Denise Assis: Inteligente como mosca,
Bolsonaro tenta fuga e Hungria fica mal na fita
A mosca engolida pela
nossa “Inteligência” sobre a tentativa de fuga de Bolsonaro via embaixada da
Hungria é imperdoável e poderia ter nos custado um vexame internacional, se é
que já não podemos considerar assim, o episódio. Jair Bolsonaro, a esta altura,
poderia estar repetindo a famosa cena de novela, em que o personagem do ator
Roberto Farias dava uma banana, a bordo de um jatinho, ao país, de onde fugia
em companhia de milhões de dólares.
Ao melhor estilo
“guerra-fria”, possivelmente um “espião” de dentro da embaixada daquele país,
no Brasil, deve ter contrabandeado para o New York Times um conjunto de imagens
extraídas das câmeras internas, do presidente brasileiro tentando “asilo”.
Pego de surpresa na
operação Véritas - que deteve assessores muito próximos dele e deu uma batida
em sua casa de praia, em Angra dos Reis, apreendendo celulares -, em 8 de
fevereiro, bateu o pânico. Primeiro, tentou angariar apoio popular em uma live,
convocando para a manifestação de 25 de fevereiro. Depois, vendo o caldo
fervente lhe bater na bunda, partiu para pedir socorro ao primeiro-ministro de
ultradireita, Viktor Orbán, da Hungria. Qualquer outra versão diferente disso
faz parte do processo de embaralhamento da verdade, que o jornalista inglês, e
estudioso dos novos comportamentos noticiosos, Matthew D’Dancona, chama de
pós-verdade.
O mais surpreendente
são as atitudes hesitantes, temerosas, cheias de dedo das autoridades, em bater
o martelo, em público, e dizer o que realmente aconteceu ali. Só se dirige a
uma embaixada, sem passaporte, na condição de investigado, quem está pretendendo
buscar asilo. Traduzindo: fugir. (Só faltou pular o muro, como precisaram fazer
os que, no desespero, em 1964, pós-golpe, lotaram a embaixada do Chile,
tornando o ar quase irrespirável, dada as condições de higiene pela
superlotação). José Serra relata bem isto. As embaixadas são consideradas
intocáveis, pelo Direito Internacional. Um pedaço do país encravado aqui.
O caso recente mais
rumoroso que vimos nesse sentido foi o do presidente deposto de Honduras,
Manuel Zelaya. Ele, sua família e colaboradores deixaram em 27 de janeiro de
2010 o prédio da embaixada brasileira, onde permaneceram refugiados por quatro
meses, até conseguirem deixar Tegucigalpa, a capital de Honduras, país que
governou.
Zelaya saiu do prédio
em um carro, cercado por uma caravana de cerca de vinte outros veículos, e
tomou um avião rumo à República Dominicana, na qualidade de convidados do
presidente Leonel Fernandez.
Presidente deposto,
deixou o país valendo-se de um salvo-conduto dado pelo seu substituto, Porfírio
Novo. O presidente era acusado de violação à Constituição de Honduras (porque
propôs a reeleição estando no cargo. Igualzinho a um que passou por aqui, mas
ninguém acho nada demais), e corria risco de ser preso caso deixasse o prédio
da embaixada.
No caso de Bolsonaro,
os jornais da mídia tradicional deram manchetes discretas onde dizem:
“Bolsonaro se abrigou em embaixada da Hungria após ser alvo da PF”. Não. Quem
pede abrigo é “desabrigado”. Não é o caso. O mais próximo da realidade, seria:
“Bolsonaro se refugia”... Naquele momento, sua notória intenção era fugir.
Dormiu na embaixada dois dias. Só faltou levar o ursinho de pelúcia. Só não se
sabe o que deu errado, no final, como tudo o que ele empreende.
Estivesse a nossa
Inteligência atenta, e o teriam flagrado – e aí não haveria motivo para
berreiro -, na porta da embaixada. Nos teriam livrado desses dias de
expectativa, em que o vemos provocar o governo atual, ganhar espaço e animar a
militância, com o assanhamento de agora. Com o tempo, o país que já não é dado
à memória, vai naturalizando o 8 de janeiro. Daqui a pouco estão chamando os
arrolados de “coitadinhos”. Daí para a anistia, é um pulo.
O samba enredo que levou Bolsonaro a
buscar refúgio na embaixada da Hungria. Por Paulo Emílio
A estadia de dois dias
que Jair Bolsonaro desfrutou na embaixada da Hungria, em Brasília, durante o
Carnaval, por temer ser preso pela Polícia Federal (PF) devido às investigações das quais é
alvo, foi apenas o desfecho de um roteiro elaborado logo após ele ser derrotado
nas eleições presidenciais de 2022 pelo presidente luiz Inácio Lula da Silva.
