O
que é leucovorina, droga promovida por Trump para autismo?
O
governo de Donald Trump anunciou nesta semana que a Administração de Alimentos
e Medicamentos (FDA) aprovou a leucovorina, um remédio genérico também
comercializado como ácido folínico, para tratar o autismo.
O
anúncio chocou especialistas em saúde pela rapidez do processo de aprovação
pelo órgão regulador americano, geralmente mais rigoroso nessas deliberações. E
também porque, até o momento, não há comprovação de que o medicamento tenha
efeito sobre o transtorno do espectro autista (TEA).
O
tratamento foi citado por Trump em evento na Casa Branca na segunda-feira, no
qual disparou uma sequência de desinformações sobre autismo, como a de que o
uso de paracetamol durante a gravidez seria uma das causas do transtorno, ou
que vacinas podem ter influência no recente aumento de casos.
"Isso
traz esperança para muitos pais de crianças autistas de que seja possível
melhorar suas vidas", disse o presidente durante coletiva de imprensa.
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Por que a leucovorina?
A
leucovorina, também conhecida como ácido folínico, é um derivado da vitamina B,
semelhante ao ácido fólico. É um medicamento antigo, usado principalmente como
antídoto para os efeitos negativos da quimioterapia contra o câncer.
Níveis
baixos de folato, uma forma de vitamina B essencial para o desenvolvimento
neural, estão associados a certos defeitos congênitos, por isso as mulheres já
são orientadas a tomar ácido fólico – versão sintética do folato – antes da
concepção e durante a gravidez.
Martin
Makary, comissário da FDA, afirmou que a leucovorina seria agora aprovado para
pacientes com deficiência cerebral de folato (CFD), condição por vezes
associada a perturbações do espectro do autismo.
Uma
pequena porcentagem das pessoas com autismo também parece ter baixos níveis de
folato no cérebro, possivelmente devido a anticorpos que o bloqueiam. A Autism
Science Foundation adverte, contudo, que seus parentes não autistas também
costumam ter esses anticorpos, sugerindo que isso não é uma causa do autismo.
Embora
um pequeno número de estudos tenha mostrado alguma melhora em crianças com
autismo tratadas com leucovorina, pesquisadores argumentam que o anúncio da FDA
é prematuro e que mais pesquisas são necessárias.
A
ciência sobre a leucovorina e o autismo "ainda está em estágios muito
iniciais, e mais estudos são necessários antes que uma conclusão definitiva
possa ser alcançada", afirmou a fundação internacional dedicada ao
transtorno, em comunicado.
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Metralhadora de desinformação
Trump
anunciou na segunda-feira que seu governo recomenda enfaticamente que as
mulheres limitem o uso de paracetamol, comercializado sob o nome de Tylenol,
durante a gravidez, a menos que seja realmente necessário.
Seus
comentários foram alvo de intensas críticas de especialistas médicos e
pesquisadores, uma vez quenão há provas que relacionem o analgésico ao autismo.
Trump
chegou a afirmar ainda que "ouviu dizer" que em Cuba não tem autismo
por que eles não teraiam dinheiro para comprar Tylenol.
Em
Cuba, como em muitas regiões do mundo, o autismo começou a ganhar visibilidade
nos últimos anos. Campanhas de conscientização foram lançadas na televisão
estatal para promover a inclusão de pessoas autistas.
A ilha
tem tem nove instituições educacionais para atender crianças autistas, conforme
afirmou a psicóloga do Ministério da Educação cubano Lisbet Rizo Suárez à
Associated Press.
Quanto
ao paracetamol, ele é amplamente utilizado em Cuba, e os médicos o prescrevem
sem restrições, afirma Suárez.
O
presidente americano não parou aí – entre as afirmações enganosas ditas na
segunda, ele discorreu sobre uma relação entre vacinas e autismo.
"Estudos
têm repetidamente constatado que não há relação entre as vacinas infantis que
salvam vidas e o autismo. Essa pesquisa, em muitos países, envolvendo milhares
de indivíduos, se estendeu por várias décadas. Qualquer esforço para deturpar a
ciência sólida e robusta representa uma ameaça à saúde das crianças",
disse a médica Susan Kressly, da Academia Americana de Pediatria, à Associated
Press.
Trump
chegou a sugerir que pais e responsáveis tornem menos frequentes as visitas ao
médico, com o intuito de evitar vacinas.
"Espaçar
ou adiar as vacinas significa que as crianças não terão imunidade contra essas
doenças nos momentos em que estão mais vulneráveis", reforçou Kressly.
Nenhum
estudo rigoroso encontrou ligações entre o autismo e vacinas ou medicamentos.
As taxas de vacinação, inclusive, diminuíram à medida que os casos de autismo
avançaram nos Estados Unidos.
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Qual o tratamento para autismo?
Não há
tratamentos ou curas cientificamente documentados para o autismo, nem ele pode
ser revertido. No entanto, especialistas concordam que o diagnóstico precoce é
crucial.
A
intervenção com medidas de apoio – idealmente antes dos três anos de idade – é
fundamental para melhorar as habilidades cognitivas, sociais e de comunicação.
Essas
medidas podem incluir terapia da fala, terapia ocupacional, treinamento de
habilidades sociais, terapia de integração sensorial, auxílios visuais, rotinas
estruturadas, planos de educação individualizados, terapia familiar – além de
um ambiente calmo e previsível
Fonte:
DW Brasil

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