Paulo
Henrique Arantes: Anistia subiu no telhado, Lula subiu nas pesquisas
O
projeto de lei outrora batizado “da anistia” e depois renomeado “da dosimetria”
entra em viés de baixa, como diriam os financistas. Pegou muito mal a chantagem
feita pelo relator Paulinho da Força, condicionando a aprovação da isenção do
Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais mensais à chancela do
vergonhoso benefício aos golpistas. Agora, é viva a possibilidade de o tal PL
nem sequer ir a votação.
A
reprovação do Congresso pela população é de 70% segundo pesquisa Ipespe. O
índice deve-se a aberrações como a PEC da Blindagem, esta devidamente
enterrada, e a figuras como Paulinho da Força, Hugo Motta e tantas outras. O
povo as elegeu, mas tudo tem limite. O mesmo instituto registrou aumento da
aprovação do governo Lula, para 50%.
O
brilho do presidente do Brasil na Assembleia da ONU, cuja fala repercutiu
positivamente menos na imprensa brasileira do que na mundial, reforça a
percepção de que o país conta com a liderança de um estadista para manter sua
democracia e defender sua soberania perante afrontas imperialistas.
A
despeito da pragmática aproximação com Donald Trump e independentemente do
resultado da “conversa” que acontecerá nos próximos dias, Lula passou ao mundo
um recado na direção da igualdade, da paz, do desenvolvimento, do
multilateralismo, da preservação ambiental, valores só contestados por tiranos
e negacionistas.
Paralelamente,
a farra arruaceira de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos está com os dias
contados. Nem poderia ser diferente, já que seu desprezo por suas obrigações
legislativas e sua pretensão de influenciar o governo americano saturaram a
todos, além de portarem alto potencial de prejudicar o próprio pai. Em breve, e
em conformidade com os ritos processuais devidos, Bananinha terá de se
defrontar com o Judiciário que tentou pintar como ditatorial e violador de
direitos humanos.
Tantos
tiros n’água, cujas intenções sofrem inequívocos golpes da população
apreciadora da democracia, levaram o governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, a manifestar sua intenção de permanecer no Palácio dos Bandeirantes. O
Palácio do Planalto que espere um momento em que a direita cometa menos
burrices estratégicas.
O
cenário mostra que as instituições brasileiras funcionam, apesar de uma delas –
o Congresso Nacional – ainda estar sujeita a fisiologistas profissionais. Por
ora, vamos de democracia.
• Paulo Moreira Leite: Ruas garantiram
vitória histórica no Senado
Projeto
que pretendia funcionar como grande barreira de proteção à truculência
bolsonarista, a PEC da Blindagem foi arquivada em decisão unânime da Comissão
de Constituição e Justiça do Senado Federal.
Repleta
de casuísmos autoritários, em um texto legal que pretendia oferecer a
impunidade garantida à extrema-direita em criminosa atividade no país, a
decisão possui uma relevância óbvia.
Marca a
primeira derrota institucional do fascismo bolsonarista e abre caminho a novas
mudanças de curso na política brasileira daqui para a frente.
Ao
recusar o papel de “vaca de presépio” que lhe foi reservado pelo bolsonarismo,
o Senado mostrou um momento de sintonia absoluta com os anseios e necessidades
da maioria de brasileiras e brasileiros.
Decisão
de caráter histórico, que mandou para o lixo um projeto de regressão política
típico de ditaduras e regimes de força, o arquivamento foi tomado em uma
conjuntura bem específica.
Poucos
dias depois de as ruas e avenidas de grandes cidades do país terem sido
ocupadas por uma massa de trabalhadores, donas de casa e estudantes que,
enfrentando um ambiente de hostilidade evidente, fez questão de afirmar seu
compromisso com a democracia e as liberdades.
Ao ir
às ruas para exigir seus direitos, o povo brasileiro lembrou uma conhecida
lição política — a ideia de que a mobilização popular funciona como instrumento
indispensável para abrir as portas da história e reconstruir um regime de
liberdades e democracia, tão necessário ao bem-estar e ao desenvolvimento do
país.