O samba enredo da
busca por asilo em território estrangeiro - embaixadas são consideradas
invioláveis - teve início após Bolsonaro perceber que a trama golpista para
impedir a posse de Lula corria sério risco de não dar certo. Uma das primeiras
atitudes do então mandatário foi ordenar ao tenente-coronel Mauro Cid, então
seu ajudante de ordens, que vendesse as joias sauditas que haviam sido
presenteadas ao Estado brasileiro, avaliadas por peritos da PF em cerca de R$
5,1 milhões.
A tentativa de venda
aconteceu nos últimos dias de seu governo, pouco antes de viajar aos Estados
Unidos e permanecer por lá durante pelo menos dois meses. A suspeita é que o
dinheiro obtido com a comercialização dos itens fosse utilizado para custear as
despesas dele e da família, caso a trama golpista não desse certo.
Nesta mesma linha, se
descobriu que o advogado Frederick Wassef viajou para os Estados Unidos para
recomprar um relógio Rolex, dado de presente a Jair Bolsonaro por autoridades
sauditas durante uma viagem oficial do então presidente da República em 2019 à
Arábia Saudita e ao Catar, e devolver o mimo ao patrimônio da União.“O meu
objetivo quando comprei esse relógio era devolver à União, ao governo federal
do Brasil, à Presidência da República”, disse Wassef na ocasião. O “contador de
tempo” foi avaliado em cerca de R$ 600 mil.
Além desta pequena
fortuna, em meio ao avanço das investigações, foi deflagrada uma campanha para
supostamente ajudar Bolsonaro a pagar multas judiciais que resultou na
arrecadação de cerca de R$ 17, 2 milhões por meio de quase 770 mil depósitos
via Pix feitos por seus apoiadores, entre 1 de janeiro e 4 de julho de 2023.
Dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviados à
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas apontam que
R$ 17 milhões foram investidos em renda fixa por meio da conta pessoal do
ex-mandatário.
Nesta semana, o jornal
estadunidense The New York Times revelou que Bolsonaro passou dois dias
“hospedado” na embaixada da Hungria, em Brasília, justificada por ele como
sendo para “manter contatos com autoridades do país amigo”. A “hospedagem”
aconteceu entre os dias 12 e 14 de
fevereiro, quando o Carnaval corria solto pelo Brasil. Em pleno Carnaval e
apenas quatro dias após a PF deflagrar a Operação “Tempus Veritatis”, que
apreendeu o passaporte de Bolsonaro e levou alguns de seus ex-auxiliares à
prisão devido ao suposto envolvimento no planejamento da intentona golpista.
Alguns detalhes chamam
a atenção: Bolsonaro chegou ao prédio da embaixada no início da noite e as
imagens das câmaras de vigilância dão conta de que ele não era esperado. Não
havia sequer um ambiente reservado para que ele pudesse permanecer por lá. Integrantes
do corpo diplomático foram filmados levando roupas de cama e travesseiros às
pressas para o visitante inesperado. A refeição providenciada? Uma pizza…
A escolha da embaixada
da Hungria para buscar refúgio não foi feita por acaso. O primeiro-ministro do
país do leste europeu, Viktor Orbán, é um populista de extrema direita que
dobrou a constituição húngara para firmar-se no poder, algo semelhante ao idealizado
por Bolsonaro. A diferença, neste caso, é que Bolsonaro buscava o apoio dos
militares para consumar o seu plano golpista.
Em um lugar
considerado seguro, como a embaixada de um “país amigo”, nada impediria que o
capitão pedisse asilo alegando ser alvo de perseguição política, algo que vem
ganhando corpo em seus discursos e entre seus apoiadores, caso sua prisão
preventiva fosse decretada.
Nesta linha, se
conseguisse chegar à Hungria, Bolsonaro estaria livre de pagar suas contas com
a Justiça, amplificar seu discurso contra a democracia e às instituições, além
de estar com dinheiro o bastante para brincar diversos carnavais nas terras
frias do leste europeu.
Aliado estratégico de Bolsonaro, Viktor
Orbán já defendeu raça pura húngara e fez “piada” com câmara de gás. Por Laís
Gouveia
Após vir à tona que
Jair Bolsonaro, com o seu passaporte recém apreendido pela PF, buscou refúgio
entre os dias 12 e 14 de fevereiro na Embaixada da Hungria, um personagem
ganhou destaque na imprensa brasileira: Quem é Viktor Orbán, primeiro-ministro,
que concedeu teto sem pestanejar ao amigo brasileiro que temia uma prisão?
