quinta-feira, 28 de março de 2024

Em São Paulo, Macron evita falar sobre conflito na Ucrânia e volta a criticar acordo Mercosul-UE

O presidente francês, Emmanuel Macron, em visita a São Paulo (SP) nesta quarta-feira (27), não falou sobre o conflito na Ucrânia, mas voltou a criticar o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE).

Apesar de ter muito mais convergências com o homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na comparação com o ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), Macron diverge com o mandatário no que tange ao conflito na Ucrânia e no acordo Mercosul-União Europeia, sob justificativa de que fere regras ambientais.

“É um péssimo acordo, para vocês e para nós também, porque foi negociado há 20 anos. A vida diplomática, a vida dos negócios, têm o mesmo destino. Quando foi negociada uma regra antiga, pode tentar reanimar aquela chama, mas é preciso reconstruir pensando o mundo como ele é atualmente, levando em consideração a biodiversidade e o clima. E o acordo não está considerando. Então, esse acordo não pode ser defendido. Eu não defendo.”

Lula defende que haja o acordo comercial entre os blocos, o que foi rejeitado pelos franceses — muito por uma especulada pressão feita pelo lobby agrícola francês, que teria de competir com preços mais sul-americanos, mais baixos. Tal impeditivo tem impossibilitado a aprovação. "Quem não seguir essa regra vai exportar mercadoria com baixo preço", afirmou Macron.

"As empresas brasileiras têm essa sensibilidade e estão tendo bons resultados. E o Brasil tem um governo muito empenhado na luta contra o desmatamento. Então, por favor, deixemos de lado os acordos de 20 anos atrás. Por favor, vamos construir um novo acordo, iluminado pela nossa realidade. Um acordo comercial responsável, que tenha biodiversidade", prosseguiu.

Apesar de tais divergências, Macron afirmou que, na reunião com Lula nesta manhã, ele solicitou que os temas de preservação ambiental sejam levados ao G20, no Rio de Janeiro, e na COP-30, de Belém. "Devemos integrar normas cada vez mais comuns. Temos tudo para ganhar", afirmou, citando que é preciso amenizar desigualdades ao redor do planeta.

O mandatário francês atrasou na chegada à capital paulista, segundo ele, devido a um tempo maior que o previsto com Lula, durante os encontros no Pará e Rio de Janeiro, "justamente tratando dos projetos de defesa, que não preciso recordar como são importantes".

Ele também afirmou que as empresas francesas "acreditam no Brasil" e que é preciso uma reciprocidade neste sentido. "Temos uma agenda comum para conseguirmos chegar e superar os grandes problemas das mudanças climáticas e da transição energética."

"Quando vejo Brasil e França, e nos últimos dias mais de perto, acho que podemos e devemos confiar na força e no futuro do Brasil, não apenas como economia, mas como nação. Conseguiram enfrentar períodos muito desestabilizadores nos últimos tempos — Covid, geopolítica. [O Brasil] tem um crescimento sólido neste ano e nos próximos. Souberam controlar a inflação e souberam resistir às agitações que às vezes as democracias do mundo sofrem."

Macron também defendeu uma visão multilateral da geopolítica: "Temos fé no multilateralismo eficaz e rejeitamos a força de uma ordem bipolar que quer ditar a sua maneira".

"Somos contra sermos vassalos e temos caminhos que nos permitem sermos independentes. Não significa que estaremos fechados, cada um para si, mas criando uma parceira a partir de valores que nos pertencem, de dignidade humana", discursou o presidente francês.

No mesmo evento, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), destacou melhorias na economia brasileira, com aumento de 22% na criação de empregos formais em fevereiro, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). "São indicadores positivos, que nos levam não a nos acomodarmos, mas a trabalharmos ainda mais para podermos melhorar a vida da nossa população, gerando emprego e renda."

Ele também ressaltou que há diálogos em curso com a União Europeia para garantir parcerias econômicas, mas não especificou quais. "Temos conversas com União Europeia e EFTA [Associação Europeia de Comércio Livre]. O presidente Lula sempre fala que tem que haver reciprocidade."

“Sua vinda vai fortalecer ainda mais os laços de cooperação e parceria entre o Brasil e a França, que no ano que vem comemora 200 anos de relações diplomáticas”, destacou o vice-presidente, ressaltando que há muitos comércios entre os países, mas que ainda pode ser ampliado.

