Parlamentar faz ligação entre pastor
Malafaia e esquema de milicianos
A deputada Luciene
Cavalcante (PSOL-SP) solicitou nesta segunda-feira, ao Ministério Público
Federal (MPF), uma investigação sobre a possível ligação do pastor evangélico
Silas Malafaia com supostos pagamentos recebidos por Robson Calixto, conhecido
como 'Peixe', assessor de Domingos Brazão, em uma das igrejas do pastor na Zona
Oeste do Rio de Janeiro. A apuração pertence ao colunista Lauro Jardim, do
diário conservador carioca O Globo.
Relatório da Polícia
Federal (PF) sobre o caso Marielle indica que Calixto recebia quantias devidas
à milícia na região em uma unidade da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no
bairro da Taquara, Zona Oeste do Rio. Segundo a PF, ‘Peixe’ atuava como segurança
informal de Brazão e teria intermediado um encontro entre o conselheiro do
TCE-RJ e Ronnie Lessa, o assassino confesso de Marielle.
• Segurança
A representação da
parlamentar sublinha a conclusão do relatório da PF, o qual sugere o uso
potencialmente ilícito da estrutura eclesiástica para fins criminosos.
Além de solicitar a
investigação ao MPF, a deputada também acionou o Tribunal de Contas da União
(TCU), para fiscalizar as rendas e o patrimônio do também empresário Silas
Malafaia e das igrejas sob sua administração. A preocupação se baseia em
indícios do uso desses templos para transações ilícitas e possível sonegação de
impostos.
Luciene Cavalcante
justifica que tais revelações podem configurar danos ao patrimônio público da
União, uma vez que as unidades da Assembleia de Deus Vitória em Cristo possuem
imunidade tributária. Em resposta, Malafaia alegou, em uma rede social, que cada
igreja paga sua própria segurança.
Gilmar sobre caso Marielle: Oportunidae
para apronfundar combate ao crime organizado
O ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse nesta segunda-feira, 25, que a
investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista,
Anderson Gomes, representa uma oportunidade para “aprofundar o combate ao crime
organizado”.
“Acho que é um passo
importante, uma questão que já era esperada, mas é preciso que se veja essa
janela como uma oportunidade para aprofundar o combate ao crime organizado no
Rio de Janeiro e no Brasil”, disse Gilmar na chegada ao Congresso para sessão solene
de 200 anos do Senado.
O ministro disse,
ainda, que esse é um momento de se discutir a “refundação” da polícia, diante
das acusações de envolvimento da cúpula da polícia do Rio de Janeiro no
assassinato de Marielle.
“É preciso pensar numa
refundação dessas instituições, tomar as medidas necessárias. Acho que é um
momento de profunda reflexão pelo Congresso Nacional, se dedicar a essa
temática, uma reforma das polícias e uma reforma especialmente voltada para o
que está acontecendo no Rio de Janeiro”, declarou o decano do STF.
Governo e oposição relativizam impacto
político para Lula e Bolsonaro no caso Marielle
Governistas e
oposicionistas buscam se descolar de eventuais elos políticos com os irmãos
Brazão, presos neste domingo (24) sob suspeita de serem mandantes do
assassinato de Marielle Franco (PSOL), e relativizam os impactos do caso para
Lula (PT) e para Jair Bolsonaro (PL).
O Palácio do Planalto
avalia que a prisão dos supostos mandantes do crime não trará uma profunda
alteração no cenário político, em particular nas eleições municipais de outubro
deste ano.
Integrantes do governo
Lula defendem que a ligação dos irmãos Brazão com alguns de seus aliados, como
a família da ex-ministra Daniela Carneiro, configuram "coisas de
política" e que não prejudicará os candidatos que devem ser apoiados pelo
petista, em especial o prefeito Eduardo Paes (PSD), que busca a reeleição no
Rio.
Por outro lado, a
oposição e mesmo alguns
governistas também diz que a prisão não deve trazer danos para o lado bolsonarista nem para o pré-candidato na capital fluminense Alexandre
Ramagem (PL), ligado a Bolsonaro.
O ex-presidente foi
apoiado por Chiquinho e Domingos Brazão nas eleições de 2018 e de 2022 e os irmãos mantiveram influência no governo Cláudio Castro (PL).
A Polícia Federal
prendeu três suspeitos de mandar assassinar Marielle e o motorista Anderson
Gomes, além da tentativa de matar a assessora Fernanda Chaves, em março de
2018.
Além do deputado
federal Chiquinho Brazão e do irmão dele, Domingos Brazão, conselheiro do TCE
(Tribunal de Contas do Estado) do Rio, foi preso o delegado Rivaldo Barbosa,
ex-chefe da Polícia Civil no Rio escolhido para comandar a corporação na época da intervenção federal no estado, comandada pelo general
Walter Braga Netto, que depois virou ministro de Bolsonaro.
Chiquinho Brazão era
até fevereiro integrante do primeiro escalão da gestão Eduardo Paes no Rio,
como titular da Secretaria de Ação Comunitária. Paes é o nome defendido pelo
Palácio do Planalto para as eleições municipais deste ano.
O governo Lula
minimiza a relação, apesar de reconhecer que há algum constrangimento. Um
interlocutor do Planalto afirma que a relação com os Brazão era uma "coisa
de política", com Paes apenas atendendo a indicação partidária para uma
determinada vaga. Não implica, portanto, uma ligação de proximidade.
Integrantes da equipe
de Lula ainda acrescentam que partiu de Paes a iniciativa de exonerar Chiquinho
Brazão, quando neste ano surgiu a notícia de que os irmãos poderiam ser os
mandantes do crime.
Além disso, afirmam
que os irmãos Brazão têm uma ligação mais forte com o bolsonarismo. Além do
apoio eleitoral a Bolsonaro, eles representam a "oposição e resistência ao
legado de Marielle Franco", como define um auxiliar palaciano.
Ainda é citado que
Domingos Brazão estaria articulando, com os Bolsonaro, a candidatura de seu
filho para uma vaga na Câmara Municipal.
A própria investigação
do caso pela PF no governo Lula, após quase seis anos de perguntas sobre os
mandantes do crime, é um trunfo político da gestão petista para se distanciar
de desgastes pela ligação dos Brazão com aliados.
Procurado pela
reportagem, Paes divulgou uma nota afirmando que o Republicanos, ao estabelecer
aliança com a administração municipal, escolheu Chiquinho Brazão como
representante do partido para ocupar a secretaria.
Apesar de filiado à
União Brasil, ele havia solicitado autorização ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) para se desfiliar e estava em negociação para migrar para o Republicanos.
"Quando surgiram
especulações sobre o caso, foi solicitada ao partido a indicação de um nome
para substituí-lo e ele foi exonerado no início de 2024. A Prefeitura do Rio
reforça seu apoio às investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson
Gomes e espera que o caso seja elucidado pela Justiça", informou a
Prefeitura do Rio, em nota.
Procurada, a defesa de
Chiquinho não se manifestou. A defesa de Domingos afirma que ele não conhecia
Marielle e que é inocente.
Outro aliado do
Palácio do Planalto que era ligado aos Brazão é o prefeito de Belford Roxo,
Waguinho, cuja mulher, Daniela Carneiro, foi ministra do Turismo de Lula. Ela
deixou o cargo após pressão da União Brasil, partido ao qual o grupo político
busca desfiliação.
Um dos raros prefeitos
a apoiar Lula na eleição de 2022 na Baixada Fluminense, Waguinho chegou a
realizar uma postagem em janeiro deste ano defendendo Domingos Brazão.
"Convivo com
Domingos Brazão há muitos anos. Já estivemos em disputa política lado a lado e,
às vezes, em lados opostos. Em todas as ocasiões ele sempre se portou com
dignidade e demonstrou respeito com as divergências políticas e
ideológicas", escreveu em rede social.
"Não acredito que
ele tenha qualquer envolvimento com a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes
e espero que os verdadeiros culpados sejam punidos com rigor", completou,
acrescentando que as delações não seriam suficientes para provar ou punir
qualquer cidadão.
Aliados de Bolsonaro
minimizam os apoios eleitorais dos Brazão ao ex-presidente e afirmam que o fato
de Chiquinho ter integrado a gestão Paes vai, no mínimo, inibir que a atuação
de milicianos seja usada na campanha contra Ramagem, em tentativas de relacionar
esses grupos com os bolsonaristas.
Mesmo um integrante do
governo Lula afirma que o fato de as prisões não chegarem na família Bolsonaro
(como chegou a ser aventado em alguns momentos, após insinuação do
ex-governador Wilson Witzel) pode resultar na ausência do tema nas eleições.
Na mesma linha, o
filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), criticou o
que chamou de "farsa" para tentar associar o crime à sua família.
"A polícia parece
ter dado passos importantes para solucionar a morte de Marielle Franco. Para a
frustração de algumas pessoas, o que era óbvio está ainda mais claro: Bolsonaro
não tem qualquer relação com o caso", escreveu o senador em rede social.
"Apesar desse
fato inequívoco, a esquerda quer criar uma associação que não existe. Esse tipo
de farsa narrativa é perigosa e criminosa. Incentiva linchamentos virtuais e
físicos e coloca em risco a vida de pessoas inocentes. Que a Justiça possa continuar
com seu trabalho e que dê uma solução definitiva para o caso", completou.
Fonte: Correio do Brasil/IstoÉ/FolhaPress
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