Agroecologia
e Artivismo: Quando a luta também está à mesa
“(vivemos)
num mundo em que quem manda é o deus Mercado, que é um deus implacável,
invisível, tremendo filho da puta… que manda esquecer a identidade entre os
direitos humanos e os direitos da natureza”. Com as palavras acima, ditas pelo
escritor uruguaio Eduardo Galeano, encerrava-se mais uma sessão do filme O
veneno está na mesa, dirigido pelo cineasta Silvio Tendler. Estávamos em 2011 —
ano em que a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida foi lançada.
Após cada exibição, a reação do público era inequívoca: surpresa, indignação e
vontade de agir frente à situação dramática em que se encontra o país — desde
2008, o campeão mundial no uso de agrotóxicos.
O
choque que o documentário sempre produziu, seja em sessões em universidades,
espaços culturais ou comunidades, pode ser atribuído à falta do conhecimento da
população sobre o uso massivo dessas substâncias venenosas em nosso território,
já que a mídia corporativa foi e segue sendo omissa em relação a esse abuso.
Mas não só. Ele se deu, sem dúvida, pela forma sensível com que o filme conta
essa estória, pelo seu poder narrativo como obra cinematográfica, pela sua
potência como arte, nesse caso em linguagem audiovisual.
Sílvio
Tendler nos deixou neste mês, após anos de convívio com problemas de saúde que
o fizeram comparecer de bengala ou de cadeira de rodas em muitos dos debates
sobre o filme e sobre sua sequência, O veneno está na mesa 2. De fato, sua
fragilidade física não o impediu de atuar com intensidade junto aos movimentos
do campo, da cidade, das florestas e das águas, contribuindo, através das
estórias presentes em seus filmes, na construção da nossa História coletiva.
O que
mais podemos dizer sobre esse ser humano inesquecível? Sem dúvida, sua alma é
de artista, como revelam as dezenas de filmes que ele dirigiu. Mas ela também é
de um ativista pelas causas sociais mais caras, como a do direito ao alimento
livre de substâncias tóxicas, tema dos dois documentários aqui mencionados.
Ambos foram essenciais na caminhada da Campanha Permanente Contra os
Agrotóxicos e Pela Vida, nestes mais de 14 anos de existência, ampliando
bastante a consciência das pessoas em relação ao que enfrentamos no território
nacional.
Além da
luta anti-veneno, são muitas as causas que Silvio abraçou. Seja ao tratar da
saúde, do sistema financeiro ou mesmo da ditadura militar, ele sabia (como
poucas pessoas sabem) conciliar a expressão artística com a atuação política,
sem que, nessa conciliação, a integridade de nenhuma das duas fosse
comprometida. Sim, Sílvio foi (e segue sendo, através do imenso legado que nos
deixou) um artivista!
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Da terra à tela, da tela ao prato
Quando
as cenas de um filme ficam gravadas na nossa memória, elas podem nos induzir a
reflexões e nos mobilizar para mudanças de postura na vida real. Assistir ao
depoimento da Dra Ana Primavesi no O veneno está na mesa, relatando haver
agricultores que não comem o que plantam devido ao alto uso que fazem de
agrotóxicos, desperta questionamentos sobre a segurança de seguirmos consumindo
os alimentos convencionais vendidos nos mercados. Não é à toa que uma das
perguntas mais frequentes após as sessões do documentário é “como fazemos para
adquirir comida livre desses venenos?” — o gancho perfeito para trazer as
pessoas para a luta pela transformação do atual sistema agroalimentar tóxico
que impera no país.
Infiltrando-se
em territórios onde a população não teria acesso a uma palestra, a um seminário
ou a um curso que aborde a situação de envenenamento vivida por nós, o filme
mexe com as massas, fazendo a ciranda de pessoas comprometidas com a causa
agroecológica se ampliar. Ao mesmo tempo que traz a realidade do campo para o
cenário urbano, mostrando que o prato de comida de cada um/uma de nós é afetado
negativamente por ela, ele promove o movimento contrário: uma agitação social
que pode, a partir do que se vê na tela, produzir uma alteração na estrutura
agrária, ou seja, na própria terra.
