Saiba quem foi quem nas articulações e na
efetivação do golpe de 1964
O golpe de 1964, que
depôs João Goulart (PTB) e deu início à ditadura brasileira, envolveu
importantes personagens do centro dos poderes político e militar do país, que
articularam e efetivaram as ações até a posse do general Castelo Branco na
chefia do Executivo.
Além das lideranças
militares, houve participação dos presidentes da Câmara dos Deputados e do
Senado à época e do embaixador dos Estados Unidos no Brasil.
Alguns dos
protagonistas são Ranieri Mazzilli, que assumiu a Presidência após a queda de
Jango; Auro de Moura Andrade, que declarou vaga a chefia do Executivo; e Carlos
Lacerda, então governador da Guanabara.
Conheça os principais
nomes entre os golpistas e de membros do governo deposto:
*
GOLPISTAS E ALIADOS
·
General Castelo Branco
O primeiro
general-presidente, nomeado chefe do Estado-Maior do Exército por Jango, foi um
dos principais articuladores do golpe de 1964, elaborando as estruturas do que
seria o governo militar após a deposição do governo civil.
Nos momentos que
antecederam a queda de Jango, foi levado a uma série de esconderijos no Rio de
Janeiro, para depois, em 15 de abril, tomar posse como novo mandatário após
eleição indireta. Governou até 1967, quando foi substituído por Costa e Silva,
da linha dura das Forças Armadas.
·
General Costa e Silva
Também foi um dos
articuladores no centro da conspiração que depôs Goulart da Presidência da
República. Esteve presente nas movimentações em uma série de esconderijos no
Rio de Janeiro nos dias que antecedem o golpe.
Após a queda de Jango,
o general passou a ser ministro do Exército durante o período transitório de
Mazzilli e no governo Castelo Branco. Em 1967, tornou-se o segundo
general-presidente do período militar, conhecido por outorgar o AI-5 (Ato
Institucional de número 5), institucionalizando a repressão.
·
General Mourão Filho
Olympio Mourão Filho
-autor do Plano Cohen, de 1937, que culminou com a instauração do Estado Novo
por Vargas- foi o responsável por iniciar uma insurreição militar a partir de
Juiz de Fora que levou à ebulição da tensão política brasileira.
Chamada de Operação
Popeye, em referência ao cachimbo que usava, a rebelião militar deixou a cidade
mineira rumo ao Rio de Janeiro, onde Goulart estava. Apesar de não fazer parte
dos planos de outros fardados, a operação deu início às movimentações mais avançadas
para a tomada do poder.
Também levou a uma
série de ultimatos de generais de vários locais do país a Jango. Na negativa do
então mandatário, o movimento golpista se fortaleceu.
·
General Amaury Kruel
Kruel, então
comandante do segundo Exército (equivalente hoje ao Comando Militar do Sudeste,
em São Paulo), era um dos militares que não acreditavam em um exercício da
caserna no poder político, mas foi um importante peso na balança entre Goulart
e os fardados.
Não acreditava ser
necessário um golpe e pediu, nos dias anteriores à deposição de Jango, a
extinção da CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), organização sindical
considerada radical, e a demissão de ministros como o chefe da Casa Civil,
Darcy Ribeiro, e o da Justiça, Abelardo Jurema.
Jango negou a demissão
dos titulares, e Kruel, então, aderiu aos golpistas, fortalecendo o movimento e
facilitando a derrubada do presidente.
·
Auro de Moura Andrade, presidente do
Congresso Nacional
Andrade era presidente
do Senado e do Congresso Nacional durante os governos de Jânio Quadros e João
Goulart. Recebeu a renúncia do primeiro, em 1961. Diante da crise entre Jango e
os militares, encampou a mudança do sistema de governo para o parlamentarismo,
limitando a atuação do presidente da República.
Foi opositor de Jango
e, em 1964, participou da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São
Paulo, pedindo a deposição do então mandatário, uma forma de mostrar apoio aos
articuladores do golpe.
Foi Andrade que
declarou a Presidência da República vaga em 2 de abril por suposta saída não
autorizada de Jango do território nacional o chefe do Executivo ainda estava no Brasil no momento de sua
remoção do
cargo, o que tornava a declaração ilegal.
·
Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos
Deputados
Mazzilli foi
presidente em exercício por duas vezes, uma após a renúncia de Jânio Quadros, e
outra após a deposição de Jango. Em ambas, teve pouca influência decisória, e
especialmente na segunda, teve suas atribuições exercidas por uma junta
militar, autodenominada "Comando Supremo da Revolução".
