quarta-feira, 27 de março de 2024

Bolsonaro está pedindo para ser preso; só pode

O “mito”, sempre tão estridente e valente nas redes sociais e ambientes controlados, mais uma vez deu mostras de que “quem tem aquilo tem medo”, e assim como importou o ex-presidente Michel Temer – de São Paulo para Brasília – para costurar uma saída diante da iminência de um pedido de prisão por apologia à desobediência civil, durante ato na Avenida Paulista em 7 de setembro de 2022, correu assustado para a embaixada da Hungria em Brasília, buscando “asilo político” nas asas do proto ditador Viktor Orbán.

•        O que aconteceu?

Ao ter sido obrigado a entregar seu passaporte, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 12 de fevereiro deste ano, Bolsonaro, ao que tudo indica, imaginou que veria o sol nascer quadrado no dia 13, a partir de uma confortável cela na Papuda, e se mandou, às escondidas, para o “exterior”, a fim de evitar a prisão. Como sabido, uma embaixada em território estrangeiro mantém status do próprio país que representa, ou seja, as dependências da Representação húngara equivalem à própria Hungria.

•        Obstrução de Justiça

Respirando aliviado e com o intestino mais leve no dia 14, o corajoso ex-capitão deixou as dependências da Representação Diplomática da Hungria e “retornou” ao Brasil. Porém, com a divulgação do fato pelo jornal NYT, o tiro poderá ter saído pela culatra e o devoto da cloroquina poderá, justificadamente, ser preventivamente preso. Pior. Dessa vez, não terá Michel Temer ou afagos ao Xandão (Ministro Alexandre de Moraes) que o salvem. Bolsonaro é investigado e sua atitude configura clara obstrução de Justiça.

•        Vai ser preso, afinal?

Bem, de acordo com o Código Penal brasileiro, um investigado que tente escapar (fugir) poderá ter a prisão preventiva decretada pela Justiça. Resta evidente, pois, que Bolsonaro faz por merecer um xadrez antecipado (antes de uma condenação transitada em julgado). Se o STF terá, ou não, a coragem necessária para trancar o patriarca do clã das rachadinhas, é o que iremos ver nas próximas horas. Particularmente, aposto que sim. Pero no mucho! Só umas 10 pila, hehe.

•        PF investigará se Bolsonaro se antecipou a pedido de prisão ao ficar em embaixada

A Polícia Federal (PF) vai investigar se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou articular alguma manobra diplomática para evitar ser preso no inquérito que apura uma tentativa de golpe. As suspeitas surgiram depois que Bolsonaro admitiu ter passado dois dias na Embaixada da Hungria em Brasília, entre 12 e 14 de fevereiro, após ter sido obrigado a entregar os passaportes na investigação. A revelação foi feita pelo jornal americano The New York Times.

Os policiais federais querem saber se Bolsonaro pediu asilo político, o que a defesa do ex-presidente nega. Os advogados alegam que ele esteve no prédio para “manter contatos com autoridades do país” e atualizar os representantes húngaros sobre o “cenário político das duas nações”.

A casa de Bolsonaro no bairro Jardim Botânico, em Brasília, fica a 12 quilômetros da embaixada húngara. A distância pode ser percorrida de carro em 16 minutos, segundo estimativa do Google.

“Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, sustenta a defesa do ex-presidente.

O embaixador da Hungria e o próprio Bolsonaro devem ser intimados a prestar depoimento. O diplomata deve ser ouvido na qualidade de testemunha. Nesse caso, por ter imunidade diplomática, não é obrigado a comparecer.

Especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que o ex-presidente pode ser preso preventivamente na investigação se ficar comprovado que ele tentou se antecipar a um eventual mandado de prisão, o que poderia configurar uma tentativa de impedir a aplicação da lei penal.

Bolsonaro é investigado por suspeita de montar um plano golpista para se manter no poder após a derrota nas eleições de 2022. O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, atribuiu ao ex-presidente a articulação de reuniões com comandantes das Forças Armadas para discutir “hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral”.

O ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, também relatou à Polícia Federal que Bolsonaro aventou a possibilidade de golpe. Em outro trecho do depoimento, afirmou que se retirou de uma reunião com o ex-presidente e se recusou a receber uma proposta de decreto golpista.

Além dos depoimentos, outro indício complica a situação do ex-presidente: um áudio enviado por Mauro Cid que sugere que Bolsonaro ajudou a redigir e editar uma minuta de golpe.

•        Gleisi diz que Bolsonaro está com medo de ser preso e pede atenção da Justiça

Presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "realmente esteve e está com medo de ser preso" e diz que "é bom a Justiça ficar de olho nele".

A petista faz a avaliação a partir de reportagem do jornal The New York Times que afirma que Bolsonaro se hospedou na embaixada da Hungria em fevereiro, dias após operação da Polícia Federal que apreendeu seu passaporte.

A presidente do PT afirma que a passagem pela embaixada deixa "claríssimo" o temor do ex-presidente pela prisão e que "é possível que ele tente de novo".

A defesa do ex-presidente afirma que ele ficou na embaixada somente para manter contato com autoridades estrangeiras.

Nesta segunda-feira (25), deputados federais acionaram a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (25) com pedidos de prisão preventiva do ex-presidente.

"A estadia do ex-presidente, por dois dias, na embaixada da Hungria, sugere uma tentativa clara de pavimentar o terreno para eventual fuga ou proteção estrangeira, na medida em que as investigações são aprofundadas e se robustecem os indícios e provas capazes de fundamentar não apenas medidas cautelares (prisão), como uma futura condenação penal", afirma representação enviada pelo deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) à Procuradoria-Geral da República.

 

       Como imprensa internacional noticiou estada de Bolsonaro na embaixada da Hungria

 

A estada de Jair Bolsonaro (PL) na embaixada da Hungria por dois dias após ter os passaportes confiscados durante uma operação da Polícia Federal (PF) repercutiu bastante na imprensa internacional.

Veículos de várias partes do mundo publicaram informações divulgadas em primeira mão pelo jornal americano The New York Times na tarde de segunda-feira (25/3).

As reportagens chamam atenção para os laços entre o ex-presidente brasileiro e o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que são classificados como dois dos principais expoentes da direita radical no mundo.

Outros textos lembram as diversas investigações em curso que envolvem o ex-presidente — desde a suposta tentativa de golpe de Estado até possíveis adulterações nos comprovantes de vacinação contra a covid-19.

Segundo a publicação do New York Times, a permanência de Bolsonaro na embaixada se devia a uma "aparente tentativa de pedir asilo político".

Bolsonaro nega essa versão. Em nota divulgada por seus advogados, ele afirma que esteve hospedado "a convite" e "conversou com inúmeras autoridades do país amigo atualizando os cenários políticos das duas nações".

"Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos", complementa o texto.

A estada do ex-presidente na embaixada húngara aconteceu entre 12 e 14 de fevereiro, apenas alguns dias depois de a Polícia Federal confiscar seu passaporte e prender o coronel Marcelo Câmara, seu ex-ajudante de ordens; e Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência.

Confira a seguir como a imprensa internacional reagiu à estada de Bolsonaro na embaixada da Hungria.

•        'Troca de gentilezas'

O New York Times, que obteve acesso às imagens de segurança que comprovam a passagem do ex-presidente brasileiro pela embaixada, destacou em sua reportagem que "a estada indica que Bolsonaro tentava aproveitar a amizade com um colega líder da direita radical, o primeiro-ministro Viktor Orbán, da Hungria, numa tentativa de escapar do sistema de justiça brasileiro enquanto enfrenta investigações criminais no Brasil".

A reportagem ainda destaca que Bolsonaro e Orbán mantêm um relacionamento próximo há anos, "encontrando pontos em comum como dois dos líderes de direita radical em nações democráticas".

O texto lembra que Bolsonaro já chamou Orbán de "irmão". Pouco tempo depois, Orban devolveu a gentileza ao classificar Bolsonaro como um "herói".

