Bolsonaro está pedindo para ser preso; só
pode
O “mito”, sempre tão
estridente e valente nas redes sociais e ambientes controlados, mais uma vez
deu mostras de que “quem tem aquilo tem medo”, e assim como importou o
ex-presidente Michel Temer – de São Paulo para Brasília – para costurar uma
saída diante da iminência de um pedido de prisão por apologia à desobediência
civil, durante ato na Avenida Paulista em 7 de setembro de 2022, correu
assustado para a embaixada da Hungria em Brasília, buscando “asilo político”
nas asas do proto ditador Viktor Orbán.
• O que aconteceu?
Ao ter sido obrigado a
entregar seu passaporte, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 12
de fevereiro deste ano, Bolsonaro, ao que tudo indica, imaginou que veria o sol
nascer quadrado no dia 13, a partir de uma confortável cela na Papuda, e se
mandou, às escondidas, para o “exterior”, a fim de evitar a prisão. Como
sabido, uma embaixada em território estrangeiro mantém status do próprio país
que representa, ou seja, as dependências da Representação húngara equivalem à
própria Hungria.
• Obstrução de Justiça
Respirando aliviado e
com o intestino mais leve no dia 14, o corajoso ex-capitão deixou as
dependências da Representação Diplomática da Hungria e “retornou” ao Brasil.
Porém, com a divulgação do fato pelo jornal NYT, o tiro poderá ter saído pela
culatra e o devoto da cloroquina poderá, justificadamente, ser preventivamente
preso. Pior. Dessa vez, não terá Michel Temer ou afagos ao Xandão (Ministro
Alexandre de Moraes) que o salvem. Bolsonaro é investigado e sua atitude
configura clara obstrução de Justiça.
• Vai ser preso, afinal?
Bem, de acordo com o
Código Penal brasileiro, um investigado que tente escapar (fugir) poderá ter a
prisão preventiva decretada pela Justiça. Resta evidente, pois, que Bolsonaro
faz por merecer um xadrez antecipado (antes de uma condenação transitada em julgado).
Se o STF terá, ou não, a coragem necessária para trancar o patriarca do clã das
rachadinhas, é o que iremos ver nas próximas horas. Particularmente, aposto que
sim. Pero no mucho! Só umas 10 pila, hehe.
• PF investigará se Bolsonaro se antecipou
a pedido de prisão ao ficar em embaixada
A Polícia Federal (PF)
vai investigar se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou articular alguma
manobra diplomática para evitar ser preso no inquérito que apura uma tentativa
de golpe. As suspeitas surgiram depois que Bolsonaro admitiu ter passado dois
dias na Embaixada da Hungria em Brasília, entre 12 e 14 de fevereiro, após ter
sido obrigado a entregar os passaportes na investigação. A revelação foi feita
pelo jornal americano The New York Times.
Os policiais federais
querem saber se Bolsonaro pediu asilo político, o que a defesa do ex-presidente
nega. Os advogados alegam que ele esteve no prédio para “manter contatos com
autoridades do país” e atualizar os representantes húngaros sobre o “cenário
político das duas nações”.
A casa de Bolsonaro no
bairro Jardim Botânico, em Brasília, fica a 12 quilômetros da embaixada
húngara. A distância pode ser percorrida de carro em 16 minutos, segundo
estimativa do Google.
“Quaisquer outras
interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em
evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na
prática, mais um rol de fake news”, sustenta a defesa do ex-presidente.
O embaixador da
Hungria e o próprio Bolsonaro devem ser intimados a prestar depoimento. O
diplomata deve ser ouvido na qualidade de testemunha. Nesse caso, por ter
imunidade diplomática, não é obrigado a comparecer.
Especialistas ouvidos
pelo Estadão avaliam que o ex-presidente pode ser preso preventivamente na
investigação se ficar comprovado que ele tentou se antecipar a um eventual
mandado de prisão, o que poderia configurar uma tentativa de impedir a
aplicação da lei penal.
Bolsonaro é
investigado por suspeita de montar um plano golpista para se manter no poder
após a derrota nas eleições de 2022. O general Marco Antônio Freire Gomes,
ex-comandante do Exército, atribuiu ao ex-presidente a articulação de reuniões
com comandantes das Forças Armadas para discutir “hipóteses de utilização de
institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e
sítio em relação ao processo eleitoral”.