Viktor Orbán e Jair
Bolsonaro são figuras bem semelhantes do ponto de vista folclórico. Não perdem
um holofote e seguem a linha “falo o que penso, sou transparente e se isso soa
agressivo, nem ligo”. Típico clichezão já batido nas fileiras da extrema-direita,
bem presente em Donald Trump também.
Do ponto de vista dos
ataques raciais, os dois "mui amigos" também são semelhantes. Assim
como Jair Bolsonaro já disse em algumas ocasiões que negros são pesados em
arrobas, Orbán reforça em suas falas o racismo.
Em 2022, ele disse a uma multidão que os europeus não querem se misturar com
pessoas de fora do continente, algo bem à lá Goebbels. “Nós [húngaros] não
somos uma raça misturada e não queremos nos tornar uma raça mista”, disse.
Ele disse ainda que a
“civilização islâmica” está “constantemente se movendo em direção à Europa” e
que, no futuro, “aqueles que não queremos deixar entrar terão que ser detidos
nas fronteiras ocidentais [da Hungria]”, independentemente da participação do
país ter fronteiras abertas com outros 26 países europeus.
O extremista não parou
por aí. Naquela ocasião, também fez referência às câmaras de gás do regime
nazista, com muita ironia, para criticar o plano da União Européia de reduzir o
consumo de gás no continente, após os cortes no fornecimento russo, em decorrência
ao conflito com a Ucrânia.
“Não vejo como eles
[União Europeia] podem forçar os países-membros a fazerem isso, embora haja um
conhecimento alemão neste domínio, como o passado mostrou”, disse.
As falas geraram
repúdio da comunidade internacional naquele momento, mas nada que
desestabilizasse a gestão do extremista.
As semelhanças entre
ambos forjaram uma parceria pública. Orbán já havia saído em defesa do
brasileiro dias antes de ele passar duas noites na embaixada do país após ter
passaporte apreendido. Na ocasião, em uma rede social, Orban publicou uma foto
com Bolsonaro e o incentivou a "continuar lutando".
Agora, a defesa de
Jair Bolsonaro possui 48 horas para justificar ao STF por qual razão o
extremista permaneceu durante 48 horas na embaixada da Hungria. Nem um
terraplanista mais limitado acredita na tese da defesa de “importantes debates
políticos”.
Prendam Bolsonaro enquanto é tempo. Por
Aquiles Lins
O ex-presidente Jair
Bolsonaro passou dois dias “hospedado” na embaixada da Hungria em Brasília.
Oficialmente justificada com objetivo de “manter contatos com autoridades do
país amigo”, a tentativa de fuga de Bolsonaro ocorreu entre os dias 12 e 14 de
fevereiro. Em pleno carnaval, e quatro dias depois da Operação Tempus
Veritatis, que apreendeu o passaporte do capitão da extrema direita. A Polícia
Federal vai verificar se Bolsonaro violou alguma das restrições impostas pelo
STF no âmbito do inquérito.
Chamado ao Itamaraty
para esclarecer as circunstâncias da recepção de Bolsonaro em sua embaixada, o
embaixador húngaro no Brasil, Miklós Halmai, foi lacônico, desconversou, disse
que receber pessoas na embaixada seria algo normal, (até mesmo em feriados como
o do carnaval?), que faria parte das atribuições da representação húngara. Se
obtivesse sinal verde do regime de Viktor Orban, Bolsonaro não poderia ser
preso, uma vez que embaixadas estão legalmente fora da área de atuação das
autoridades locais.
Um aspecto
interessante foi que a divulgação da tentativa de fuga de Bolsonaro veio a
público pelo jornal estadunidense New York Times. Um furo jornalístico que
passou longe da mídia corporativa brasileira e, ao que parece, também da
Polícia Federal. Isso adiciona um grau de preocupação para os que reivindicam a
responsabilização penal do capitão. Afinal, se aparentemente Bolsonaro não
conseguiu asilo na Hungria, ele tentou ou está tentando abrigo em embaixadas de
outros países?
Pelas imagens
divulgadas, pelas manifestações de sua defesa e dele próprio, e pela postura do
embaixador húngaro diante do Itamaraty, está evidente que Jair Bolsonaro,
depois de ter liderado uma tentativa de golpe em 8 de janeiro e atacado as
instituições da democracia, busca desesperadamente uma rota de fuga. Os
juristas que se manifestaram no Brasil 247 são unânimes em atestar que a
tentativa de fuga da Justiça brasileira em embaixada estrangeira fundamenta uma
determinação de prisão preventiva. Bolsonaro tem uma extensa lista de contas a
acertar com a Justiça do Brasil, mas ao mesmo tempo está conectado à
extrema-direita internacional. O STF não pode correr o risco de deixá-lo se
abrigar em alguma embaixada aliada para adiar sua condenação e prisão
Fonte: Brasil 247
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