Lula critica processo eleitoral na Venezuela:
'Não tem explicação'
Nesta quinta-feira
(28), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ser "grave" que
Corina Yoris não tenha conseguido registrar sua candidatura à presidência
venezuelana.
Lula disse que
conversou com seu homólogo Nicolás Maduro sobre como é essencial garantir o
processo democrático no país, uma vez que é "importante para a Venezuela
voltar ao mundo com normalidade".
"Eu fiquei
surpreso com a decisão. Primeiro a decisão boa, da candidata que foi proibida
de ser candidata pela Justiça [María Corina Machado] indicar uma sucessora
[Corina Yoris]. Achei um passo importante. Agora, é grave que a candidata não
possa ter sido registrada. Ela não foi proibida pela Justiça. Me parece que ela
se dirigiu até o lugar e tentou usar o computador, o local, e não conseguiu
entrar. Então foi uma coisa que causou prejuízo a uma candidata", afirmou
o presidente, citado pelo g1.
Lula acrescentou que
"o dado concreto é que não tem explicação. Não tem explicação jurídica,
política, você proibir um adversário de ser candidato".
As declarações do
líder brasileiro foram dadas durante a cerimônia de recepção ao presidente
francês, Emmanuel Macron, nesta quinta-feira (28), em visita ao Brasil. Macron
concordou com o posicionamento de Lula e disse que vai tentar convencer Maduro
a permitir a participação de candidatos barrados, segundo o g1.
As falas de Lula são
feitas após o posicionamento do Itamaraty feito nesta semana de
"preocupação" com o processo eleitoral no país.
Em resposta, Caracas
disse que o comunicado "cinzento" do Ministério das Relações
Exteriores brasileiro parece ter sido escrito "pelo Departamento de Estado
dos Estados Unidos", conforme noticiado.
As eleições
venezuelanas estão agendadas para o dia 28 de julho.
·
Papel intermediador
impôs ao Brasil posicionamento firme contra Venezuela, avaliam diplomatas
A diferença da postura
do Itamaraty em relação ao processo eleitoral da Venezuela e da Rússia passa
pelo papel intermediador adotado pelo Brasil sobre a situação do país comandado
por Nicolás Maduro.
A avaliação é de
integrantes do Itamaraty ouvidos pela CNN sob a condição de sigilo.
O Brasil participou
ativamente da negociação pelo acordo de Barbados, firmado no ano passado, e que
impôs condições para a realização de eleições presidenciais em 2024.
Já no caso da Russia,
o país apenas observou a situação. Por isso, o gesto foi apenas uma carta do
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parabenizando o russo pelas eleições.
O documento padrão é
considerado um gesto de retribuição do brasileiro a Putin, que enviou
congratulações após a vitória do petista em 2022.
No caso da Venezuela,
a nota foi divulgada pelo Itamaraty porque o Brasil participou ativamente das
negociações do Acordo de Barbados, firmado no ano passado. O documento
estabelece que o governo venezuelano se comprometeria a fazer eleições em 2024
com a participação da oposição.
Diante do fim do prazo
para as inscrições para o período eleitoral e do impedimento da inscrição da
oposição, a Nicolás Maduro, o Brasil avaliou que era preciso se posicionar.
Na segunda-feira (25),
Lula se reuniu com o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira para
discutir a situação.
O governo brasileiro
aguardou o fim das inscrições para evitar pré-julgamentos e, na terça-feira
(26), o Itamaraty divulgou uma nota afirmando que o impedimento da inscrição de
Corina Yoris, candidata oposicionista, “não é compatível com o Acordo de Barbados”.
A Venezuela rebateu o
posicionamento brasileiro e divulgou que o país parece “intervencionista” e que
o texto “parece ditado pelos Estados Unidos”.
Depois da troca de
farpas, a Embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira,
conversou com integrantes do governo venezuelano sobre a situação. Segundo
integrantes da diplomacia, o convite foi do governo venezuelano, porém, não foi
à nível de chancelaria e não houve qualquer tipo de reprimenda ao Brasil.