Alguma
dúvida?
• Direita fala em desmoralização e cobra
de Hugo Motta compromisso com anistia
Em
reunião com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), vice-líderes
da oposição externaram ao deputado paraibano a insatisfação com os últimos
acontecimentos, em especial a derrubada da PEC da Blindagem pelo Senado e a
indicação de Paulinho da Força como relator do PL da anistia.
Segundo
relatos, os deputados reclamaram da escolha do relator para a matéria que é,
hoje, a principal aposta da direita para tentar salvar Jair Bolsonaro da
prisão. Sob Paulinho, a tendência é que o texto seja elaborado de forma a
reduzir as penas, em vez de perdoar os envolvidos na trama golpista.
Além
disso, classificaram como “desmoralização” a repercussão da PEC da Blindagem no
Senado, que foi rejeitada por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) e arquivada, nesta quarta-feira, pelo presidente da Casa, Davi
Alcolumbre. Para esses deputados, a Câmara se expôs ao aprovar a matéria
politicamente indigesta, embora Hugo Motta tenha dito reservadamente que havia
o compromisso de Alcolumbre em defender a PEC.
Os
deputados, ainda assim, garantem que, se o tema voltasse a ser discutido,
votariam “mil vezes sim”. A insistência em defender a matéria se dá em um
movimento anti-Supremo, uma vez que, para a direita, a proposta tem como
objetivo proteger os parlamentares dos supostos excessos da Corte.
• Motim de agosto mexeu na química da
direita e encolheu o fascismo. Por Moisés Mendes
O plano
do motim de agosto na Câmara dos Deputados era considerado tão perfeito quanto
o da ocupação dos três Poderes em 8 de janeiro. A política brasileira iria
produzir mais uma obra de arte.
O
primeiro impacto seria provocado pelo caos, como o planejado na invasão de
Brasília. A invasão da capital, sem grandes líderes em terra, foi comandada por
Fátima de Tubarão.
O motim
que levaria à anistia de Bolsonaro e à aprovação da PEC da Bandidagem seria
liderado pelos deputados Coronel Zucco, Marcel van Hattem, Zé Trovão e Sóstenes
Cavalcante.
Ali,
naquele dia 6 de agosto, com Hugo Motta imobilizado pelos amotinados, a linha
de frente da extrema direita no Congresso avançou, mas logo depois iria ver
seus homens tombando.
Foi
depois daquela cena que o fascismo começou a se abalar e Tarcísio de Freitas
ficou sem saber se avançava ou recuava. E ninguém sabe dizer direito hoje qual
é o tamanho do bolsonarismo. Mas a certeza é a de que se abateu.
O motim
tinha um plano genial. Na reação às derrotas acumuladas na política e no
Judiciário, os revoltados finalmente eliminariam as diferenças que ainda
restavam entre a velha direita e a nova extrema direita.
Com
Bolsonaro doente e politicamente morto, e com os militares contidos, Câmara e
Senado precisavam reagir. Alguém gritou “eureka”, e Van Hattem saltou e
sentou-se na cadeira de Motta, no gesto que deveria ficar para a história.
A
cadeira de Motta era o cavalo branco de Van Hattem. Chegara a hora de não só
acordar e fidelizar a base fascista, mas de fazer com que o velho coronelismo
do centrão e as novas milícias golpistas se misturassem em nome do bem maior: a
proteção de todos diante dos avanços do Supremo.
A
direita que ainda pretendia ser apenas direita, o centrão, o bolsonarismo, tudo
seria a mesma coisa. Assim, eles dobraram Motta, fizeram com que as pautas da
bandidagem e da anistia avançassem e comemoraram a vitória na batalha seguinte.
A PEC que os protegia foi aprovada na Câmara.
Mas a
classe média decidiu voltar às ruas, o Senado se assustou, a PEC foi derrubada
na câmara alta e o sentimento hoje é de que o avanço com o motim teve mais
perdas do que conquistas de terreno.
O
bolsonarismo pode até conseguir a anistia com o disfarce de dosimetria para
Bolsonaro. Mas nada mais será como antes, diante da pergunta que eles mesmos
fazem em voz baixa: qual é o tamanho do fascismo hoje?
Que não
se meça apenas o tamanho da atual força parlamentar, mas dessa força com
perspectiva eleitoral. Qual será o tamanho da extrema direita na eleição de
2026, considerando-se não só a disputa pela presidência, mas principalmente
pelo Congresso?
Os
danos do motim de agosto, combinados com os desatinos de Eduardo Bolsonaro e de
Trump, o vacilo de Tarcísio, os negócios da Faria Lima com o PCC e a certeza de
que as tropas do bolsonarismo estão abaladas – tudo isso cria um cenário de
incógnitas.
Um dos
principais resultados do motim é que a velha direita parece tentar se
desconectar da orientação de rumo dada pelo que restava do bolsonarismo. Já não
sabem o que Tarcísio significa e se tem coragem para seguir em frente.
Não
sabem o que será de todos eles com Bolsonaro preso e sem um nome que enfrente
Lula. Mas sabem que a Polícia Federal está avançando em todas as frentes.
Ficaram
sabendo que Flávio Dino não se submete a ameaças. E que ainda falta saber o que
26 réus do golpe têm a dizer, depois da condenação de oito integrantes do
núcleo crucial.
Os
líderes do motim voltariam a provocar as ruas? Teriam coragem depois de terem
ajudado a desfazer a química que vinha unindo Valdemar Costa Neto, Bolsonaro,
Gilberto Kassab, Sóstenes, Ciro Nogueira e Malafaia?
Ainda
são os mesmos os interesses de quem apenas está enredado nas emendas e dos
criminosos que pretendiam misturar centrão, milícias e PCC dentro do Congresso?
Podem
ser, mas são interesses que estão mais confusos e diluídos. O motim esculhambou
o fascismo da prosperidade.
• Eduardo Bolsonaro ameaça Valdemar com
debandada do PL
O
deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente nos Estados Unidos, tem
demonstrado crescente insatisfação com o PL. A possibilidade de deixar a sigla
vem sendo cogitada por ele há meses e, segundo relatos, o parlamentar considera
levar consigo três ou quatro aliados que também estariam descontentes com a
condução interna do partido, informa Lauro Jardim, do jornal O Globo.
A crise
se intensificou após declarações de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, em
entrevista à Folha de S. Paulo. O dirigente afirmou que Eduardo poderia “ajudar
a matar o pai de vez” caso insistisse em disputar a Presidência sem o aval de
Jair Bolsonaro (PL). A fala provocou reação imediata do filho do ex-presidente.
Em resposta à colunista Bela Megale, Eduardo classificou a declaração como
“canalhice”:
“Dizer
que um filho ajudaria a matar o próprio pai, se ele não aceitar as chantagens
que até seus aliados mais próximos estão fazendo com ele, é de uma canalhice
que não esperava nem mesmo de você, Valdemar”, afirmou o parlamentar.
O
embate público não parou aí. Valdemar retrucou dizendo que “canalhice é xingar
o próprio pai e pensar que tem votos”, ressaltando que, ao contrário de
Eduardo, ele respeita profundamente Jair Bolsonaro.
Nas
redes sociais, o deputado intensificou o tom. Em uma publicação, escreveu: “não
abdiquei de tudo para trocar afagos mentirosos com víboras. Não lutei contra
tiranos insanos para me sujeitar a esquemas espúrios”. Para aliados, o recado
foi claramente direcionado à liderança do PL.
A
disputa entre Eduardo Bolsonaro e Valdemar Costa Neto expõe o racha interno no
partido e levanta dúvidas sobre a unidade da legenda para as próximas disputas
eleitorais. O risco de uma debandada de parlamentares ligados ao filho de Jair
Bolsonaro adiciona ainda mais tensão ao cenário político do PL.
