Semaglutida
diminui em 57% o risco de infarto e AVC, diz pesquisa
Os
avanços no tratamento para pessoas com sobrepeso ou obesidade e doença
cardiovascular (DCV) ganharam um novo capítulo. Um estudo apresentado neste
domingo (31/8) no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), em
Madrid, revelou que a semaglutida pode reduzir em 57% o risco de infarto, AVC
ou morte por complicações cardiovasculares.
A
pesquisa, que é um estudo retrospectivo e usa dados de vida real, foi conduzida
pela farmacêutica Novo Nordisk e comparou a eficácia do Wegovy (semaglutida
2.4mg) com o Mounjaro (tirzepatida 15mg). O estudo, intitulado STEER, avaliou
mais de 21 mil pacientes norte-americanos com 45 anos ou mais, que tinham
obesidade e doença cardiovascular, mas sem histórico de diabetes.
Em nota
enviada ao Correio, a empresa do Mounjaro, Eli Lilly, afirma que "continua
a estudar a tirzepatida para potenciais benefícios cardiovasculares".
"Além disso, o SURMOUNT-MMO é um ensaio clínico global de fase 3 que
avalia se o tirzepatida pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares graves
e morte em adultos com obesidade ou sobrepeso, mas sem diabetes, com resultados
esperados para 2027", completa. (Leia a nota na íntegra ao fim da matéria)
No
estudo STEER, os participantes foram divididos em dois grupos, de acordo com o
tratamento medicamentoso. Durante o período de análise, foram registradas
apenas 15 ocorrências de doenças cardiovasculares (0,1%) no grupo que utilizou
Wegovy, contra 39 eventos (0,4%) entre os que usaram Mounjaro.
Cerca
de 31% dos adultos brasileiros são considerados obesos, de acordo com o Atlas
Mundial da Obesidade para 2025. Além disso, 37% das pessoas no Brasil estão com
sobrepeso. A doença, que é considerada crônica pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), afeta diretamente a vida do paciente, que pode desenvolver
problemas como doenças cardíacas, diabetes, osteoartrite e depressão.
<><>
O estudo
A
análise segue a metodologia de “vida real”, que consiste em coletar e
investigar dados disponíveis sobre pacientes que usam os medicamentos. No caso
do STEER, os pesquisadores analisaram, por meio do banco de dados Komodo
Research, as compras das substâncias e os problemas desenvolvidos pelos
pacientes de cada grupo.
Dessa
forma, não há certeza de que as pessoas tomaram o medicamento corretamente, o
que poderia influenciar o resultado final da pesquisa. Apesar disso, a
professora de medicina cardiovascular na UC San Diego (EUA), Pam Taub, que não
participou do estudo, pontua que o resultado é significativo para a medicina e
mostra como os medicamentos podem melhorar a vida do paciente.
“O
problema com esses estudos de vida real é que você não controla fatores. Mas
ainda são dados muito interessantes. A grande perspectiva é que o Wegovy tem
impacto em resultados cardiovasculares”, afirma Pam. No entanto, ela reforça
que não é possível definir se uma substância é melhor do que a outra, já que o
tratamento, nesses casos, deve seguir a medicina personalizada.
“Há
pacientes que melhoram com uma droga ou outra, e eu vejo isso na prática
clínica. Há alguns pacientes que podem ter intolerância com uma, nós mudamos
para a outra e melhoram. Precisamos abraçar, no campo, o fato de que é bom ter
múltiplas drogas para nossos pacientes”, comenta. A pesquisa reforça, ainda,
que é importante fazer a análise de “mundo real” em conjunto com dados de
exames clínicos, diz a especialista.
<><>
Tratamentos que levam à longevidade
A
especialista Pam completa que a novidade da pesquisa está nas melhorias no
tratamento desses pacientes, o que gera maior qualidade de vida e perspectiva
de futuro. “Quando você tem uma droga como a semaglutida, o que você vê é uma
perda de peso, uma melhoria na pressão sanguínea, no colesterol, na hemoglobina
A1c e no decréscimo de gordura líquida”, afirma Pam.
“Os
medicamentos não são apenas sobre perda de peso. É sobre longevidade, qualidade
de vida. E isso também tira o estigma, porque, às vezes, pensam que são só para
pessoas que estão tentando perder peso. São remédios que melhoram os parâmetros
importantes que lidam com a longevidade”, comenta.
Além
disso, o objetivo da pesquisa foi entender como a substância pode “melhorar a
vida dessas pessoas”, define Henrik Jorlav, vice-presidente global da área
médica de Doença Cardiorrenal Metabólica e Alzheimer da Novo Nordisk. “A
obesidade limita tarefas simples do dia a dia, como caminhar pequenas
distâncias ou ir do carro ao supermercado. Quando conseguimos melhorar isso,
transformamos a vida dos pacientes”, completou.