Ø
Américo Martins: crítica do Brasil à
Venezuela é tardia e insuficiente
A nota emitida pelo Itamaraty demonstrando preocupação com os
sucessivos problemas no processo eleitoral da Venezuela
foi acertada, mas também tardia e insuficiente para pressionar o ditador
Nicolás Maduro a garantir eleições livres e justas.
O texto do Ministério
das Relações Exteriores diz, correta e equilibradamente, que a candidata Corina
Yoris, do grupo de oposição Plataforma Unitária, “foi impedida de registrar-se,
o que não é compatível com os acordos de Barbados” – que garantiriam mais
liberdade política e a realização das eleições presidenciais.
A nota é acertada
porque marca uma inflexão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), que pela primeira vez expressou críticas à autocracia do país vizinho.
A ausência dessas
críticas e eventual namoro diplomático com ditaduras são o ponto de maior vulnerabilidade da política externa brasileira.
Ao se mostrar próximo
demais das autocracias de Cuba, Venezuela, Nicarágua e Rússia, por exemplo, o
Brasil abre o flanco para acertadas críticas internacionais e perde espaço em
sua tentativa de ser um ator de mais peso no tabuleiro da diplomacia global.
Por isso, a primeira
crítica a Caracas, ainda que tímida, é um passo na direção certa.
Mas a inflexão também
é tardia, porque o governo de Maduro já vinha dando sinais há muito tempo de
que não tem a menor intenção de permitir eleições livres e justas.
Pelo simples e
evidente motivo de que o atual presidente perderia qualquer disputa
verdadeiramente democrática.
Como o Brasil sabe
muito bem o que se desenrola na política do território venezuelano, poderia ter
se manifestado muito antes.
Por fim, a posição
brasileira também não será suficiente para fazer Maduro sequer pensar em mudar
de posição.
Pelo contrário. A nota
do Itamaraty já foi recebida com uma saraivada de críticas vindas de Caracas
– que não surpreenderam em nada os diplomatas brasileiros.
Um experiente
embaixador do Itamaraty disse à CNN que a reação de Maduro era mais
do que esperada.
Mas acrescentou: “A
nota era necessária, ao final do prazo do registro de candidaturas e pelas
dificuldades da principal plataforma de oposição em fazer seu registro. Além da
absoluta falta de explicação oficial para essas dificuldades.”
O problema é que a
falta de transparência vai certamente continuar. E as autoridades eleitorais,
controladas por Maduro, também farão de tudo para continuar complicando a vida
da oposição.
Por isso,
manifestações muito mais duras serão necessárias por parte do governo
brasileiro.
Muito em breve, o
próprio presidente Lula vai ter que criticar abertamente o ditador Maduro se
quiser continuar mantendo sua influência e respeitabilidade na região.
Ø Ao lado de Macron, Lula defende paz na Ucrânia e reforça
neutralidade brasileira
Ao lado de seu
homólogo francês, Emmanuel Macron, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), voltou a defender a paz no conflito na Ucrânia e disse que o Brasil
segue neutro.
"Estou a tantos
mil quilômetros de distância da Ucrânia que eu não sou obrigado a ter o mesmo
nervosismo que o povo francês tem, que está mais próximo", afirmou o
mandatário durante um evento no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta
quinta-feira (28).
Ele comentou que é
preciso respeitar o direito de cada país fazer suas ações, ainda que seja
possível criticar o que não concorda.
"E resolvemos não
tomar lado porque nós queremos criar condições de voltar à mesa de negociação e
dizer que a guerra só vai ter uma solução, que é a paz […]. A destruição, os
gastos, os investimentos em armas são muito maiores do que os investimentos
feitos para combater a fome, a desigualdade e a miséria."
Lula relembrou que em
2003 declinou o convite do então presidente dos Estados Unidos, George Bush,
para participar da invasão ao Iraque, já que seu compromisso sempre foi
combater as desigualdades.
"É tanta
desigualdade que não tenho tempo para pensar em outra guerra, a não ser a
guerra de construir algo positivo para os 210 milhões de pessoas aqui [no
Brasil]."