O ex-comandante da
Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, também relatou à
Polícia Federal que Bolsonaro aventou a possibilidade de golpe. Em outro trecho
do depoimento, afirmou que se retirou de uma reunião com o ex-presidente e se
recusou a receber uma proposta de decreto golpista.
Além dos depoimentos,
outro indício complica a situação do ex-presidente: um áudio enviado por Mauro
Cid que sugere que Bolsonaro ajudou a redigir e editar uma minuta de golpe.
• Gleisi diz que Bolsonaro está com medo
de ser preso e pede atenção da Justiça
Presidente do PT, a
deputada federal Gleisi Hoffmann afirma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
"realmente esteve e está com medo de ser preso" e diz que "é bom
a Justiça ficar de olho nele".
A petista faz a
avaliação a partir de reportagem do jornal The New York Times que afirma que
Bolsonaro se hospedou na embaixada da Hungria em fevereiro, dias após operação
da Polícia Federal que apreendeu seu passaporte.
A presidente do PT
afirma que a passagem pela embaixada deixa "claríssimo" o temor do
ex-presidente pela prisão e que "é possível que ele tente de novo".
A defesa do
ex-presidente afirma que ele ficou na embaixada somente para manter contato com
autoridades estrangeiras.
Nesta segunda-feira
(25), deputados federais acionaram a Procuradoria-Geral da República e o
Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (25) com pedidos de prisão
preventiva do ex-presidente.
"A estadia do
ex-presidente, por dois dias, na embaixada da Hungria, sugere uma tentativa
clara de pavimentar o terreno para eventual fuga ou proteção estrangeira, na
medida em que as investigações são aprofundadas e se robustecem os indícios e
provas capazes de fundamentar não apenas medidas cautelares (prisão), como uma
futura condenação penal", afirma representação enviada pelo deputado
federal Lindbergh Farias (PT-RJ) à Procuradoria-Geral da República.
Como imprensa internacional noticiou
estada de Bolsonaro na embaixada da Hungria
A estada de Jair
Bolsonaro (PL) na embaixada da Hungria por dois dias após ter os passaportes
confiscados durante uma operação da Polícia Federal (PF) repercutiu bastante na
imprensa internacional.
Veículos de várias
partes do mundo publicaram informações divulgadas em primeira mão pelo jornal
americano The New York Times na tarde de segunda-feira (25/3).
As reportagens chamam
atenção para os laços entre o ex-presidente brasileiro e o primeiro-ministro
húngaro Viktor Orbán, que são classificados como dois dos principais expoentes
da direita radical no mundo.
Outros textos lembram
as diversas investigações em curso que envolvem o ex-presidente — desde a
suposta tentativa de golpe de Estado até possíveis adulterações nos
comprovantes de vacinação contra a covid-19.
Segundo a publicação
do New York Times, a permanência de Bolsonaro na embaixada se devia a uma
"aparente tentativa de pedir asilo político".
Bolsonaro nega essa
versão. Em nota divulgada por seus advogados, ele afirma que esteve hospedado
"a convite" e "conversou com inúmeras autoridades do país amigo
atualizando os cenários políticos das duas nações".
"Quaisquer outras
interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em
evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos",
complementa o texto.
A estada do
ex-presidente na embaixada húngara aconteceu entre 12 e 14 de fevereiro, apenas
alguns dias depois de a Polícia Federal confiscar seu passaporte e prender o
coronel Marcelo Câmara, seu ex-ajudante de ordens; e Filipe Martins,
ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência.
Confira a seguir como
a imprensa internacional reagiu à estada de Bolsonaro na embaixada da Hungria.
• 'Troca de gentilezas'
O New York Times, que
obteve acesso às imagens de segurança que comprovam a passagem do ex-presidente
brasileiro pela embaixada, destacou em sua reportagem que "a estada indica
que Bolsonaro tentava aproveitar a amizade com um colega líder da direita
radical, o primeiro-ministro Viktor Orbán, da Hungria, numa tentativa de
escapar do sistema de justiça brasileiro enquanto enfrenta investigações
criminais no Brasil".
A reportagem ainda
destaca que Bolsonaro e Orbán mantêm um relacionamento próximo há anos,
"encontrando pontos em comum como dois dos líderes de direita radical em
nações democráticas".