Assim,
a pesquisa e a professora Pam Taub ressaltam a importância de os médicos
entenderem os benefícios de cada um dos medicamentos para cuidar de um problema
específico e único de cada pessoa.
<><>
Nota da Eli Lilly (empresa do Mounjaro)
Não
temos dúvidas dos benefícios da tirzepatida, que demonstrou perda de peso
superior em comparação com a semaglutida no ensaio clínico randomizado
SURMOUNT-5. Embora estudos de vida real possam oferecer informações adicionais,
estamos analisando os dados do estudo STEER e observamos possíveis falhas de
metodologia, como o baixo índice de eventos, curto período de acompanhamento e
inconsistências nas dosagens estudadas, fatores que exigem uma interpretação
cautelosa da publicação.
A Lilly
continua a estudar a tirzepatida para potenciais benefícios cardiovasculares.
Os resultados completos do SURPASS-CVOT, um grande estudo de resultados
cardiovasculares em pessoas com diabetes tipo 2, serão apresentados no
Congresso da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD) no final
deste mês. Além disso, o SURMOUNT-MMO é um ensaio clínico global de fase 3 que
avalia se o tirzepatida pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares graves
e morte em adultos com obesidade ou sobrepeso, mas sem diabetes, com resultados
esperados para 2027.
• Pesquisa brasileira abre debate sobre
tratamentos alternativos para insuficiência cardíaca
Uma
nova técnica para o tratamento de insuficiência cardíaca tem ganhado destaque
na medicina mundial, com estudos produzidos nos Estados Unidos e em países da
Europa. O método, conhecido como estimulação fisiológica, é mais simples que a
terapia convencional e busca imitar o sistema elétrico natural do coração.
Embora
promissora e mais viável economicamente, a técnica não foi tão eficiente em
pacientes brasileiros, como aponta o estudo PhysioSync-HF, coordenado pelo
Hospital Moinhos de Vento, apresentado no Congresso da European Society of
Cardiology (ESC), nesta sexta-feira (29/08). A pesquisa, feita com apoio do
Ministério da Saúde por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), mostra que o tratamento
tradicional ainda é mais seguro e eficiente para a população do país.
“A
insuficiência cardíaca é uma doença que deixa o coração mais dilatado e mais
fraco”, explica o cardiologista André Zimerman, que é Head da Unidade de
Ensaios Clínicos do Hospital Moinhos de Vento. O método convencional consiste
no implante de um marcapasso que sincroniza os batimentos do coração nos lados
direito e esquerdo. Mas, o especialista alerta que o procedimento tem um custo
elevado e pode não funcionar em todos os casos.
É neste
contexto que surge a estimulação fisiológica, que faz a estimulação no centro
do órgão para bater de forma natural. ”Com isso, em teoria, conseguiria fazer o
coração bater mais sincronizado e a um custo muito mais baixo do que o
tratamento convencional. Mas, entre teoria e prática, é preciso fazer estudos
robustos, principalmente na nossa população”, esclarece.
Segundo
o cardiologista, a expectativa era de que o resultado do estudo comprovasse que
os procedimentos eram equivalentes no âmbito médico. “O fisiológico seria mais
barato e conseguiria abranger mais pessoas no Brasil”, afirma André. Conforme o
especialista, a diferença de valor entre a estimulação fisiológica e o
tratamento convencional pode chegar a R$ 17 mil.
O
estudo foi produzido com o foco na população brasileira e diferentes classes
sociais, com uma equipe heterogênea de pacientes de todo o Brasil, que já
estavam em terapia médica otimizada tanto no Sistema de Saúde Único (SUS)
quanto particular.
“A
população brasileira não é representada nos estudos europeus nem nos
norte-americanos. E o nosso estudo foi representativo de vários centros no
Brasil. Quando a gente tava olhando os dados, encontramos algo que foi contra a
tendência dos estudos internacionais”, comenta a chefe do Serviço de
Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento, Carisi Anne Polanczyk. A especialista
reforça que o resultado do estudo abre um debate em escala mundial,
principalmente com a apresentação no Congresso da ESC.
<><>
Resultado da pesquisa
De
acordo com o cardiologista André Zimerman, o marcapasso, que é o
ressincronizador tradicional, foi superior ao fisiológico nos pacientes do
estudo. “O novo tratamento resultou em mais morte, mais internações e uma menor
melhora do desempenho cardíaco de modo geral”, comenta.
No
entanto, o especialista ressalta que os pacientes de ambos os grupos foram
“muito bem”. “Todos eles melhoraram a função cardíaca, melhoraram a capacidade
física, caminharam mais, as pessoas se sentiram melhor. Os exames melhoraram
nos dois braços. Mas, nós vimos que do ponto de vista econômico foi uma grande
questão”, completa.
Fonte:
Correio Braziliense

Nenhum comentário:
Postar um comentário