Esse é
justamente o objetivo do que chamamos de Artivismo Agroalimentar. De modo
simples, trata-se de criar obras que despertem a sensibilidade do público para
temas relacionados ao universo da produção, distribuição e consumo da nossa
comida, de modo a mobilizar energias coletivas para alterar a situação vigente.
O uso de recursos audiovisuais, já tão acionados pela marquetagem do Agro-Ogro
que se diz pop e da indústria de ultraprocessados que se diz top, pode fazer a
diferença entre tocar ou não tocar naquele ponto sensível das pessoas que as
leva a se envolver profundamente com um tema.
A lista
de obras em vídeo sobre as pautas alimentares que almejam conquistar esse nível
de envolvimento do público vem crescendo ano a ano. Podemos mencionar Big Food:
O Poder das Indústrias de Ultraprocessados e O que se vende, o que se come,
produções feitas em parceria com o IDEC, Instituto Brasileiro de Defesa do/a
Consumidor/a. E não dá para não falar de Ilha das flores, curta-metragem, feito
ainda em 1989 por Jorge Furtado, que foi um marco histórico, ao abordar — de
forma absolutamente indigesta — a divisão entre quem desperdiça comida e quem
se alimenta das sobras.
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Desplugar das tomadas
Mas não
é necessário ter acesso aos recursos técnicos sofisticados, como ocorre no caso
do cinema, para entrar nessa rede artivista. Qualquer forma de expressão
artística pode acionar a sensibilidade das pessoas para que se envolvam com as
causas essenciais para nossa sobrevivência — lembrando que as múltiplas crises
sistêmicas enfrentadas hoje pela sociedade humana nos mostram que não é
possível seguir na direção que estamos indo. Ela está nos levando ao colapso,
como descreve Luiz Marques (com quem tive a oportunidade de conversar numa live
do Fala FADS), em seu novo livro, Ecocídio: Por uma (agri)cultura da vida,
lançado pela editora Expressão Popular.
Um dos
problemas já constatados nesse modelo de sociedade é uma crescente fratura
entre a dimensão virtual das telas e a dimensão física do mundo real.
Interações em redes sociais digitais, aplicativos e sites de busca normalmente
não envolvem o contato físico com os elementos que compõem a realidade e não
exigem que movimentemos nossos corpos, exceto as mãos e os olhos (e mesmo
assim, de modo muito restrito). A desconexão com o ritmo da natureza também é
acentuada, já que o “sol” que ilumina celulares, tablets e computadores não é
regulado pelos ciclos naturais e pode atravessar noites e madrugadas sem se
alterar.
Ligados
a esse tempo não natural e a esse espaço não tridimensional, os seres humanos
vão perdendo capacidades que levaram milênios para serem desenvolvidas. Uma
delas é a habilidade manual, tão básica na diferenciação de nossa espécie em
meio às espécies que nos antecederam. Já temos relatos de crianças com
problemas de coordenação motora (até para segurar um lápis e escrever à mão!)
porque se acostumaram com dispositivos digitais e suas brincadeiras estão cada
vez mais restritas ao mundo virtual. Mesmo os olhos, tão forçados ao
acompanharem a dinâmica das telas, estão deixando de fazer os movimentos para
enxergar de longe e prejudicando sua musculatura, o que é possível ver pelo
aumento da miopia na infância.
É nesse
cenário que os processos criativos artesanais podem ajudar a reconectar corpo e
mente, entremeando saberes e fazeres individuais e coletivos. Muitos grupos de
criação artística manual vêm promovendo vivências desplugadas das telas,
resgatando as memórias corporais e emocionais ligadas aos processos de
composição de obras físicas. Pintura, escultura, costura, bordado, tecelagem,
estamparia… as técnicas ancestrais são recuperadas, compartilhadas e recriadas
em diálogo com o presente, dando origem a visualidades em fricção com o que
vivemos hoje.
E um
dos impulsionadores desses processos criativos pode ser o desejo de expressar
afinidade com uma determinada causa e usar as obras criadas para favorecê-la.
Muitas das pessoas que sentem esse chamado têm relação com organizações sociais
que lutam por determinados ideais, e isso estimula a realização de encontros ao
vivo para a criação conjunta de materiais que expressem o que se busca
conquistar na sociedade. É comum essas criações serem usadas em manifestações
no espaço público e muitas acabam “vivendo” somente durante o ato, como no caso
de instalações que ocupam grandes espaços.
Um dos
cenários mais visados para essas expressões tomarem corpo é a Praça dos Três
Poderes, em Brasília. Ela já foi ocupada por cruzes, por velas, por pedaços de
madeira queimada e até por “barris de petróleo”, em mensagens simbólicas para
os dirigentes da nação e para a população como um todo, via cobertura da mídia.
Ver um conjunto de objetos constituídos de intensa simbologia, distribuídos de
forma poética ou debochada no espaço público, provoca reações que um texto
informativo sobre o tema tratado não consegue provocar.
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Comida ou arte?
Não é
de hoje que os alimentos e o que com eles se relaciona são usados em expressões
artísticas. Ancestralmente, os seres humanos já representavam os bisões que
caçavam e comiam nas paredes das cavernas. As próprias tintas usadas por
gerações também poderiam ser extraídas de plantas comestíveis, como o urucum e
o genipapo. As cerâmicas moldadas e decoradas de tantas maneiras diferentes
revelam como sua função não era apenas técnica, mas também simbólica.
O
universo alimentar pode ser tanto o tema que se quer abordar, como as clássicas
naturezas-mortas ou a sopa enlatada de Andy Warhol, quanto a fonte da
matéria-prima a ser usada na elaboração das obras, como vemos em uma instalação
de Anna Maria Maiolino chamada Arroz e feijão, ou na performance Supermercado,
de Eduardo Srur. E aqui chegamos à possibilidade de criarmos o que chamamos de
arte comestível, uma composição que pode ser apreciada visualmente, mas atinge
os outros sentidos, como o tato, o olfato, o paladar e a audição, já que será
degustada pelo público.
Consistência,
textura, sabor, aroma e temperatura podem ser experimentados na interação com
obras de arte feitas para serem ingeridas, despertando sensações e sentimentos
que se entrelaçam com a apreciação visual. Até mesmo os sons dos alimentos, ao
serem mordidos, mastigados e engolidos, são elementos que entram nessa
experiência multissensorial. Além disso, é frequente que ela seja feita na
esfera coletiva, permitindo que várias pessoas compartilhem de sua fruição, o
que nos leva ao conceito de comensalidade, ou seja, o ato de comer em conjunto,
milenarmente capaz de reforçar laços sociais, culturais e afetivos.
Realizar
manifestações artísticas comestíveis em grande escala é o que caracteriza a
atuação do Coletivo Banquetaço, hoje com muitos anos de estrada e referência
para as lutas sociais em vários locais do país. Para contar como ele surgiu,
vale descrever um momento do ano de 2017, em que uma forte mobilização social
conseguiu evitar uma medida estapafúrdia que a prefeitura de São Paulo, então
administrada por João Dória, estava cogitando adotar.
O
cenário era a frente do Teatro Municipal paulistano, edifício em que, quase um
século antes, os pilares culturais do país foram vítimas de um terremoto, com a
realização da Semana de Arte Moderna. Se, em 1922, o Manifesto Antropofágico se
apropriou do campo simbólico da alimentação — propondo que devorássemos a
cultura europeia para regurgitá-la em criações que representassem nossa
brasilidade —, quase um século depois, a dimensão material do alimento veio se
somar ao seu poder simbólico, por meio de uma vivência comensal que envolveu
milhares de pessoas.
Em
pleno centro histórico da cidade, foi possível contemplar a presença de uma
mesa de muitos metros de comprimento, coberta com toalhas coloridas, travessas
e panelas diversas, folhagens verdejantes e preparações culinárias que reuniam
uma imensa biodiversidade comestível e faziam referência às tradições culturais
dos vários povos que nos constituem. Em torno desse banquete, dezenas de
pessoas apetrechadas com aventais e bandanas nos cabelos estavam posicionadas
para que a obra deixasse de oferecer apenas uma contemplação visual e fosse
literalmente devorada pelo público.
Não,
não se tratava de uma doação de comida, embora qualquer pessoa que estivesse no
local (que concentra pessoas em situação de rua) pudesse entrar na fila,
percorrer as mesas do começo ao fim e experimentar todos os pratos servidos
pelo time de voluntários/as. O que se propôs ali foi uma vivência social,
cultural e política, na qual o alimento foi tratado em suas múltiplas
dimensões, para além do simples nutricionismo ou de seu valor mercadológico.
Junto ao banquete, houve um conjunto de falas que denunciavam a gestão
municipal de João Dória por planejar adotar uma espécie de ração, que chamou de
farinata, na alimentação da população vulnerabilizada e de estudantes da rede
escolar.
Composta
por um conjunto de sobras de alimentos processados, a mistura era anunciada
como uma possível solução para a fome e a insegurança alimentar e nutricional
no município, reduzindo a questão ao fornecimento de calorias e nutrientes para
os que pertencem às classes economicamente desfavorecidas da população. Para
fazer um contraponto insólito a essa ração humana, é que se partilhava ali um
imenso banquete na rua, um Banquetaço, repleto de aromas, tonalidades,
referências culturais e afetivas, celebrando a comida de verdade, a que irradia
vida.
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Sociedade insaciável
Não é
preciso entrar em uma discussão sobre as estruturas do capetalismo para
perceber que um de seus motores essenciais é o incentivo ao consumo do que não
é necessário à sobrevivência. A ânsia por acessar, no plano individual, mais e
mais produtos e experiências, vendidos pela publicidade como portadores de
felicidade, já se mostrou um desastre de proporções épicas, chacoalhando as
bases naturais do planeta. Além de destruição ambiental, ela gera desigualdade,
exclusão, frustração e um esvaziamento da dimensão coletiva da vida humana, o
que se reflete na epidemia de transtornos psicoemocionais que o mundo
experiencia hoje.
Movimentos
sociais e ambientais progressistas sempre se depararam com a busca de
instrumentos para contrapor a lógica consumista e oferecer um caminho
comunitário à humanidade, interrompendo esse círculo vicioso de concentração de
riquezas e devastação da natureza. Mas não é simples tentar neutralizar o canto
da sereia entoado por aquele que Eduardo Galeano chamou de deus Mercado. Seus
acordes parecem acionar mecanismos da “alma” humana que transcendem a
racionalidade, a capacidade de sentir empatia ou até o instinto de
sobrevivência.
Mesmo a
religiosidade de grande parte da população tem sido regida pela lógica (leia-se
insensatez) neoliberal, como o crescimento das igrejas evangélicas baseadas na
teologia da prosperidade revela. A ideia de que o deus judaico-cristão
proporciona fartura financeira para quem segue seus mandamentos transformou o
modo como seus fiéis se posicionam no mundo, atrelando a vida espiritual à
posse individualizada de bens materiais.
Na
prática, o que resulta disso é um punhado de líderes evangélicos milionários
(ou até bilionários) e um rebanho que os segue na defesa de conceitos
enviesados de pátria, família e propriedade. Em Apocalipse nos Trópicos, filme
lançado em julho, Petra Costa se propõe a mostrar como a esfera política
nacional vem sendo influenciada por essas lideranças, favorecendo tanto suas
ideologias quanto seus interesses pessoais. A obra gerou polêmica e foi alvo de
críticas por parte do campo progressista, mas não dá para deixar de reconhecer
que, como no caso dos documentários de Silvio Tendler, trata-se da arte
audiovisual indo ao encontro do despertar da consciência sobre a realidade
vivida.
Em um
momento histórico em que a busca por sucesso financeiro individual conta com
estímulos como a lavagem cerebral feita pelo neopentecostalismo, a jogatina
online disponível 24 horas pelas bets e um bando estridente de
influenciadores/as e coaches, como podemos desviar a humanidade do caminho para
o precipício, apontado por climatologistas e movimentos socioambientais? Será
que a voracidade por recursos materiais que o capetalismo nos induz a sentir
pode ser substituída por outro tipo de experiência de nos relacionarmos entre
nós e, também, com a natureza?
Se
vivemos em meio ao que é chamado de uma Sindemia Global, com a obesidade, as
doenças crônicas e os desequilíbrios climáticos assolando o planeta, e sabemos
que todos esses problemas estão associados ao modelo agroalimentar
predominante, como é possível mobilizar a sociedade para reagir a essa situação
dramática de forma propositiva?