Sua presença no
Palácio do Planalto após o golpe facilitou a fundamentação política para o
exercício do poder pelos militares, já que aceitou o Ato Institucional 1,
convocando eleições indiretas para presidente, e cassando parlamentares
próximos a Jango.
·
Ribeiro Costa, presidente do STF
O então presidente do
STF (Supremo Tribunal Federal) teve um comportamento ambíguo em relação ao
golpe de 1964 e à ditadura militar. Defendeu a cassação de Jango, dizendo em
nota que "o desafio feito à democracia foi respondido vigorosamente"
por meio das Forças Armadas.
Por outro lado, diante
de relatos de prisões arbitrárias, tortura e cassações, passou a esboçar
reações contra o regime. Colocou em votação habeas corpus de políticos
alinhados a Goulart ou de esquerda, como Miguel Arraes, ex-governador
pernambucano, desafiando os militares.
Em meio à deterioração
da relação entre a caserna e o Supremo, o regime militar ampliou em 1965 o
número de ministros da corte de 11 para 16, aumentando a possibilidade de
deferimento de ações de interesse do governo.
·
Carlos Lacerda, governador da Guanabara
O político da UDN
(União Democrática Nacional) era um dos principais adversários políticos de
Jango, e participou das articulações conspiratórias pelo golpe de 1964. Ele
sabia com antecedência, por exemplo, da deflagração de movimento militar
prevista para abril.
Em 1º de abril,
Lacerda comemorou a consumação do golpe e a remoção de Jango do poder.
Chorando, agradeceu pelo golpe em entrevista à TV Rio. Apesar disso, voltou-se
contra o regime militar quando o mandato de Castelo Branco foi prorrogado, em
1966, e acabou sendo preso e perdendo seus direitos políticos em 1968.
·
Magalhães Pinto, governador de Minas Gerais
Um dos fundadores da
UDN em 1945, foi também um dos chefes de Executivo estaduais que conspirou
ativamente pelo golpe.
Apesar de ter tentado
ganhar eleitoralmente com a queda de Jango ele queria se candidato a presidente em 1965, acabou sendo frustrado com o
prolongamento da estadia de Castelo Branco no Palácio da Alvorada e com o Ato Institucional 2, que cassou políticos e extinguiu partidos.
Manteve-se,
entretanto, na política, assumindo o Ministério das Relações Exteriores de
Costa e Silva e apoiando a decretação do AI-5.
·
Lincoln Gordon, embaixador dos Estados
Unidos no Brasil
Gordon, embaixador no
país desde 1961, mantinha o então presidente americano, Lyndon Johnson,
informado sobre a tensão política no Brasil durante o mandato de Goulart. O
governo de Johnson chegou a se preparar para uma intervenção militar no Brasil,
que nunca ocorreu.
Dias antes do golpe de
1964, o diplomata enviou à Casa Branca telegrama pedindo adoção de medidas para
fornecer armas aos militares contrários a Jango caso a tentativa de tomar o
poder não terminasse em sucesso. Dali sairia a Operação Brother Sam, que não
precisou ser realizada.
GOVERNO E ALIADOS
·
João Goulart, presidente da República
O mandatário, antes
ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, assumiu em 1961 após renúncia de Jânio
Quadros. Em prenúncio à crise que enfrentaria, teve dificuldade para tomar
posse, já que estava na China quando seu antecessor deixou o cargo, e os
militares ameaçaram prendê-lo caso voltasse ao Brasil.
Enfrentou ampla
oposição de parlamentares e da caserna. Perdeu parte dos poderes para um
sistema parlamentarista, extinto em 1963, e tentou, sem sucesso, resolver a
crise inflacionária com planos rejeitados, incluindo as reformas de base, marca
de seu mandato.
Em meio a erros de
Jango em contornar a crise com os militares e o agravamento da tensão política,
foi derrubado do cargo no golpe de 1964, que inaugurou a ditadura militar
brasileira.
·
Leonel Brizola, deputado federal pelo Rio
Grande do Sul
Como governador do Rio
Grande do Sul entre 1959 e 1963, Brizola ajudou Goulart a tomar posse após a
renúncia de Jânio Quadros e defendeu o então mandatário até a consumação do
golpe militar. Tentou organizar uma resistência ao golpe, sem sucesso.
Chegou a pedir, em
discurso na Câmara Municipal de Porto Alegre, que os suboficiais do Exército
passassem a "ocupar quartéis e prender generais", o que irritou
profundamente os comandantes militares do novo regime. Em maio de 1964, então,
fugiu para o Uruguai.
Fonte: FolhaPress
Nenhum comentário:
Postar um comentário