Por fim, o New York Times lembra que Bolsonaro disse em março que não tem medo de ser preso. "Eu poderia muito bem estar em outro país, mas decidi voltar aqui apesar de todos os custos", discursou o ex-presidente num evento semanas atrás.

Ainda entre os veículos dos EUA, o The Washington Post publicou uma reportagem em que repercute o anúncio de uma investigação da Polícia Federal após a divulgação da estada de Bolsonaro na embaixada húngara.

A reportagem aponta que "alguns rivais políticos de Bolsonaro aproveitaram as notícias de segunda-feira para pedir a prisão dele, alegando que o ex-presidente está mais uma vez sinalizando possíveis planos de fuga".

"Uma fonte da Polícia Federal confirmou à Associated Press que a investigação acontece em reação a uma reportagem do The New York Times", aponta o Washington Post.

"Se a Polícia Federal obtivesse um mandado de prisão contra o ex-presidente, os policiais não teriam jurisdição para entrar na embaixada húngara devido a convenções diplomáticas que restringem o acesso", complementa o texto.

•        Novas investigações e desdobramentos

O El País, da Espanha, lembrou que a permanência na embaixada da Hungria aconteceu "quatro dias depois que a Justiça retirou o passaporte de Bolsonaro como uma medida cautelar enquanto ele é investigado por supostamente tecer um golpe de Estado com militares da ativa e da reserva".

A publicação acrescenta que o Itamaraty convocou o embaixador húngaro para esclarecimentos.

O El País avalia que "o cerco judicial em torno de Bolsonaro não parou de se apertar desde que ele perdeu as eleições e o poder".

"Ele enfrenta diversas investigações. A mais grave, a de preparar um golpe de Estado para impedir que seu arquirrival, Luiz Inácio Lula da Silva, assumisse o poder após as eleições. Outra, por guardar algumas joias como presente da família real saudita. E uma terceira por falsificar a carteira de vacinação. Em nenhuma das três ele foi formalmente acusado até agora."

O alemão Deutsche Welle informou que, no ano passado, Bolsonaro foi julgado e está "inelegível para cargos políticos até 2030 por espalhar desinformação durante as eleições de 2022, quando foi derrotado pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva".

O indiano Times of India destacou que o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), "deu ao ex-presidente 48 horas para explicar a permanência na embaixada húngara".

A Bloomberg repercutiu a fala de Paulo Gonet, o procurador-geral da República. Durante um evento no Congresso Nacional na segunda-feira (25/3), ele pediu "paciência" para analisar os últimos acontecimentos.

•        Comparações com a Bolívia

No Reino Unido, o jornal The Guardian observou que a embaixada da Hungria fica "a uma curta viagem de carro do palácio presidencial que um dia foi ocupado por Bolsonaro".

O The Guardian informa que, em 8 de fevereiro, dia em que os passaportes de Bolsonaro foram confiscados durante uma operação da Polícia Federal, o primeiro-ministro húngaro postou no X (o antigo Twitter) uma fotografia em que aparece apertando a mão de Bolsonaro.

"Um patriota honesto. Continue lutando, senhor presidente!", escreveu Orbán nas redes sociais.

"Bolsonaro não deixou claro por que decidiu visitar a embaixada. No entanto, ele expressou publicamente o receio de ter o mesmo destino que a ex-presidente da Bolívia, Jeanine Áñez. Em 2022, Áñez foi condenada a 10 anos de prisão depois de ser considerada culpada de ajudar a orquestrar um suposto golpe de Estado de 2019 que a levou ao poder após a queda do presidente Evo Morales", escreveu o jornal britânico.

"Antes de sua derrota eleitoral, Bolsonaro disse que via apenas três futuros possíveis para ele: prisão, morte ou vitória. O vídeo do New York Times sugere que uma quarta alternativa pode agora ser considerada: uma nova vida como inquilino na embaixada húngara, onde, ao abrigo do direito internacional, não poderia ser preso."

 

Fonte: IstoÉ/FolhaPress/BBC News Mundo

 

Nenhum comentário: