terça-feira, 30 de setembro de 2025

Semaglutida diminui em 57% o risco de infarto e AVC, diz pesquisa

Os avanços no tratamento para pessoas com sobrepeso ou obesidade e doença cardiovascular (DCV) ganharam um novo capítulo. Um estudo apresentado neste domingo (31/8) no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), em Madrid, revelou que a semaglutida pode reduzir em 57% o risco de infarto, AVC ou morte por complicações cardiovasculares.

A pesquisa, que é um estudo retrospectivo e usa dados de vida real, foi conduzida pela farmacêutica Novo Nordisk e comparou a eficácia do Wegovy (semaglutida 2.4mg) com o Mounjaro (tirzepatida 15mg). O estudo, intitulado STEER, avaliou mais de 21 mil pacientes norte-americanos com 45 anos ou mais, que tinham obesidade e doença cardiovascular, mas sem histórico de diabetes.

Em nota enviada ao Correio, a empresa do Mounjaro, Eli Lilly, afirma que "continua a estudar a tirzepatida para potenciais benefícios cardiovasculares". "Além disso, o SURMOUNT-MMO é um ensaio clínico global de fase 3 que avalia se o tirzepatida pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares graves e morte em adultos com obesidade ou sobrepeso, mas sem diabetes, com resultados esperados para 2027", completa. (Leia a nota na íntegra ao fim da matéria)

No estudo STEER, os participantes foram divididos em dois grupos, de acordo com o tratamento medicamentoso. Durante o período de análise, foram registradas apenas 15 ocorrências de doenças cardiovasculares (0,1%) no grupo que utilizou Wegovy, contra 39 eventos (0,4%) entre os que usaram Mounjaro.

Cerca de 31% dos adultos brasileiros são considerados obesos, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade para 2025. Além disso, 37% das pessoas no Brasil estão com sobrepeso. A doença, que é considerada crônica pela Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta diretamente a vida do paciente, que pode desenvolver problemas como doenças cardíacas, diabetes, osteoartrite e depressão.

<><> O estudo

A análise segue a metodologia de “vida real”, que consiste em coletar e investigar dados disponíveis sobre pacientes que usam os medicamentos. No caso do STEER, os pesquisadores analisaram, por meio do banco de dados Komodo Research, as compras das substâncias e os problemas desenvolvidos pelos pacientes de cada grupo.

Dessa forma, não há certeza de que as pessoas tomaram o medicamento corretamente, o que poderia influenciar o resultado final da pesquisa. Apesar disso, a professora de medicina cardiovascular na UC San Diego (EUA), Pam Taub, que não participou do estudo, pontua que o resultado é significativo para a medicina e mostra como os medicamentos podem melhorar a vida do paciente.

“O problema com esses estudos de vida real é que você não controla fatores. Mas ainda são dados muito interessantes. A grande perspectiva é que o Wegovy tem impacto em resultados cardiovasculares”, afirma Pam. No entanto, ela reforça que não é possível definir se uma substância é melhor do que a outra, já que o tratamento, nesses casos, deve seguir a medicina personalizada.

“Há pacientes que melhoram com uma droga ou outra, e eu vejo isso na prática clínica. Há alguns pacientes que podem ter intolerância com uma, nós mudamos para a outra e melhoram. Precisamos abraçar, no campo, o fato de que é bom ter múltiplas drogas para nossos pacientes”, comenta. A pesquisa reforça, ainda, que é importante fazer a análise de “mundo real” em conjunto com dados de exames clínicos, diz a especialista.

<><> Tratamentos que levam à longevidade

A especialista Pam completa que a novidade da pesquisa está nas melhorias no tratamento desses pacientes, o que gera maior qualidade de vida e perspectiva de futuro. “Quando você tem uma droga como a semaglutida, o que você vê é uma perda de peso, uma melhoria na pressão sanguínea, no colesterol, na hemoglobina A1c e no decréscimo de gordura líquida”, afirma Pam.

“Os medicamentos não são apenas sobre perda de peso. É sobre longevidade, qualidade de vida. E isso também tira o estigma, porque, às vezes, pensam que são só para pessoas que estão tentando perder peso. São remédios que melhoram os parâmetros importantes que lidam com a longevidade”, comenta.

Além disso, o objetivo da pesquisa foi entender como a substância pode “melhorar a vida dessas pessoas”, define Henrik Jorlav, vice-presidente global da área médica de Doença Cardiorrenal Metabólica e Alzheimer da Novo Nordisk. “A obesidade limita tarefas simples do dia a dia, como caminhar pequenas distâncias ou ir do carro ao supermercado. Quando conseguimos melhorar isso, transformamos a vida dos pacientes”, completou.

Assim, a pesquisa e a professora Pam Taub ressaltam a importância de os médicos entenderem os benefícios de cada um dos medicamentos para cuidar de um problema específico e único de cada pessoa.

<><> Nota da Eli Lilly (empresa do Mounjaro)

Não temos dúvidas dos benefícios da tirzepatida, que demonstrou perda de peso superior em comparação com a semaglutida no ensaio clínico randomizado SURMOUNT-5. Embora estudos de vida real possam oferecer informações adicionais, estamos analisando os dados do estudo STEER e observamos possíveis falhas de metodologia, como o baixo índice de eventos, curto período de acompanhamento e inconsistências nas dosagens estudadas, fatores que exigem uma interpretação cautelosa da publicação.

A Lilly continua a estudar a tirzepatida para potenciais benefícios cardiovasculares. Os resultados completos do SURPASS-CVOT, um grande estudo de resultados cardiovasculares em pessoas com diabetes tipo 2, serão apresentados no Congresso da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD) no final deste mês. Além disso, o SURMOUNT-MMO é um ensaio clínico global de fase 3 que avalia se o tirzepatida pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares graves e morte em adultos com obesidade ou sobrepeso, mas sem diabetes, com resultados esperados para 2027.

•        Pesquisa brasileira abre debate sobre tratamentos alternativos para insuficiência cardíaca

Uma nova técnica para o tratamento de insuficiência cardíaca tem ganhado destaque na medicina mundial, com estudos produzidos nos Estados Unidos e em países da Europa. O método, conhecido como estimulação fisiológica, é mais simples que a terapia convencional e busca imitar o sistema elétrico natural do coração.

Embora promissora e mais viável economicamente, a técnica não foi tão eficiente em pacientes brasileiros, como aponta o estudo PhysioSync-HF, coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento, apresentado no Congresso da European Society of Cardiology (ESC), nesta sexta-feira (29/08). A pesquisa, feita com apoio do Ministério da Saúde por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), mostra que o tratamento tradicional ainda é mais seguro e eficiente para a população do país.

“A insuficiência cardíaca é uma doença que deixa o coração mais dilatado e mais fraco”, explica o cardiologista André Zimerman, que é Head da Unidade de Ensaios Clínicos do Hospital Moinhos de Vento. O método convencional consiste no implante de um marcapasso que sincroniza os batimentos do coração nos lados direito e esquerdo. Mas, o especialista alerta que o procedimento tem um custo elevado e pode não funcionar em todos os casos.

É neste contexto que surge a estimulação fisiológica, que faz a estimulação no centro do órgão para bater de forma natural. ”Com isso, em teoria, conseguiria fazer o coração bater mais sincronizado e a um custo muito mais baixo do que o tratamento convencional. Mas, entre teoria e prática, é preciso fazer estudos robustos, principalmente na nossa população”, esclarece.

Segundo o cardiologista, a expectativa era de que o resultado do estudo comprovasse que os procedimentos eram equivalentes no âmbito médico. “O fisiológico seria mais barato e conseguiria abranger mais pessoas no Brasil”, afirma André. Conforme o especialista, a diferença de valor entre a estimulação fisiológica e o tratamento convencional pode chegar a R$ 17 mil.

O estudo foi produzido com o foco na população brasileira e diferentes classes sociais, com uma equipe heterogênea de pacientes de todo o Brasil, que já estavam em terapia médica otimizada tanto no Sistema de Saúde Único (SUS) quanto particular.

“A população brasileira não é representada nos estudos europeus nem nos norte-americanos. E o nosso estudo foi representativo de vários centros no Brasil. Quando a gente tava olhando os dados, encontramos algo que foi contra a tendência dos estudos internacionais”, comenta a chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento, Carisi Anne Polanczyk. A especialista reforça que o resultado do estudo abre um debate em escala mundial, principalmente com a apresentação no Congresso da ESC.

<><> Resultado da pesquisa

De acordo com o cardiologista André Zimerman, o marcapasso, que é o ressincronizador tradicional, foi superior ao fisiológico nos pacientes do estudo. “O novo tratamento resultou em mais morte, mais internações e uma menor melhora do desempenho cardíaco de modo geral”, comenta.

No entanto, o especialista ressalta que os pacientes de ambos os grupos foram “muito bem”. “Todos eles melhoraram a função cardíaca, melhoraram a capacidade física, caminharam mais, as pessoas se sentiram melhor. Os exames melhoraram nos dois braços. Mas, nós vimos que do ponto de vista econômico foi uma grande questão”, completa.

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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