PF vai investigar hospedagem de Bolsonaro
na Embaixada da Hungria
A Polícia Federal vai
investigar a permanência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por dois dias na
Embaixada da Hungria em Brasília, logo após ser alvo de uma operação da
corporação que apreendeu o passaporte dele, em fevereiro.
O fato foi revelado
pelo jornal americano The New York Times, que teve acesso a vídeos do sistema
de segurança da representação diplomática no Brasil.
Segundo a reportagem,
as imagens captadas mostram que Bolsonaro chegou à embaixada em 12 de
fevereiro, quatro dias após a operação de apreensão do passaporte do
ex-mandatário.
O documento está
retido devido a uma investigação que apura suposta trama golpista liderada pelo
ex-presidente para permanecer no poder após a derrota para Lula nas eleições de
2022.
O ex-presidente
conversou com a coluna de Igor Gadelha do Metrópoles: “Não vou negar que estive
na embaixada, sim. Não vou falar onde mais estive. Mantenho um círculo de
amizade com alguns chefes de Estado pelo mundo. Estão preocupados. Eu converso
com eles assuntos do interesse do nosso país. E ponto final. O resto é
especulação”, afirmou Bolsonaro à coluna.
De acordo com a
reportagem do The New York Times, as câmeras da embaixada mostram que o
ex-presidente brasileiro estava acompanhado de dois seguranças. Bolsonaro teria
permanecido no prédio da representação de 12 de fevereiro a 14 de fevereiro.
• Invioláveis
Pela legislação
internacional, embaixadas são consideradas invioláveis, sob jurisdição de
outros países, não podendo ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida
de execução. Isso significa que, mesmo com uma ordem de prisão, Bolsonaro não
poderia ser preso dentro da embaixada sem a autorização de autoridades da
Hungria.
É um caso semelhante
ao que aconteceu com o fundador do site WikiLeaks, o australiano Julian
Assange. Para evitar prisão, Assange permaneceu de 2012 a 2019 na Embaixada do
Equador, em Londres, até que o governo equatoriano suspendeu o asilo.
• Itamaraty cobrará explicações de
embaixador da Hungria
O Itamaraty chamou
nesta segunda-feira (25/3) o embaixador da Hungria no Brasil, Miklós Halmai,
para explicar por que a embaixada abrigou Jair Bolsonaro por dois dias no mês
passado. O Ministério das Relações Exteriores ressaltou a Halmai que o
ex-presidente responde a processos criminais no STF.
Bolsonaro ficou entre
12 e 14 de fevereiro na embaixada húngara em Brasília, como mostrou o jornal
The New York Time. Na semana anterior, em 8 de fevereiro, a Polícia Federal
apreendeu o passaporte do ex-presidente, por ordem do ministro Alexandre de Moraes,
do STF, em uma investigação sobre uma articulação golpista. No prédio da
representação da Hungria no Brasil, Bolsonaro não poderia, por exemplo, ser
preso.
Por meio da secretária
de Europa e América do Norte, embaixadora Maria Luísa Escorel, o Itamaraty
informou oficialmente ao embaixador da Hungria que Bolsonaro responde a
diversos processos criminais no Supremo, e que tem exercido seu direito de
defesa amplamente, como de praxe em um país democrático.
A ida do embaixador ao
Ministério das Relações Exteriores foi a segunda em pouco mais de um mês.
Halmai foi convocado ao Itamaraty no começo de fevereiro para explicar uma
postagem do primeiro-ministro Viktor Orbán em defesa de Bolsonaro, como
informou o repórter Daniel Rittner.
Em 8 de fevereiro, dia
da operação da PF que mirou Bolsonaro, Orbán afirmou, sobre o ex-presidente:
“Um patriota honesto. Continue lutando, Sr. Presidente”.
• “Fugitivo confesso”, diz ministro de
Lula sobre Bolsonaro na embaixada
O ministro das
Relações Institucionais do governo Lula, Alexandre Padilha, chamou o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de “fugitivo confesso”. A declaração do
ministro de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acontece após o jornal
norte-americano The New York Times revelar que o ex-chefe do Executivo ficou
dois dias na Embaixada da Hungria, em Brasília, após ser alvo de operação da
Polícia Federal (PF).
