesse tido
mais tempo. Mas o juiz Lewis Kaplan rejeitou todas essas alegações e disse que
era “enganoso” e “logicamente falho” eles dizerem que os clientes da FTX não
perderam nada porque em breve seriam pagos integralmente.
Um cliente que perdeu
US$ 2,1 milhões (R$ 10,5 milhões) no colapso também contou no tribunal como
vive “o pesadelo da FTX todos os dias”
A SBF foi considerada
culpada em 2023 por todas as sete acusações de fraude eletrônica e conspiração
das quais foi acusada.
Quem é Sam
Bankman-Fried?
Nos últimos anos, a
internet foi inundada com longas entrevistas de Bankman-Fried, feitas a partir
de seu escritório nas Bahamas.
Em alguns desses
vídeos, é possível ouvir um barulho chato de clique.
Enquanto Bankman-Fried
conta sua incrível história de como ficou bilionário em cinco anos, ouve-se o
som insistente e veloz que parece vir do seu mouse.
Durante a entrevista,
os olhos do jovem empresário percorrem a tela.
Não fica claro nos
vídeos o que ele está fazendo em seu computador, mas em postagens no Twitter
ele revelou o mistério.
"Sou famoso (ou
infame) por jogar League of Legends enquanto estou no telefone", ele
tuitou em fevereiro de 2021.
Bankman-Fried — agora
ex-diretor da bolsa de criptomoedas FTX — é um jogador compulsivo de
videogames. E em uma série de tuítes para seus quase um milhão de seguidores,
ele explicou o porquê. O jogo servia como válvula de escape em seu dia a dia
estressante, em que administrava duas empresas que negociavam bilhões de
dólares por dia.
"Algumas pessoas
bebem; outras apostam em jogos de azar. Eu jogo League", disse ele.
Depois que seu império
de criptomoedas desmoronou na semana passada, de forma dramática, outra
história sua ressurgiu na internet.
De acordo com uma
postagem no blog da gigante de venture capital Sequoia Capital, Bankman-Fried
disputou uma batalha de League of Legend durante uma videochamada de alto nível
com a equipe de investimentos da Sequoia.
E isso não parece ter
irritado a Sequoia. O grupo investiu US$ 210 milhões na FTX de Bankman-Fried.
Esta semana, a Sequoia
Capital excluiu essa postagem no blog e anunciou que vai contabilizar seu
investimento na FTX como prejuízo.
Eles não são os únicos
investidores que perderam quantias enormes desde o colapso do império de US$ 32
bilhões de Bankman-Fried.
A FTX tinha cerca de
1,2 milhão de usuários registrados que usavam a bolsa de criptomoedas para
comprar tokens de criptomoeda como bitcoin e milhares de outros ativos.
De grandes traders a
pequenos entusiastas de criptomoedas, muitos se perguntam agora se conseguirão
recuperar suas economias ligadas às carteiras digitais da FTX.
A dramática ascensão e
queda de Bankman-Fried é uma história repleta de lances ousados de riscos e
recompensas.
Bankman-Fried foi
aluno do Massachusetts Institute of Technology (MIT) — a famosa universidade
americana — onde estudou física e matemática.
Mas o aluno brilhante
diz que foram as lições aprendidas nos dormitórios estudantis, e não nas salas
de aula, que o conduziram à fortuna.
Em uma entrevista para
a BBC no mês passado, ele disse ter sido influenciado pelo movimento do
"altruísmo eficaz". O altruísmo eficaz é uma comunidade de pessoas
que "tentam descobrir o que podem fazer na prática com suas vidas para ter
o maior impacto positivo possível no mundo", segundo Bankman-Fried.
Ele conta que decidiu
entrar no setor bancário para ganhar o máximo de dinheiro possível e dirigi-lo
a boas causas.
Ele aprendeu a
negociar ações durante um curto período na empresa Jane Street, em Nova York,
antes de se entediar e partir para o bitcoin.
Ele notou que havia
grandes variações no valor do bitcoin em diferentes bolsas de criptomoedas e
começou a arbitrar — comprando bitcoin de lugares que o vendiam barato e
vendendo em outros lugares onde era mais caro.
Após um mês de lucros
modestos, ele se reuniu com amigos da faculdade e fundou uma empresa chamada
Alameda Research.
Bankman-Fried diz que
seu começo não foi fácil, e que levou meses para aperfeiçoar técnicas de como
movimentar dinheiro dentro e fora de bancos e entre países. Finalmente depois
de três meses, ele e sua pequena equipe tiraram a sorte grande.
"Nós éramos muito
obstinados", disse ele ao podcast Jax Jones e Martin Warner Show no ano
passado. "Nós apenas seguimos indo em frente. Quando surgia um obstáculo,
éramos criativos e se nosso sistema não conseguisse lidar com isso, nós construíamos
um novo sistema para passar por cima."
Em janeiro de 2018,
sua equipe faturava US$ 1 milhão por dia.
Um repórter da rede
CNBC perguntou recentemente como ele se sentiu no meio disso tudo.
Bankman-Fried disse
que tudo "fazia sentido" dentro de sua metodologia. "Mas isso me
surpreendia todos os dias", disse ele.
Sam Bankman-Fried
tornou-se oficialmente bilionário em 2021 graças ao segundo negócio que fundou:
a FTX. A bolsa de criptomoedas cresceu e se tornou a segunda maior do mundo e
uma gigante da indústria, com US$ 10 a US$ 15 bilhões negociados por dia.
No início de 2022, a
FTX foi avaliada em US$ 32 bilhões. A empresa havia ficado famosa entre o
grande público americano. O estádio de basquete do Miami Heats, da NBA leva o
nome da empresa: FTX Arena. Celebridades como a modelo Gisele Bündchen e o
astro do futebol americano Tom Brady investiram na FTX.
Bankman-Fried parecia
feliz em exibir a seus seguidores no Twitter seu estilo de vida. Ele dorme
principalmente em um puff ao lado de sua mesa no escritório. Uma foto mostra
ele dormindo assim, com sua equipe trabalhando ao seu redor.
Em outra imagem, nas
primeiras horas da manhã, ele escreveu: "Não consegui dormir. De volta ao
escritório".
O sonho de
Bankman-Fried de doar grandes quantias de dinheiro para caridade também estava
bem encaminhado. Na entrevista à BBC no mês passado, ele afirmou que já havia
doado "algumas centenas de milhões".
E sua generosidade não
se estendia apenas a instituições de caridade. Nos últimos seis meses, o
"Rei das Criptomoedas" recebeu outro apelido: "Cavaleiro Branco
da Cripto".
Com o preço das
criptomoedas em queda durante 2022, o chamado "Inverno Cripto" segue
em curso. Outras empresas do setor começaram a quebrar, mas Bankman-Fried
seguia distribuindo centenas de milhões de dólares como auxílio para companhias
em risco de falência.
Perguntado por que ele
estava tentando sustentar empresas de criptomoedas falidas, ele disse à CNBC:
"Não será bom no longo prazo se tivermos dor de verdade. E não é justo com
os clientes".
Ele também afirmou que
tinha US$ 2 bilhões em reserva que poderia usar para ajudar empresas de
criptomoedas falidas.
Mas na semana passada
ele estava tentando levantar dinheiro para salvar sua própria empresa e seus
clientes.
Dúvidas sobre a
estabilidade financeira da FTX começaram a surgir depois que um artigo no site
CoinDesk sugeriu que parte da gigante comercial de Bankman-Fried, a Alameda
Research, era financiada por uma moeda inventada por uma empresa do grupo FTX,
e não por um ativo independente.
O jornal Wall Street
Journal publicou acusações de que a Alameda Research usava os depósitos de
clientes da FTX para empréstimos.
O começo do fim veio
quando a principal concorrente da FTX — a Binance — vendeu todos seus tokens de
criptomoedas vinculados à FTX.
O CEO da Binance,
Changpeng Zhao, disse a seus 7,5 milhões de seguidores que sua empresa venderia
as participações na FTX "por conta das recentes revelações".
Isso desencadeou um
pânico, com clientes da FTX retirando bilhões de dólares da bolsa.
Os saques foram
interrompidos e Bankman-Fried tentou obter um resgate da Binance, considerando
até mesmo comprar a rival.
A Binance disse que
relatos de "recursos mal administrados de clientes e supostas
investigações de agências dos EUA" influenciaram sua decisão de desistir
de fechar um negócio com a FTX.
No dia seguinte, a FTX
decretou falência.
Bankman-Fried pediu
desculpas em uma série de tuítes: "Sinto muito, novamente, que acabamos
chegando nesse ponto".
"Espero que tudo
possa ter um jeito de se recuperar. Espero que isso possa trazer alguma
transparência, confiança e governança."
Ele disse que
"ficou chocado ao ver as coisas se desenrolarem do jeito que
aconteceram".
Assim é o mundo das
criptomoedas. O preço do bitcoin caiu para seu menor valor em dois anos e
muitos agora estão se perguntando: se a FTX pôde ir à derrocada junto com seu
emblemático líder, quem será o próximo a cair?
Fonte: BBC News Mundo
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