De
cortes a convulsões: como agir diante de emergências domésticas
Acidentes
domésticos acontecem de forma repentina e, muitas vezes, em situações
aparentemente inofensivas. Uma queda no banheiro, um gole de produto de limpeza
ou uma refeição apressada podem ser fatais. Nessas horas, saber como agir faz
toda a diferença — seja você a vítima ou alguém que esteja perto.
Crianças
e idosos estão entre os mais suscetíveis a esse tipo de ocorrência. Se
possível, recomenda-se que todos os adultos façam um curso de primeiros
socorros em local credenciado, para saber como agir com segurança em casos de
acidentes. Também é importante ter à mão números como 192 (SAMU), 193 (Corpo de
Bombeiros) e 190 (Polícia Militar). A seguir, saiba como agir diante das
principais situações de emergência e como evitá-las.
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1. Quedas
Ao
presenciar uma queda, evite levantar ou mover a pessoa. Primeiro, avalie a
situação com calma: verifique se ela está consciente e respirando; se há
sangramento intenso; dor forte, especialmente no pescoço ou nas costas;
dificuldade para se mover; formigamento ou sinais de confusão mental.
Mesmo
que a vítima pareça bem, não permita que ela se levante rapidamente, sobretudo
se a queda tiver sido de uma altura significativa. “Um detalhe que não pode ser
esquecido é: o fato de o acidentado conseguir se movimentar não exclui a
possibilidade de fraturas ou entorses”, alerta Gustavo Fernandes Moreira,
coordenador médico do departamento de Emergência do Hospital de Urgências de
Goiás (HUGO), unidade pública em Goiânia gerida pelo Einstein Hospital
Israelita. Na dúvida, acione imediatamente o socorro médico.
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2. Parada cardíaca
Quando,
de repente, o coração para de bombear sangue, o corpo entra em colapso em
segundos. A pessoa pode perder a consciência, ficar sem pulso e apresentar
respiração irregular ou ofegante, além de dor intensa no peito, falta de ar,
tontura e palpitações. Nesses casos, cada segundo conta: acione imediatamente o
serviço de emergência.
Em
seguida, inicie a reanimação cardiopulmonar (RCP). Posicione-se ao lado da
vítima, coloque as mãos sobrepostas no centro do peito e faça compressões
firmes e rápidas, entre 100 e 120 por minuto. Se houver um desfibrilador
externo automático (DEA) disponível, ligue o aparelho e siga as instruções de
voz. Continue as manobras até a chegada da equipe de socorro.
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3. Choque elétrico
A
primeira atitude diante de um choque elétrico é jamais tocar na vítima antes de
desligar a fonte de energia. Parece óbvio, mas muitas pessoas se esquecem e
acabam também eletrocutadas. Assim que o ambiente estiver seguro, afaste fios
com ajuda de objetos com materiais isolantes, como madeira, plástico ou
borracha. Nunca use água, já que ela conduz eletricidade e pode agravar o
acidente.
Em
seguida, verifique se a pessoa está consciente, responde a estímulos e respira
normalmente. Caso contrário, ligue imediatamente para o SAMU (192) ou o Corpo
de Bombeiros (193) e inicie as compressões cardíacas até a chegada da equipe.
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4. Queimaduras
Em
episódios de queimadura, retire com cuidado anéis, pulseiras e relógios
próximos à área afetada. Em seguida, jogue água corrente fria (não gelada) por
cerca de 15 a 20 minutos, o que ajuda a aliviar a dor e reduzir o dano nos
tecidos. Cubra a região com um pano limpo e úmido.
Procure
atendimento médico se a queimadura for extensa, profunda ou atingir rosto,
mãos, pés ou articulações. “Nunca estoure as bolhas, que funcionam como uma
proteção natural da pele, nem tente remover roupas grudadas”, alerta o médico
de família e comunidade Wilands Patrício Procópio Gomes, do Einstein Hospital
Israelita.
Não
aplique gelo, que pode agravar a lesão, nem pomadas ou receitas caseiras, como
pasta de dente, margarina ou clara de ovo. “Essas substâncias podem até piorar
o quadro, aumentando o risco de infecção”, reforça Gomes.
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5. Cortes e sangramentos
Para
cortes simples e pequenos, o básico costuma resolver bem: lave o local com água
corrente e sabão neutro para remover impurezas e reduzir o risco de infecção.
Em seguida, faça pressão com um pano limpo ou gaze para estancar o sangramento.
Quando ele cessar, cubra com um curativo. Se estiver ajudando alguém, use
luvas.
“Nas
diretrizes mais recentes, há uma mudança importante para sangramentos graves:
se for muito intenso no braço na perna e não parar com pressão direta, use um
torniquete. Pode ser com um produto de versão comercial próprio para esse fim
ou, se não estiver disponível, improvisado com um pano largo e resistente”,
ensina Moreira.
O
torniquete deve ser colocado entre 5 e 7 centímetros acima do ferimento e
apertado firmemente até que o sangramento pare. É fundamental anotar o horário
da aplicação e, uma vez colocado, não remover até a chegada ao hospital.
Evite o
uso de algodão em cima do corte, já que ele gruda e dificulta a cicatrização. E
nunca tentar retirar objetos encravados. “Se o corte for profundo ou extenso e
não parar de sangrar após 10 minutos de pressão firme, ou se houver sinais de
infecção depois, com vermelhidão, calor ou pus, procure um médico”, afirma
Moreira.
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6. Engasgo
As
recomendações para manejar um engasgo foram atualizadas em outubro pela
Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês). Quando um objeto ou
alimento obstrui a respiração, a vítima pode ficar agitada, pálida, com os
olhos arregalados, a respiração ruidosa e colocar as mãos em volta do pescoço.
Para
crianças e adultos conscientes, a nova diretriz recomenda alternar cinco golpes
nas costas seguidos de cinco compressões abdominais (Manobra de Heimlich),
repetindo o ciclo até que o objeto seja expelido ou a pessoa fique
inconsciente. Se a vítima perder a consciência, posicione-a no chão com
cuidado, acione imediatamente o serviço de emergência e inicie a RCP, começando
pelas compressões torácicas.
Caso o
objeto engolido retorne, retire-o apenas se estiver visível e acessível. Nunca
insira os dedos às cegas na boca, pois isso pode empurrar o objeto mais
profundamente nas vias aéreas.
No caso
de bebês menores de 1 ano, alterne entre cinco golpes nas costas e cinco
compressões torácicas (no centro do peito) usando dois dedos, até que o objeto
seja expelido. Se ele perder a consciência, acione o serviço de emergência e
inicie RCP.
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7. Desmaio
Deite
ou sente a pessoa imediatamente para evitar quedas e possíveis lesões. Afrouxe
roupas apertadas e, se não houver sinais de trauma, eleve um pouco as pernas
para facilitar o fluxo de sangue ao cérebro. Certifique-se de que as vias
aéreas estejam livres, removendo qualquer objeto da boca que possa dificultar a
respiração, e permaneça ao lado da vítima até que ela recobre a consciência.
“Não jogue água ou substâncias no rosto, não ofereça líquidos ou alimentos
enquanto ela estiver inconsciente e nunca a sacuda”, alerta Gomes.
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8. Envenenamento e intoxicação
O
principal erro nesses casos é tentar provocar o vômito. Essa atitude pode
queimar ainda mais o esôfago quando a substância volta ou levar o conteúdo
tóxico aos pulmões. “Lave a boca e as mãos da vítima e identifique a substância
ingerida para levar a embalagem ou o nome ao serviço de saúde”, orienta Wilands
Gomes.
Vá
diretamente ao hospital. Não ofereça leite, água, chá ou qualquer líquido sem
orientação médica. A melhor conduta é a prevenção: mantenha produtos de
limpeza, medicamentos e venenos trancados e fora do alcance de crianças e
animais de estimação. Tenha sempre à mão o telefone do Centro de Informações
Toxicológicas (Brasil: 0800 722 6001) para orientações, inclusive em situações
aparentemente leves.
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9. Picadas de insetos
Geralmente,
picadas de insetos podem ser tratadas em casa. A orientação é lavar o local com
água e sabão e aplicar compressa fria para aliviar a dor e o inchaço.
Antialérgicos e analgésicos podem ser usados em reações leves.
Se
houver ferrão, como nas picadas de abelha, remova-o com cuidado, usando uma
pinça ou até as unhas, mas sem espremer o local, para evitar que mais veneno se
espalhe. Não use fogo, álcool em excesso ou objetos cortantes e jamais tente
sugar o veneno com a boca.
Procure
ajuda médica imediatamente se a pessoa apresentar falta de ar, inchaço no rosto
ou na garganta, tontura, náusea intensa ou mal-estar generalizado. Esses sinais
indicam reação alérgica grave (anafilaxia), que pode ser fatal.
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10. Picadas de animais peçonhentos
Quando
o ferimento é causado por cobra, escorpião, aranha ou outro animal peçonhento,
a agilidade no socorro é fundamental. O único tratamento eficaz é o soro
antiveneno específico, disponível apenas em hospitais.
Após
lavar o local com água e sabão, leve a vítima imediatamente ao pronto-socorro
ou ligue para o SAMU. Enquanto isso, mantenha-a calma, com o membro afetado
imobilizado e, se possível, abaixo do nível do coração. Evite movimentos
desnecessários, pois eles aceleram a circulação do veneno.
Jamais
faça torniquetes, cortes, sucção do veneno ou aplique gelo, folhas, alho, fumo
ou qualquer substância caseira. Se for seguro, identifique ou leve o animal que
causou o acidente para o hospital, para auxiliar na escolha do soro correto.
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11. Afogamento
Só
retire a pessoa da água se souber nadar. Caso contrário, há risco de você
também se afogar. Se possível, ofereça um objeto que flutue, como boia, pedaço
de isopor ou galho comprido, e tente ajudar sem entrar na água.
Após o
resgate, verifique se ela está respirando. Se estiver inconsciente e sem
respiração, inicie imediatamente as compressões torácicas. A ideia de virar a
vítima de cabeça para baixo para “tirar a água do pulmão” não funciona — a
prioridade é restabelecer a circulação e a oxigenação do sangue. Em casos de
quedas ou suspeita de trauma, tenha cuidado extra com a coluna cervical,
evitando movimentar o pescoço. Ligue para os serviços de emergência (192 ou
193).
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12. Hipotermia
A
hipotermia ocorre quando a temperatura do corpo cai abaixo de 35°C. Ela não
acontece apenas em situações de frio intenso — idosos, pessoas em casas mal
aquecidas ou indivíduos molhados em temperaturas moderadas também estão em
risco. Os sinais de alerta incluem tremores intensos, confusão mental, fala
arrastada, sonolência excessiva, perda de coordenação motora e pele muito fria.
Ao
identificar o quadro, é fundamental aquecer rapidamente a pessoa, removendo
roupas molhadas e envolvendo-a em cobertores secos. O aquecimento deve começar
pelo centro do corpo (peito, pescoço, abdômen e virilha) antes das
extremidades, utilizando compressas mornas ou o calor do próprio corpo.
O
aquecimento deve ser gradual, ou seja, nada de mergulhar a pessoa em água
quente ou aproximá-la de aquecedores, pois isso pode causar queimaduras,
arritmias cardíacas ou choque. Não dê álcool, que acelera a perda de calor. Se
a situação não se estabilizar, chame ajuda médica.
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13. Convulsão
A
maioria das convulsões dura menos de dois minutos e para sozinha. Afaste móveis
e objetos pontiagudos e apoie a cabeça da pessoa em crise para evitar traumas.
Não coloque nada dentro da boca da vítima, tampouco tente “desenrolar” a
língua. Observe o tempo da crise, pois essa informação é importante para a
equipe médica.
Quando
os tremores cessarem, a vítima vai ficar confusa e sonolenta por alguns
minutos. Vire-a de lado, para evitar que se engasgue caso vomite, e deixe-a
descansar até recuperar totalmente a consciência. Não ofereça água, comida ou
medicação. Chame o resgate médico se a convulsão durar mais de 5 minutos,
houver várias crises seguidas, for a primeira vez ou se ela se machucou.
Fonte:
CNN Brasil

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