<><>
Eduardo Bolsonaro recusa apoio financeiro do PL e rompe com Valdemar Costa Neto
grupo político de Eduardo Bolsonaro (PL-SP),
que acompanha o deputado em sua atuação nos Estados Unidos para impor sanções
ao Brasil e a integrantes do governo brasileiro, reforçou o rompimento com o
presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O recado foi dado em uma reunião nesta
quinta-feira (25), em Miami, com a presença do líder do partido na Câmara,
Sóstenes Cavalcante (RJ).
De
acordo com a coluna da jornalista Bela
Megale, de O Globo, os aliados de Eduardo Bolsonaro reagiram com irritação às
declarações de Valdemar, que havia dito que o deputado entrou em rota de
colisão com o comando do PL por exigir recursos para manter sua atuação no
exterior. Em mensagem direta ao comando do PL, o grupo político de Eduardo
Bolsonaro destacou que não pretende se “vender” ao presidente da legenda.
>>>
Reunião em Miami acirra a crise interna
Durante
o encontro, Sóstenes questionou o grupo de Eduardo se desejava algum tipo de
suporte financeiro. A resposta foi imediata: não aceitam ajuda de Valdemar e
querem apenas “distância”.
Esse
tema já foi motivo de atrito no passado, mas, diante do agravamento da crise e
dos planos de Eduardo em deixar o partido, a decisão foi de recusar qualquer
tipo de apoio.
>>>
Bastidores revelam disputa por verbas
Ainda
conforme a reportagem, Valdemar teria dito a aliados que a questão de Eduardo
seria financeira. O presidente do PL teria mencionado ainda que o deputado
reclama da desigualdade na distribuição de verbas partidárias, em comparação ao
apoio recebido pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, madrasta do
parlamentar.
A
publicação aumentou a tensão e provocou nova reação do grupo de Eduardo, que
fez questão de ressaltar que sua atuação nos Estados Unidos tem sido feita sem
a ajuda de Valdemar.
• Pesquisa Ipespe pressiona Tarcísio a
rever candidatura em 2026
Pesquisa
do Ipespe, contratada pela Faria Lima e pela velha mídia, mexeu com os planos
do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), para 2026.
Os números são favoráveis ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
indicam risco para quem tentar enfrentá-lo no pleito presidencial. Nos
bastidores, aliados do paulista já admitem que a reeleição no estado pode ser
uma opção mais segura do que se aventurar no Planalto.
Segundo
o levantamento, realizado entre 19 e 22 de setembro, metade dos entrevistados
(50%) aprova o governo Lula, avanço de sete pontos em relação à pesquisa
anterior (43%). A estratificação mostra que a aprovação é quase unânime entre
eleitores de esquerda (95%), mas também supera a desaprovação entre eleitores
de centro (49% positivos contra 45% negativos). Entre a classe média, a gestão
petista tem 51% de aprovação contra 46% de reprovação.
O
resultado reforça a resiliência de Lula, mesmo sob o fogo cruzado da oposição e
dos oligarcas financeiros. A Pesquisa Pulso Brasil Ipespe ouviu 2.500 pessoas
em todo o país, a partir de 16 anos, e mediu também a percepção da população
sobre os Poderes e o impacto dos noticiários.
Entretanto,
a pesquisa ainda não refletiu o impacto do discurso de Lula na abertura da
Assembleia Geral da ONU nem a declaração do presidente dos EUA, Donald Trump,
de que teve “química” com o petista. Esse gesto público funcionou como um balde
de água fria nos bolsonaristas e em Tarcísio, que apostavam na escalada da
tensão diplomática.
A
leitura política é clara: Tarcísio estaria diante de um dilema, trocar o
“certo” (reeleição em São Paulo) pelo “duvidoso” (a disputa presidencial contra
Lula). A Faria Lima, que financia levantamentos e sustenta narrativas na mídia
corporativa, vê com preocupação a consolidação do petista como favorito em
2026.
Pesquisas
são apenas termômetros do momento, não sentenças definitivas. Ainda assim, ao
pressionar adversários e reforçar a força de Lula, o levantamento do Ipespe
ganha peso na disputa narrativa. Resta a Tarcísio decidir se arrisca no
Planalto ou se se agarra à reeleição em São Paulo.
Fonte:
Brasil 247

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