segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Boicotado em discurso na ONU, Netanyahu compara reconhecer Palestina a dar Estado à Al Qaeda pós-11/9

Dezenas de delegações, incluindo a do Brasil, deixaram o plenário da Assembleia-Geral das Nações Unidas antes da fala do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, nesta sexta-feira (26), em um protesto contra a guerra na Faixa de Gaza.

Por outro lado, o premiê foi aplaudido por parte dos presentes a maioria deles na galeria, que estava cheia de convidados de Tel Aviv, como no ano passado, enquanto o presidente da sessão pedia ordem. Ao longo da sua fala, recheada de ataques a líderes ocidentais, era possível ouvir alguns protestos.

Do lado de fora da sede, centenas de manifestantes comemoraram quando as delegações saíram do plenário. O grupo carregava cartazes nos quais se lia frases como: "Acabem com toda a ajuda dos EUA a Israel", "Prendam Netanyahu" e "Parem de matar Gaza de fome agora".

As duras críticas do líder se devem à onda de reconhecimento do Estado palestino após o conflito movimento que ganhou tração durante a Assembleia-Geral com o anúncio de países como França, Reino Unido e Canadá.

"Dar um Estado aos palestinos a uma milha de Jerusalém depois do 7 de Outubro é como dar um Estado para a Al Qaeda a uma milha de Nova York depois do 11 de Setembro. Isso é loucura, é insano, e nós não vamos fazer isso", afirmou Netanyahu, para quem a medida passa a mensagem de que "matar judeus compensa".

"Aqui vai outro recado para esses líderes ocidentais [que reconheceram a Palestina]: Israel não vai permitir que vocês nos empurrem um Estado terrorista garganta abaixo. Não vamos cometer suicídio nacional porque vocês não têm coragem de enfrentar uma mídia hostil e multidões antissemitas que exigem bloqueio de Israel", completou o premiê.

A fala de Netanyahu se dá em um momento diplomático adverso para Tel Aviv. Além da pressão internacional crescente pelo fim da guerra em Gaza, o premiê viu na véspera seu principal aliado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que não dará seu aval à anexação da Cisjordânia, hoje um território ocupado por forças israelenses.

O premiê também se defendeu das acusações de genocídio em Gaza, que vêm da maior associação acadêmica mundial de estudiosos desse tipo de crime, de uma comissão contratada pela ONU e até mesmo de importantes ONGs israelenses.

Segundo ele, Tel Aviv não mira civis e faz alertas para a retirada de civis antes dos ataques. A medida, no entanto, já fez quase todos os 2,2 milhões de habitantes de Gaza fugirem mais de uma vez ao longo do conflito. Além disso, não é apontada por especialistas como uma evidência de que não há genocídio, e sim como uma política de deslocamento forçado.

Durante sua fala, Netanyahu voltou a mostrar mapas do Oriente Médio, como fez em outras oportunidades na ONU, mostrando o que chama de "maldição" o Irã e países em que existem grupos aliados e financiados por Teerã. Ele exibiu cartões com um quiz que mostrava os inimigos de Tel Aviv e citou lideranças assassinadas nos últimos dois anos, como Yahya Sinwar, do Hamas, em Gaza; Hassan Nasrallah, do Hezbollah, no Líbano; e "metade dos líderes houthis", grupo rebelde do Iêmen.

"O que aconteceu no ano passado? Nós massacramos os houthis, inclusive ontem. Esmagamos o grosso da máquina terrorista do Hamas. Nós paralisamos Hezbollah, eliminando a maioria de seus líderes e grande parte de seu arsenal de armas. Você se lembra daqueles pagers?", afirmou, em referência às explosões em série de equipamentos usados pelo grupo fundamentalista libanês no ano passado, que mataram dezenas. "Eles captaram a mensagem", continuou, sob aplausos.

O premiê afirmou ainda que vai caçar o Hamas, em suas palavras, se o grupo terrorista não libertar todos os reféns em Gaza. "Abaixem suas armas, deixem meu povo ir. Libertem os reféns, todos eles, agora. Se o fizerem, vão viver. Se não, Israel vai caçar vocês", disse.

O político chegou a se dirigir aos sequestrados e falou em hebraico que eles não foram esquecidos. "Não vacilaremos, não descansaremos, até que possamos trazer todos vocês para casa", disse, ao ler o nome dos reféns vivos.

Segundo Netanyahu, esse trecho foi transmitido nos telefones e alto-falantes de Gaza com a ajuda do serviço de inteligência israelense, embora moradores do território palestino tenham falado ao jornal americano The New York Times que não conseguiram ouvir o discurso.

Netanyahu subiu ao púlpito das Nações Unidas com um grande broche contendo um QR code que, ao ser escaneado, levava a um vídeo com imagens dos ataques terroristas que mataram cerca de 1.200 pessoas, fizeram 251 reféns e iniciaram a guerra. "Este site contém conteúdos extremamente difíceis de assistir do terrível massacre que o Hamas realizou no dia 7 de outubro", diz um alerta da página.

Na quinta-feira (25), o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, fez seu discurso na Assembleia-Geral por vídeo os EUA lhe negaram visto para ir a Nova York. Ele criticou a visão de um "Grande Israel", conceito de expansão da nação sobre Cisjordânia, Gaza e partes de países vizinhos como Egito e Líbano defendido por Netanyahu, e reafirmou que a ANP reconhece o direito do Estado judeu de existir.

O líder ainda fez declarações duras contra os ataques de Israel em Gaza e disse que o conflito entrará para os livros de história como um dos capítulos mais horríveis dos séculos 20 e 21. "O povo palestino em Gaza encara uma guerra de genocídio, destruição, fome e deslocamento travada pelas forças de ocupação israelenses", afirmou ele, por videoconferência.

Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, as forças de Tel Aviv cercaram Gaza e seus mais de 2 milhões de habitantes, que estão ameaçados por uma "fome generalizada", segundo as Nações Unidas. A ofensiva israelense já matou mais de 65 mil pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território palestino, controlado pelo grupo terrorista.

Os dados são considerados confiáveis pela ONU e não podem ser checados de forma independente devido ao bloqueio de Israel à entrada da imprensa internacional em Gaza.

¨      Estado da Palestina seria 'suicídio nacional' para Israel, diz Netanyahu

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta sexta-feira (26) que aceitar a criação de um Estado da Palestina seria um "suicídio nacional" para seu país, e garantiu que quer "terminar o trabalho" em Gaza "o mais rápido possível".

"Creio que temos um acordo" para pôr fim à guerra em Gaza, declarou por sua vez, em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Aceitar um Estado palestino seria um "suicídio nacional", entre outras razões, pois a Autoridade Palestina é "corrupta até a medula", assegurou Netanyahu.

Em um discurso proferido em hebraico e inglês, Netanyahu se dirigiu aos reféns mantidos pelo grupo armado islamista Hamas, após anunciar que as forças israelenses tinham instalado alto-falantes em Gaza para transmitir suas palavras.

"Não descansaremos até trazê-los de volta para casa", disse Netanyahu, que acusou a comunidade internacional de permitir a propagação de "mentiras antissemitas".

Israel ficou um pouco mais isolado esta semana com o reconhecimento de um Estado palestino por países como França, Canadá, Reino Unido, Austrália e Portugal. Pelo menos 151 dos 193 membros da ONU já deram esse passo, que é mais simbólico que efetivo.

O grande auditório da ONU estava praticamente vazio quando Netanyahu subiu ao púlpito. Outros delegados e o público presente aplaudiram o premiê.

"O boicote ao discurso de Netanyahu é uma manifestação do isolamento de Israel e das consequências da guerra de extermínio", afirmou em um comunicado Taher al Nunu, alto dirigente do comitê político do Hamas.

Com o rosto tenso, Netanyahu exibiu cartazes demonstrando como Israel desmantelou o que chamou de "eixo do mal" liderado pelo Irã no último ano, com ataques às instalações nucleares do regime de Teerã, assassinatos de líderes do Hezbollah e do Hamas e ataques aéreos no Iêmen.

Uma multidão de palestinos coleta ajuda humanitária em 26 de setembro de 2025 em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza© Eyad Baba

Ele afirmou que seu país "destruiu a maior parte da máquina terrorista" do Hamas e busca "terminar o trabalho" em Gaza "o mais rápido possível".

O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, cujo governo tem patrocinado o movimento islamista Hamas, disse nesta sexta que apoiará "qualquer acordo que possa deter esta tragédia".

No dia anterior, o veterano líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, assinalou em uma mensagem de vídeo à Assembleia que "o Hamas não terá nenhum papel a desempenhar na governança" de um futuro Estado.

- 'Não permitirei' -

Netanyahu acusou especificamente os países europeus de aceitarem a "propaganda do Hamas" ao pressionarem Israel para que estabeleça um cessar-fogo e negocie o resgate dos reféns, vivos ou mortos, em Gaza.

"Vejam, por exemplo, as falsas acusações de genocídio: Israel é acusado de atacar civis, mas nada é menos verdadeiro", afirmou.

¨      "Larguem as armas" e libertem os reféns diz Netanyahu ao Hamas na ONU

Em Nova Iorgue, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, dirigiu-se diretamente aos reféns detidos pelo Hamas em Gaza, dizendo: "Não vos esquecemos".

"Não descansaremos enquanto não vos trouxermos a todos para casa", afirmou Netanyahu em hebraico e inglês, dizendo ao Hamas que "deponha as armas" e liberte já os reféns.

"Israel vai perseguir-vos", avisou Netanyahu na Assembleia Geral das Nações Unidas.

O gabinete do primeiro-ministro anunciou na sexta-feira que os altifalantes do lado israelita da fronteira iriam transmitir o discurso de Netanyahu para Gaza, como parte do que chama um "esforço informativo".

O conflito começou quando militantes liderados pelo Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1200 pessoas, a maioria civis, no que Netanyahu classificou como um ato de "selvageria indescritível".

O Hamas fez 251 pessoas reféns e mantém atualmente 48, das quais 20 Israel acredita que ainda estão vivas.

"Israel está a travar a vossa luta", afirmou Netanyahu, citando o que chamou de ascensão do islamismo radical em países de todo o mundo.

O primeiro-ministro apresentou também um mapa que mostrava aquilo a que chamou "a maldição do eixo terrorista do Irão", afirmando que muitos dos representantes de Teerão tinham sido dizimados pelas forças armadas israelitas, citando como exemplos o Hamas, o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iémen.

"Os nossos inimigos odeiam-nos a todos", disse Netanyahu, negando que esteja a ocorrer um genocídio em Gaza, afirmando que Israel deixou entrar 2 milhões de toneladas de ajuda na Faixa de Gaza.

Netanyahu entrou no hemiciclo sob aplausos e vivas, vindas principalmente da comitiva israelita, o que levou a repetidos pedidos de ordem. Mas dezenas de pessoas saíram da sala enquanto ele se dirigia para o pódio.

<><> Anexação da Cisjordânia fica de fora do discurso

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na quinta-feira que não permitirá que Israel anexe a Cisjordânia ocupada, dando fortes garantias de que bloqueará uma ação à qual os líderes árabes da região se têm oposto firmemente.

Questionado sobre o facto de as autoridades israelitas terem sugerido, nas últimas semanas, que o seu governo poderia tomar o controlo de, pelo menos, algumas partes da Cisjordânia, Trump foi direto.

"Não permitirei que Israel anexe a Cisjordânia", disse ele aos repórteres no Salão Oval, enquanto assinava ordens executivas não relacionadas à política externa. "Não o permitirei. Isso não vai acontecer".

A possibilidade de anexação foi aventada em Israel em resposta a uma série de países, incluindo os principais aliados dos EUA, como o Reino Unido e o Canadá, que reconhecem um Estado palestiniano.

França, Luxemburgo, Malta, Mónaco, Andorra e Bélgica também reconheceram o Estado palestiniano na Assembleia Geral deste ano.

Trump disse ter falado com Netanyahu e que será firme em não permitir a anexação, acrescentando: "Já foi o suficiente. É altura de parar agora".

Trump tem sido um firme apoiante de Israel, mas também tem procurado mediar o fim dos combates contra o Hamas em Gaza.

Os seus comentários na quinta-feira constituíram um raro exemplo de potencial resistência contra altos funcionários israelitas.

No início deste mês, Netanyahu assinou um acordo para avançar com um controverso plano de expansão de colonatos que irá atravessar terrenos que os palestinianos esperam que constituam a base de um futuro Estado.

"Não haverá um Estado palestiniano", afirmou Netanyahu durante uma visita ao colonato de Maale Adumim, na Cisjordânia.

"Este lugar pertence-nos... Vamos salvaguardar o nosso património, a nossa terra e a nossa segurança. Vamos duplicar a população da cidade".

O Comité Superior de Planeamento de Israel deu a aprovação final ao projeto de colonização E1 na Cisjordânia ocupada em agosto.

O plano, num terreno aberto a leste de Jerusalém, esteve em estudo durante mais de duas décadas, mas foi congelado devido à pressão dos EUA durante as administrações anteriores.

O momento é igualmente preocupante, uma vez que Israel está a levar a cabo uma ofensiva militar de grande envergadura numa tentativa de tomar a cidade de Gaza, ao mesmo tempo que expande os colonatos na Cisjordânia, ilegais à luz do direito internacional.

Israel conquistou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Os palestinianos querem que os três territórios constituam o seu futuro Estado.

Os palestinianos, e grande parte da comunidade internacional, afirmam que a anexação acabaria com qualquer possibilidade de uma solução de dois Estados, que é vista internacionalmente como a única forma de resolver décadas de conflito israelo-árabe.

Netanyahu deverá visitar a Casa Branca na segunda-feira, a sua quarta viagem a Washington desde o início do segundo mandato de Trump, em janeiro.

¨      Trump diz que um acordo sobre Gaza parece ter sido alcançado

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse, nesta sexta-feira, 26, que acredita que um acordo para pôr fim à guerra em Gaza foi alcançado, após os recentes diálogos entre Israel e os países árabes.

“Acho que temos um acordo”, disse Trump a jornalistas na Casa Branca. “Parece que temos um acordo sobre Gaza, acho que é um acordo que permitirá recuperar os reféns, será um acordo que porá fim à guerra”, o presidente americano afirmou.

Já o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse a outros líderes mundiais nesta sexta-feira que sua nação “precisa terminar o trabalho” contra o grupo terrorista Hamas em Gaza, em um discurso na Assembleia-Geral da ONU.

“Os líderes ocidentais podem ter cedido à pressão”, disse ele. “E eu garanto uma coisa: Israel não o fará.”

O discurso de Netanyahu começou depois que dezenas de delegados de várias nações saíram em massa do salão, entre eles a delegação brasileira.

Respondendo às recentes decisões dos países de reconhecer o Estado palestino, Netanyahu disse: “Sua decisão vergonhosa encorajará o terrorismo contra judeus e contra pessoas inocentes em todos os lugares”.

A delegação americana, que apoiou Netanyahu em sua campanha contra o Hamas, permaneceu no local. As poucas potências mundiais presentes, Estados Unidos e Reino Unido, não enviaram seus funcionários mais graduados ou mesmo seu embaixador na ONU para sua seção. Em vez disso, ela foi preenchida com diplomatas mais juniores e de baixo escalão.

Netanyahu enfrenta isolamento internacional, acusações de crimes de guerra e crescente pressão para pôr fim a um conflito que ele continua a agravar .

Ele disse que medidas especiais foram tomadas na tentativa de contatar os reféns israelenses que ainda estão detidos em Gaza. Ele falou em hebraico em determinado momento e leu os nomes dos 20 que se acredita ainda estarem vivos.

Hamas respondeu ao discurso com uma declaração acusando Netanyahu de dar falsas justificativas para continuar a guerra.

“Se ele estivesse realmente preocupado com seus prisioneiros, teria interrompido seus bombardeios brutais, seus massacres genocidas e a destruição da Cidade de Gaza”, afirmou o Hamas em um comunicado publicado em seu site. “Em vez disso, ele mente e continua a colocar suas vidas em risco.”

Embora mais de 150 países já reconheçam um Estado palestino, os Estados Unidos não o fazem, dando apoio veemente a Israel . Mas Trump sinalizou na quinta-feira que há limites, dizendo a repórteres em Washington que não permitiria que Israel anexasse a Cisjordânia ocupada .

Israel não anunciou tal medida, mas vários membros importantes do governo de Netanyahu têm defendido a ação. Autoridades aprovaram recentemente um controverso projeto de assentamento que efetivamente dividiria a Cisjordânia em duas partes, uma medida que, segundo críticos, poderia arruinar as chances de um Estado palestino.

Israel conquistou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza na Guerra do Oriente Médio de 1967, retirando-se de Gaza em 2005. Os palestinos querem que os três territórios formem o Estado que almejam, parte de uma “solução de dois Estados” à qual Netanyahu se opõe veementemente. Ele afirma que a criação de um Estado palestino recompensaria o Hamas.

Em seu discurso, Netanyahu insistiu que Israel está lutando contra o islamismo radical em nome de todas as nações.

“Vocês sabem lá no fundo”, ele disse, “que Israel está lutando a sua luta”.

 

Fonte: FolhaPress/AFP/Euronews

 

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