sábado, 27 de setembro de 2025

Paulo Henrique Arantes: Anistia subiu no telhado, Lula subiu nas pesquisas

O projeto de lei outrora batizado “da anistia” e depois renomeado “da dosimetria” entra em viés de baixa, como diriam os financistas. Pegou muito mal a chantagem feita pelo relator Paulinho da Força, condicionando a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais mensais à chancela do vergonhoso benefício aos golpistas. Agora, é viva a possibilidade de o tal PL nem sequer ir a votação.

A reprovação do Congresso pela população é de 70% segundo pesquisa Ipespe. O índice deve-se a aberrações como a PEC da Blindagem, esta devidamente enterrada, e a figuras como Paulinho da Força, Hugo Motta e tantas outras. O povo as elegeu, mas tudo tem limite. O mesmo instituto registrou aumento da aprovação do governo Lula, para 50%.

O brilho do presidente do Brasil na Assembleia da ONU, cuja fala repercutiu positivamente menos na imprensa brasileira do que na mundial, reforça a percepção de que o país conta com a liderança de um estadista para manter sua democracia e defender sua soberania perante afrontas imperialistas.

A despeito da pragmática aproximação com Donald Trump e independentemente do resultado da “conversa” que acontecerá nos próximos dias, Lula passou ao mundo um recado na direção da igualdade, da paz, do desenvolvimento, do multilateralismo, da preservação ambiental, valores só contestados por tiranos e negacionistas.

Paralelamente, a farra arruaceira de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos está com os dias contados. Nem poderia ser diferente, já que seu desprezo por suas obrigações legislativas e sua pretensão de influenciar o governo americano saturaram a todos, além de portarem alto potencial de prejudicar o próprio pai. Em breve, e em conformidade com os ritos processuais devidos, Bananinha terá de se defrontar com o Judiciário que tentou pintar como ditatorial e violador de direitos humanos.

Tantos tiros n’água, cujas intenções sofrem inequívocos golpes da população apreciadora da democracia, levaram o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a manifestar sua intenção de permanecer no Palácio dos Bandeirantes. O Palácio do Planalto que espere um momento em que a direita cometa menos burrices estratégicas.

O cenário mostra que as instituições brasileiras funcionam, apesar de uma delas – o Congresso Nacional – ainda estar sujeita a fisiologistas profissionais. Por ora, vamos de democracia.

•        Paulo Moreira Leite: Ruas garantiram vitória histórica no Senado

Projeto que pretendia funcionar como grande barreira de proteção à truculência bolsonarista, a PEC da Blindagem foi arquivada em decisão unânime da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal.

Repleta de casuísmos autoritários, em um texto legal que pretendia oferecer a impunidade garantida à extrema-direita em criminosa atividade no país, a decisão possui uma relevância óbvia.

Marca a primeira derrota institucional do fascismo bolsonarista e abre caminho a novas mudanças de curso na política brasileira daqui para a frente.

Ao recusar o papel de “vaca de presépio” que lhe foi reservado pelo bolsonarismo, o Senado mostrou um momento de sintonia absoluta com os anseios e necessidades da maioria de brasileiras e brasileiros.

Decisão de caráter histórico, que mandou para o lixo um projeto de regressão política típico de ditaduras e regimes de força, o arquivamento foi tomado em uma conjuntura bem específica.

Poucos dias depois de as ruas e avenidas de grandes cidades do país terem sido ocupadas por uma massa de trabalhadores, donas de casa e estudantes que, enfrentando um ambiente de hostilidade evidente, fez questão de afirmar seu compromisso com a democracia e as liberdades.

Ao ir às ruas para exigir seus direitos, o povo brasileiro lembrou uma conhecida lição política — a ideia de que a mobilização popular funciona como instrumento indispensável para abrir as portas da história e reconstruir um regime de liberdades e democracia, tão necessário ao bem-estar e ao desenvolvimento do país.

Alguma dúvida?

•        Direita fala em desmoralização e cobra de Hugo Motta compromisso com anistia

Em reunião com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), vice-líderes da oposição externaram ao deputado paraibano a insatisfação com os últimos acontecimentos, em especial a derrubada da PEC da Blindagem pelo Senado e a indicação de Paulinho da Força como relator do PL da anistia.

Segundo relatos, os deputados reclamaram da escolha do relator para a matéria que é, hoje, a principal aposta da direita para tentar salvar Jair Bolsonaro da prisão. Sob Paulinho, a tendência é que o texto seja elaborado de forma a reduzir as penas, em vez de perdoar os envolvidos na trama golpista.

Além disso, classificaram como “desmoralização” a repercussão da PEC da Blindagem no Senado, que foi rejeitada por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e arquivada, nesta quarta-feira, pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre. Para esses deputados, a Câmara se expôs ao aprovar a matéria politicamente indigesta, embora Hugo Motta tenha dito reservadamente que havia o compromisso de Alcolumbre em defender a PEC.

Os deputados, ainda assim, garantem que, se o tema voltasse a ser discutido, votariam “mil vezes sim”. A insistência em defender a matéria se dá em um movimento anti-Supremo, uma vez que, para a direita, a proposta tem como objetivo proteger os parlamentares dos supostos excessos da Corte.

