segunda-feira, 29 de setembro de 2025

A profunda conexão da extrema-direita com o crime organizado no Brasil

Impressiona como vai ficando clara a profunda relação entre a extrema-direita, as milícias, a corrupção - com participação de agentes e frações do Estado e da segurança pública - e o crime organizado, em várias dimensões e escalas. Desde a base ao topo da pirâmide que envolve rede de empresas, mas em especial o circuito financeiro com atuação de pessoas e técnicos com grande experiência nesse mercado. E também não quer dizer que toda a extrema-direita estaria envolvida nos crimes, mas tá claro que parte dela se cruza com o PCC. O aprofundamento das investigações tem clareado as relações.

A forte e precisa ação do governo federal, PF, RF e do MPF tem sido impecável, em alguns casos com ajuda das polícias estaduais, em outros, com oposição delas e em especial dos governadores.

O passo seguinte e indispensável é a aprovação do projeto legislativo (PEC 18/2025) do governo federal para regulamentar o sistema único de segurança pública (SUSP).

Até a mídia corporativa já passou a entender e defender a importância do projeto para se avançar no combate contra o crime organizado que lançou seus tentáculos sobre a economia legal, algumas igrejas e para a política partidária no legislativo, executivo e mesmo sobre frações do judiciário nos seus três níveis.

Os dados sobre as investigações e operações são impressionantes, não apenas sobre o volume de recursos e extensão das áreas de atuação, mas sobre a participação de diferentes agentes, em especial do alto circuito financeiro que incluem desde administradoras de fundos e das fintechs (bancos digitais e tecnológicos). Trata-se de conexões em muitos casos transnacionais que vão bem além de nossas fronteiras.

Lá atrás, em 2019, quando pesquisei e escrevi, o livro sobre "A 'indústria' dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo", eu já chamava a atenção sobre os recursos que circulavam no esquema paralelo, mundialmente conhecido como "shadow bank" (banco sombra).

Além disso, já era possível perceber o quanto era difícil e opaco acompanhar os movimentos de alguns destes fundos financeiros. Sabia-se, com alguma facilidade, onde os fundos investiam (a divulgação atraía mais investidores e, assim, ampliava o processo de capitalização), mas não se sabia a origem e os proprietários destes dinheiros.

Pois bem, essas investigações indicam algumas destas pontas de novelo que estavam encobertas.

Evidentemente, não quer dizer que todo o setor financeiro estaria metido nesses esquemas, mas seria estranho que no Brasil, o crime organizado não estivesse presente entre as gestoras de fundos financeiros que agora em 2025, já administram ativos da ordem de R$ 10,4 trilhões (referência do dia 23/09/2025), segundo dados recentes da Anbima, associação privada que acompanha o mercado de capitais.

PS.: Anexo. Infográfico sobre áreas de atuação internacional do crime organizado na leitura da Fundação Heinrich Böll do Brasil que analisa também as formas de crime e os setores atingidos ligados à produção de carbono com reflexos sobre o clima no Brasil.

•        Cientista político vê onda bolsonarista enfraquecida após condenação: populismo de direita está em rota decrescente

No movimento agitado das marés políticas, a onda bolsonarista estaria perto de virar espuma. A metáfora expressa a visão do cientista político Gabriel Rezende, que caracteriza o fenômeno político liderado nos últimos anos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como “populismo de direita”. Em análise histórica mais ampla, o Brasil teria vivido quatro ondas populistas, e a mais recente delas mostra sinais de enfraquecimento.

Doutor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Gabriel lançará, no início de outubro, o livro A ascensão do populismo de direita no Brasil, pela Editora Appris. A obra trata o populismo como um fenômeno político e uma ferramenta de representação, que emerge sempre em momentos de crise.

Em entrevista por telefone à Agência Brasil, o autor defende que as crises política, econômica e social brasileiras, entre 2013 e 2016, formaram a “tempestade perfeita” para ascensão da onda bolsonarista. Entre as características principais, esse novo populismo de direita teria se apresentado com um líder carismático central, discursos que opõem “o povo” a uma “a elite da velha política", narrativas nacionalistas e religiosas, e o uso estratégico das mídias sociais.

Nesse sentido, Gabriel Rezende entende que a tentativa fracassada de golpe de Estado pelo núcleo bolsonarista e o papel do Judiciário no enfrentamento das tendências autoritárias colocam o populismo de direita em rota decrescente.

<><>  Confira a entrevista

•        Poderia falar, em linhas gerais, o que motivou a pesquisar o “populismo de direita” e como o tema é abordado no livro que está prestes a lançar?