Alckmin também afirmou que "o presidente Lula colocou o Brasil como grande protagonista das mudanças climáticas", destacando que "o desmatamento na Amazônia caiu 50% e o compromisso do Brasil é o desmatamento zero".

Visita de Macron ao Brasil

Na terça-feira, o líder francês visitou Belém (PA), onde anunciou ao lado do homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), projeto avaliado em aproximadamente R$5,4 bilhões de proteção da Amazônia brasileira.

Na manhã desta quarta-feira (27), ele visitou Itaguaí (RJ), durante o lançamento do submarino Tonelero — cujo projeto possui apoio de Paris. Na ocasião, foi anunciado um Comitê Bilateral de Armamento, com foco em desenvolver "sinergias" e promover "maior equilíbrio" no comércio de produtos de defesa. Além disso, um quarto submarino será lançado em 2025.

Por fim, a agenda de Macron em território brasileiro se encerrou nesta quinta-feira (28), em Brasília (DF), novamente com a presença de Lula, que o receberá no Palácio do Planalto, onde ocorrerão reunião e cerimônia de assinatura de atos, no Palácio Itamaraty, para almoço, e no Congresso Nacional.

¨      Antes de Macron falar, Haddad defende pacto Mercosul-UE, rechaçado pelo presidente francês

No Fórum Econômico Brasil-França, realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) nesta quarta-feira (27), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou seu apoio ao acordo econômico entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.

Seu discurso foi proferido antes de tomar a palavra o presidente francês, Emmanuel Macron, que está no Brasil e é publicamente contrário ao pacto econômico.

O titular do Ministério da Fazenda criticou o protecionismo, destacando que em um mundo globalizado uma postura voltada para dentro por parte de qualquer país não tem sentido.

Haddad não mencionou a França, mas vale ressaltar a oposição de Macron frente ao acordo. O lobby agrícola francês se sente ameaçado pela possível abertura do mercado a produtos sul-americanos, mais acessíveis, ainda que a justificativa oficial seja relacionada a preocupações ambientais, sob alegação de que a cadeira produtiva brasileira não cumpre determinados critérios de combate ao desmatamento e à poluição.

Mesmo assim, Haddad está otimista de que o pacto prospere. "Não devemos abandonar esse acordo. Se conseguimos aprovar uma reforma tributária após 40 anos, por que não poderíamos, após 20, alcançar um acordo benéfico entre a União Europeia e o Mercosul?", questionou.

No mesmo evento, presidentes de entidades representativas da indústria nacional reforçaram seus apelos para que houvesse uma conclusão.

Anteriormente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que houvesse tal parceria comercial entre os blocos, mas a rejeição francesa impossibilita uma aprovação.

No início do ano, Macron disse à Comissão Europeia que Paris não aceitará a assinatura do pacto com o bloco sul-americano. Em dezembro do ano passado, em Dubai, ele expressou preocupações com a falta de consideração pelo clima e pela biodiversidade no acordo, argumentando ser necessário um pacto mais alinhado com as geoestratégias da UE.

O pacto está em negociação desde 1999 e envolve 31 países. Se aprovado, representaria uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, englobando quase 720 milhões de pessoas e cerca de 20% da economia global. Em 2022, a UE foi o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com uma corrente bilateral de mais de US$ 95 bilhões (cerca de R$ 472,6 bilhões).

 

Ø  Lula diz a presidente da França que quer conhecimento nuclear para garantir paz e não guerra

 

Com promessas de fortalecimento na parceria entre Brasil e França, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Emmanuel Macron participaram nesta quarta-feira (27), no Complexo Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro, do lançamento ao mar do submarino Tonelero, construído totalmente no Brasil, com tecnologia francesa.

A embarcação integra o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), resultado da parceria firmada entre os dois países em 2008, com orçamento em torno de R$ 40 bilhões.

Durante o discurso, o presidente Lula falou da importância de trocar conhecimentos científicos e tecnológicos com a França e destacou que o Brasil quer conhecimento nuclear para garantir paz e não guerra.

“Presidente Macron, quando voltar para a França diga aos franceses que o Brasil está querendo os conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra. Nós queremos ter o conhecimento para garantir paz a todos os países que querem paz. Saiba que o Brasil estará ao lado de todos eles, porque a guerra não constrói, a guerra destrói”, disse.

O petista completou:

“Hoje, sabemos que existe um problema muito sério contra o processo democrático no planeta. E nós sabemos que essa parceria com a França vai permitir que dois países importantes se preparem para que a gente possa conviver com essa diversidade sem se preocupar com guerra porque somos defensores da paz.”

