quinta-feira, 11 de dezembro de 2025


 

Consumo de adoçante pode estar relacionado a demência, mostra estudo brasileiro

Talvez seja melhor ter mais moderação ao trocar o açúcar pelo adoçante na hora do cafezinho. Um estudo científico revelou que o adoçante pode estar relacionado à perda de memória e ao declínio de diferentes funções cognitivas.

O resultado do trabalho mostra que o consumo de altas doses diárias de adoçante pode acelerar a perda de capacidades cognitivas em 62%, com prejuízos mais pronunciados entre pessoas com 35 a 60 anos de idade. Pacientes com diabetes também se mostraram mais propensos a sofrer de neurodegeneração ao usar altos níveis de dulcificantes.

Segundo Claudia Suemoto, professora da USP (Universidade de São Paulo) e coordenadora responsável pela pesquisa, já existem evidências de que o uso de adoçantes pode causar problemas como câncer e doenças cardiovasculares e metabólicas, mas o novo estudo traz de forma inédita uma medida dos efeitos dessas substâncias também na saúde do cérebro.

Para chegar a esses resultados, a equipe de pesquisadores usou dados do ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), com informações de mais de 12 mil participantes coletadas entre 2008 e 2010. Durante a pesquisa, todos os voluntários tiveram de detalhar suas dietas, e com isso os cientistas conseguiram mensurar tanto o consumo intencional de adoçantes quanto a ingestão de dulcificantes incorporados a alimentos ultraprocessados.

Ainda, a performance cognitiva dessas pessoas foi avaliada no começo, no meio e no fim do período de estudo usando protocolos padrão. Os pesquisadores avaliaram aspectos como fluência verbal, memória e velocidade de raciocínio. Por fim, as análises estatísticas foram ajustadas para eliminar possíveis fatores de confusão — idade, sexo, nível de atividade física, índice de massa corporal e morbidades (diabetes ou hipertensão).

<><> Resultados do estudo

Os resultados jogam luz aos efeitos deletérios de adoçantes sobre a nossa saúde. Suemoto, contudo, chama atenção para as limitações do trabalho. Em primeiro lugar, como a pesquisa ainda é nova, é preciso replicar os resultados em outros estudos ao redor do mundo. “Não dá para mudar políticas públicas baseado apenas em um único estudo”, afirma.

Além disso, pesquisas sobre os efeitos na saúde de elementos específicos da dieta têm muitos fatores de confusão que são difíceis de isolar. Participantes que possuem maus hábitos alimentares também têm tendência a outros hábitos ruins, como sedentarismo e tabagismo, e problemas de saúde, como diabetes e hipertensão, que influenciam os resultados.

Nesse estudo, os pesquisadores buscaram ajustar estatisticamente o que foi possível. “Ainda assim, algum grau de confusão residual existe. A gente pode ajustar o que mediu”, diz Suemoto. Tal limitação, entretanto, não é demérito para a robustez dos resultados, que foram publicados nesta quarta-feira (3) na prestigiada revista Neurology.

Por fim, como os dados foram coletados entre 2008 e 2010, a pesquisa não inclui a sucralose entre os adoçantes estudados. Essa substância, que é amplamente utilizada hoje no país, ainda não estava disponível comercialmente à época. Outras evidências científicas, entretanto, revelam que este dulcificante não deve ter efeitos diferentes dos demais.

Um estudo de 2017 com 1.500 participantes com mais de 60 anos mostrou que o consumo de bebidas adoçadas artificialmente aumentou os riscos de AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico, demência geral e demência da doença de Alzheimer. Entre as bebidas analisadas estavam aquelas com adição de sucralose.

Manuella Toledo Matias, geriatra do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), afirma que a atenção para fatores de risco modificáveis de demência, entre eles a alimentação, pode reduzir em 40% a chance de desenvolver essas doenças. Nesse sentido, a especialista destaca a importância de eliminar o uso de adoçantes, se possível, ou trocá-los por seus equivalentes naturais. Além disso, segundo ela, é importante consumir mais alimentos in natura e evitar ultraprocessados. “Devemos descascar mais e desembalar menos”, diz.

A associação entre o consumo de ultraprocessados e o declínio cognitivo já está bem estabelecida no meio científico. Aqui no Brasil, resultados do próprio ELSA mostraram que uma dieta baseada em comida industrializada com baixo teor nutritivo está relacionada a um aumento de 28% na velocidade do avanço da demência. Os resultados, que também foram obtidos pelo time de pesquisa da professora Suemoto, serviram de motivação para o trabalho mais recente, voltado para os efeitos específicos dos adoçantes.

        Crescimento da cabeça do bebê pode influenciar QI na fase adulta, mostra estudo

Estudos anteriores já haviam mostrado que cabeças maiores tendem a estar associadas a volumes cerebrais mais altos e a melhores desempenhos cognitivos...

Um novo estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido, revelou que bebês que apresentam maior crescimento do perímetro cefálico durante o primeiro ano de vida tendem a ter quocientes de inteligência (QI) mais altos na vida adulta. A pesquisa contou com apoio da organização de saúde pública Umane. A informação é do jornal “O Globo”.

O perímetro cefálico, medido com uma fita métrica ao redor da cabeça do bebê, é um indicador importante do desenvolvimento cerebral. Estudos anteriores já haviam mostrado que cabeças maiores tendem a estar associadas a volumes cerebrais mais altos e a melhores desempenhos cognitivos. O crescimento é mais intenso nos primeiros anos: o cérebro atinge cerca de 55% do tamanho adulto aos dois anos e 90% aos seis.

Até então, nascer com uma cabeça maior já era relacionado a QIs mais elevados na vida adulta. Mas a nova pesquisa foi além: mesmo bebês com perímetros menores ao nascer podem alcançar melhores resultados cognitivos se apresentarem crescimento acelerado nos primeiros meses de vida.

“A principal descoberta foi que o crescimento do perímetro cefálico no primeiro ano está relacionado a um aumento do QI na vida adulta, independentemente do tamanho da cabeça ao nascer. Isso mostra que, mesmo entre crianças em maior risco, é possível superar adversidades iniciais. O investimento no desenvolvimento deve começar logo no primeiro ano, especialmente nos primeiros seis meses”, explica Marina de Borba Oliveira Freire, doutora em Epidemiologia pela UFPel e autora do estudo.

<><> Estudo

O trabalho integra a tese de doutorado de Freire e utilizou dados da Coorte de Nascimento de Pelotas de 1993, que acompanhou 5.249 crianças nascidas naquele ano. Destas, 1.096 foram reavaliadas aos seis meses, aos 12 anos e novamente aos 18, quando tiveram o QI medido.

Os pesquisadores ajustaram os resultados para fatores que poderiam interferir nas análises, como tabagismo materno e escolaridade dos pais. A média do perímetro cefálico ao nascimento foi de 35 centímetros, e o QI médio aos 18 anos foi de 96,6 pontos.

A análise revelou que cada aumento de um desvio-padrão no crescimento do perímetro cefálico no primeiro ano correspondia a 1,3 ponto a mais no QI. Quase 40% dos bebês com cabeça menor ao nascer conseguiram recuperar a média esperada em 12 meses, e alguns ultrapassaram essa marca em até quatro desvios-padrão.

Um dos exemplos citados pelos autores mostra que um menino que nasce com 31,9 cm de perímetro cefálico — abaixo da média — e atinge 46,1 cm aos 12 meses poderia ter até três pontos a mais de QI na idade adulta, em comparação a outro que permanecesse abaixo do esperado.

O impacto, segundo o estudo, não é pequeno: um aumento de três pontos no QI pode representar entre 5,4% e 7,2% a mais de renda ao longo da vida, de acordo com estudos econômicos internacionais.

Os pesquisadores também destacam que, como os dados são de 1993 — apenas três anos após a criação do SUS —, é provável que os resultados hoje sejam ainda mais positivos, graças aos avanços em saúde, nutrição e estímulo infantil.

Apesar dos achados, os cientistas reforçam que o perímetro cefálico deve ser visto como um dos vários indicadores de desenvolvimento, e não como uma medida isolada ou determinante. Ele é, contudo, uma ferramenta simples e de baixo custo para identificar precocemente crianças em risco de atraso no desenvolvimento.

O próximo passo da pesquisa será investigar quais fatores influenciam esse crescimento acelerado nos primeiros meses de vida — incluindo nutrição, estímulos e ambiente familiar —, com o objetivo de orientar políticas públicas e intervenções mais eficazes.

Para Evelyn Santos, gerente de investimento e impacto social da Umane, o estudo reforça a necessidade de integração entre áreas como saúde, educação e assistência social:

“Os primeiros anos de vida são de vital importância para o desenvolvimento infantil. As políticas públicas precisam ser intersetoriais e integradas, para que os benefícios se reflitam em toda a sociedade”, afirma.

 

Fonte: ICL Noticias


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