Além disso, o
presidente brasileiro destacou que o embaixador Celso Amorim teve diálogos
tanto com Vladimir Putin quanto com Vladimir Zelensky, presidentes de Rússia e
Ucrânia, além de também ter feito encontros em prol de soluções pacíficas na
Venezuela, com Nicolás Maduro.
Já Macron afirmou que
"a França quer o diálogo, quer voltar à mesa de negociações. Mas a França
quer dizer que não somos fracos. Se houver uma escalada sem fim daqueles da
agressão, nós temos de nos organizar para não ter que lamentar apenas".
O presidente francês
também afirmou que já teve várias discussões com Putin em favor de um acordo de
paz. A Rússia, por sua vez, já declarou inúmeras vezes que segue aberta ao
diálogo para pôr fim ao conflito com a Ucrânia, desde que seus posicionamentos
e suas preocupações sejam levados em questão, o que não vem acontecendo tanto
por parte do Ocidente quanto por parte de Kiev.
·
Acordo entre Mercosul e UE
Outro assunto-chave na
agenda da visita de Macron ao Brasil é o acordo comercial entre a União
Europeia e o Mercosul. Ontem (27), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
reiterou seu apoio ao acordo, dizendo que "se conseguimos aprovar uma
reforma tributária após 40 anos, por que não poderíamos, após 20, alcançar um
acordo benéfico entre a União Europeia e o Mercosul?", enquanto o líder
francês voltou a criticá-lo.
Macron, que tem sido
pressionado pelo lobby agrícola francês, que teme a concorrência com os
produtos sul-americanos, usou mais uma vez a suposta preocupação com questões
ambientais para justificar sua reprovação ao acordo, afirmando que "esses
acordos são um freio ao que estamos fazendo para retirar o carbono da
economia".
O processo de
negociação entre as partes vem desde o final dos anos 1990 e tem apoio do
presidente Lula. Nesta quinta-feira, ele ressaltou que não se trata de um
acordo bilateral, mas que envolve vários países.
"O Brasil não
está negociando com a França. O Mercosul está negociando com a União
Europeia."
Ele comentou que, caso
haja discordâncias por parte de Macron, elas devem ser resolvidas com os outros
integrantes do bloco europeu. Além disso, Lula entende que "o acordo
proposto agora é muito mais promissor de assinar do que o outro", referindo-se
ao texto anterior. "O Brasil tinha o direito de ser contra a primeira
proposta", afirmou.
Ainda assim, vale
ressaltar que representantes de movimentos populares camponeses também têm
rejeitado o pacto publicamente, devido a uma série de vantagens que os europeus
teriam nessa relação.
·
Eleições na Venezuela
A questão da Venezuela
também foi abordada pelos líderes do Brasil e da França no encontro desta
quinta-feira. Lula afirmou que é preciso não haver problemas no processo
eleitoral venezuelano, que será realizado em 28 de julho e escolherá um
presidente para um mandato de seis anos, com início em 10 de janeiro de 2025.
Ele defendeu, no
entanto, que o fato de María Corina Machado não ter sido inscrita como
candidata não é "o agravante".
"Vocês não podem
esquecer que aqui no Brasil eu fui proibido de ser candidato quando era o
primeiro candidato em todas as pesquisas de opinião pública. O que eu fiz?
Indiquei outro candidato. Perdemos as eleições, mas fez parte do jogo
democrático."
Ele elogiou o fato de
a oposição ter indicado Corina Yoris como substituta, mas achou
"grave" que ela não tenha sido registrada.
"Não foi proibida
pela justiça. Me parece que ela se dirigiu até o lugar, tentou usar o
computador no local e não conseguiu entrar. Então foi uma coisa que causou
prejuízo para a candidata."
Por fim, Lula defendeu
eleições democráticas no país vizinho e afirmou que o Brasil tentará assistir
ao processo eleitoral.
Já Macron condenou
"firmemente" a não participação de Yoris no processo eleitoral, mas
afirmou que não é preciso "se desesperar".