Gabriel Rezende: O livro é fruto da minha tese de doutorado. O que despertou a minha curiosidade foi perceber a emergência de líderes populistas pelo mundo. Primeiro, em 2016, com Donald Trump, nos Estados Unidos; Kaczyński, na Polônia; Beppe Grillo, na Itália; Viktor Orbán, na Hungria; e Jair Bolsonaro, no Brasil. Isso me mostrou a necessidade de estudar o fenômeno.

Busquei identificar, no meu livro, quais foram os fatores estruturais para a ascensão desse tipo de populismo no Brasil, entre 2016 e 2022. A partir daí, compreendi o bolsonarismo como movimento político. E que o Brasil sempre viveu ondas populistas.

A primeira onda populista foi da década de 30 até a década de 60; a segunda onda populista, nos anos 90, a chamada onda populista neoliberal, com o Fernando Collor como protagonista; a terceira onda, que foi a rosa, o populismo de esquerda, que, além do Brasil, também se fez presente na América Latina com Evo Morales [Bolívia], Chávez [Venezuela] e Kirchner [Argentina]; e a quarta, que estamos vivendo agora, paralela à onda populista de direita que também acontece na Europa e nos Estados Unidos.

•        Populismo é um termo com muitos sentidos, disputado por diferentes teóricos e movimentos políticos. Pode ser visto como pejorativo ou fenômeno positivo de inclusão maior das demandas populares. Como você caracteriza esse conceito na sua obra?

Gabriel Rezende: Não entendo o populismo como ideologia ou regime político, uma vez que não pode ser atribuído a ele um conteúdo programático específico. Ele regimenta um conjunto de questões ideológicas dentro de um centro.

Ele é um fenômeno político que sempre surge em processos de crise da democracia. Também pode ser visto como uma ferramenta de política de representação, seja da direita ou da esquerda. Para ser caracterizado assim, precisa de alguns elementos.

Primeiro, uma figura central, um líder carismático que vai amalgamar todas as insatisfações sociais. E, quando ele faz isso, se funda a partir do antagonismo, da diferenciação entre “nós” e o “outro”, ou melhor, entre o povo e a elite. Ou seja, ele trabalha numa ordem dicotômica. Ele procura fazer uma distinção entre o povo, que é a massa, e aqueles que dominam essas massas. No populismo de direita, por exemplo, o inimigo pode ser o imigrante, os membros da classe política. Bolsonaro usou muito essa retórica sobre a velha política e a nova política.

•        Quais seriam as diferenças entre os populismos de direita e os de esquerda?

Gabriel Rezende: No caso do populismo de direita, se trabalha muito a narrativa nacional nativista, por exemplo, caso do Trump com o lema Make America Great Again [Faça a América grande de novo, em inglês]. Essa ideia de América fortalecida. O segundo elemento muito comum é a religião. No caso do Brasil, nós somos uma nação mais de 60% cristã. Então, o populismo usa a narrativa conservadora e moral.

No caso do Brasil, em 2018, a direita conseguiu mobilizar isso, porque quem estava no poder até então era um partido de esquerda, o PT. E a direita batia muito nessa questão antissistema.

Já o populismo de esquerda é diferente. Ele busca uma ampliação das lacunas da vida social, por exemplo, questões mais progressistas em relação aos direitos das minorias. Ele busca amalgamar essas pessoas à margem e o discurso vai ser um elemento aglutinador delas.

As pautas vão ser voltadas para a democracia, para questões de liberdade moral. Por exemplo, a grande crítica do populismo de direita no Brasil foram questões liberais em relação à população LGBT, ao aborto, etc.

•        Quais particularidades envolvem o populismo de direita protagonizado pelo bolsonarismo?

Gabriel Rezende: Bolsonaro foi eleito porque conseguiu mobilizar cinco elementos. Primeiro, a questão do lavajatismo. Lembrando que o próprio Sérgio Moro foi ministro no governo dele. Bolsonaro vai na esteira da questão moral e ética na política.

O segundo pilar estrutural foi a questão dos evangélicos. Apesar de se dizer católico, ele foi muito ágil em lidar com essas lideranças religiosas por meio do discurso, com o próprio, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. E os evangélicos conseguem mobilizar um eleitorado muito expressivo.

