O único objetivo de Milei é 'destruir' a
'integração latino-americana', diz presidente da Colômbia
A fala de Gustavo
Petro segue um rito de insatisfação da liderança colombiana.
Petro acusou o seu
homólogo argentino, Javier Milei, de ter planos de destruir o projeto de
integração latino-americana, principalmente depois que as relações diplomáticas
entre as duas nações ficaram tensas devido às divergências entre as lideranças.
"Acho que Milei
pretende destruir, ou pelo menos adiar, o projeto de integração
latino-americano", disse Petro nas suas redes sociais depois de ser
chamado de "terrorista" pelo líder do La Libertad Avanza.
Em sua mensagem, o
presidente colombiano também expressou solidariedade ao seu homólogo mexicano,
Andrés Manuel López Obrador, descrito por Milei como "ignorante".
"A promessa de
Milei de repetir o sistema neoliberal de 30 anos atrás pode ser um fracasso
previsto", arrematou Petro.
·
Troca de farpas
Nos últimos dias, o
clima na América Latina, em especial na Argentina e na Colômbia, vem
arrefecendo. Mas por qual motivo? Vem cá que a gente explica.
Desde a sua posse,
Milei parece estar, pelo que apontaram especialistas em diversas análises
trazidas pela Sputnik Brasil, fazendo um jogo de comportamento
"vira-latista", seguindo uma lógica de domínio aplaudida apenas pelos
Estados Unidos.
Entre os malfeitos do
chefe argentino estão as proibições e cobranças indevidas de alunos brasileiros
que cursam medicina nas terras dos hermanos, declarações de que ao apoiar o
cessar-fogo no conflito israelo-palestino o homólogo colombiano estaria sendo
terrorista, entre tantos outros. As ações dirigidas a Petro, por exemplo, já
vêm gerando consequências.
Daí a acusação de
Milei estar agindo contrariamente à integração latino-americana. Outros gestos
que vão nesse sentido são "apoiar" decisões de Israel na Faixa de
Gaza e fazer viagens que o liguem aos interesses dos Estados Unidos, entre
outros.
·
Governo Milei publicou
vídeo polêmico em aniversário do golpe militar na Argentina
A Casa Rosada publicou
em sua conta oficial no X (antigo Twitter) um vídeo de quase 13 minutos
intitulado “Dia da Memória pela Verdade e Justiça. Completo”.
O vídeo foca nos anos
anteriores ao golpe militar de 1976 na Argentina sem mencionar os
desaparecidos da última ditadura militar.
O material audiovisual
divulgado pelo governo de Javier Milei inclui figuras
como o escritor, ex-jornalista e político argentino Juan Bautista “Tata” Yofre,
o ex-guerrilheiro Luis Labraña, e María Fernanda Viola, filha do capitão
tucumán Humberto Viola, que morreu antes da última ditadura militar.
O vídeo começa com a
narração de “Tata” Yofre, que expõe uma citação de um livro do autor tcheco
Milan Kundera: “Para liquidar as nações, a primeira coisa que se faz é tirar
deles a memória”.
Durante os quase 13
minutos de vídeo, é apresentada a história de María Fernanda Viola e a morte de
seu pai e irmã, bem como a versão de Labraña e Yofre de como se chegou a um
governo de fato após a presidência de Isabel Martínez de Perón.
Os depoimentos apontam
para o arco político, fazem denúncias públicas contra organizações de direitos
humanos e o jornalista Juan Bautista Yofre lembra que foi o governo do falecido
presidente Néstor Kirchner quem “acabou com tudo”: o perdão do presidente
Carlos Menem e as leis de Ponto Final e Obediência Devida de Raúl Alfonsín anos
antes.
Num dos momentos mais
polêmicos do vídeo, o ex-guerrilheiro Luis Labraña afirma ter inventado o
número de 30 mil pessoas desaparecidas, apesar de esse número ter consenso
nacional e internacional e ter sido construído com base em relatórios de
organizações de direitos humanos.
Por exemplo, em 1984,
a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas registrou pelo menos
8.961 pessoas desaparecidas em uma lista que chamou de parcial, e em 2006 o
Arquivo de Segurança Nacional da Universidade de Georgetown divulgou um
documento preparado pela inteligência militar argentina, em julho de 1978, no
qual eles reconheceram que havia pelo menos 22 mil mortos ou desaparecidos.
O número não é
indiscutível, já que ainda está em construção, uma vez que o número exato de
mortos e desaparecidos na última ditadura na Argentina nunca foi conhecido com
certeza.
O polêmico vídeo foi
publicado horas depois de uma nova marcha na Praça de Maio, no dia 24 de março,
na qual organizações de direitos humanos, associações civis, políticos e
diversos setores da cidadania comemoram o “Dia da Memória, da Verdade e da
Justiça” e relembraram as vítimas da repressão da última ditadura militar na
Argentina.
Em declarações à
imprensa durante o protesto, a presidente da associação Abuelas de Plaza de
Mayo, Estela Carlotto, criticou o vídeo e afirmou: “Diante de um governo que
nos ofende, tanto o presidente como o vice-presidente, o povo é mais claro do
que nunca sobre todos os jovens, sem violência e sem ouvir provocações”.
Em sua conta pessoal
no X, Javier Milei republicou o vídeo acompanhado da frase “para uma memória
completa para que haja verdade e justiça”.
Horas antes, sua
vice-presidente, Victoria Villarruel, havia compartilhado outro material que
acompanhava com a legenda: “Os Direitos Humanos são para todos. Memória também.
Verdade, Justiça e Reparação para as vítimas do terrorismo. Os responsáveis por estes crimes não podem ficar impunes”.
A ministra da
Segurança, Patrícia Bullrich, também se manifestou nesse sentido: “Eles
construíram uma história sobre a tragédia de acordo com os seus interesses
ideológicos, independentemente das vítimas e da profundidade das feridas. A
mudança também vem do reconhecimento de que uma meia verdade não é a verdade”
No final do vídeo,
Yofre faz uma reflexão e convoca os argentinos a se reunirem novamente no dia
25 de maio e “olharem para frente”.
Essa foi a data que
Javier Milei escolheu para convocar os governadores para assinarem o chamado
“Pacto de Maio” em Córdoba.
Recordemos que María
Estela Martínez de Perón foi destituída pelas Forças Armadas em 24 de março de
1976, dando lugar a uma das etapas mais sombrias da história do país.
Durante este período,
que durou até Dezembro de 1983, a Junta Militar suspendeu a Constituição
Nacional e foram perpetrados múltiplos crimes contra a humanidade, como o
desaparecimento forçado de milhares de pessoas, assassinatos, sequestros e
torturas.
Ø
Chamado de 'ignorante' por Javier Milei,
presidente do México rebate e diz que argentino 'despreza o povo'
O presidente do
México, Andrés Manuel López Obrador, publicou uma mensagem na rede X nesta
quinta-feira (28) para responder a Javier
Milei, da Argentina, que o chamou de "ignorante" em uma entrevista.
"Eu ainda não
entendo como os argentinos, sendo tão inteligentes, votaram em alguém que
despreza o povo", afirmou López Obrador.
A crítica de Milei foi
feita durante uma entrevista à rede CNN. O presidente argentinou afirmou o
seguinte: "É um elogio que um ignorante como o López Obrador fale mal de
mim, isso me enaltece".
Em novembro, antes de
Milei ser eleito, López Obrador afirmou que o argentino era um "facho
conservador". Facho é uma forma de se referir a uma pessoa como fascista.
Na mesma entrevista em
que Milei criticou o presidente mexicano, ele atacou Gustavo Petro, da Colômbia (veja mais abaixo).
Na rede social X,
Petro fez um comentário sobre a publicação de López Obrador.
O presidente
colombiano agradeceu o mexicano e afirmou: "Creio que Milei busca destruir
ou, pelo menos, adiar o projeto de integração da América Latina. Hoje
o povo argentino sofre, e a pobreza aumenta. A promessa de Milei de
repetir o sistema neoliberal de 30 anos atrás pode ser um fracasso
anunciado".
·
Colômbia expulsa diplomatas argentinos
Só alguns trechos da
entrevista foram veiculadas. Além de criticar López Obrador, Milei também
chamou Gustavo Petro, da Colômbia, de "assassino terrorista".
O governo colombiano
respondeu nesta quarta-feira (27) com a expulsão de todo o corpo
diplomático da Argentina no seu país, em protesto pelas declarações que o
presidente Javier Milei fez contra o chefe de Estado colombiano, Gustavo Petro.
O Ministério de
Relações Exteriores da Colômbia enviou um comunicado no qual afirma que repudia
as declarações de Milei em uma entrevista a uma rede de TV, "na qual ele
ofende a dignidade do presidente Petro, que foi eleito democraticamente".
De acordo com o texto,
as falas de Milei "deterioraram a confiança da nossa nação".
Essa não é a primeira
vez que Milei faz criticas a Petro de uma maneira que os colombianos consideram
ofensiva.
A decisão acontece
depois de Milei dizer, em entrevista a Andrés Oppenheimer, que “não se pode esperar muito de alguém que
foi um assassino terrorista”, em
referência ao passado de guerrilha de Petro.
Segundo o Ministério
das Relações Exteriores da Colômbia, o alcance da expulsão “será comunicado à
embaixada argentina através dos canais institucionais diplomáticos”.
A CNN pediu
comentários à chancelaria argentina sobre esta decisão e aguarda resposta.
Antes de a decisão ser
anunciada, o embaixador colombiano na Argentina, Camilo Romero, antecipou no X
que o governo colombiano “está explorando todas as medidas” para responder às
declarações de Milei contra o Petro.
·
Outros incidentes
Em janeiro, a Colômbia
convocou seu embaixador na Argentina para consultas. No mundo diplomático, essa
é uma forma de sinalizar descontentamento com a ação de um outro país.
Na ocasião, Milei
havia se referido a Petro como "um comunista assassino" e que o
presidente estava "afundando a Colômbia".
Na época, o Ministério
de Relações Exteriores da Colômbia também publicou um comunicado dizendo que as
declarações de Milei feriam a honra de Petro e que eram desrespeitosas e
irresponsáveis.
·
Histórico da relação entre os países
Historicamente,
Colômbia e Argentina tiveram boas relações diplomáticas e comerciais. Mas hoje
a Argentina tem um líder ultraliberal, e Petro é o primeiro presidente de
esquerda na história da Colômbia.
Petro chegou a
insinuar uma crítica a Milei em um discuro em janeiro. Ele afirmou "Eles
nos atacam como comunistas, como socialistas, que o Estado é o dono dos meios
de produção. Claro, aqueles que nos atacam não têm ideia do que é o comunismo
ou do que é o socialismo”.
Petro disse na ocasião
que o seu governo quer que os meios de produção estejam nas mãos do povo e não
do Estado.
·
Desculpas ao papa
Milei já pediu
desculpas a uma das pessoas que xingou: o Papa Francisco. Durante a campanha à
presidência, ele se referiu ao papa como "comunista" e "imbecil
que defende a justiça social". No entanto, em fevereiro, já como
presidente da Argentina, ele se encontrou com o o papa e afirmou que Francisco
é "o homem mais importante da Argentina".
Ø
Waack: As brigas entre presidentes
latino-americanos
Para usar um pouco de
gíria, tacaram fogo no parquinho latino-americano nesta quarta-feira (27).
Presidentes de alguns
dos principais países da região atracaram-se em violências verbais. Teve o
tradicional direita contra esquerda, entre Argentina e México. Mas também
esquerda contra esquerda, envolvendo Venezuela e Colômbia.
O Brasil também faz
parte do show, criticando a Venezuela e sendo criticado por ela.
O pano de fundo para
os desentendimentos não é só o que cada um acha do governo do outro. Mas,
principalmente, como cada um enxerga seu papel na situação internacional. E
suas possíveis alianças.
É neste ponto que a
situação se complica do ponto de vista brasileiro. Geografia e tamanho da
economia sugerem que o Brasil deveria ter grande influência sobretudo na
América do Sul. Não é o que acontece. Não só Caracas e Buenos Aires parecem dar
pouca bola para o Brasil.
Não há muita gente
preocupada em outras chancelarias latino-americanas com o que se pensa em
Brasília. É difícil imaginar hoje que qualquer organização regional — e o
Brasil apostou em várias — possa se reunir e chegar a consensos de aplicação
prática sobre qualquer assunto.
O governo brasileiro
se orgulha de praticar o que chama de política externa ativa e altiva. Seria
melhor ainda se tivesse mais influência.
Ø
Argentina dá asilo a seis opositores
venezuelanos em embaixada e denuncia corte de luz
A Argentina confirmou que
está dando asilo a líderes políticos da oposição na residência oficial de sua
embaixada em Caracas e manifestou “preocupação” com o corte no fornecimento
elétrico da sede diplomática na última segunda (25).
Em comunicado, a Casa
Rosada advertiu ao governo da Venezuela “sobre qualquer
ação deliberada que ponha em perigo a segurança da equipe diplomática argentina
e dos cidadãos venezuelanos sob proteção”.
O governo argentino
também lembrou que é obrigação do Estado receptor de missões diplomáticas
salvaguardá-las de “invasões ou danos e preservar a tranquilidade e dignidade
da mesma”.
Fontes do governo
argentino confirmaram à CNN que estão dando asilo a seis opositores
que têm mandado de prisão.
“São dirigentes
perseguidos que precisavam de proteção”, explicaram. “Não somos um foco
opositor em Caracas, somente estamos atuando em exercício efetivo de proteção
dos direitos humanos”, esclareceram.
O texto do comunicado,
emitido pelo escritório do presidente Javier Milei, explica
que o acolhimento dos opositores foi concedido sob o respaldo da
inviolabilidade garantida pela Convenção de Viena sobre as Relações
Diplomáticas, da qual ambos os países são signatários.
O comunicado argentino
também “expressa sua inquietude diante da deterioração da situação
institucional e atos de intimidação e perseguição contra figuras políticas da
Venezuela”.
No texto, ainda há um
pedido de Milei para que o presidente Nicolás Maduro “garanta a segurança e
bem-estar do povo venezuelano e convoque eleições transparentes, livres,
democráticas e competitivas, sem proscrições de nenhum tipo”.
Perguntado
pela CNN acerca da denúncia da presidência argentina, o governo
venezuelano informou que toda posição oficial será divulgada através dos meios
oficiais estabelecidos para isso, seja através de comunicados ou declarações.
Diversos mandados de
prisão foram emitidos nas últimas semanas pelo Ministério Público da Venezuela
após a denúncia de supostos planos de conspiração contra Maduro e o governador
do estado de Táchira, Freddy Bernal.
Entre os presos, estão
sete integrantes do movimento político Vente, de María Corina Machado. Outros
sete colaboradores da líder opositora estão com mandado de prisão.
A Argentina está sem
embaixador em Caracas desde o início do governo Milei, que disse que não se
relacionaria com comunistas.
A tensão entre os
países escalou desde fevereiro, quando uma aeronave venezuelana que estava
retida no Aeroporto Internacional de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, foi confiscada e entregue aos Estados Unidos. Caracas qualificou
a ação como um “roubo descarado”.
Em represália, a
Venezuela proibiu que aeronaves argentinas sobrevoassem seu espaço aéreo.
O porta-voz da
presidência argentina, Manuel Adorni, chamou os governantes chavistas de “amigos do terrorismo” e o chanceler venezuelano, Yván Gil, chamou o governo
Milei de “neonazista”, além de “submisso e obediente ao seu amo imperial”, em
referência à atual relação argentina com os Estados Unidos.
Fonte: Sputnik
Brasil/CNN Brasil
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