O presidente Emmanuel Macron, em um discurso convergente, disse ter a convicção que Brasil e França podem abrir uma nova página de uma parceria estratégica.

O líder francês chegou ao Brasil na terça-feira (26) para a primeira visita bilateral a um país da América Latina desde que assumiu o poder, em 2017.

A viagem de 3 dias ao Brasil incluiu visitas a Belém, no Pará, ao Rio de Janeiro, depois São Paulo e, por último, Brasília.

A visita tem caráter simbólico importante já que Macron e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tiveram uma relação com abalos. O encontro com Lula marca uma reaproximação entre os dois países.

 

Ø  Lula: 'País do tamanho do Brasil precisa de Forças Armadas altamente qualificadas'

 

Em evento com o homólogo francês, Emmanuel Macron, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanhou nesta quarta-feira (27) o lançamento ao mar do submarino Tonelero, o terceiro construído através da parceria com a França. Na cerimônia, o submarino foi batizado pela primeira-dama, Janja da Silva, seguindo uma tradição da Marinha.

Com a expectativa de investimentos de mais de R$ 40 bilhões, em 2008, ao fim do segundo mandato do presidente Lula, o Brasil assinou um acordo histórico com a França para a transferência de tecnologia e parceria militar no âmbito do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), da Marinha do Brasil.

Além de quatro submarinos convencionais com propulsão diesel-elétrica, o projeto prevê o desenvolvimento do tão almejado submarino nuclear.

Até o momento, já foram viabilizados três submarinos, entre eles dois construídos integralmente no Brasil. O último foi lançado ao mar nesta quarta, no Complexo Naval de Itaguaí, no litoral sul do Rio de Janeiro, em evento que contou com a presença de autoridades brasileiras e francesas, além dos presidentes Lula e Macron. O submarino Tonelero (S42) deve ser entregue à força para proteção do extenso litoral brasileiro no próximo ano.

Com 71,6 metros de comprimento e 6,2 metros de diâmetro, o equipamento militar tem capacidade para uma tripulação de 35 pessoas. Além disso, atinge profundidade de 250 metros e pode alcançar até 70 dias de operação. O programa da Marinha ainda coloca o Brasil como único país da América do Sul capaz de produzir um submarino em território nacional.

Na cerimônia, o presidente Lula ressaltou a importância dos investimentos na defesa nacional. "Um país do tamanho do Brasil precisa ter Forças Armadas altamente qualificadas e altamente preparadas, a ponto de dar resposta e de garantir a paz quando o nosso país precisar", disse.

Além disso, Lula enfatizou que a parceria com a França reforça a determinação brasileira em "conquistar maior autonomia estratégica, essencial diante das múltiplas crises e desafios com os quais a humanidade se depara neste século".

Diferentemente de outras situações, em que citou a guerra contra os palestinos na Faixa de Gaza e inclusive acusou Israel de genocídio, junto a Macron o presidente brasileiro não fez menção a nenhum conflito.

O petista ainda lembrou das dimensões continentais do país, com mais de 16 mil quilômetros de fronteiras terrestres e uma costa litorânea de 8,5 mil quilômetros.

"Somos um Brasil que faz fronteira com todo o continente africano, porque aqui nós tratamos o oceano Atlântico como se fosse um rio Atlântico, porque nós fazemos fronteira com todo o continente africano. E nós temos que nos preocupar com a nossa defesa, não porque nós queremos guerra — a defesa para quem quer paz, a defesa para quem mora em um continente que já definiu, em todas as reuniões da CELAC [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos], que nós vamos continuar na América Latina e na América do Sul sendo uma zona de paz", afirmou.

·        Lula a Macron: 'Temos que aproveitar essa amizade'

Diante das relações diplomáticas históricas com a França, o presidente Lula defendeu o fortalecimento das parcerias entre os dois países nas mais diversas áreas. "Eu quero, presidente Macron, dizer para você que saia do Brasil sabendo que o povo brasileiro gosta do povo francês. E eu tenho certeza que o povo francês gosta do povo brasileiro. Nós temos que aproveitar essa amizade, esse entendimento, para que a gente possa fortalecer os dois países, para que a gente possa trocar os nossos conhecimentos científicos e tecnológicos, para que a gente possa produzir uma inteligência artificial do bem e não uma inteligência artificial do mal", alegou.