O terceiro elemento é o agronegócio, setor que mais cresce no Brasil, que abrange uma fatia expressiva do PIB. O agronegócio, de fato, abraçou a campanha do Bolsonaro por várias questões. Para citar um exemplo, o respaldo em relação à invasão de terras. O governo tinha a Teresa Cristina no Ministério da Agricultura, uma figura importante do agronegócio.

Outro elemento importante são as mídias digitais. O bolsonarismo foi muito habilidoso nas redes sociais, com uma série de representantes que ajudaram muito na mobilização das pautas e do eleitorado.

E o último elemento é a aproximação com os militares, como forma de moralizar a política. Eles, inclusive, fizeram parte dos escalões da Esplanada dos Ministérios e estão envolvidos nessa condenação recente por golpe de Estado.

•        E como você analisa o Judiciário nesse contexto de atuação do populismo de direita. Vimos alguns juízes do Supremo serem caracterizados pelos bolsonaristas como inimigos dos seus interesses.

Gabriel Rezende: O STF, no caso do Brasil, cumpre papel de guardião da Constituição, segundo estabelecido em 1988. Nos últimos anos, o Poder Judiciário foi crescendo por receber demandas que eram próprias do Executivo ou do Legislativo, mas que estes não conseguiam responder. Então, muitos processos foram judicializados. Na minha visão, o que se vê é um Judiciário responsivo, que é levado a se posicionar diante de demandas muito complexas.

A preocupação por parte do populismo de direita é tentar mitigar o poder do judiciário, porque ele foi o único no Brasil que conseguiu se contrapor ao governo de Bolsonaro. E que atuou, com muitas aspas, como poder moderador.

Temos as questões recentes de projetos de anistia e a PEC da Blindagem, que foram respostas desse bolsonarismo ao julgamento da Primeira Turma do STF aos acusados por tentativa de golpe de Estado. São respostas da extrema direita para tentar mostrar que eles têm poder para medir com o Judiciário.

Só que o efeito foi contrário. O que aconteceu foi que a PEC da Blindagem não foi bem recebida socialmente. A PEC é um vazio argumentativo, porque vai contra o que esses próprios congressistas pregavam quando foram eleitos. A pauta da moral, da lei e da ordem.

•        Você falou em ondas populistas, o que significa que elas têm movimentos de início e fim. O que podemos esperar a partir de agora em relação a esse populismo de direita? É possível projetar se ele está mais próximo de um enfraquecimento ou de um fortalecimento?

Gabriel Rezende: Por algum tempo, nossas instituições não foram muito hábeis para lidar com esse movimento de extrema direita autoritário. Por exemplo, a Procuradoria-Geral da República não conseguiu ou não quis levar à frente questões em relação ao governo Bolsonaro. O Judiciário foi quem mais atuou nesse sentido.

Com a condenação dele recentemente, há um enfraquecimento no sentido político. Apoiadores fiéis a ele perdem uma base, uma referência mais concreta. A proibição de ele dar entrevista enfraquece muito. Imagine um populismo de direita em que a principal figura não pode falar.

Temos visto outras pessoas querendo assumir essa posição. O [pastor Silas] Malafaia, a Michelle Bolsonaro [ex-primeira dama], os filhos dele, o Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo]. Abre-se um flanco muito grande de quem vai disputar o legado desse populismo. Nesse sentido, podemos falar que existe um enfraquecimento do populismo. Estão mensurando o quanto a imagem do bolsonarismo está danificada e se é possível um rearranjo em relação à figura política principal.

Ao mesmo tempo, o [presidente] Lula não conseguiu ainda construir uma sucessão, uma outra figura que assuma o seu legado. Quem será o candidato que vai conseguir amalgamar todos esses princípios em relação à esquerda, caso o próprio Lula não possa ou não queira se reeleger?

O momento é de rearranjo político. Na política, uma semana é um mundo. Podem acontecer mil coisas antes da eleição de 2026.

<><> Rogério Correia alerta para táticas da extrema direita e repudia movimento por anistia

O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) denunciou que a extrema direita brasileiro seguirá na pretensão de implementar estratégias golpistas contra o Brasil. O parlamentar também repudiou a defesa da anistia feita por bolsonaristas.

“A extrema direita não vai desistir do seu plano de golpe continuado. Mas enquanto eles continuam vivendo no fantástico mundo de Bobby onde anistia ainda é uma pauta possível, quem realmente se importa com o Brasil está focado no que importa: avançar nas discussões que beneficiam o povo”, escreveu Correia na rede social X.

De acordo com o parlamentar, “não se pode ter anistia, nem por Emenda Constitucional”. “A extrema direita sempre se alimenta de golpismo. É melhor a direita tentar achar um candidato”, disse.

