PM
evangélico suspeito de comandar esquema de agiotagem e tortura usa redes
sociais para ‘exaltar a fé’
O
sargento da Polícia Militar Herbert Francisco Póvoa, conhecido como Mike Póvoa,
suspeito de comandar um esquema de agiotagem e tortura em Luziânia, no Entorno
do Distrito Federal, costumava usar seu perfil no Instagram para publicar
mensagens de fé. Em um dos textos, ao comemorar a conclusão de um curso de
aperfeiçoamento na corporação, Póvoa escreveu que nada teria acontecido
"sem Deus à frente, abrindo portas".
"Meu
conselho para você, hoje, é: 'Não desista. Não pare de crer porque Deus não
coloca sonhos em seu coração se não for para realizá-los'", disse o
sargento, na postagem feita em setembro deste ano.
Os
textos com as mensagens espirituais frequentemente acompanhavam fotos nas quais
ele aparece fardado ou acompanhado da família: sua esposa, a advogada Tatiane
Meireles, e o casal de filhos. Assim como o marido, Tatiane também está presa,
suspeita de dividir o comando do grupo com Póvoa.
Ao g1,
a defesa de Tatiane informou que dados sigilosos, imagens, conversas e
informações pessoais da cliente foram indevidamente divulgados ao público.
A
advogada também costumava demonstrar a sua fé. Em um vídeo descoberto pela
Polícia Civil, ela aparece orando sobre maços de dinheiro. Na gravação, Tatiane
agradece pela "prosperidade".
"Agradecemos,
senhor, pela prosperidade que reina nesse lar. Te pedimos, ó pai amado, que
cada pessoa que receber esse dinheiro, que ela tenha gratidão", disse.
Nem
Póvoa nem Tatiane declararam publicamente, no Instagram, qual religião seguem.
No Threads, outra rede social da Meta, a advogada postou, em julho do ano
passado, uma brincadeira em que revelava várias informações pessoais. Ao
responder sobre religião, ela se definiu como "espiritualista".
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Músicas gospel
Em uma
postagem de agosto, Póvoa publicou uma foto em frente a um helicóptero da
Polícia Militar, dizendo "Deus sabe e sonda o meu coração. Por isso, me
honra desde quando vim ao mundo". A imagem foi divulgada acompanhada da
música "Ninguém explica Deus", do grupo "Preto no Branco",
muito conhecida no meio gospel.
O
sargento costumava, ainda, destacar o quanto ele se diferenciava em relação aos
próprios frequentadores de igreja. Em um texto publicado em maio, ele afirmou
que "nem todo santo veste terno. Nem todo justo anda engravatado".
A frase
foi seguida de reflexões relacionadas à sua aparência e modo de vestir,
incluindo o fato de ele ter várias tatuagens. "Meu estilo não apaga a
minha fé. Minhas tatuagens não cobrem minha verdade". Em seguida,
completou: "O que me define não é a aparência, mas as minhas escolhas e
atitudes diante Dele", disse, referindo-se a Deus.
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Entenda o caso
O
sargento Póvoa e a sua esposa foram presos pela Polícia Civil no final de
novembro, durante a Operação "Mão de Ferro". As investigações
mostraram que o casal e mais cinco pessoas agiam de forma violenta e
organizada. Testemunhas relataram às autoridades terem sido intimidadas com uso
de armas, ameaças e até agressões físicas. As vítimas contaram que viviam com
medo constante e sofrerem pressão psicológica.
Entre
os métodos de ameaça e tortura contra as pessoas que tinham dívidas com eles
estavam agressões com taco de beisebol e o uso de armas apontadas para as
cabeças das vítimas, como revelaram vídeos obtidos pela polícia.
Segundo
a polícia, os investigados devem responder pelos crimes de de organização
criminosa, usura (agiotagem), extorsão e lavagem de dinheiro.
• Advogada envolvida em esquema de
agiotagem e tortura com PMs faz oração sobre dinheiro: 'Agradeço, senhor, pela
prosperidade'
A
advogada Tatiane Meireles, suspeita de ter envolvimento em um esquema de
agiotagem junto ao marido sargento, outros policiais militares e empresários,
registrou um vídeo em que aparece orando sobre maços de dinheiro. Na gravação,
Tatiane agradece pela "prosperidade" (veja acima).
"Agradecemos,
senhor, pela prosperidade que reina nesse lar. Te pedimos, ó pai amado, que
cada pessoa que receber esse dinheiro, que ela tenha gratidão", pede
Tatiane na gravação.
Os
envolvidos no esquema foram presos em Luziânia durante a "Operação Mão de
Ferro" na sexta-feira (28), suspeitos de agiotagem, extorsão e lavagem de
dinheiro. Nas imagens, é possível notar que os maços com as notas vão de R$ 20
a R$ 200. Segundo a Polícia Civil, a organização movimentou, em dois anos, mais
de R$ 7 milhões oferecendo empréstimos com juros abusivos.
Ao g1,
o advogado Reginaldo Paixão, responsável pela defesa de Miguel Roberto, afirmou
que ele é inocente e que irá entrar com um pedido de habeas corpus. A defesa de
Tatiane informou que dados sigilosos, imagens, conversas e informações pessoais
da cliente foram indevidamente divulgados ao público. "Reiteramos que
todas as imputações serão devidamente enfrentadas no foro adequado, com base em
provas lícitas, respeitando-se o contraditório e a ampla defesa", pontuou
o texto.
O g1
entrou em contato com a defesa dos demais suspeitos, mas não obteve retorno até
a última atualização desta reportagem.
A
Polícia Militar de Goiás (PM-GO) afirmou que três militares foram presos
durante a operação e que a corporação não compactua com "desvios de
conduta". A Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO) afirmou
que determinou o afastamento preventivo de Tatiane de suas funções
institucionais.
Segundo
apurado pela TV Anhanguera e informações do Tribunal de Justiça de Goiás
(TJ-GO), eles passaram por audiência de custódia no sábado (29) e permaneciam
presos até a última atualização desta reportagem.
<><>Cobranças
Vídeos
obtidos pela TV Anhanguera mostram como funcionavam as cobranças de dívidas
feitas pelo grupo. Nas imagens, as vítimas aparecem sendo ameaçadas e, algumas,
agredidas durante as cobranças.
Em um
dos vídeos, Roberto Mendonça bate no rosto de uma mulher várias vezes enquanto
cobra uma das dívidas. Em outro, ele chega a colocar uma arma no rosto de uma
das vítimas.
Um dos
devedores, estrangeiro, é obrigado a ajoelhar sob a mira de duas armas:
"Ajoelha, ajoelha agora, agora", diz o PM em uma das gravações.
• Como agiam advogada, PMs e empresários
em esquema de tortura e agiotagem
Grupo
emprestava dinheiro a juros altos e fazia cobranças mediante ameaças e
agressões. Defesas dos suspeitos alegam inocência e uso indevido de dados
sigilosos e imagens.
• Grupo suspeito de estar à frente de um
esquema de agiotagem, extorsão e lavagem de dinheiro em Luziânia, no Entorno do
Distrito Federal, adotava diversos métodos de ameaças e torturas.
• Imagens obtidas pela TV Anhanguera
mostram que os integrantes da organização criminosa chegaram a usar taco de
beisebol e arma apontada para a cabeça das vítimas, além de sessões de
espancamento.
• De acordo com a Polícia Civil,
integravam o grupo o sargento da PM Sargento Herbert Francisco Póvoa; a esposa
dele, a advogada Tatiane Meireles; o sargento Miguel Roberto Mendonça, o
policial José Ronan e empresários, que financiavam o esquema.
• O esquema foi revelado por meio da
Operação "Mão de Ferro", realizada na última sexta-feira (28) pela
Polícia Civil. A ação mobilizou cerca de 80 policiais civis para o cumprimento
de mais de 10 mandados de busca e apreensão e nove mandados de prisão.
O grupo
suspeito de estar à frente de um esquema de agiotagem, extorsão e lavagem de
dinheiro em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal, adotava diversos métodos
de ameaças e torturas. Imagens obtidas pela TV Anhanguera mostram que os
integrantes da organização criminosa chegaram a usar taco de beisebol e arma
apontada para a cabeça das vítimas, além de sessões de espancamento.
De
acordo com a Polícia Civil, integravam o grupo o sargento da PM Sargento
Herbert Francisco Póvoa, conhecido como Mike Póvoa; a esposa dele, a advogada
Tatiane Meireles; o sargento Miguel Roberto Mendonça, o policial José Ronan
Ferreira Lustosa; e empresários, que seriam os responsáveis pelo financiamento
do esquema.
Ao g1,
o advogado Reginaldo Paixão, que defende Miguel Roberto, afirmou que ele é
inocente e que irá entrar com um pedido de habeas corpus. A defesa de Tatiane
informou que dados sigilosos, imagens, conversas e informações pessoais da
cliente foram indevidamente divulgados ao público.
Já a
advogada Luciana Ros, que defende José Ronan, disse que está analisando as
provas e que, por se tratar de processo sigiloso, não é possível fornecer
detalhes específicos sobre o caso.
Leia as
íntegras das notas das defesas ao final da reportagem. O g1 não conseguiu o
contato da defesa dos outros suspeitos até a última atualização desta
reportagem.
De
acordo com a Polícia Civil, em uma das imagens, é a advogada Tatiane que
aparece espancando um homem, em um terreno baldio, com um taco de beisebol. O
objeto é o mesmo que aparece em vídeos publicados nas redes sociais do marido
dela, o sargento Póvoa.
Além do
objeto, o casal gostava de ostentar o uso de armas na internet. Em outro vídeo,
o sargento aparece apontando duas armas para um colombiano, exigindo que ele
peça perdão.
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'Fase muito boa'
Em
conversas por aplicativos de mensagens, obtidas pela polícia e divulgadas pela
TV Anhanguera, o sargento Póvoa comemora o sucesso financeiro que vinha
alcançando com o esquema de agiotagem. Em uma das conversas, ele fala, para
outro policial, que estava vivendo uma "fase muito boa" da vida.
"Estou
em uma fase da vida muito boa. Só tenho a agradecer. Agiotagem tá comendo
solta. Fiz um capital de giro muito bom", disse.
Em
outra conversa, o sargento alerta um colega de farda sobre como agir para não
ser pego. "Sabemos que não é uma atividade legal. Então, tem que ser
sábio!", afirmou.
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Operação “Mão de Ferro”
O
esquema foi revelado por meio da Operação "Mão de Ferro", realizada
na última sexta-feira (28) pela Polícia Civil. A ação mobilizou cerca de 80
policiais civis para o cumprimento de mais de 10 mandados de busca e apreensão
e nove mandados de prisão.
Segundo
a polícia, foram alvos da operação o líder da quadrilha, bem como financiadores
e executores das cobranças violentas. Além disso, a corporação informou que a
advogada atuava na “blindagem jurídica” do grupo e participava das cobranças
contra as vítimas.
Os
investigados devem responder pelos crimes de organização criminosa, usura
(agiotagem), extorsão, lavagem de dinheiro, entre outros.
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Leia a íntegra da nota da defesa de Tatiane Meireles:
"A
defesa da Dra. Tatiane Meireles vem a público reafirmar seu compromisso com a
Constituição Federal, o devido processo legal e o respeito às decisões
judiciais proferidas no curso da investigação criminal em andamento.
Embora
informações estejam sendo veiculadas de forma ampla pela imprensa, cumpre
esclarecer que o Juízo da 2ª Vara das Garantias da Comarca de Goiânia
determinou expressamente o sigilo absoluto sobre todas as diligências e provas
colhidas, bem como a manutenção da anonimização da identidade dos investigados,
a fim de garantir a lisura e a imparcialidade da apuração.
O
modelo de Juiz de Garantias, previsto no artigo 3º-B do Código de Processo
Penal, tem como função precípua resguardar os direitos fundamentais do
investigado na fase pré-processual, assegurando que eventuais medidas
cautelares, como prisões e buscas, sejam apreciadas de forma imparcial, técnica
e apartada da fase acusatória.
As
determinações emanadas do Juízo das Garantias não representam recomendações
discricionárias, mas ordens judiciais vinculantes, cuja observância é
imperativa por todos os órgãos responsáveis pela persecução penal. O seu
descumprimento, especialmente em sede de medidas sigilosas, compromete não
apenas a validade da prova, mas também a integridade do sistema de justiça.
Ao
contrário do que foi determinado judicialmente, dados sigilosos, imagens,
conversas e informações pessoais da Dra. Tatiane Meireles foram indevidamente
divulgados ao público, em frontal descumprimento à ordem judicial, o que pode
configurar grave violação ao ordenamento jurídico vigente, além de comprometer
o direito à ampla defesa e à presunção de inocência.
A
defesa técnica informa que não contribuirá para que a lisura do processo seja
comprometida por juízos precipitados, pressões externas ou contaminações
indevidas do ambiente processual. Atuaremos com firmeza, responsabilidade e
respeito ao rito legal, reiterando total confiança na Justiça e na preservação
das garantias constitucionais.
Cientes
de que as investigações ainda estão em curso e não se trata de ação penal em
andamento, reiteramos que todas as imputações serão devidamente enfrentadas no
foro adequado, com base em provas lícitas, respeitando-se o contraditório e a
ampla defesa."
Fonte:
g1

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