quinta-feira, 28 de março de 2024

Pantanal contaminado por agrotóxico cancerígeno e ameaçado por seca

Com os níveis dos rios abaixo do normal num período em que deveriam estar cheios, o Pantanal deverá sofrer a pior seca de sua história neste ano, alertam ambientalistas. Mas, além da falta de chuvas, o bioma está sofrendo com o envenenamento provocado em grande parte pelo agronegócio.

Após meses de monitoramento e análises laboratoriais do rio Santo Antônio, um importante afluente da bacia do Pantanal, pesquisadores da SOS Pantanal encontraram coliformes fecais e altos níveis de fosfato e nitrato, remanescentes de agrotóxicos. Mas o pior foi a detecção de carbendazim.

O carbendazim é um agrotóxico que tem uso proibido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desde 2022. O produto químico tem potencial cancerígeno e de risco à reprodução humana, conforme especialistas destacaram Jornal Nacional (TV Globo) e g1.

“A gente encontrou uma baixa oxigenação, que pode causar a mortandade de peixes. Mas o principal é o carbendazim, uma substância que está proibida desde 2022 aqui no Brasil, mas tem pessoas utilizando os remanescentes nas lavouras”, explicou Gustavo Figueirôa, biólogo do SOS Pantanal.

Outro produto preocupante encontrado no rio Santo Antônio é o metolacloro. Segundo os pesquisadores, a exposição repetida a esse elemento químico, considerado extremamente tóxico, pode provocar sensibilização da pele.

Para chegar às conclusões, o estudo levou em consideração as dinâmicas de plantações de soja próximas ao afluente; a quantidade de chuva antes dos dias de coleta; as condições climáticas gerais; e locais de fácil acesso.

Além dos elementos químicos, os pesquisadores constataram também a falta de Áreas de Proteção Permanente (APP) no entorno das plantações de soja nos três pontos de coleta de água no rio, na altura da cidade de Guia Lopes da Laguna. Segundo Figueirôa, as propriedades fazem mau uso do solo, o que intensifica a chegada dos agrotóxicos no rio.

Quanto à estiagem, o cenário no Pantanal também é muito preocupante, alertam  Folha e ((o))eco. “O Pantanal está vivendo seca extrema em uma época que deveria estar cheio”, alerta Eduardo Reis Rosa, pesquisador do MapBiomas. As cheias na região começam em outubro, atingem seu ápice em dezembro e janeiro e se estendem até março. Mas isso não aconteceu.

Com isso, o Pantanal ainda tem pela frente a escassez hídrica regular de maio a setembro, o que agrava o risco de incêndios, que já causaram vários estragos nos últimos meses. Por isso, Figueirôa, da SOS Pantanal, mostra-se pessimista: “Já está pior que 2021, acredito que será a pior seca da história do bioma”, avaliou.

Em tempo: A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) lançou na 6ª feira (22/3), Dia Mundial da Água, o Relatório Digital de Qualidade da Água. A ferramenta mostra a qualidade da água dos rios em mais de 400 mil trechos em todo o país e é acessível a qualquer pessoa, informa a Agência Brasil. O monitoramento, feito pela Rede Hidrometeorológica Nacional (RNH), é realizado em mais de 10 mil pontos distribuídos no país, divididos em estações que monitoram parâmetros relacionados aos rios, como níveis, vazões, qualidade da água e transporte de sedimentos, entre outros

 

Ø  Ferrogrão: multas por crimes ambientais crescem 190% após início do projeto

 

A Ferrogrão é um projeto ferroviário de quase 1.000 km que liga Sinop, no Mato Grosso, a Miritituba, no Pará. Defendida com unhas e dentes pelo agronegócio, a ferrovia tem um traçado que atravessa o bioma amazônico e afeta Terras Indígenas e Unidades de Conservação. E mesmo sem sair do papel, e com estudos suspensos temporariamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), já provoca estragos.

É o que mostra um levantamento feito pela InfoAmazonia com base em dados da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) do Pará. De 2014, ano de início do estudo de viabilidade técnica da Ferrogrão, até 2022, o órgão emitiu 6.972 multas na região (em um raio de 50 km ao redor do traçado da ferrovia), ante 2.389 no período anterior, de 2005 a 2013. Um aumento de 190% nas multas por crimes ambientais.

Após o edital da Ferrogrão, além de quase triplicar o número de multas, houve uma mudança no tipo de crime ambiental registrado pela SEMAS. Até 2013, os delitos eram limitados principalmente a três categorias: desmatamento, construção de serrarias ilegais e extração de madeira. Depois, a variedade aumentou e passou a envolver também o porte de motosserra e uso de trator dentro de florestas protegidas, apreensão de animais silvestres em cativeiro, uso de mercúrio e extração de ouro em garimpo ilegal, entre outros.

Além disso, as infrações de 2014 até 2022 geraram multas que hoje somam R$ 5,5 bilhões, corrigidos pelo IPCA, valor 130% maior do que o do período anterior, de R$ 2,4 bilhões (2005 a 2013), também corrigidos. Dentre elas, 46% foram por desmatamento. Novo Progresso e Itaituba, cidades incluídas no traçado da ferrovia, reúnem 62% dos casos de todos os tipos na região, com 4.349 mil multas aplicadas pela SEMAS do Pará após o início do projeto.

Surpreendendo zero pessoas, a ferrovia tem apoio da bancada ruralista. Neste mês, o senador Zequinha Marinho (Podemos-PA) discursou no plenário em defesa do projeto e disse que sua construção “reduziria em 77%” as emissões de CO2 na região. Mas, como mostrou o Fakebook.eco, em análise reproduzida pelo ((o))eco, os dados apresentados pelo senador são inverificáveis. Além disso, mesmo se corretos, não permitiriam a conclusão de que a construção da ferrovia reduziria emissões.

Em setembro do ano passado, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu por seis meses a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6.553, impetrada pelo PSOL, e pediu mais estudos sobre o projeto e consulta aos atingidos. A ADI questiona lei federal de 2017 que excluiu 862 hectares do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, destinando a área ao projeto.

Diante da possível retomada do julgamento, o partido e entidades de apoio aos Povos Indígenas pediram a Moraes a extensão da suspensão por mais seis meses. O pedido de mais prazo visa ampliar os estudos sobre o polêmico projeto, informam Folha  e  Canal Rural.

No início deste mês, um tribunal popular, formado por indígenas, ribeirinhos e representantes de movimentos sociais, fez um julgamento simbólico condenando o projeto e pedindo sua extinção. No mesmo dia, houve um protesto em frente ao porto da Cargill. Ao lado de ADM, Amaggi, Bunge e Dreyfus, a Cargill foi uma das “autoras intelectuais” da Ferrogrão.

 

Fonte: ClimaInfo

 

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