Em sua análise, o deputado aproveitou para elogiar o governo do presidente Lula. “O PIB está crescendo, o emprego nunca foi tão alto. Um país em que o salário mínimo aumenta, a renda do trabalhador aumentou. O Brasil ressurge”.

•        Os visitantes que Bolsonaro não quer ver. Por Moisés Mendes

Um deputado churrasqueiro, o gaúcho Coronel Zucco, levou uma picanha e foi corrido por Michelle. Tarcísio leva suas aflições de extremista existencialista moderado vacilante. Valdemar Costa Neto só enrola e leva a traz incertezas sobre a anistia.

Bolsonaro recebe visitas que não têm, como tiveram com Lula preso, a força e o significado do suporte político com afeto, solidariedade e oferecimento de perspectivas.

Visitam Bolsonaro para dizer que a coisa está feia. E há os que Bolsonaro não quer por perto, enquanto as muitas facções do fascismo se devoram pela preservação das bocas.

Por que figuras como Nikolas Ferreira não visitam Bolsonaro? Alexandre de Moraes recebeu em agosto o pedido do deputado, mas negou permissão, com o argumento de que as visitas são programadas pela defesa de Bolsonaro.

Nikolas queria entrar como avulso, mesmo sabendo que são os advogados que encaminham os pedidos a Moraes, e essa tem sido a regra seguida pelo STF.

O pedido de visita de Nikolas foi feito em 11 de agosto, no mesmo dia das solicitações de outros bolsonaristas, como Marcel van Hattem. Moraes respondeu o seguinte, no dia 12:

“O interesse do requerido em receber determinadas visitas vem sendo demonstrado por intermédio de petições de sua defesa solicitando autorização do juízo”.

E acrescentou:

“Dessa maneira, julgo prejudicado os demais pedidos avulsos de solicitação de visitas realizados por terceiros, tanto por petições, quanto por e-mails, sem qualquer abono da própria defesa”.

Não precisa acrescentar mais nada. Bolsonaro não quer ver Nikolas Van Hattem e outros deputados que sempre estiveram por perto. Não quer saber de problemas avulsos.

Por que não quer, se Nikolas sempre esteve ao lado dele até no caminhão de Malafaia na Paulista? Porque Bolsonaro é hoje um moderado em relação ao filho Eduardo, a Nikolas e a todos os que mais atrapalham do que ajudam se estiverem muito próximos, enquanto ele tenta escapar da Papuda.

Nikolas fez o pedido no dia 11 de agosto. No dia 6, ele estava no motim da Câmara, com outros 13 colegas, quando Van Hattem ocupou a cadeira de Hugo Motta. Foram apontados como amotinados pelo próprio Motta em documento enviado à corregedoria da Casa com os nomes de 14 parlamentares.

Nikolas solicitou autorização para a visita cinco dias depois do motim. Tentou furar a fila como avulso. Moraes o informou de que ele precisava falar com os advogados de Bolsonaro.

Circulou uma notícia de que os advogados teriam apresentado ou iriam apresentar o pedido de visita. Até hoje, o deputado continua sendo um avulso nunca recebido pelo chefe da organização criminosa preso em casa.

Bolsonaro talvez não queira saber de Nikolas e de outros que fracassaram e se encolheram depois das manifestações de domingo. Não agora. Não quer ser visto como acolhedor de figuras que lutam por ele, mas perderam as últimas batalhas.

O líder não pode ser visto ao lado dos que estão ou estiveram na linha de frente das lutas pela PEC da Bandidagem e do projeto da anistia. A imagem deles é de fracassados.

Eles que roubem as flores, matem os cães e tentem quebrar a cadeira de Motta, mas não apareçam comendo pão com leite condensado com Bolsonaro. Talvez mais tarde.

Bolsonaro quer Valdemar, Ciro Nogueira, Gilberto Kassab e a direita mais limpinha. Mas Kassab, sempre cuidadoso, não pede para vê-lo, nem como avulso.

Nessa segunda-feira, Tarcísio deve visitá-lo. Pode sair da casa como candidato ou ainda como indeciso. E Bolsonaro terá então que chamar Ratinho. Que talvez não ganhe nada como visitante numa hora dessas.

E se Ratinho falhar, Bolsonaro chamará Zema. Depois, Caiado. No desespero, pode pedir que chamem Eduardo Leite. E terá pelo menos o consolo de que não será visitado por Ciro Gomes.

 

Fonte: Brasil 247

 

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