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Alimento que sacia
A
vontade de transformar o mundo sempre acompanhou os seres humanos. Desde a
construção das primeiras ferramentas no período que foi chamado de
pré-história, até o desenvolvimento de tecnologias tão disruptivas como a
internet, nossa espécie tem se lançado a invencionices nas mais diferentes
esferas da existência. Mas podemos questionar o que norteia essas criações,
quais suas consequências na vida humana e não humana e se elas realmente suprem
nossas ânsias pessoais e coletivas.
Já se
sabe que, na lógica suicida do capital, o que se estimula é a insaciabilidade
permanente, a desconexão entre o corpo, a mente e as emoções, a desintegração
dos laços comunitários e o rompimento da sensação de pertencimento à natureza.
Desde alimentos ultraprocessados que viciam nossos circuitos cerebrais e não
nos nutrem, até os mais diferentes badulaques plásticos e engenhocas
eletrônicas de uso de curta duração (mas de permanência de longuíssima duração
no organismo e no ambiente), passando por uma verdadeira abdução virtual, em
que consumimos uma avalanche de conteúdos para lá de inúteis e duvidosos, são
muitos os sacos sem fundo que nos fazem adquirir.
Tudo
isso parece muito barato ou até gratuito — como no caso das redes digitais —,
mas é simplesmente impagável na vida real, como mostra a fritura climática, a
contaminação dos solos e das águas, o aumento da desigualdade e a explosão do
consumo de remédios psiquiátricos. É preciso encontrar outras maneiras de estar
no mundo e dar sentido à existência. É preciso mudar radicalmente o modelo
civilizacional que nos foi imposto pela colonização das potências ocidentais. E
existem formas de fazer ambas as coisas sinergicamente, se unirmos as
expressões artísticas e as manifestações culturais com a luta contra o que nos
oprime.
Experiências
artivistas vêm proporcionando momentos de integração entre os saberes, os
fazeres, os prazeres e a busca por sentido na esfera pessoal e comunitária.
Abrir espaços-tempos no cotidiano para, conjuntamente, criar obras inspiradas
por ideais que estejam em conexão com a busca da plenitude da vida é nutrir
relações mais íntegras consigo mesmo/a, com as pessoas ao redor, com os
elementos da natureza e com a própria dimensão do transcendente, já que
mobiliza o que temos de mais próximo ao poder divino: o ímpeto de gerar, de
forma absolutamente singular, o que ainda não existe.
Na
jornada pela Agroecologia, o artivismo vem cultivando teias criativas que dão
forças essenciais para a luta contra o modelo venenoso do Ogronegócio.
Movimentos sociais com muita estrada percorrida (como o MST), nos ensinaram que
a arte, a alegria, a cultura e a celebração são imprescindíveis para alimentar
a vontade de conquistar as mudanças que queremos e precisamos fazer, para
nutrir nossa resistência e dar energias nos momentos difíceis, para iluminar o
percurso.
Seja
através de um poema, de uma canção, de uma composição visual (como um mural,
uma bandeira ou um estandarte), de uma performance, de uma instalação no espaço
público ou, como nosso companheiro Silvio Tendler fez incansavelmente, por meio
de criações audiovisuais de tirar o fôlego, a presença de obras artivistas pode
gerar aquele estalo dentro de cada ser humano que faz a diferença entre a
resignação e a resiliência, ou (por que não?) entre a esterilidade política e a
rebeldia fértil de quem não aceita a condenação a viver menos do que pode
viver.
Para
quem ainda não se convenceu de que podemos encontrar arte nas atividades e
objetos mais corriqueiros do cotidiano, recomendo que ouça a música que
integrantes da Escola de Arte do MST fizeram, utilizando a sonoridade das
mesmas enxadas com que cultivam os alimentos, com que esperam poder nutrir —
com saúde, harmonia ambiental e justiça social — a população brasileira. Que
esses sons tão plenos de simbologia ecoem em nós e façam nosso músculo
cardíaco, tão assolado pelas disritmias sociais, pulsar em sintonia com o
coração da Terra.
Fonte:
Por Suzana Prizendt, em Outras Palavras

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