O texto lembra que
Bolsonaro já chamou Orbán de "irmão". Pouco tempo depois, Orban
devolveu a gentileza ao classificar Bolsonaro como um "herói".
Por fim, o New York
Times lembra que Bolsonaro disse em março que não tem medo de ser preso.
"Eu poderia muito bem estar em outro país, mas decidi voltar aqui apesar
de todos os custos", discursou o ex-presidente num evento semanas atrás.
Ainda entre os
veículos dos EUA, o The Washington Post publicou uma reportagem em que
repercute o anúncio de uma investigação da Polícia Federal após a divulgação da
estada de Bolsonaro na embaixada húngara.
A reportagem aponta
que "alguns rivais políticos de Bolsonaro aproveitaram as notícias de
segunda-feira para pedir a prisão dele, alegando que o ex-presidente está mais
uma vez sinalizando possíveis planos de fuga".
"Uma fonte da
Polícia Federal confirmou à Associated Press que a investigação acontece em
reação a uma reportagem do The New York Times", aponta o Washington Post.
"Se a Polícia
Federal obtivesse um mandado de prisão contra o ex-presidente, os policiais não
teriam jurisdição para entrar na embaixada húngara devido a convenções
diplomáticas que restringem o acesso", complementa o texto.
• Novas investigações e desdobramentos
O El País, da Espanha,
lembrou que a permanência na embaixada da Hungria aconteceu "quatro dias
depois que a Justiça retirou o passaporte de Bolsonaro como uma medida cautelar
enquanto ele é investigado por supostamente tecer um golpe de Estado com militares
da ativa e da reserva".
A publicação
acrescenta que o Itamaraty convocou o embaixador húngaro para esclarecimentos.
O El País avalia que
"o cerco judicial em torno de Bolsonaro não parou de se apertar desde que
ele perdeu as eleições e o poder".
"Ele enfrenta
diversas investigações. A mais grave, a de preparar um golpe de Estado para
impedir que seu arquirrival, Luiz Inácio Lula da Silva, assumisse o poder após
as eleições. Outra, por guardar algumas joias como presente da família real
saudita. E uma terceira por falsificar a carteira de vacinação. Em nenhuma das
três ele foi formalmente acusado até agora."
O alemão Deutsche
Welle informou que, no ano passado, Bolsonaro foi julgado e está
"inelegível para cargos políticos até 2030 por espalhar desinformação
durante as eleições de 2022, quando foi derrotado pelo atual presidente Luiz
Inácio Lula da Silva".
O indiano Times of
India destacou que o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), "deu ao ex-presidente 48 horas para explicar a permanência na
embaixada húngara".
A Bloomberg repercutiu
a fala de Paulo Gonet, o procurador-geral da República. Durante um evento no
Congresso Nacional na segunda-feira (25/3), ele pediu "paciência"
para analisar os últimos acontecimentos.
• Comparações com a Bolívia
No Reino Unido, o
jornal The Guardian observou que a embaixada da Hungria fica "a uma curta
viagem de carro do palácio presidencial que um dia foi ocupado por
Bolsonaro".
O The Guardian informa
que, em 8 de fevereiro, dia em que os passaportes de Bolsonaro foram
confiscados durante uma operação da Polícia Federal, o primeiro-ministro
húngaro postou no X (o antigo Twitter) uma fotografia em que aparece apertando
a mão de Bolsonaro.
"Um patriota
honesto. Continue lutando, senhor presidente!", escreveu Orbán nas redes
sociais.
"Bolsonaro não
deixou claro por que decidiu visitar a embaixada. No entanto, ele expressou
publicamente o receio de ter o mesmo destino que a ex-presidente da Bolívia,
Jeanine Áñez. Em 2022, Áñez foi condenada a 10 anos de prisão depois de ser
considerada culpada de ajudar a orquestrar um suposto golpe de Estado de 2019
que a levou ao poder após a queda do presidente Evo Morales", escreveu o
jornal britânico.
"Antes de sua
derrota eleitoral, Bolsonaro disse que via apenas três futuros possíveis para
ele: prisão, morte ou vitória. O vídeo do New York Times sugere que uma quarta
alternativa pode agora ser considerada: uma nova vida como inquilino na embaixada
húngara, onde, ao abrigo do direito internacional, não poderia ser preso."
Fonte:
IstoÉ/FolhaPress/BBC News Mundo
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