Vale ressaltar que
Caracas já havia respondido ao Brasil, por meio de seu chanceler Yván Gil,
classificando um comunicado brasileiro sobre o tema como "cinzento e
intervencionista", que parecia ter sido ditado "pelo Departamento de
Estado dos Estados Unidos".
"[…] são emitidos
comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a
realidade política na Venezuela", afirmou o chanceler.
·
Intolerância religiosa
Por fim, ao lado de
Macron — que preside um país acusado mais de uma vez pela Organização das
Nações Unidas (ONU) de discriminação religiosa —, Lula defendeu um cessar-fogo
no conflito na Faixa de Gaza e discursou contrariamente à intolerância
religiosa, que cresceu em todo o mundo em razão dos enfrentamentos recentes
entre judeus e muçulmanos.
"O Brasil rechaça
categoricamente todas as manifestações de antissemitismo e islamofobia. Não
podemos permitir que a intolerância religiosa se instale entre nós. Judeus,
muçulmanos e cristãos sempre viveram em perfeita harmonia no Brasil, ajudando a
construir o país moderno que temos hoje."
Ø Processos eleitorais na Venezuela sempre enfrentaram boicote dos
EUA, avalia analista
Há 25 anos, desde a
posse do já falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, as eleições realizadas
no país sul-americano enfrentam tentativas de boicote dos EUA, de acordo o analista
político David Gómez em conversa com a Sputnik nesta quarta-feira (27).
Na última
segunda-feira (25), os governos da Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala,
Peru, Paraguai e Uruguai questionaram a "integridade e transparência"
do processo eleitoral em curso na Venezuela, após "novos obstáculos"
no processo de inscrição de candidaturas.
A esses países,
juntaram-se na terça-feira (26) à Colômbia e ao Brasil, os quais expressaram
"preocupação" com o processo.
O governo do
presidente venezuelano, Nicolás Maduro, classificou os questionamentos de
"grosseiros e intervencionistas" e declarou que as declarações desses
países copiam a agenda de Washington.
"Desde que a
revolução assumiu o poder e estabeleceu através do governo bolivariano um
projeto de independência [...], não houve nenhuma eleição em que o governo
norte-americano e um sistema que podemos categorizar como imperialista não
tenham tentado boicotá-la", detalhou o mestre em ciências políticas,
formado pela Universidade de Lobachevsky, na Rússia.
Para Gómez, os
pronunciamentos violam o direito internacional ao tentar impor sua postura
"intervencionista":
"Não têm sido
poucos os governos e organizações internacionais que se somaram de maneira
grosseira e desrespeitosa ao direito internacional e à diplomacia, para tentar
sabotar, ter uma posição intervencionista dentro dos processos democráticos que
são garantidos no âmbito das leis da Venezuela", disse ele.
"Existe um setor
da direita, aliada aos EUA, que buscou através da violência e de posições
antidemocráticas, minar a institucionalidade do país, indo contra suas leis,
indo contra a Constituição, desobedecendo ordens de caráter judicial que deixam
muito claro no panorama quem tem a possibilidade de participar dentro de um
processo eleitoral", pontuou.
No início de 2024, o
Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela confirmou que María Corina Machado,
que se perfilava como a principal candidata da oposição, estava politicamente
inabilitada por 15 anos, de acordo com um processo que começou em 2015, devido
a irregularidades administrativas durante seu mandato como deputada entre 2011
e 2014.
Sua substituta, a
filósofa Corina Yoris, não conseguiu completar a inscrição da candidatura na
plataforma do órgão eleitoral antes do prazo final, que encerrou na
segunda-feira (25).
·
Processo eleitoral
Um total de 13
candidatos, de 37 organizações políticas, competirão nas eleições presidenciais
de julho, de acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Dos postulados, 12 são
de partidos opositores. Pelas organizações de esquerda está Maduro, que buscará
sua terceira reeleição para o período 2025-2031.
Na opinião do
especialista, a participação desse número de candidatos demonstra a pluralidade
do processo e a confiança das organizações políticas no sistema eleitoral.
Fonte: Sputnik Brasil/CNN
Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário