Salvio Kotter: Caso Marielle - A casa caiu
pra muita gente
Como o Luís Nassif tem
apontado com extrema consistência, o caso Marielle parece carecer de uma
resolução efetiva, a possibilidade de envolvimento da família Bolsonaro, não só
mandando mandar matar, mas atuando diretamente é altíssima, quase certa. Contudo,
no último domingo houve as prisões e a divulgação do relatório da Polícia
Federal. Neste artigo pretendo sumarizar o que houve de mais direto nas
revelações deste domingo, funalizando o tanto quanto possível.
Braga Netto
·
Desconsideração de Advertências
Na posição de
interventor na Segurança Pública do Rio de Janeiro, o general Walter Braga
Netto (ou Brega Natto, como prefere o sempre impagável Chico Pinheiro) tomou
uma direção polêmica ao fazer vista grossa às advertências concernentes a
Rivaldo Barbosa. Antes mesmo de sua indicação para o comando da Secretaria de
Polícia Civil, em março de 2018, já circulavam rumores acerca de supostos
vínculos de Rivaldo com milícias. O delegado da Polícia Federal Fábio Galvão, à
época subsecretário de Inteligência, destacou-se como um previdente
conselheiro, sinalizando a Braga Netto os riscos envolvidos.
·
Repercussões Não Antecipadas
A reação de Braga
Netto às advertências superou a mera omissão. Não somente seguiu adiante com a
designação de Barbosa como, em uma atitude possivelmente retributiva,
destituiu, exonerou Fábio Galvão. O afastamento ocorreu posteriormente à
nomeação de Barbosa, que se deu na iminência do lamentável homicídio de
Marielle Franco, imprimindo ao ocorrido um emaranhado de complexidade e
desconfiança. Em contrapartida, Galvão não ficou relegado ao esquecimento,
ascendendo, mais tarde, a uma posição proeminente na Polícia Federal.
·
Intrincados Deveres
A trama torna-se ainda
mais complexa ao levarmos em conta que Braga Netto, agora implicado em
investigações sobre uma tentativa de subversão da ordem democrática, lida com
vicissitudes semelhantes nesse episódio de destituição. Nem Braga Netto nem
seus conselheiros assumiram plenamente a responsabilidade pela instalação de
Barbosa. Tal decisão tem sido atribuída a Richard Nunes, então secretário de
Segurança Pública, configurando um labirinto de responsabilidades e escolhas
discutíveis.
****
·
Robson Calixto / Malafaia
# Relatos Reveladores
As vozes que ecoam
através do serviço “disque-denúncia” do Rio de Janeiro iluminam as tenebrosas
conexões político-milicianas. Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e personagem proeminente neste
enredo, encontra-se cercado por alegações sérias. Revela-se que Robson Calixto,
seu assessor, não apenas cultivava laços estreitos com o universo da milícia,
mas desempenhava um papel crucial ao facilitar encontros com Ronnie Lessa, o
executor da vereadora Marielle Franco.
>>> Encontros
Programados
Da mesma forma, os
padrões relativos à hora e ao local dos encontros de Robson, conhecido como “o
Peixe”, indicam um esquema cuidadosamente urdido. Ele era regularmente
observado, a cada quinzena — nos dias 15 e 30 —, em uma igreja evangélica
associada a Silas Malafaia, localizada na Zona Oeste do Rio, nas imediações da
UPP da Taquara. Nesse local, “o Peixe” aparentava receber vultosas somas,
presumivelmente oriundas da exploração miliciana da área, corroborando as
suspeitas sobre seu envolvimento nestas atividades ilícitas.
>>> A
Dimensão “Protetora”
Além disso, o escopo
das atuações de Robson transcendia meras transações pecuniárias. As acusações o
apresentam como um “segurança informal” de Domingos Brazão, frequentemente
armado e destinado, ao que tudo indica, a assegurar a integridade e a privacidade
do conselheiro do TCE-RJ.
****
·
Ricardo Abraão / Jogo do bicho
# Promoção Sob
Controvérsia
Ricardo Abraão,
estando na condição de suplente pelo União Brasil, ascendeu ao posto de
deputado federal em virtude da prisão de Chiquinho Brazão, envolvido nas
investigações que tangem ao trágico assassinato da vereadora Marielle Franco. O
novel deputado, além de suas conexões políticas, carrega um lastro familiar de
notoriedade: é sobrinho de Anísio Abraão David, figura emblemática na
hierarquia do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Esta ligação, aliada ao seu
desempenho na presidência da escola de samba Beija-Flor, projeta sobre sua
trajetória política uma luz tão reluzente quanto enigmática.