•        Motim de agosto mexeu na química da direita e encolheu o fascismo. Por Moisés Mendes

O plano do motim de agosto na Câmara dos Deputados era considerado tão perfeito quanto o da ocupação dos três Poderes em 8 de janeiro. A política brasileira iria produzir mais uma obra de arte.

O primeiro impacto seria provocado pelo caos, como o planejado na invasão de Brasília. A invasão da capital, sem grandes líderes em terra, foi comandada por Fátima de Tubarão.

O motim que levaria à anistia de Bolsonaro e à aprovação da PEC da Bandidagem seria liderado pelos deputados Coronel Zucco, Marcel van Hattem, Zé Trovão e Sóstenes Cavalcante.

Ali, naquele dia 6 de agosto, com Hugo Motta imobilizado pelos amotinados, a linha de frente da extrema direita no Congresso avançou, mas logo depois iria ver seus homens tombando.

Foi depois daquela cena que o fascismo começou a se abalar e Tarcísio de Freitas ficou sem saber se avançava ou recuava. E ninguém sabe dizer direito hoje qual é o tamanho do bolsonarismo. Mas a certeza é a de que se abateu.

O motim tinha um plano genial. Na reação às derrotas acumuladas na política e no Judiciário, os revoltados finalmente eliminariam as diferenças que ainda restavam entre a velha direita e a nova extrema direita.

Com Bolsonaro doente e politicamente morto, e com os militares contidos, Câmara e Senado precisavam reagir. Alguém gritou “eureka”, e Van Hattem saltou e sentou-se na cadeira de Motta, no gesto que deveria ficar para a história.

A cadeira de Motta era o cavalo branco de Van Hattem. Chegara a hora de não só acordar e fidelizar a base fascista, mas de fazer com que o velho coronelismo do centrão e as novas milícias golpistas se misturassem em nome do bem maior: a proteção de todos diante dos avanços do Supremo.

A direita que ainda pretendia ser apenas direita, o centrão, o bolsonarismo, tudo seria a mesma coisa. Assim, eles dobraram Motta, fizeram com que as pautas da bandidagem e da anistia avançassem e comemoraram a vitória na batalha seguinte. A PEC que os protegia foi aprovada na Câmara.

Mas a classe média decidiu voltar às ruas, o Senado se assustou, a PEC foi derrubada na câmara alta e o sentimento hoje é de que o avanço com o motim teve mais perdas do que conquistas de terreno.

O bolsonarismo pode até conseguir a anistia com o disfarce de dosimetria para Bolsonaro. Mas nada mais será como antes, diante da pergunta que eles mesmos fazem em voz baixa: qual é o tamanho do fascismo hoje?

Que não se meça apenas o tamanho da atual força parlamentar, mas dessa força com perspectiva eleitoral. Qual será o tamanho da extrema direita na eleição de 2026, considerando-se não só a disputa pela presidência, mas principalmente pelo Congresso?

Os danos do motim de agosto, combinados com os desatinos de Eduardo Bolsonaro e de Trump, o vacilo de Tarcísio, os negócios da Faria Lima com o PCC e a certeza de que as tropas do bolsonarismo estão abaladas – tudo isso cria um cenário de incógnitas.

Um dos principais resultados do motim é que a velha direita parece tentar se desconectar da orientação de rumo dada pelo que restava do bolsonarismo. Já não sabem o que Tarcísio significa e se tem coragem para seguir em frente.

Não sabem o que será de todos eles com Bolsonaro preso e sem um nome que enfrente Lula. Mas sabem que a Polícia Federal está avançando em todas as frentes.

Ficaram sabendo que Flávio Dino não se submete a ameaças. E que ainda falta saber o que 26 réus do golpe têm a dizer, depois da condenação de oito integrantes do núcleo crucial.

Os líderes do motim voltariam a provocar as ruas? Teriam coragem depois de terem ajudado a desfazer a química que vinha unindo Valdemar Costa Neto, Bolsonaro, Gilberto Kassab, Sóstenes, Ciro Nogueira e Malafaia?

Ainda são os mesmos os interesses de quem apenas está enredado nas emendas e dos criminosos que pretendiam misturar centrão, milícias e PCC dentro do Congresso?

Podem ser, mas são interesses que estão mais confusos e diluídos. O motim esculhambou o fascismo da prosperidade.

•        Eduardo Bolsonaro ameaça Valdemar com debandada do PL

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente nos Estados Unidos, tem demonstrado crescente insatisfação com o PL. A possibilidade de deixar a sigla vem sendo cogitada por ele há meses e, segundo relatos, o parlamentar considera levar consigo três ou quatro aliados que também estariam descontentes com a condução interna do partido, informa Lauro Jardim, do jornal O Globo.

A crise se intensificou após declarações de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, em entrevista à Folha de S. Paulo. O dirigente afirmou que Eduardo poderia “ajudar a matar o pai de vez” caso insistisse em disputar a Presidência sem o aval de Jair Bolsonaro (PL). A fala provocou reação imediata do filho do ex-presidente. Em resposta à colunista Bela Megale, Eduardo classificou a declaração como “canalhice”:

“Dizer que um filho ajudaria a matar o próprio pai, se ele não aceitar as chantagens que até seus aliados mais próximos estão fazendo com ele, é de uma canalhice que não esperava nem mesmo de você, Valdemar”, afirmou o parlamentar.

O embate público não parou aí. Valdemar retrucou dizendo que “canalhice é xingar o próprio pai e pensar que tem votos”, ressaltando que, ao contrário de Eduardo, ele respeita profundamente Jair Bolsonaro.

Nas redes sociais, o deputado intensificou o tom. Em uma publicação, escreveu: “não abdiquei de tudo para trocar afagos mentirosos com víboras. Não lutei contra tiranos insanos para me sujeitar a esquemas espúrios”. Para aliados, o recado foi claramente direcionado à liderança do PL.

A disputa entre Eduardo Bolsonaro e Valdemar Costa Neto expõe o racha interno no partido e levanta dúvidas sobre a unidade da legenda para as próximas disputas eleitorais. O risco de uma debandada de parlamentares ligados ao filho de Jair Bolsonaro adiciona ainda mais tensão ao cenário político do PL.

<><> Eduardo Bolsonaro recusa apoio financeiro do PL e rompe com Valdemar Costa Neto

 grupo político de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que acompanha o deputado em sua atuação nos Estados Unidos para impor sanções ao Brasil e a integrantes do governo brasileiro, reforçou o rompimento com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O recado foi dado em uma reunião nesta quinta-feira (25), em Miami, com a presença do líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ).

De acordo com  a coluna da jornalista Bela Megale, de O Globo, os aliados de Eduardo Bolsonaro reagiram com irritação às declarações de Valdemar, que havia dito que o deputado entrou em rota de colisão com o comando do PL por exigir recursos para manter sua atuação no exterior. Em mensagem direta ao comando do PL, o grupo político de Eduardo Bolsonaro destacou que não pretende se “vender” ao presidente da legenda.

>>> Reunião em Miami acirra a crise interna

Durante o encontro, Sóstenes questionou o grupo de Eduardo se desejava algum tipo de suporte financeiro. A resposta foi imediata: não aceitam ajuda de Valdemar e querem apenas “distância”.

Esse tema já foi motivo de atrito no passado, mas, diante do agravamento da crise e dos planos de Eduardo em deixar o partido, a decisão foi de recusar qualquer tipo de apoio.

>>> Bastidores revelam disputa por verbas

Ainda conforme a reportagem, Valdemar teria dito a aliados que a questão de Eduardo seria financeira. O presidente do PL teria mencionado ainda que o deputado reclama da desigualdade na distribuição de verbas partidárias, em comparação ao apoio recebido pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, madrasta do parlamentar. 

A publicação aumentou a tensão e provocou nova reação do grupo de Eduardo, que fez questão de ressaltar que sua atuação nos Estados Unidos tem sido feita sem a ajuda de Valdemar.

•        Pesquisa Ipespe pressiona Tarcísio a rever candidatura em 2026

Pesquisa do Ipespe, contratada pela Faria Lima e pela velha mídia, mexeu com os planos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), para 2026. Os números são favoráveis ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e indicam risco para quem tentar enfrentá-lo no pleito presidencial. Nos bastidores, aliados do paulista já admitem que a reeleição no estado pode ser uma opção mais segura do que se aventurar no Planalto.

Segundo o levantamento, realizado entre 19 e 22 de setembro, metade dos entrevistados (50%) aprova o governo Lula, avanço de sete pontos em relação à pesquisa anterior (43%). A estratificação mostra que a aprovação é quase unânime entre eleitores de esquerda (95%), mas também supera a desaprovação entre eleitores de centro (49% positivos contra 45% negativos). Entre a classe média, a gestão petista tem 51% de aprovação contra 46% de reprovação.

O resultado reforça a resiliência de Lula, mesmo sob o fogo cruzado da oposição e dos oligarcas financeiros. A Pesquisa Pulso Brasil Ipespe ouviu 2.500 pessoas em todo o país, a partir de 16 anos, e mediu também a percepção da população sobre os Poderes e o impacto dos noticiários.

Entretanto, a pesquisa ainda não refletiu o impacto do discurso de Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU nem a declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, de que teve “química” com o petista. Esse gesto público funcionou como um balde de água fria nos bolsonaristas e em Tarcísio, que apostavam na escalada da tensão diplomática.

A leitura política é clara: Tarcísio estaria diante de um dilema, trocar o “certo” (reeleição em São Paulo) pelo “duvidoso” (a disputa presidencial contra Lula). A Faria Lima, que financia levantamentos e sustenta narrativas na mídia corporativa, vê com preocupação a consolidação do petista como favorito em 2026.

Pesquisas são apenas termômetros do momento, não sentenças definitivas. Ainda assim, ao pressionar adversários e reforçar a força de Lula, o levantamento do Ipespe ganha peso na disputa narrativa. Resta a Tarcísio decidir se arrisca no Planalto ou se se agarra à reeleição em São Paulo.

 

Fonte: Brasil 247

 

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