“Que Bolsonaro é um
fugitivo confesso, zero surpresa, como dizem. Mais uma vez ele mostrou os seus
planos de fugir. Fez isso no final do ano retrasado, depois das eleições, de
ter fugido para os Estados Unidos”, afirmou Padilha.
O ministro cita a
viagem de Bolsonaro para os Estados Unidos dias antes da cerimônia de posse
presidencial de Lula.
Vídeos obtidos pelo
jornal norte-americano mostram o momento em que Bolsonaro entra na embaixada
acompanhado de seguranças. O ex-presidente ficou no local de 12 a 14 de
fevereiro. Bolsonaro confirmou a estadia ao colunista Igor Gadelha, do
Metrópoles. “Não vou negar que estive na embaixada, sim. Não vou falar onde
mais estive. Mantenho um círculo de amizade com alguns chefes de Estado pelo
mundo. Estão preocupados. Eu converso com eles assuntos do interesse do nosso
país. E ponto-final. O resto é especulação”, afirmou o ex-presidente.
O ministro de Lula
reforçou que a Polícia Federal e o Judiciário têm total autonomia para
trabalhar em cima das imagens, mas que não irá comentar sobre.
“O que cabe a Justiça,
a Polícia Federal, a fazer com as imagens aí não sou eu quem vou opinar sobre
isso. O que eu posso é reafirmar que o presidente Lula tem dado todas as
condições de absoluta autonomia”, completou Padilha.
• Moraes já considerou pedido de asilo
como justificativa para prisão
Relator de uma série
de inquéritos contra Jair Bolsonaro no STF, o ministro Alexandre de Moraes já
considerou pedidos de asilo político como motivo para manutenção de prisão
preventiva.
Em uma decisão de
agosto de 2021, Moraes usou pedidos de asilo feitos pelo ex-deputado
bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ) para apontar risco de fuga e manter o
então parlamentar preso.
Na época, Silveira
estava preso após desrespeitar o uso de tornozeleira eletrônica. Por causa de
pedidos de asilo feitos pelo deputado para países não revelados, Moraes negou
pedido da defesa para que ele fosse solto.
“Diante da manutenção
das circunstâncias fáticas que resultaram no restabelecimento prisão, somadas à
tentativa de obtenção de asilo político para evadir-se da aplicação da lei
penal, a manutenção da restrição de liberdade é a medida que se impõe para garantia
da ordem pública e aplicação da lei penal”, argumentou Moraes na decisão.
• Governistas pedem prisão preventiva de
Bolsonaro
Parlamentares
governistas já usam o episódio para pedir a prisão de Bolsonaro. O deputado
Lindbergh Farias (PT-RJ), por exemplo, acionou a Procuradoria-Geral da
República (PGR) pedindo a prisão preventiva do ex-presidente.
A própria Polícia
Federal, que apura as articulações golpistas após as eleições de 2022 para
impedir a posse de Lula, deve investigar a ida de Bolsonaro à embaixada entre
os dias 12 e 14 de fevereiro.
• Bolsonaro deve receber tornozeleira para
ser monitorado, dizem fontes na PF
As primeiras
informações que vêm de Brasília não apontam para a decretação de uma prisão
preventiva para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que nesta quinta-feira
(25) se viu ainda mais enrascado com a Justiça após a revelação de um vídeo,
pelo jornal norte-americano The New York Times, no qual o antigo ocupante do
Palácio do Planalto se refugia por dois dias na embaixada da Hungria, em
Brasília, num claro movimento para se livrar do alcance das autoridades
brasileiras.
Por mais que a imensa
maioria dos juristas considere a atitude como mais do que suficiente para
justificar uma prisão preventiva, fontes da PF ouvidas pela Fórum e por outros
veículos de comunicação dizem que a decisão dever ser mesmo pela colocação de uma
tornozeleira eletrônica em Bolsonaro, para que ele seja monitorado 24 horas por
dia.
Para os ministros do
STF, dizem essas fontes, que pedem anonimato, uma prisão preventiva neste
momento poderia “ter repercussão” e “queimar a largada”, já que as primeiras
condenações do ex-presidente já podem ser vistas no horizonte, o que aí sim
resultará em cadeia.
Juristas e analistas
políticos passar toda a tarde desta quarta frisando que a conduta de Bolsonaro
de se instalar por dois dias na representação diplomática de um país cujo
governante é seu amigo pessoal e também liderança de extrema direita (Viktor
Orbán) apenas reforça que o ex-presidente procura uma saída para não ser punido
judicialmente pelos crimes de que é acusado.
Após convocação do Itamaraty, embaixador
da Hungria silencia sobre abrigo a Bolsonaro
O Itamaraty convocou o
embaixador da Hungria em Brasília, Miklos Halmai, para se explicar sobre os
dias em que escondeu o ex-presidente Jair Bolsonaro na sede do órgão
diplomático. Ele foi recebido pela chefe do Ministério das Relações Exteriores
que trata da Europa, Luisa Escorel, que criticou sua atuação no episódio. A
informação é da coluna de Jamil Chade no UOL.
A reunião com o
embaixador durou cerca de 20 minutos e Halmai se manteve em silêncio, apenas
ouvindo as reprimendas da diplomata brasileira. A suspeita do Itamaraty é que
ele tenha combinado explicações com a defesa do ex-presidente.
Fontes do serviço
diplomático brasileiro afirmam que o embaixador é ideologicamente identificado
com as posições do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, de
extrema-direita e, consequentemente, com Jair Bolsonaro. O premiê do país tem
uma relação próxima há anos com o inelegível.
A convocação de um
embaixador é tida como uma forma de pedir esclarecimentos e mandar uma mensagem
ao governo do país estrangeiro sobre uma ação. No caso de Bolsonaro, o governo
avalia que o gesto foi uma intromissão em assuntos domésticos, algo proibido
nas regras diplomáticas.
Essa não é a primeira
vez que Halmai gera uma crise diplomática entre os países nos bastidores.
Poucos dias antes da hospedagem de Bolsonaro na embaixada, o Itamaraty já havia
feito um alerta a diplomatas húngaros e criticado a intromissão de autoridades
de Budapeste em temas de política doméstica.
Na ocasião, em
fevereiro, Orban havia feito uma publicação nas redes sociais manifestando
apoio a Bolsonaro após ele ser alvo da operação Tempus Veritatis, da Polícia
Federal, que apreendeu seu passaporte. “Um patriota honesto. Continue lutando,
senhor presidente”, afirmou o premiê húngaro na data.
Mais cedo, durante
evento do PL em São Paulo, Bolsonaro afirmou que faz visitas frequentes a
embaixadores “para manter boas relações internacionais”. “Muitas vezes esses
chefes de Estado ligam para mim, para que eu possa prestar informações precisas
do que acontece em nosso Brasil. Frequento embaixadas também aqui pelo nosso
Brasil, converso com os embaixadores”, alegou o ex-presidente.
Após a revelação do
episódio pelo New York Times, a Polícia Federal estuda pedir medidas cautelares
contra o ex-presidente, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, e ministros
do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam pedir sua prisão preventiva.
• Na embaixada recebeu pizza e teve
cafeteira e travesseiro só pra ele
Após ter seu
passaporte confiscado pela Polícia Federal, Jair Bolsonaro foi visto na
Embaixada da Hungria em Brasília, conforme revelam imagens obtidas pelo jornal
The New York Times. Durante sua estadia de dois dias, o ex-presidente recebeu
tratamento especial, acompanhado por seguranças e pelo embaixador húngaro,
Miklós Halmai, e membros da equipe diplomática.
Bolsonaro, alvo de
diversas investigações criminais, aproveitou o status de uma embaixada
estrangeira, onde não poderia ser preso pelas autoridades nacionais. As imagens
mostram momentos como a entrega de comida e itens de conforto durante sua
estadia, tais como uma cafeteira e um travesseiro que foram filmados nas
imagens que vieram a público nesta segunda-feira (25).
Segundo o NYT, a
permanência na embaixada sugere uma possível tentativa de escapar da justiça,
contando com a amizade com o primeiro-ministro Viktor Orbán, da Hungria.
O ex-presidente chegou
à embaixada na noite de segunda-feira, 12 de fevereiro, e partiu na tarde de
quarta-feira, 14 de fevereiro. Imagens comparativas e depoimentos confirmam sua
presença no local.
A relação próxima
entre Bolsonaro e Orbán é destacada, com o primeiro-ministro húngaro já tendo
demonstrado apoio ao ex-presidente em ocasiões anteriores. A visita de
Bolsonaro à Hungria em 2022 foi marcada por declarações de proximidade entre os
dois líderes.
O advogado de
Bolsonaro optou por não comentar sobre o assunto, enquanto a Embaixada da
Hungria ainda não se pronunciou oficialmente.
Hungria já havia oferecido ajuda a
Bolsonaro na eleição de 2022
A recente divulgação
pelo The New York Times revelou que o apoio do governo de extrema-direita da
Hungria a Jair Bolsonaro não se limitou aos dias em que o ex-presidente esteve
hospedado na embaixada húngara em fevereiro, após entregar seu passaporte à Polícia
Federal em 8 de fevereiro.
Em julho de 2022,
durante sua campanha pela reeleição, Bolsonaro recebeu uma oferta de
assistência vinda de Budapeste para ajudá-lo a derrotar Luiz Inácio Lula da
Silva.
O encontro entre o
chanceler húngaro, Péter Szijjártó, e a então ministra da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos, Cristiane Britto, ocorreu durante a Conferência
Ministerial Internacional sobre Liberdade de Religião ou Crença, em Londres.
Szijjártó demonstrou
interesse em oferecer apoio a Bolsonaro e questionou se o governo húngaro
poderia tomar medidas para auxiliar em sua campanha de reeleição visando
retornar ao comando brasileiro.
Durante a reunião, o
chanceler ressaltou a importância da comunidade húngara no Brasil, que
majoritariamente apoiava Bolsonaro, e desejou sucesso nas eleições
presidenciais. No entanto, as respostas das autoridades brasileiras e húngaras
aos questionamentos sobre esse encontro foram evasivas.
A Hungria tem sido um
dos poucos aliados internacionais de Bolsonaro, com o primeiro-ministro Viktor
Orbán visitando o Brasil para a posse do presidente e o inelegível retribuindo
a cortesia em visita à Hungria.
Bolsonaro na Embaixada da Hungria: outra
cena de república das bananas. Por Mário Sabino
Os repórteres
brasileiros que cobrem Jair Bolsonaro (praticamente todos) levaram um furo do
The New York Times. O jornal americano descobriu que Jair Bolsonaro buscou
refúgio na Embaixada da Hungria, em Brasília, quatro dias depois de ter o
passaporte apreendido a mando do ministro Alexandre de Moraes, a sua Nêmesis
mais implacável.
O The New York Times
teve acesso a vídeos de segurança que mostram que Jair Bolsonaro entrou na
embaixada em 12 de fevereiro e só saiu de lá em 14 de fevereiro. Nesse meio
tempo, o ex-presidente se manteve fora do alcance das câmeras a maior parte do
tempo.
Ninguém tira folga de
Carnaval na Embaixada da Hungria. Sem saber se seria preso ou não naquele
momento, Jair Bolsonaro cogitou, portanto, exilar-se no país governado por um
expoente da extrema direita mundial, o primeiro-ministro Viktor Orbán, de quem
se considera um “irmão”. O húngaro, por sua vez, já chamou o ex-presidente de
“herói”.
“Não vou negar que
estive na embaixada, sim. Não vou falar onde mais estive. Mantenho um círculo
de amizade com alguns chefes de Estado pelo mundo. Estão preocupados. Eu
converso com eles assuntos do interesse do nosso país. E ponto-final. O resto é
especulação”, disse Jair Bolsonaro ao repórter Igor Gadelha, do Metrópoles.
Depois da publicação
da reportagem do jornal americano, fico aqui imaginando como a mão de Alexandre
de Moraes deve estar coçando para expedir um mandado de prisão preventiva
contra o ex-presidente, alegando risco iminente de fuga. Ao mesmo tempo, suponho
que, ao decidir sair da Embaixada da Hungria, Jair Bolsonaro tenha recebido
alguma garantia do STF de que não seria preso depois da apreensão do seu
passaporte.
É mais um episódio da
república das bananas na qual o Brasil se transformou, obedecendo, finalmente,
à sua verdadeira vocação histórica. Quanto ao jornalismo brasileiro, que agora
vive de mensagens de WhatsApp, ele anda fazendo jus ao país. Com as devidas e
honrosas exceções, claro.
Fonte: Metrópoles/DCM
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