A agenda do presidente francês no Brasil segue até amanhã (28), quando há a expectativa da assinatura de um número histórico de acordos de cooperação entre as duas nações. Nesta tarde, Lula e Macron ainda participam de evento empresarial em São Paulo.

·        Submarino nuclear brasileiro, ambição que surgiu em 2008

Já o presidente Emmanuel Macron, durante discurso de quase dez minutos, comentou a parceria estratégica com a França viabilizada há 16 anos.

Ele se referiu ao projeto do submarino nuclear brasileiro, que está previsto no Prosub. Este, por sua vez, já entregou dois dos quatro modelos de propulsão convencional baseados no modelo francês Scorpène. Outra embarcação mais recente, o Humaitá, entrou em operação em janeiro.

"A determinação de um homem que soube marcar o rumo de uma ambição que em 2008 podia parecer desmedida, mas a França acreditou, a França aderiu e a França entrou nessa aventura ao lado de vocês [Brasil] com todas as suas competências, a capacidade de sua indústria, de seus industriais, de sua marinha, e junto com a Marinha brasileira, com a indústria brasileira, nós conseguimos construir. Hoje posso dizer que vocês tinham razão de acreditar e nós tivemos razão de apoiar vocês."

Macron ainda classificou como "titanesca" todas as obras e intervenções realizadas pelo Brasil para viabilizar o desenvolvimento dos submarinos, como o complexo em Itaguaí, o mais moderno do país.

"Esta obra titanesca mobilizou todas as forças vivas. Engenheiros e operários trabalharam para chegar a este êxito, e essa parceria representa para a França uma transferência inigualada de tecnologias. Jamais compartilhamos tanto o nosso know-how com o Brasil e temos orgulho de tê-lo feito", disse.

·        Macron diz que França é 'potência amazônica'

Por conta da Guiana Francesa, região ultramarina da França em plena América do Sul, o presidente Emmanuel Macron disse que o destino das duas nações também é unido pela geografia. "A França é o único país europeu a ser também uma potência amazônica, temos 730 quilômetros comuns, são aéreas vizinhas e somos obrigados a compartilhar esses desafios."

"Nós vamos lutar contra os tráficos ilegais na terra, no mar, porque são um desafio para a natureza; os nossos valores, o nosso futuro, a Amazônia, onde estávamos ontem, as nossas zonas econômicas exclusivas, onde nós deveríamos proteger os nossos pescadores, vocês devem proteger as suas extrações de petróleo e de gás", argumentou.

Por fim, o presidente francês declarou que entre "os grandes teatros de conflito deste novo século", o mar certamente será palco de muitos deles. "Nós rejeitamos o mundo que seja prisioneiro da conflitualidade entre duas grandes potências. Nós temos a independência das grandes diplomacias, das grandes forças armadas. Nós queremos defender nossa independência e nossa soberania e, junto com isso, defendemos o respeito pelo direito internacional em todo o mundo. Nós acreditamos na dignidade humana porque ela é constitutiva das nossas ordens políticas e constitucionais”, garantiu durante seu discurso.

·        Submarino nuclear brasileiro

Submarino essencial para colocar a Marinha brasileira entre um seleto grupo, o equipamento de propulsão nuclear é alvo de pesquisas no Brasil desde o fim da década de 1970. Por conta da possibilidade de ficar submerso por meses no oceano e também proporcionar velocidades maiores, é considerado ideal para a defesa do extenso território marítimo do Brasil. A expectativa é que o primeiro modelo, também desenvolvido em parceria com a França, esteja em funcionamento em 2033.

O comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, ressaltou a importância do acordo para finalmente viabilizar o projeto, que já enfrentou diversas resistências externas.

"Em constante evolução, o pilar fundamental foi concebido com uma robusta estrutura industrial composta por equipamentos e mão de obra altamente especializada, imprescindível para auferir a integração e manutenção de diversificados meios navais, bem como atender o rigoroso processo de licenciamento que garante a segurança e o prosseguimento do programa nuclear da Marinha."

"Iniciado em 1979, […] foi desenvolvido em virtude da premente necessidade estratégica de dotar submarinos com propulsão nuclear. Delimitados os objetivos, o projeto desdobrou-se em duas vertentes fundamentais, o consagrado domínio do ciclo do combustível nuclear e o desenvolvimento autóctone de uma planta nuclear de produção naval", finalizou.

 

Fonte: Sputnik Brasil/CNN Brasil

 

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