>>> Trajetória
Política e Influência Social
O itinerário político
e social percorrido por Ricardo Abrão no panorama carioca é notável. Atuando
como secretário de ação comunitária na municipalidade, já pavimentou sua
história política com dois mandatos como deputado estadual. Sua experiência
anterior em Brasília, ainda como suplente, evidencia uma familiaridade com as
dinâmicas intrincadas do poder legislativo brasileiro, prenunciando uma
habilidade para manobrar no jogo político nacional.
>>> Rede de
Conexões e Perspectivas
As relações de Abrão,
tanto com a Beija-Flor quanto com Anísio Abraão David, introduzem matizes
peculiares ao seu perfil político. A influência notória de Anísio no âmbito do
jogo do bicho, assim como o seu prestígio na sociedade do Rio, poderá desempenhar
um papel significativo na condução do mandato de Abrão na Câmara dos Deputados.
Este movimento na configuração do poder não representa meramente uma
alternância de posições, mas sugere um potencial redimensionamento das forças
políticas e sociais na metrópole carioca.
>>> Opor-se
ao Desafio das Antigas Sombras
Com expectativas
múltiplas e encruzilhadas a desbravar, Ricardo Abrão se depara com o desafio de
representar o Rio de Janeiro no legislativo federal, equilibrando-se na corda
bamba que separa as responsabilidades inerentes ao cargo das sombras de seu legado
familiar e das suas conexões. A maneira pela qual conseguirá harmonizar seu
passado com as demandas atuais de sua função legislativa será crucial para
definir o trajeto de sua carreira na esfera política nacional.
****
·
Rivaldo Barbosa / Escândalo milionário /
Giniton Lages
# O Desvendamento do
Esquema
A operação da Polícia
Federal (PF) pôs a descoberto um intrincado esquema de corrupção, tendo como
figura central o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) Rivaldo
Barbosa. A acusação que pesa contra ele, relativa aos vínculos com o trágico caso
de Marielle Franco, apenas agrava o cenário. De acordo com o relatório da PF,
enquanto liderava a Delegacia de Homicídios, Barbosa era beneficiário de uma
“mesada” da ordem de até R$ 300 mil, paga pela milícia. Este suborno tinha como
finalidade obstruir as investigações de homicídios, perpetuando um quadro de
impunidade e corrupção dominante.
# Desnudando a Rede de
Corrupção
As investigações da
PF, sobretudo por meio da Operação Murder Inc., trouxeram à luz os mecanismos
operacionais e financeiros das milícias cariocas. Testemunhos, incluindo os
prestativos pelo miliciano Orlando Curicica, descortinaram o fluxo regular de
altas quantias monetárias para os bolsos de autoridades. Tal fluxo assegurava a
invisibilidade dos crimes milicianos diante da justiça.
# Repercussões e
Reflexões
A exposição desse
esquema de “mesadas” impõe um questionamento sério sobre a probidade das
instituições destinadas a assegurar a ordem e a justiça no Rio de Janeiro. A
detenção de Barbosa sublinha não somente a seriedade dos atos corruptos em que
se imiscuiu, mas também elucida o alarmante grau de influência que as milícias
exercem sobre as estruturas policiais.
# Rumo a um Futuro de
Integridade
O escândalo que
envolve a delegacia liderada por Rivaldo Barbosa instiga uma profunda
desconfiança pública nas forças de autoridade, convocando o sistema de justiça
a operar com mais rigor e transparência. A profunda corrupção desvelada demanda
uma resposta institucional assertiva, requerendo reformas abrangentes e um
combate resiliente à impunidade que, até então, tem dominado o enfrentamento às
milícias no Rio de Janeiro.
****
·
Estratégias de Rivaldo no Dossiê Marielle
# Táticas de Obstrução
Rivaldo Barbosa,
ex-líder da Polícia Civil do Rio de Janeiro, encontra-se sob o foco das
acusações por adotar estratégias bastante controversas em relação ao caso que
abalou o país: o assassinato de Marielle Franco. Segundo investigações
realizadas pela Polícia Federal (PF), houve ação deliberada de Barbosa ao
“conceder” uma promoção ao delegado Giniton Lages, com o claro objetivo de
estagnar as investigações desse crime hediondo. De acordo com a PF, essa
manobra foi orquestrada em um momento decisivo, precisamente às vésperas da
conclusão da intervenção federal no Rio de Janeiro.
# Cenário de Desvios
Durante o período da
intervenção federal, no qual Rivaldo Barbosa assumiu o papel de chefe da PCRJ,
o estado atravessava uma era marcada por turbulências no setor de segurança
pública. O lapso temporal que testemunhou os assassinatos de Marielle Franco e
seu motorista Anderson Gomes, sob a supervisão de Barbosa, trouxe ao holofote
questionamentos acerca da integridade das práticas internas da corporação e dos
indícios de obstrução e corrupção que cercam o caso.
