Jean
Marc von der Weid: No olho do furacão
É
difícil destrinchar a conjuntura atual com o intenso tiroteio de acontecimentos
no país e no mundo. Como definir as prioridades políticas para agir no nevoeiro
provocado pelo furacão de ações de atores de peso como o presidente Donald
Trump, o Congresso Nacional, o bolsonarismo golpista, o agronegócio, o STF, as
FFAA, o crime organizado, as redes sociais e a grande mídia?
O
governo Lula está sendo sacudido de um lado para outro neste vendaval e
encontra dificuldades para reagir e garantir seu objetivo estratégico de buscar
a reeleição do presidente no ano que vem. Uma sucessão de pesquisas de opinião
ofereceu resultados contraditórios, com uma leve melhoria da aprovação do
governo e das intenções de voto em Lula para as eleições de 2026.
No
entanto, apesar de ter saído das cordas em que estava desde o início deste ano,
Lula ainda tem uma forte rejeição e vê o surgimento de um adversário altamente
perigoso na pessoa do governador Tarcísio de Freitas, e enfrenta um Congresso
golpista que insiste em buscar anistia para Bolsonaro, a redução da autonomia
do judiciário (em particular o STF) e a completa imunidade para os
parlamentares.
Se
analisamos este quadro a partir da compreensão do quadro maior em que nos
encontramos, o das crises ambientais planetárias, a realidade é ainda mais
sombria. O eixo que orienta o governo Lula é sua própria sobrevivência no ano
que vem, e este objetivo mais limitado oculta o quanto está distante das
prioridades de longo (nem tão longo assim) prazo.
As
ações do governo desde sua inauguração vêm deixando claro que a problemática
ambiental não é sua prioridade, haja visto as decisões de expansão da produção
de combustíveis fósseis e a insistência em manter a matriz de consumo
energético centrada em gasolina e diesel, buscando baixar os preços destes
insumos e a expansão do transporte neles baseado.
O
governo se limita a buscar a diminuição dos desmatamentos e o faz de forma
precária, sem assumir que as queimadas têm crescido ao mesmo tempo que os
desmatamentos diminuem na Amazônia, mas crescem em outros biomas.
O
governo Lula, e a grande maioria dos quadros da esquerda, não tem adotado a
análise amplamente dominante nos círculos científicos que apontam para os
graves riscos globais, nos levando na direção de uma catástrofe anunciada para
esta década, e vivem presos no labirinto de buscar a sobrevivência político
eleitoral, repetindo políticas públicas apenas mitigadoras da profunda crise
social expressa pela gigantesca concentração de renda, que só fez crescer nas
últimas décadas.
Na
lógica política dominante no governo e na esquerda tudo se resume em um único
objetivo: impedir a vitória do bolsonarismo nas eleições. E, sem um projeto de
país que enfrente as nossas profundas crises sociais e ambientais, estamos
prolongando o itinerário das nossas mazelas históricas sem enfrentar o que se
chama na terminologia da esquerda o inimigo principal: o capitalismo.
Estabelecido
o contorno histórico do quadro atual, vamos olhar para os elementos mais
imediatos da conjuntura.
Em
primeiro lugar, o dado novo de maior impacto na nossa política interna foi o
tarifaço de Donald Trump sobre as exportações brasileiras para os Estados
Unidos. Não há mais nenhuma dúvida sobre o objetivo político desta medida
(inocentar Jair Bolsonaro), mas há dúvidas sobre o que Donald Trump espera dos
resultados. E é preciso discutir, desde logo, se Trump age em consonância com
uma estratégia vinculada aos interesses do capitalismo americano, ou mesmo com
os seus interesses geopolíticos.
A
imprense americana e internacional, inclusive a especializada em economia,
considera que os tarifaços (não só contra o Brasil) não interessam ao
capitalismo americano. De modo geral, o impacto esperado do conjunto dos
tarifaços é um aumento da inflação para os consumidores americanos.
No que
concerne aos produtos brasileiros, mesmo depois da anulação das tarifas para
quase 50% em valor das exportações, o impacto maior para os consumidores está
concentrado no aumento esperado dos preços do café e do hambúrguer. 40% do
total das importações de café verde consumido nos EUA vem do Brasil e uma parte
significativa, mas ainda não apresentada, da carne de segunda usada na dieta
mais popular do americano, o hambúrguer, também.
Ou
seja, a “solidariedade política” de Donald Trump com Jair Bolsonaro terá um
impacto sensível no dia a dia dos consumidores. Isto se dá porque se espera uma
redução forte, pelo menos 33%, do fornecimento de carne que não pode ser
substituída por outros fornecedores pelos mesmos preços. No que toca o café a
dificuldade é ainda maior, já que o mercado internacional desta commoditie está
em baixa de oferta por razão dos impactos climáticos sobre a produção de outros
fornecedores, como o Vietnã.
Os
comentaristas econômicos mundo afora registram que na nova administração Donald
Trump os lobbies econômicos funcionam no varejo para tentar salvar suas agendas
específicas. CEOs de grandes empresas multinacionais americanas vem gastando
cada vez mais tempo tentando influenciar o governo, mas seu diálogo está
restrito ao terceiro escalão da administração, sem acesso ao real poder de
decisão, o pequeno grupo dos amigos do reizinho. Destes contatos, eles recolhem
a sensação de que a área técnica do governo está no modo “contenção de danos”,
tentando convencer o protoditador a adotar um pouco de bom senso no campo da
economia e do mercado. Sem sucesso até agora.
Em
outras palavras, Donald Trump não é um agente do imperialismo no sentido
clássico, refletindo os interesses das empresas americanas, exceção apenas das
“big techs” e das empresas de cartões de crédito. O objetivo adotado por Donald
Trump, reequilibrar a balança comercial e trazer de volta as indústrias para o
território dos EUA, é um caminho inverso ao adotado pelas empresas americanas e
implica em uma desglobalização. Adeus consenso de Washington que abriu o rumo
de cinco décadas de internacionalização exacerbada da economia mundial, impondo
políticas de abertura de mercados por todo lado.
O que
quer Donald Trump ao comprometer a economia americana na contramão dos
interesses do grande capital? Alguns dizem que o objetivo de garantir a volta
ao poder do energúmeno é obter outras vantagens futuras. Se a estrategia de
“salvar Jair Bolsonaro” der certo, o energúmeno ficará totalmente dependente do
seu salvador, além de ter sempre sido um admirador subserviente.
Donald
Trump exigiria em troca a liberação total das operações das “big techs”, a
entrega dos minerais estratégicos (lítio etc.), a instalação de bases
militares, saída do BRICS, Fernando de Noronha, o fim do Pix, outras. Pode ser,
mas se for isso, o tiro do tarifaço foi no pé, pois a reação política no Brasil
foi, até agora, contrária a Donald Trump e ao bolsonarismo.
Ao
mirar a sua exigência na extinção dos processos contra Jair Bolsonaro, Donald
Trump errou o alvo e usou o instrumento errado. Se o tarifaço visava pressionar
o governo brasileiro para livrar Bolsonaro da cadeia, a medida ignorou a
independência do judiciário em relação ao executivo. Se a mira estava em uma
chantagem sobre os exportadores levando-os a pressionar o STF, ela ignorou a
dificuldade das empresas prejudicadas influenciarem a corte suprema.
Analisando
a reação no Brasil ao tarifaço, podemos constatar que a grande mídia foi
surpreendentemente veemente na defesa da soberania nacional. Isto pode ter
inibido a postura do setor dos exportadores mais atingido pelo tarifaço, o
agronegócio. Até a véspera da porrada trumpista os próceres do agronegócio,
inclusive a bancada ruralista no Congresso e os pecuaristas e empresários dos
frigoríficos vinham aplaudindo o presidente americano, apesar de já terem sido
afetados pela tarifa imposta em Abril, de 10%.
Tomados
de surpresa pelo golpe eles hesitaram em jogar a responsabilidade no colo do
Lula. Será que Donald Trump e Bananinha esperavam uma revolta dos atingidos
contra o governo? Alguns tentaram fazer isso, indicando a responsabilidade de
Lula por “provocar” Donald Trump, ao defender o uso de outras moedas que o
dólar nas trocas comerciais internacionais e o fortalecimento do BRICS.
Mas não
colou e agora tentam acusar Lula de não ter lambido os tênis de Donald Trump
desde a sua posse e tentado “ficar de bem” com o autocrata com uma postura
submissa. O problema é que neste quadro de choque econômico, os prejudicados
estão apelando para a ajuda do governo e isto os deixa na defensiva.
Mas se
a grande mídia sentou o pau em Donald Trump, mesmo fazendo reparos à atuação de
Lula em relação ao americano, a opinião pública foi bem menos enfática, a
acreditarmos nas pesquisas. O apoio a Lula cresceu e, no que se refere ao
tarifaço, foi alto. Entretanto, a resposta à pergunta sobre a avaliação de
Donald Trump indicou uma grande dubiedade. É possível que a linguagem usada por
Lula e a esquerda, apelando para a defesa da soberania, tenha sido menos
entendida pelos perguntados.
É como
o famoso episódio do então ministro da economia de FHC, que declarou em
microfone aberto que ele não tinha “escrúpulos”. Lembram? “O que é bom nós
divulgamos e o que é ruim nós escondemos, não temos escrúpulos”. O povo não
sabia o que era “escrúpulo”, e o impacto da declaração foi zero.
Para o
que nos interessa agora, o fato é que o gesto de patriotismo (palavra bem
conhecida e pouco utilizada na propaganda lulista e petista) do presidente não
teve o efeito arrasador para Donald Trump e o bolsonarismo que se podia
esperar, sobretudo pela atitude da grande mídia. E passado o período de
emergência e garantidos os apoios financeiros do governo para as empresas
prejudicadas, o agronegócio pode muito bem voltar a responsabilizar Lula pelo
tarifaço.
Em uma
segunda rodada de pressão sobre o Brasil, Donald Trump aplicou (ilegalmente) a
lei Magnitsky atingindo Alexandre de Moraes, e suspendeu os vistos para os EUA
de outros sete ministros do STF. A aplicação da lei Magnitsky gerou um outro
problema, mais grave do que os eventuais prejuízos de suas excelências: as
ameaças contra os bancos brasileiros com filiais nos EUA, se não aplicarem as
medidas previstas contra Moraes.
Tudo se
complicou com a decisão do ministro Flávio Dino impedindo que os bancos aqui
sediados apliquem as medidas previstas. O resultado pode ser tenebroso se
Donald Trump punir os bancos com a suspensão da licença para operar nos EUA.
Tudo isto botou a Faria Lima em alvoroço, levando o setor financeiro a se
juntar aos exportadores prejudicados na busca de uma solução.
A
postura do governo Lula frente à agressão de Donald Trump foi bastante
equilibrada e corajosa. Assumiu a defesa da soberania nacional e apoiou a
independência do judiciário. Apesar de algumas bravatas discursivas de Lula,
dirigidas para o público simpatizante, as medidas concretas do governo foram
moderadas e conciliadoras, buscando um diálogo com o governo de Donald Trump.
Era de
se esperar a reação americana, que ignorou as tentativas de diálogo, mas
funcionou para o público interno, sobretudo colocando Geraldo Alkmin e Fernando
Haddad à frente dos entendimentos com os setores prejudicados entre os nossos
exportadores. A decisão de criar um fundo de compensação para as empresas mais
atingidas foi vital para calar ou envergonhar a claque bolsonarista entre os
empresários do agronegócio. Mas o governo tem muito mais dificuldades em barrar
o Congresso, onde as iniciativas do bolsonarismo representam uma ameaça maior
para conseguir o que Donald Trump está exigindo: livrar Jair Bolsonaro da
cadeia e colocá-lo de volta no jogo político para 2026.
Ocorre
que toda esta pressão segue centrada em derrotar o STF, que teria que se
submeter ao desejo de Donald Trump em arrepio total das nossas leis e anulando
todo o processo contra os golpistas. O erro de alvo do movimento trumpista e
bolsonarista se aprofunda. Donald Trump teria mais sucesso em dobrar a posição
do STF em uma tática indireta, centrada em seu melhor aliado no Brasil, o
Congresso Nacional. Ao agir através do tarifaço Trump e os bolsonaristas que o
apoiam deram margem a uma reação que não estava no script.
A
pressão de Donald Trump contra o STF não teve a rejeição que se esperava nas
pesquisas de opinião. Mais do que o próprio tarifaço, as sanções contra Moraes
e outros ministros do supremo foram muito mais abusivas do ponto de vista da
nossa soberania, mas isto não foi entendido pela opinião emitida nas pesquisas.
De um
modo geral, todo o desgaste do enfrentamento do Brasil com Trump não alterou
significativamente o quadro de apoio ao energúmeno. Lula subiu alguns pontos na
sua perspectiva de enfrentamento com o bolsonarismo, mas não só Bolsonaro
continua com um apoio de 37%, mesmo estando proibido de se candidatar e prestes
a ser condenado por tentativa de golpe, como outros expoentes desta corja, como
Tarcísio de Freitas, já estão se colocando cada vez mais próximos de Lula. E a
oposição à anistia caiu de 63% para 55% em um ano.
Neste
quadro pré-eleitoral é preciso analisar o comportamento do Congresso Nacional,
o grande fator interno da nossa crise permanente.
Se o
STF se consolida como um bastião da resistência patriótica e esteio do Estado
de Direito, o Congresso Nacional vem se consolidando como o maior aliado do
golpismo bolsonarista. Os lobbies do agronegócio e da Faria Lima ainda não
escancararam a sua ansiedade em se submeter a Trump, salvando o energúmeno da
cadeia, mas a direita amplamente majoritária no Congresso, capitaneada pela
tropa de choque bolsonarista, vem impondo, inclusive na marra, a agenda da
anistia.
O
argumento ainda não é livrar Jair Bolsonaro para nos livrarmos das ameaças de
Donald Trump, isto pegaria muito mal. Fala-se, sem qualquer vergonha, em
“pacificar o país” (argumento do Centrão) ou corrigir os “desmandos do STF”
(argumento dos bolsonaristas do PL).
As
motivações dos deputados do Centrão não se resumem a livrar Bolsonaro da
cadeia, mas implicam em mais um capítulo de uma queda de braço com o STF,
sobretudo pelas exigências do ministro Flávio Dino em relação à transparência
das emendas parlamentares e as investigações de irregularidades pela Polícia
Federal que ameaçam mais de uma centena de deputados, até agora. Em paralelo
com a agenda da anistia, tanto o Senado como a Câmara se moveram para minar a
investigação de malfeitos pelos parlamentares ou para reduzir as penas no caso
de condenações.
O
fracasso da votação do “PL da impunidade” deveu-se ao histérico açodamento dos
deputados querendo blindar completamente seus mandatos. O monstrengo ficou
inviável e os mais hábeis entre os políticos acabaram esvaziando o processo e
encaminhando uma nova rodada de negociações para voltar a colocar o PL em
votação, aparando arestas que levariam à sua anulação pelo STF.
O que
está em curso, tendo como pano de fundo o entrevero com Trump e a queda de
braço com o STF sobre as emendas, é um novo golpe, desta vez do Congresso
contra os outros poderes. Já vimos como o Congresso vem se apropriando de
espaços decisórios que são de responsabilidade do executivo, transformando este
último em executor manietado e diminuído, uma espécie de parlamentarismo
bastardo onde o Congresso pode tudo, mas não assume as responsabilidades de
seus atos frente ao eleitorado.
Este
processo deve ter seu curso ainda mais acentuado se a manobra da anistia de
Bolsonaro funcionar. O acerto do Centrão, via Arthur Lira, é livrar o
energúmeno da cadeia, mas deixá-lo inelegível para o pleito de 2026 pela
decisão do TSE aplicando a lei da Ficha Limpa. União Brasil e Progressistas,
agora reunidos em uma frente parlamentar com 109 deputados e apoiados pelos
Republicanos e, provavelmente, pelo PSD estão em claro processo de colocar
Tarcísio de Freitas como candidato da direita e extrema direita para
presidente, contra a reeleição de Lula.
Falta
ainda afinar as violas com o PL e com a família Bolsonaro. Este último passo
foi uma exigência do próprio pré-candidato, temeroso de ter que disputar com
alguém da família nas próximas eleições. Ao que tudo indica, as visitas
recentes de Tarcísio de Freitas, Waldemar Costa Lima e Arthur Lira ao
energúmeno aplainaram o caminho e os aliados deram a partida na campanha
anunciando a saída de seus filiados de postos no governo Lula. Tarcísio de
Freitas ainda prometeu indultar Jair Bolsonaro como primeiro ato de seu
governo, caso ele não tenha sido anistiado até lá.
A
aposta de Tarcísio de Freitas e do Centrão tem um senão: Bolsonaro não tem o
hábito de cumprir com os acordos que faz e trai seus aliados sem qualquer pejo.
Se a anistia negociada pelo Centrão não contemplar a possibilidade de sua
candidatura para 2026 ele pode abrir uma nova campanha (inclusive com o suporte
de Donald Trump) para reverter a decisão do STE.
Em
todas estas manobras falta apenas “combinar com os russos”, no caso o
onipresente STF. Moraes já sinalizou que tanto anistia como indulto em casos de
crimes contra a democracia não são aplicáveis. Os próceres das várias
quadrilhas da direita, extrema direita ou meros oportunistas fisiológicos,
abrigadas no Congresso exprimiram a esperança de que o STF não ousaria se opor
a uma ampla maioria no Congresso, mas isto é apenas um “wishfull thinking”
(tomar seus desejos pela realidade).
O que
vai acontecer quando, como todo mundo espera, Jair Bolsonaro et caterva forem
condenados? A chantagem pode aumentar ainda mais com novas medidas de
Donald Trump agredindo a nossa economia (fala-se de generalizar de novo as
tarifas e aumentá-las para 100%), suspendendo o uso de satélites americanos por
entes públicos ou privados brasileiros, aplicação da Lei Magnitsky contra
outros membros do STF ou do governo brasileiro, suspendendo as licenças dos
bancos brasileiros com filiais nos EUA, entre outras.
O
impacto deste recrudescimento da agressão trumpista deve levar os empresários a
adotar a postura pusilânime de reclamar a adoção de uma “solução” para o
impasse e a pressionar Congresso e STF para achar um modo de capitular. É aí
que entra a proposta de anistia proposta na Câmara, uma aberração voltada para
livrar, não só Jair Bolsonaro e outros acusados de golpismo, mas todos os
investigados ou potencialmente investigados de atos antidemocráticos desde
2019. Versões menos descaradas foram, até agora, rejeitadas em off pelo STF,
mas uma versão mais palatável vem sendo negociada por Davi Alcolumbre com
membros do supremo.
Livrar
Jair Bolsonaro da cadeia será suficiente para que Donald Trump recue e retire
suas medidas (tarifaços, etc)? Ou a pressão bolsonarista pela anulação da
inelegibilidade de Jair Bolsonaro pelo TSE vai fazer com que Donald Trump
mantenha suas agressões?
Como
vai se comportar a grande mídia que hoje bate duro em Donald Trump em nome da
soberania nacional? A ampliação da pressão empresarial por uma capitulação não
deixará de influir nos editoriais de jornais como O Globo, Folha e
outros (com possível excessão do Estadão) e nas redes de TV,
engrossando o coro pela “pacificação do país”. E podemos esperar um
recrudescimento da campanha pela anistia nas redes sociais bolsonaristas que
ainda dominam este espaço virtual.
E qual
vai ser a posição das Forças Armadas? Dada a relação estreita com as Forças
Armadas americanas desde a Segunda guerra mundial e a dependência de
equipamentos e satélites disponibilizados por eles, os nossos militares deverão
entrar no time dos que vão pedir a dita pacificação. Lembremos que o golpe de
Jair Bolsonaro foi barrado por pronunciamentos públicos de generais americanos,
mas isto se deu no governo de Joe Biden. Qual o recado que estes militares
americanos estarão transmitindo hoje para os nossos generais, em pleno governo
de Donald Trump?
Como
vai reagir a opinião pública expressa nas pesquisas? Se o movimento de queda na
oposição à anistia aos golpistas continuar no ritmo em que vem ocorrendo neste
último ano, não é impossível que a maioria embarque em uma posição mais
favorável, dada a ampliação da campanha que não deixará de ocorrer.
Se
somarmos as pressões do Congresso com as dos empresários (Faria Lima,
agronegócio, …), grande mídia, redes sociais bolsonaristas e militares, com os
eventuais interesses pessoais dos próprios ministros (alguns estão claramente
assustados com a perspectiva de serem atingidos pela Lei Magnitsky) não é
impossível que se forme uma maioria estreita no STF pela aprovação de uma
anistia, em nome da “pacificação do país”, é claro.
Pelo
histórico do comportamento dos ministros até hoje, podemos contar com cinco
votos seguros pela anulação de uma anistia: Alexandre de Moraes, Carmem Lúcia,
Cristiano Zanin, Flávio Dino e Edson Faquin. Votos seguros contra a anulação
incluem os dois patetas bolsonaristas e o já vacilante Luiz Fux. E tanto
Gilmar Mendes quanto Dias Tófolli já mostraram em vários momentos que não são
confiáveis. A decisão ficaria nas mãos de Luís Roberto Barroso.
Como
prevenir este quadro? O ideal seria uma mobilização social, nas ruas e nas
redes sociais, mas já temos uma má experiência de atos públicos esvaziados e
nas redes a iniciativa continua com os golpistas. O fundo do poço, no Brasil,
nunca é o limite para o pior.
É claro
que todas estas especulações podem ser varridas do contexto se Trump resolver
esquecer o Brasil para se ocupar de questões mais graves da sua tenebrosa
administração. Mas o histórico do presidente americano aponta para um
comportamente patológico sempre mais agressivo, sobretudo se sentir-se
desafiado nas suas vontades. Ele já mostrou total desprezo para as
consequências econômicas negativas das suas decisões, seja na perseguição aos
imigrantes, seja nos múltiplos tarifaços que distribuiu a torto e a direito
pelo mundo afora. A probablilidade de um recrudescimento nas agressões ao
Brasil é, infelizmente, siginificativa e nos falta uma ampla unidade no país
para o enfrentamento com os estertores da decadente, mas ainda perigosa “maior
potência do mundo”.
Fonte:
A Terra é Redonda

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