Corpo
conectado: aplicativos transformam a rotina de exercícios
Para
quem busca praticidade na hora de se exercitar, os aplicativos de treino se
consolidaram como uma das principais ferramentas. A proposta consiste em
treinos personalizados, acessíveis em qualquer lugar e, muitas vezes, mais
baratos do que as academias tradicionais. Mas será que essa praticidade é
suficiente ou pode trazer riscos à saúde?
A
resposta começou a ganhar forma durante a pandemia da covid-19, quando
academias e estúdios fecharam e a alternativa foi adaptar a prática física à
sala de casa. Nesse período, os downloads dispararam e os aplicativos se
consolidaram como uma solução prática para manter a rotina ativa. Desde então,
a variedade só aumentou e, hoje, é possível encontrar programas voltados para
diferentes perfis e objetivos, como musculação, corrida, ioga, pilates, dança e
treinos funcionais.
Além de
serem úteis para quem treina em casa, os aplicativos conquistaram quem
frequenta academias. Muitos usuários não substituíram o acompanhamento de um
personal trainer, mas passaram a usar os apps para otimizar os treinos. Mesmo
em ambientes presenciais, valorizam a praticidade e o acesso rápido às
instruções de movimentos, que incluem nomes e vídeos demonstrativos, além da
prescrição completa de séries, repetições e métodos para cada atividade.
Apesar
de toda a praticidade, é fundamental a atenção aos riscos, alerta Arthur Rocha,
fisioterapeuta. Treinar apenas com base em aplicativos pode levar à execução
incorreta de movimentos, aumentando a chance de lesões. Além disso, a
personalização prometida nem sempre atende às necessidades individuais,
especialmente para quem tem limitações físicas, histórico de lesões ou
condições de saúde específicas. Ainda assim, os aplicativos seguem se
reinventando e buscando formas de aproximar a experiência digital da
presencial.
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Tecnologia que acompanha
Além da
personalização digital, muitas plataformas utilizam inteligência artificial
para acompanhar o desempenho do usuário. Apesar dessas facilidades, Marissa
Alcântara, personal trainer, lembra que certos elementos do treino ainda
dependem da presença do profissional. "A confiança no outro, o contato
direto, a correção de postura, o acompanhamento do bem-estar do aluno e a
sociabilidade são atributos que a inteligência artificial não consegue
captar", explica.
Marissa
reforça que o olhar humano continua insubstituível. "Eu faço o que a
inteligência artificial não faz. Observo no olho, enxergo debilidades,
intenções e falhas minuciosas que nem o aluno percebe. Nada substitui o calor
humano e a energia transmitida no presencial", completa.
Outra
ferramenta que tem se destacado são as redes sociais. Elas ajudam a propagar
informações e muitos aplicativos integram treinos com comunidades e desafios
on-line. "Tudo que vem para somar deve ser abraçado, mas sempre com
atenção. As redes sociais contam com diversos influenciadores que não têm
formação e podem prejudicar mais do que ajudar. Como ainda não temos um
mecanismo eficaz de controle, vejo com muito receio. Os profissionais de
verdade existem e eu uso como ferramenta de trabalho, mas sempre com cuidado.
Se não houver indicação segura, não use", afirma Marissa.
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Motivação que atravessa a tela
Mesmo
com a alta acessibilidade dos aplicativos, a disciplina e a motivação ainda
dependem do fator humano. O personal trainer Giovanni Pimentel afirma que
utiliza aplicativos com seus alunos de musculação para acompanhar o progresso e
incentivar a constância. "Para motivar o aluno, temos ferramentas como
gráficos de avaliação e reavaliação física, acesso rápido pelo aplicativo,
possibilidade de ajustar os treinos e lançar desafios. Tudo isso a partir de
uma biblioteca de movimentos em diferentes níveis, permitindo acompanhar a
evolução com mais rapidez", explica.
Para
Marissa, exemplos reais continuam sendo a melhor inspiração. "Aplicativos
exclusivos ajudam, oferecem acesso e possibilidades que antes não existiam, mas
não substituem o ato de levantar e ir treinar. A motivação ainda é individual.
Por isso, uso redes sociais para mostrar possibilidades reais de treino e
inspirar pessoas que buscam mudar de estilo de vida. Produzo conteúdos diários
de forma orgânica, mostrando que é alcançável. Assim como um bom livro pode
transformar vidas, exemplos reais on-line também podem", afirma.
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Quando a autonomia pesa
Mas, se
de um lado, os aplicativos ajudam na disciplina, do outro, ainda é preciso
atenção redobrada para evitar problemas de saúde. O fisioterapeuta Arthur
detalha que certos perfis exigem mais cuidado ao treinar sem acompanhamento
profissional. Idosos, sedentários e pessoas em processo de recuperação de
lesões estão mais propensos a se machucar em casa. Além disso, pacientes que
passaram por cirurgias ou estão em pós-operatório devem seguir protocolos
rigorosos para não comprometer a recuperação. "Seguir as orientações
corretas é essencial para evitar novas lesões ou prejuízos à cirurgia",
alerta.
Entre
os riscos, não apenas para grupos específicos, mas para todos os usuários de
aplicativos, Arthur destaca a importância de observar sinais de alerta do
corpo. "Dores contínuas, articulares, edemas ou instabilidades podem
indicar sobrecarga ou risco de lesão. Ao perceber qualquer sinal, é fundamental
interromper a atividade e procurar um profissional de saúde", reforça.
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Do digital para o dia a dia
Com o
intuito de melhorar a performance na corrida e ter maior controle do progresso
durante o ano, a estudante Isabela Cordeiro, 19 anos, faz uso de um aplicativo.
A plataforma funciona como uma espécie de treinador digital que, além de
registrar cada treino com dados detalhados, disponibiliza planos de corrida
para diferentes distâncias, desafios mensais que estimulam a constância e
ferramentas de comparação que permitem visualizar a evolução ao longo do tempo.
A
rotina de treinos é intensa e variada. Entre musculação quase diária, aulas de
bike durante a semana e corridas curtas e longas distribuídas entre quartas e
domingos, ela encontrou no aplicativo uma forma de organizar e acompanhar todo
esse volume de atividade. O app registra cada modalidade de exercício e permite
comparar desempenhos em diferentes dias, o que a ajuda a manter regularidade e
identificar evolução.
Desde
que passou a utilizar a plataforma, a jovem percebeu ganhos no próprio
condicionamento. O esforço para reduzir o tempo nas corridas, por exemplo,
tornou-se uma meta constante."Sem grandes dificuldades para me adaptar,
vejo o aplicativo como um facilitador que, além de monitorar meu progresso,
cria um ambiente de incentivo ao conectar meus treinos com os de outros
praticantes, reforçando a motivação coletiva."
Já
Marcela Colla, 25 anos, encontrou nos apps uma forma de driblar a correria da
vida adulta. Há dois anos, ela treina com um aplicativo que oferece planos de
musculação, treinos funcionais e desafios variados. Antes disso, encaixar
exercícios na rotina era quase impossível, pois chegava tarde em casa e mal
conseguia ir à academia. O treino em casa se tornou a solução ideal.
Nos
exercícios, Marcela prioriza movimentos corporais sem peso, usando halteres de
cinco a 10 quilos apenas quando necessário. Desde que começou, percebeu
mudanças claras, como mais disposição, foco, resiliência e, principalmente,
resultados concretos na perda de peso, seu objetivo principal. "Mesmo
treinando sozinha em casa, faço o possível para dar tudo de mim. Ver os
resultados é muito motivador", comenta, reforçando a importância da
disciplina e do acompanhamento digital na evolução física.
Fonte:
Correio Braziliense

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