# Promoção Sob
Suspeita
A elevação de Giniton
Lages a uma posição superior, caracterizada pela Polícia Federal como atípica,
ressalta um possível intento de Barbosa em evitar que a investigação do caso
Marielle alcançasse profundidade em seus achados. Essa manobra estratégica, efetuada
na iminência do término da intervenção federal, indica uma manipulação visando
preservar detalhes ocultos do crime e suas ramificações políticas e
institucionais.
# Implicações
Para a Justiça Com
este ato trazido à tona pela PF, evidencia-se os obstáculos enfrentados pelas
autoridades judiciais e forças de segurança na luta contra a impunidade e na
diligência por justiça para Marielle Franco e Anderson Gomes. A promoção de
Lages, neste enquadramento, transcende uma mera decisão administrativa,
figurando como elemento de um intrincado jogo de poder, influência e obstrução
à justiça.
****
·
Ascensão e Queda de Rivaldo
Rivaldo Barbosa, ao
assumir a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro, encontrou-se imediatamente
no olho do furacão com o assassinato de Marielle Franco, ocorrendo sob sua
recente gestão. A nomeação de Giniton Lages para liderar a investigação, seguida
por uma progressão de eventos que levaram ao questionamento da eficácia e
integridade das investigações, pinta um quadro de intriga e suspeitas.
# Condecoração Questionada
A Medalha do
Pacificador, conferida a Rivaldo Barbosa pelo Exército Brasileiro, surge como
um ponto de grande ironia e polêmica, especialmente considerando as
subsequentes acusações de corrupção e obstrução de justiça. Essa honraria,
destinada a reconhecer “relevantes serviços ao Exército”, foi entregue em um
contexto em que a competência e moralidade de Barbosa estavam sob intensa
escrutinação.
# Investigações e
Acusações
As acusações contra
Barbosa e o sistema que o promoveu são severas, incluindo tentativas de
sabotagem nas investigações do caso Marielle e a proteção aos verdadeiros
criminosos. O depoimento do miliciano Orlando de Curicica, implicando Rivaldo e
a cúpula da Polícia Civil, adiciona camadas de complexidade ao caso, revelando
potenciais conflitos e contradições dentro da própria estrutura investigativa.
# Intervenção e
Consequências
A Intervenção Federal
na Segurança Pública do Rio, liderada por figuras como Walter Braga Netto, é um
pano de fundo crucial para entender a promoção e permanência de Rivaldo e
Giniton em posições de poder. A ironia da nomeação de Lages para um intercâmbio
sobre combate a máfias na Itália, após sua gestão das investigações do caso
Marielle, ressalta as controvérsias e o ceticismo em torno das ações e decisões
tomadas durante e após a intervenção.
****
·
Erika e Rivaldo / Luxo e Lavagem de
Dinheiro
# Ascensão Financeira
Sob Suspeita
Erika, esposa do
ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, viu sua renda
aumentar exponencialmente, um crescimento que a Polícia Federal (PF) descreve
como suspeito e atípico. Com uma elevação de 1.444% na renda anual, chegando a
R$ 927 mil, a vida financeira de Erika se tornou objeto de investigação,
especialmente no contexto da aquisição de imóveis de alto valor.
# Lavagem de Dinheiro
e Corrupção
As operações
financeiras de Erika, marcadas por depósitos em espécie e falta de
transparência quanto à origem dos fundos, indicam práticas clássicas de lavagem
de dinheiro. Com saques vultosos, como o de R$ 880 mil, e movimentações que
somam mais de R$ 6,5 milhões em um período de cinco anos, as atividades
financeiras do casal despertaram a atenção dos investigadores.
# A Empresa como
Fachada
A PF aponta que as
empresas de Erika, usadas para canalizar os recursos ilícitos, serviam de
fachada para ocultar a verdadeira natureza dos ganhos. O envolvimento de Erika
nas atividades financeiras, alegadamente como “inspetora de qualidade”,
contrasta com seu salário anterior na Prefeitura do Rio, evidenciando uma
discrepância significativa entre sua renda declarada e os valores movimentados.
# Uma Rede Criminosa
O relatório da PF
delineia um quadro em que Rivaldo Barbosa, utilizando-se de sua posição e
influência, teria estabelecido uma “organização criminosa” dentro da própria
instituição policial. Com a colaboração de Erika e outros associados, essa rede
teria garantido a impunidade e a continuidade das operações ilícitas, incluindo
a obstrução das investigações do assassinato de Marielle Franco e Anderson
Gomes.
****
Novos nomes e novos
fatos fatalmente surgirão. Contudo, neste apanhado pretendo ter apontado o que
há de mais fulcral e necessário saber para entender a quantas andamos no atual
momento.
Fonte: Jornal GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário