O
que é a “caixa amarela” apreendida pela PF que poderá devastar Moro
A
Polícia Federal retirou na quarta-feira (03/12), da 13ª Vara Federal de
Curitiba, a famosa vara da Lava Jato, um objeto que já nasce como protagonista
de uma das maiores celeumas envolvendo Sérgio Moro: uma caixa amarela de
arquivos que, segundo o ex-deputado estadual Tony Garcia, guarda cerca de 400
horas de gravações clandestinas feitas a mando do então juiz.
Foi
exatamente Tony Garcia quem entregou a pista decisiva às autoridades. Em suas
denúncias, ele afirma que, ainda em 2004, ao assinar acordo de colaboração no
caso Banestado, foi obrigado por Moro a gravar ilegalmente políticos, juízes,
doleiros e até governadores ao longo de quase duas décadas (de 2005 a 2021).
Todas essas gravações, segundo ele, ficavam armazenadas em disquetes dentro
dessa caixa amarela arquivada na própria vara.
O
ministro Dias Toffoli, do STF, não deixou margem para erro na decisão que
autorizou a operação: determinou busca específica à caixa amarela e ao material
relacionado a Tony Garcia e a outros sete investigados, a maioria doleiros. Os
policiais também levaram documentos de 18 processos diferentes, todos do
período em que Moro era o titular da 13ª Vara, além de terem tido acesso
irrestrito a computadores e mídias da secretaria.
As
denúncias de Tony Garcia contra o ex-juiz são públicas desde 2023 e ganharam
força a ponto de a Procuradoria-Geral da República abrir inquérito em 2024 para
apurar se Moro realmente transformou o colaborador em uma espécie de espião
particular, sem autorização judicial.
A
apreensão da caixa amarela representa, portanto, o primeiro passo concreto para
que o conteúdo dessas gravações possa finalmente ser confrontado com as
acusações que o ex-deputado paranaense vem fazendo há quase dois anos. Se
confirmadas, as fitas podem trazer à tona provas materiais de práticas que o
STF já considerou ilegais em diversos julgamentos da Lava Jato.
• Moro 'esconde' de suas redes operação da
PF que pode levá-lo à cadeia
O
senador Sergio Moro (União-PR), que diariamente faz publicações nas redes
sociais sobre temas envolvendo política, segurança pública e corrupção,
resolveu "esconder" uma dos principais fatos políticos da semana: o
de que a 13ª Vara Federal de Curitiba, unidade judicial que comandava em seus
tempos de juiz da Lava Jato, foi alvo de uma operação de busca e apreensão da
Polícia Federal (PF) no âmbito de um inquérito do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Relatado
pelo ministro Dias Toffoli, o inquérito tem como base denúncias feitas contra
Moro pelo empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia. Conhecido como
"agente secreto" da Lava Jato, Garcia afirma ter sido usado por Moro
para ações clandestinas que envolviam espionagem e chantagem contra políticos e
magistrados.
Apesar
de ser peça central no inquérito e alvo de acusações graves que, em última
instância, podem até mesmo levá-lo à prisão, Moro vem, ao menos para seus
seguidores nas redes sociais, fingindo que nada aconteceu. Em seus perfis na
internet, não há nenhuma publicação, nem mesmo para se defender, sobre a
operação da PF desta quarta-feira (3) na 13ª Vara Federal de Curitiba. Em vez
disso, o ex-juiz fez postagens criticando a decisão do ministro Gilmar Mendes,
do STF, que limita a atuação do Senado na abertura de processos de impeachment
contra integrantes da Corte.
A única
manifestação de Moro sobre a devassa da PF em sua antiga unidade judicial se
deu apenas através de uma nota protocolar redigida por sua defesa e distribuída
a imprensa.
“A
defesa do senador Sergio Moro não teve acesso aos autos do inquérito,
instaurado com base em um relato fantasioso de Tony Garcia. Não houve qualquer
irregularidade no processo de quase 20 anos atrás que levou à condenação de
Tony Garcia por ter se apropriado de recursos de consorciados do Consórcio
Garibaldi. Como o próprio PGR afirmou, não há causa para competência do STF no
inquérito, já que não há sob investigação ato praticado por Sergio Moro na
condição de senador ou ministro. O senador não tem qualquer preocupação com o
amplo acesso pelo STF aos processos que atuou como juiz. Essas diligências
apenas confirmarão que os relatos de Tony Garcia são mentirosos", diz o
comunicado.
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Entenda
Agentes
da Polícia Federal (PF), cumprindo ordens do ministro Dias Toffoli, do Supremo
Tribunal Federal (STF), realizaram nesta quarta-feira (3) uma operação de busca
e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, no Paraná. Segundo fontes ouvidas
pela Fórum com conhecimento sobre o caso, a ação seria "devastadora"
para o senador e ex-juiz da Lava Jato, Sergio Moro (União-PR), um dos
principais pivôs do lawfare que levou à prisão de Lula por 580 dias na
Superintendência da Polícia Federal (PF) da capital paranaense.
Toffoli
determinou a operação após a 13ª Vara se negar a fornecer informações sobre
processo instaurado a partir de
denúncias feitas pelo empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia, que
acusa Moro de ter conduzido investigações ilegais e clandestinas quando era
responsável por processos do caso Banestado.
A ação
tem como base o despacho emitido em 6 de outubro atendendo às solicitações da
PF no contexto das denúncias apresentadas por Tony Garcia, que acusa Sergio
Moro de ter conduzido investigações clandestinas relacionadas ao caso
Banestado. Os relatos do ex-deputado estadual são o ponto de partida da
operação hoje conduzida pela Justiça: Garcia afirma que, sob um acordo firmado
com o então juiz, recebeu instruções para cumprir diversas “missões”.
Conhecido
como “agente infiltrado” da Lava Jato, o ex-deputado afirma ter sido obrigado
por Moro a realizar gravações ilegais em 2004, quando firmou um acordo de
colaboração após ser preso por fraudes ligadas ao Consórcio Nacional Garibaldi.
Segundo Garcia, o então juiz o teria instruído a espionar autoridades que
possuíam foro privilegiado, entre elas o ex-governador Beto Richa e ministros
do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Parte
das provas que podem comprovar essas acusações estariam arquivadas na própria
13ª Vara Federal, o que motivou o pedido de diligências, segundo ele. Em sua
decisão, Toffoli afirmou: “Defiro sejam empreendidas pela autoridade policial
as diligências propugnadas, visando autorizar o exame in loco dos processos ali
relacionados, documentos, mídias, objetos e afins relacionados às
investigações".
Em
2023, Garcia relatou ter colaborado com a Lava Jato por dois anos e meio, com
direito a proteção policial e acesso a recursos da inteligência da PF. Ele
também afirmou ter participado de ações de espionagem e chantagem que teriam
mirado desembargadores do TRF-4, instância responsável por revisar as decisões
da Lava Jato.
“Eu fui
agente infiltrado do Ministério Público, trabalhei por dois anos e meio, com
segurança e interceptações à disposição. Me fizeram de funcionário", disse
Garcia em entrevista.
A
gravidade das acusações fez com que o caso fosse levado ao Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) e reacendeu o debate sobre o lawfare – o uso político do sistema
judicial – que marcou o período da Lava Jato. Segundo o advogado e jurista
Kakay, ouvido pela TV Fórum, o inquérito aberto no STF com base nas denúncias
de Garcia “pode desestruturar completamente a Lava Jato” e abrir caminho para a
revisão de antigas delações.
<><> "Ele chegou ao Supremo, mas não como
queria"
Em
entrevista ao programa Fórum Onze e Meia do dia 17 de outubro, o advogado
criminalista não economizou palavras sobre Sérgio Moro. Para o jurista, a
imprensa brasileira não vem dando a devida atenção à decisão do ministro Dias
Toffoli.
“Um
ministro do Supremo mandou fazer uma busca e apreensão, e essa busca e
apreensão chama-se Sérgio Moro”, resumiu Kakay. Para ele, a medida é um passo
crucial para revelar “questões gravíssimas” sobre o funcionamento da
força-tarefa que marcou a história política do país.
“Pra
onde foi o dinheiro dele? Ninguém sabe. A 13ª vara, existe um sumidouro, é
muito importante essa busca e apreensão que está sendo feita agora”, afirmou.
Segundo
Kakay, a falta de transparência nas movimentações financeiras e processuais
daquela vara foi um dos elementos mais obscuros da operação. Ele afirma que a
Lava Jato criou um sistema paralelo de poder, com juízes, procuradores e
delegados atuando fora dos limites da legalidade. "Ele coordenava o que eu
chamo de procuradores adestrados e parte da Polícia Federal”, disse.
Kakay
acredita que a decisão de Toffoli abre caminho para uma devassa sobre a real
extensão das irregularidades cometidas em Curitiba. “É importantíssima uma
investigação que pode, de certa forma, mostrar ao Brasil quem realmente eram
aqueles que determinavam os destinos do país”, afirmou.
Vale
relembrar o relatório do Conselho Nacional de Justiça contra Sérgio Moro e
assinado pelo juiz Luis Felipe Salomão, que apontou inúmeras regularidades nas
práticas da Lava Jato.
O
advogado também ironizou o atual momento político de Sérgio Moro, que deixou a
magistratura para virar ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (e chegou a ser
cotado para o posto de ministro do Supremo Tribunal Federal), e hoje enfrenta
uma série de investigações.
Além da
busca e apreensão, o ex-juiz também é réu em um processo no STF por declarações
ofensivas ao ministro Gilmar Mendes. Kakay considera inevitável uma condenação.
“É
muito grave um juiz federal falar que ia comprar um habeas corpus. Mesmo de
forma jocosa, isso é inaceitável. Eu acho que ele será condenado”, disse.
A
consequência política, porém, não o entusiasma. “Essa condenação vai torná-lo
inelegível, mas eu preferia vê-lo fora da disputa por uma condenação criminal
referente à Lava Jato”, comentou. Para Kakay, os crimes que marcaram aquele
período ainda não foram devidamente apurados.
“Ele
chegou ao Supremo, mas não como queria”, provocou. "Ele precisa prestar
contas sobre o que acontecia na 13ª Vara", completa.
Do
outro lado, Sergio Moro nega todas as acusações. Em nota enviada à imprensa, o
senador afirmou:
“A
defesa do senador Sergio Moro não teve acesso aos autos do inquérito,
instaurado com base em um relato fantasioso de Tony Garcia. Não houve qualquer
irregularidade no processo de quase 20 anos atrás que levou à condenação de
Tony Garcia por ter se apropriado de recursos de consorciados do Consórcio
Garibaldi. Como o próprio PGR afirmou, não há causa para competência do STF no
inquérito, já que não há sob investigação ato praticado por Sergio Moro na
condição de senador ou ministro.
O
senador não tem qualquer preocupação com o amplo acesso pelo STF aos processos
que atuou como juiz. Essas diligências apenas confirmarão que os relatos de
Tony Garcia são mentirosos".
• Relembre as acusações do "agente
infiltrado" da Lava Jato
Tony
Garcia foi preso em 2004, em uma investigação envolvendo o Consórcio Nacional
Garibaldi, e firmou um acordo de colaboração premiada com Moro, à época titular
da 13ª Vara Federal de Curitiba. Segundo o empresário, contudo, esse acordo foi
distorcido para transformá-lo em um funcionário de Moro responsável por ações
clandestinas.
Garcia
diz que Moro lhe impunha tarefas ilegais, inclusive fora de sua jurisdição, e
que atuou durante anos como um informante secreto a serviço da Lava Jato — com
supervisão direta de Moro e integrantes do Ministério Público.
“Eu fui
agente infiltrado do Moro e Ministério Público, trabalhei por dois anos e meio,
com segurança e interceptações à disposição. Me fizeram de funcionário”,
afirmou.
Documentos
já enviados ao STF apontam 30 tarefas atribuídas por Moro a Garcia, como buscar
fitas comprometedores, produzir relatos sobre desembargadores, monitorar
advogados e fornecer informações “sensíveis” que, segundo o ex-deputado,
serviriam para pressionar cortes superiores.
Um dos
documentos diz de maneira inequívoca:
"O beneficiário [Tony Garcia] procurará
obter a fita cassete junto a Nego Scarpin, onde constaria tal fato, podendo,
neste caso, realizar escutas externas".
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Espionagem, grampos e chantagem contra magistrados
As
denúncias mais graves apontam que Moro teria usado Garcia para coletar material
comprometedor sobre desembargadores do TRF-4 e ministros do STJ — cortes
responsáveis por revisar as decisões da Lava Jato.
Garcia
afirma ter participado de operações para recuperar vídeos feitos na chamada
“festa da cueca”, um encontro envolvendo desembargadores e prostitutas em um
hotel de luxo em Curitiba. Ele relata que as gravações foram localizadas, mas
nunca encaminhadas oficialmente a ninguém, o que o levou a concluir que
poderiam ter sido usadas para chantagear magistrados.
O
empresário também detalha como seus
depoimentos eram manipulados pelo próprio Moro:
“Quando
eu dizia algo que não estava de acordo com o que ele queria ouvir, ele
desligava o gravador, apagava o trecho e sugeria que eu conversasse um pouco
com meus advogados para reformular a história".
Além
disso, Garcia diz ter sido submetido a anos de prisões intermitentes, multas
elevadas e ameaças para que continuasse obedecendo. Durante mais de duas
décadas, afirma ter vivido como um “prisioneiro” do ex-juiz.
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Manipulação e interferência política
As
denúncias incluem ainda episódios de uso político de depoimentos. Garcia conta
que, em 2006, foi orientado por Moro a atender às demandas de um repórter da
revista Veja, inventando acusações contra José Dirceu, Lula e o PT. O conteúdo
da reportagem, diz, foi “forjado” e moldado às necessidades do momento.
Relata
também ter participado, a mando de aliados da Lava Jato, de articulações
relacionadas à crise que antecedeu o impeachment de Dilma Rousseff — e pediu
desculpas públicas à ex-presidenta por isso.
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PGR, PF e STF enxergam indícios de crime
A
gravidade das acusações levou a PF e a Procuradoria-Geral da República a
pedirem a abertura de investigação no STF, alegando indícios de coação,
chantagem, constrangimento ilegal e organização criminosa relacionados a Moro e
a procuradores da Lava Jato. Segundo a PGR, “o acordo de colaboração foi
utilizado como instrumento de constrangimento ilegal”. Já a PF afirma que a
delação foi “desvirtuada de forma a funcionar como instrumento de chantagem e
de manipulação probatória”.
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Moro nega
Moro
afirma que as acusações são falsas e motivadas por vingança. Em nota anterior à
operação da PF, declarou:
“A
defesa do senador Sergio Moro não teve acesso aos autos do inquérito,
instaurado com base em um relato fantasioso de Tony Garcia. (...) O senador não
tem qualquer preocupação com o amplo acesso pelo STF aos processos que atuou
como juiz. Essas diligências apenas confirmarão que os relatos de Tony Garcia
são mentirosos".
Após a
operação da PF desta quarta-feira, Moro divulgou a seguinte nota:
“A
defesa do senador Sergio Moro não teve acesso aos autos do inquérito,
instaurado com base em um relato fantasioso de Tony Garcia. Não houve qualquer
irregularidade no processo de quase 20 anos atrás que levou à condenação de
Tony Garcia por ter se apropriado de recursos de consorciados do Consórcio
Garibaldi. Como o próprio PGR afirmou, não há causa para competência do STF no
inquérito, já que não há sob investigação ato praticado por Sergio Moro na
condição de senador ou ministro.
O
senador não tem qualquer preocupação com o amplo acesso pelo STF aos processos
que atuou como juiz. Essas diligências apenas confirmarão que os relatos de
Tony Garcia são mentirosos".
Fonte:
Fórum

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