A
profunda conexão da extrema-direita com o crime organizado no Brasil
Impressiona
como vai ficando clara a profunda relação entre a extrema-direita, as milícias,
a corrupção - com participação de agentes e frações do Estado e da segurança
pública - e o crime organizado, em várias dimensões e escalas. Desde a base ao
topo da pirâmide que envolve rede de empresas, mas em especial o circuito
financeiro com atuação de pessoas e técnicos com grande experiência nesse
mercado. E também não quer dizer que toda a extrema-direita estaria envolvida
nos crimes, mas tá claro que parte dela se cruza com o PCC. O aprofundamento
das investigações tem clareado as relações.
A forte
e precisa ação do governo federal, PF, RF e do MPF tem sido impecável, em
alguns casos com ajuda das polícias estaduais, em outros, com oposição delas e
em especial dos governadores.
O passo
seguinte e indispensável é a aprovação do projeto legislativo (PEC 18/2025) do
governo federal para regulamentar o sistema único de segurança pública (SUSP).
Até a
mídia corporativa já passou a entender e defender a importância do projeto para
se avançar no combate contra o crime organizado que lançou seus tentáculos
sobre a economia legal, algumas igrejas e para a política partidária no
legislativo, executivo e mesmo sobre frações do judiciário nos seus três
níveis.
Os
dados sobre as investigações e operações são impressionantes, não apenas sobre
o volume de recursos e extensão das áreas de atuação, mas sobre a participação
de diferentes agentes, em especial do alto circuito financeiro que incluem
desde administradoras de fundos e das fintechs (bancos digitais e
tecnológicos). Trata-se de conexões em muitos casos transnacionais que vão bem
além de nossas fronteiras.
Lá
atrás, em 2019, quando pesquisei e escrevi, o livro sobre "A 'indústria'
dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo
contemporâneo", eu já chamava a atenção sobre os recursos que circulavam
no esquema paralelo, mundialmente conhecido como "shadow bank" (banco
sombra).
Além
disso, já era possível perceber o quanto era difícil e opaco acompanhar os
movimentos de alguns destes fundos financeiros. Sabia-se, com alguma
facilidade, onde os fundos investiam (a divulgação atraía mais investidores e,
assim, ampliava o processo de capitalização), mas não se sabia a origem e os
proprietários destes dinheiros.
Pois
bem, essas investigações indicam algumas destas pontas de novelo que estavam
encobertas.
Evidentemente,
não quer dizer que todo o setor financeiro estaria metido nesses esquemas, mas
seria estranho que no Brasil, o crime organizado não estivesse presente entre
as gestoras de fundos financeiros que agora em 2025, já administram ativos da
ordem de R$ 10,4 trilhões (referência do dia 23/09/2025), segundo dados
recentes da Anbima, associação privada que acompanha o mercado de capitais.
PS.:
Anexo. Infográfico sobre áreas de atuação internacional do crime organizado na
leitura da Fundação Heinrich Böll do Brasil que analisa também as formas de
crime e os setores atingidos ligados à produção de carbono com reflexos sobre o
clima no Brasil.
• Cientista político vê onda bolsonarista
enfraquecida após condenação: populismo de direita está em rota decrescente
No
movimento agitado das marés políticas, a onda bolsonarista estaria perto de
virar espuma. A metáfora expressa a visão do cientista político Gabriel
Rezende, que caracteriza o fenômeno político liderado nos últimos anos pelo
ex-presidente Jair Bolsonaro como “populismo de direita”. Em análise histórica
mais ampla, o Brasil teria vivido quatro ondas populistas, e a mais recente
delas mostra sinais de enfraquecimento.
Doutor
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Gabriel
lançará, no início de outubro, o livro A ascensão do populismo de direita no
Brasil, pela Editora Appris. A obra trata o populismo como um fenômeno político
e uma ferramenta de representação, que emerge sempre em momentos de crise.
Em
entrevista por telefone à Agência Brasil, o autor defende que as crises
política, econômica e social brasileiras, entre 2013 e 2016, formaram a
“tempestade perfeita” para ascensão da onda bolsonarista. Entre as
características principais, esse novo populismo de direita teria se apresentado
com um líder carismático central, discursos que opõem “o povo” a uma “a elite
da velha política", narrativas nacionalistas e religiosas, e o uso
estratégico das mídias sociais.
Nesse
sentido, Gabriel Rezende entende que a tentativa fracassada de golpe de Estado
pelo núcleo bolsonarista e o papel do Judiciário no enfrentamento das
tendências autoritárias colocam o populismo de direita em rota decrescente.
<><> Confira a entrevista
• Poderia falar, em linhas gerais, o que
motivou a pesquisar o “populismo de direita” e como o tema é abordado no livro
que está prestes a lançar?
Gabriel
Rezende: O livro é fruto da minha tese de doutorado. O que despertou a minha
curiosidade foi perceber a emergência de líderes populistas pelo mundo.
Primeiro, em 2016, com Donald Trump, nos Estados Unidos; Kaczyński, na Polônia;
Beppe Grillo, na Itália; Viktor Orbán, na Hungria; e Jair Bolsonaro, no Brasil.
Isso me mostrou a necessidade de estudar o fenômeno.
Busquei
identificar, no meu livro, quais foram os fatores estruturais para a ascensão
desse tipo de populismo no Brasil, entre 2016 e 2022. A partir daí, compreendi
o bolsonarismo como movimento político. E que o Brasil sempre viveu ondas
populistas.
A
primeira onda populista foi da década de 30 até a década de 60; a segunda onda
populista, nos anos 90, a chamada onda populista neoliberal, com o Fernando
Collor como protagonista; a terceira onda, que foi a rosa, o populismo de
esquerda, que, além do Brasil, também se fez presente na América Latina com Evo
Morales [Bolívia], Chávez [Venezuela] e Kirchner [Argentina]; e a quarta, que
estamos vivendo agora, paralela à onda populista de direita que também acontece
na Europa e nos Estados Unidos.
• Populismo é um termo com muitos
sentidos, disputado por diferentes teóricos e movimentos políticos. Pode ser
visto como pejorativo ou fenômeno positivo de inclusão maior das demandas
populares. Como você caracteriza esse conceito na sua obra?
Gabriel
Rezende: Não entendo o populismo como ideologia ou regime político, uma vez que
não pode ser atribuído a ele um conteúdo programático específico. Ele regimenta
um conjunto de questões ideológicas dentro de um centro.
Ele é
um fenômeno político que sempre surge em processos de crise da democracia.
Também pode ser visto como uma ferramenta de política de representação, seja da
direita ou da esquerda. Para ser caracterizado assim, precisa de alguns
elementos.
Primeiro,
uma figura central, um líder carismático que vai amalgamar todas as
insatisfações sociais. E, quando ele faz isso, se funda a partir do
antagonismo, da diferenciação entre “nós” e o “outro”, ou melhor, entre o povo
e a elite. Ou seja, ele trabalha numa ordem dicotômica. Ele procura fazer uma
distinção entre o povo, que é a massa, e aqueles que dominam essas massas. No
populismo de direita, por exemplo, o inimigo pode ser o imigrante, os membros
da classe política. Bolsonaro usou muito essa retórica sobre a velha política e
a nova política.
• Quais seriam as diferenças entre os
populismos de direita e os de esquerda?
Gabriel
Rezende: No caso do populismo de direita, se trabalha muito a narrativa
nacional nativista, por exemplo, caso do Trump com o lema Make America Great
Again [Faça a América grande de novo, em inglês]. Essa ideia de América
fortalecida. O segundo elemento muito comum é a religião. No caso do Brasil,
nós somos uma nação mais de 60% cristã. Então, o populismo usa a narrativa
conservadora e moral.
No caso
do Brasil, em 2018, a direita conseguiu mobilizar isso, porque quem estava no
poder até então era um partido de esquerda, o PT. E a direita batia muito nessa
questão antissistema.
Já o
populismo de esquerda é diferente. Ele busca uma ampliação das lacunas da vida
social, por exemplo, questões mais progressistas em relação aos direitos das
minorias. Ele busca amalgamar essas pessoas à margem e o discurso vai ser um
elemento aglutinador delas.
As
pautas vão ser voltadas para a democracia, para questões de liberdade moral.
Por exemplo, a grande crítica do populismo de direita no Brasil foram questões
liberais em relação à população LGBT, ao aborto, etc.
• Quais particularidades envolvem o
populismo de direita protagonizado pelo bolsonarismo?
Gabriel
Rezende: Bolsonaro foi eleito porque conseguiu mobilizar cinco elementos.
Primeiro, a questão do lavajatismo. Lembrando que o próprio Sérgio Moro foi
ministro no governo dele. Bolsonaro vai na esteira da questão moral e ética na
política.
O
segundo pilar estrutural foi a questão dos evangélicos. Apesar de se dizer
católico, ele foi muito ágil em lidar com essas lideranças religiosas por meio
do discurso, com o próprio, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. E os
evangélicos conseguem mobilizar um eleitorado muito expressivo.
O
terceiro elemento é o agronegócio, setor que mais cresce no Brasil, que abrange
uma fatia expressiva do PIB. O agronegócio, de fato, abraçou a campanha do
Bolsonaro por várias questões. Para citar um exemplo, o respaldo em relação à
invasão de terras. O governo tinha a Teresa Cristina no Ministério da
Agricultura, uma figura importante do agronegócio.
Outro
elemento importante são as mídias digitais. O bolsonarismo foi muito habilidoso
nas redes sociais, com uma série de representantes que ajudaram muito na
mobilização das pautas e do eleitorado.
E o
último elemento é a aproximação com os militares, como forma de moralizar a
política. Eles, inclusive, fizeram parte dos escalões da Esplanada dos
Ministérios e estão envolvidos nessa condenação recente por golpe de Estado.
• E como você analisa o Judiciário nesse
contexto de atuação do populismo de direita. Vimos alguns juízes do Supremo
serem caracterizados pelos bolsonaristas como inimigos dos seus interesses.
Gabriel
Rezende: O STF, no caso do Brasil, cumpre papel de guardião da Constituição,
segundo estabelecido em 1988. Nos últimos anos, o Poder Judiciário foi
crescendo por receber demandas que eram próprias do Executivo ou do
Legislativo, mas que estes não conseguiam responder. Então, muitos processos
foram judicializados. Na minha visão, o que se vê é um Judiciário responsivo,
que é levado a se posicionar diante de demandas muito complexas.
A
preocupação por parte do populismo de direita é tentar mitigar o poder do
judiciário, porque ele foi o único no Brasil que conseguiu se contrapor ao
governo de Bolsonaro. E que atuou, com muitas aspas, como poder moderador.
Temos
as questões recentes de projetos de anistia e a PEC da Blindagem, que foram
respostas desse bolsonarismo ao julgamento da Primeira Turma do STF aos
acusados por tentativa de golpe de Estado. São respostas da extrema direita
para tentar mostrar que eles têm poder para medir com o Judiciário.
Só que
o efeito foi contrário. O que aconteceu foi que a PEC da Blindagem não foi bem
recebida socialmente. A PEC é um vazio argumentativo, porque vai contra o que
esses próprios congressistas pregavam quando foram eleitos. A pauta da moral,
da lei e da ordem.
• Você falou em ondas populistas, o que
significa que elas têm movimentos de início e fim. O que podemos esperar a
partir de agora em relação a esse populismo de direita? É possível projetar se
ele está mais próximo de um enfraquecimento ou de um fortalecimento?
Gabriel
Rezende: Por algum tempo, nossas instituições não foram muito hábeis para lidar
com esse movimento de extrema direita autoritário. Por exemplo, a
Procuradoria-Geral da República não conseguiu ou não quis levar à frente
questões em relação ao governo Bolsonaro. O Judiciário foi quem mais atuou
nesse sentido.
Com a
condenação dele recentemente, há um enfraquecimento no sentido político.
Apoiadores fiéis a ele perdem uma base, uma referência mais concreta. A
proibição de ele dar entrevista enfraquece muito. Imagine um populismo de
direita em que a principal figura não pode falar.
Temos
visto outras pessoas querendo assumir essa posição. O [pastor Silas] Malafaia,
a Michelle Bolsonaro [ex-primeira dama], os filhos dele, o Tarcísio [de
Freitas, governador de São Paulo]. Abre-se um flanco muito grande de quem vai
disputar o legado desse populismo. Nesse sentido, podemos falar que existe um
enfraquecimento do populismo. Estão mensurando o quanto a imagem do
bolsonarismo está danificada e se é possível um rearranjo em relação à figura
política principal.
Ao
mesmo tempo, o [presidente] Lula não conseguiu ainda construir uma sucessão,
uma outra figura que assuma o seu legado. Quem será o candidato que vai
conseguir amalgamar todos esses princípios em relação à esquerda, caso o
próprio Lula não possa ou não queira se reeleger?
O
momento é de rearranjo político. Na política, uma semana é um mundo. Podem
acontecer mil coisas antes da eleição de 2026.
<><>
Rogério Correia alerta para táticas da extrema direita e repudia movimento por
anistia
O
deputado federal Rogério Correia (PT-MG) denunciou que a extrema direita
brasileiro seguirá na pretensão de implementar estratégias golpistas contra o
Brasil. O parlamentar também repudiou a defesa da anistia feita por
bolsonaristas.
“A
extrema direita não vai desistir do seu plano de golpe continuado. Mas enquanto
eles continuam vivendo no fantástico mundo de Bobby onde anistia ainda é uma
pauta possível, quem realmente se importa com o Brasil está focado no que
importa: avançar nas discussões que beneficiam o povo”, escreveu Correia na
rede social X.
De
acordo com o parlamentar, “não se pode ter anistia, nem por Emenda
Constitucional”. “A extrema direita sempre se alimenta de golpismo. É melhor a
direita tentar achar um candidato”, disse.
Em sua
análise, o deputado aproveitou para elogiar o governo do presidente Lula. “O
PIB está crescendo, o emprego nunca foi tão alto. Um país em que o salário
mínimo aumenta, a renda do trabalhador aumentou. O Brasil ressurge”.
• Os visitantes que Bolsonaro não quer
ver. Por Moisés Mendes
Um
deputado churrasqueiro, o gaúcho Coronel Zucco, levou uma picanha e foi corrido
por Michelle. Tarcísio leva suas aflições de extremista existencialista
moderado vacilante. Valdemar Costa Neto só enrola e leva a traz incertezas
sobre a anistia.
Bolsonaro
recebe visitas que não têm, como tiveram com Lula preso, a força e o
significado do suporte político com afeto, solidariedade e oferecimento de
perspectivas.
Visitam
Bolsonaro para dizer que a coisa está feia. E há os que Bolsonaro não quer por
perto, enquanto as muitas facções do fascismo se devoram pela preservação das
bocas.
Por que
figuras como Nikolas Ferreira não visitam Bolsonaro? Alexandre de Moraes
recebeu em agosto o pedido do deputado, mas negou permissão, com o argumento de
que as visitas são programadas pela defesa de Bolsonaro.
Nikolas
queria entrar como avulso, mesmo sabendo que são os advogados que encaminham os
pedidos a Moraes, e essa tem sido a regra seguida pelo STF.
O
pedido de visita de Nikolas foi feito em 11 de agosto, no mesmo dia das
solicitações de outros bolsonaristas, como Marcel van Hattem. Moraes respondeu
o seguinte, no dia 12:
“O
interesse do requerido em receber determinadas visitas vem sendo demonstrado
por intermédio de petições de sua defesa solicitando autorização do juízo”.
E
acrescentou:
“Dessa
maneira, julgo prejudicado os demais pedidos avulsos de solicitação de visitas
realizados por terceiros, tanto por petições, quanto por e-mails, sem qualquer
abono da própria defesa”.
Não
precisa acrescentar mais nada. Bolsonaro não quer ver Nikolas Van Hattem e
outros deputados que sempre estiveram por perto. Não quer saber de problemas
avulsos.
Por que
não quer, se Nikolas sempre esteve ao lado dele até no caminhão de Malafaia na
Paulista? Porque Bolsonaro é hoje um moderado em relação ao filho Eduardo, a
Nikolas e a todos os que mais atrapalham do que ajudam se estiverem muito
próximos, enquanto ele tenta escapar da Papuda.
Nikolas
fez o pedido no dia 11 de agosto. No dia 6, ele estava no motim da Câmara, com
outros 13 colegas, quando Van Hattem ocupou a cadeira de Hugo Motta. Foram
apontados como amotinados pelo próprio Motta em documento enviado à
corregedoria da Casa com os nomes de 14 parlamentares.
Nikolas
solicitou autorização para a visita cinco dias depois do motim. Tentou furar a
fila como avulso. Moraes o informou de que ele precisava falar com os advogados
de Bolsonaro.
Circulou
uma notícia de que os advogados teriam apresentado ou iriam apresentar o pedido
de visita. Até hoje, o deputado continua sendo um avulso nunca recebido pelo
chefe da organização criminosa preso em casa.
Bolsonaro
talvez não queira saber de Nikolas e de outros que fracassaram e se encolheram
depois das manifestações de domingo. Não agora. Não quer ser visto como
acolhedor de figuras que lutam por ele, mas perderam as últimas batalhas.
O líder
não pode ser visto ao lado dos que estão ou estiveram na linha de frente das
lutas pela PEC da Bandidagem e do projeto da anistia. A imagem deles é de
fracassados.
Eles
que roubem as flores, matem os cães e tentem quebrar a cadeira de Motta, mas
não apareçam comendo pão com leite condensado com Bolsonaro. Talvez mais tarde.
Bolsonaro
quer Valdemar, Ciro Nogueira, Gilberto Kassab e a direita mais limpinha. Mas
Kassab, sempre cuidadoso, não pede para vê-lo, nem como avulso.
Nessa
segunda-feira, Tarcísio deve visitá-lo. Pode sair da casa como candidato ou
ainda como indeciso. E Bolsonaro terá então que chamar Ratinho. Que talvez não
ganhe nada como visitante numa hora dessas.
E se
Ratinho falhar, Bolsonaro chamará Zema. Depois, Caiado. No desespero, pode
pedir que chamem Eduardo Leite. E terá pelo menos o consolo de que não será
visitado por Ciro Gomes.
Fonte:
Brasil 247

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