Testemunha falsa, delegado afastado e
delação: as idas e vindas do caso Marielle até a prisão dos irmãos Brazão
A Polícia Federal
prendeu neste domingo (24/3) os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, suspeitos
de terem sido os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu
motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.
Também foi preso
Rivaldo Barbosa, que havia assumido a chefia da Polícia Civil fluminense na
véspera do crime - e agora é suspeito de ter atrapalhado as investigações. A
BBC News Brasil não conseguiu contato com a defesa de Barbosa.
O advogado Ubiratan
Guedes, defensor do conselheiro do TCE do Rio Domingos Brazão, negou, na manhã
deste domingo, envolvimento de seu cliente nos homicídios.
As prisões dos três
ocorreram pouco após a homologação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da
delação premiada de Ronnie Lessa, ex-PM que confessou ter executado o crime.
Integrantes de um dos
clãs que dominam a política fluminense há décadas, os irmãos Brazão são
respectivamente conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e deputado
federal pelo União Brasil.
A base eleitoral da
família – Domingos também manteve carreira como parlamentar - é na zona oeste
carioca, disputada à bala por milicianos e traficantes nos últimos anos.
Foi a menção a
Chiquinho que teria levado o caso para o Supremo, corte onde parlamentares
federais têm prerrogativa de foro (processo e julgamento). Isso aconteceu
depois que, por iniciativa do então ministro da Justiça, Flávio Dino, a Polícia
Federal incorporou-se às investigações.
Segundo Lessa - o
qual, segundo a Polícia Civil, havia sido excelente atirador do Batalhão de
Operações Especiais e acabou levando para o crime o seu talento, tornando-se um
assassino profissional -, o assassinato de Marielle foi motivado por disputas
de terras na zona oeste.
Segundo uma fonte da
PF ouvida pela BBC News Brasil, a morte teria sido encomendada por conta da
resistência feita por Marielle e pela bancada do PSOL, o partido da então
vereadora, a um projeto de lei que regularizaria condomínios na zona oeste do
Rio de Janeiro.
A região é uma área de
fronteira urbana. É cheia de terrenos cuja propriedade é contestada e com
ocupação acelerada nas últimas décadas, com especulação imobiliária e
construções ilegais, promovidas por quadrilhas de milicianos e traficantes.
Domingos Brazão já foi
investigado por supostamente tentar atrapalhar as investigações do duplo
homicídio, mas foi inocentado. O nome de Chiquinho não tinha sido mencionado
antes nas apurações, pelo menos publicamente.
Ao longo dos anos, o
caso foi recheado de idas e vindas, incluindo uma testemunha falsa que teria
sido "plantada" para tentar incriminar um chefe de milícia no Rio,
remoção de um dos delegados encarregados pelo caso e surgimento de diversos nomes
de alguma forma implicados na questão.
A seguir, a BBC News
Brasil detalha pontos desde o crime até o avanço das investigações, que
culminaram na prisão dos irmãos Brazão.
>>>> As
vítimas
• Marielle Franco, socióloga e vereadora
pelo PSOL
Marielle Francisco da
Silva era vereadora desde 1 de janeiro de 2017. Cumpria seu primeiro mandato,
eleita pelo PSOL em coligação com o PCB em 2016 com 46.502 votos. Recebeu três
tiros na cabeça e um no pescoço, aos 38 anos, na rua Joaquim Palhares, no Estácio,
região central do Rio de Janeiro, depois das 21h de 14 de março de 2018.
O atirador estava em
um Cobalt prata, que deixou o local do crime em alta velocidade e nunca foi
encontrado. O veículo, segundo apurou a Polícia, foi enviado pelos criminosos
para desmonte. Graduada em Ciências Sociais pela PUC do Rio, tinha mestrado em administração
pública pela Universidade Federal Fluminense, com tese crítica às Unidades de
Polícia Pacificadoras (UPPs).
Negra e lésbica,
nascida e criada no Complexo da Maré, um conjunto de favelas na zona norte
carioca, militava contra a violência policial, pelos direitos humanos, em
defesa da comunidade LGBTQIA+, pelo aborto legal e contra a discriminação
racial. Foi, por dez anos, assessora do então deputado estadual Marcelo Freixo
(PSOL), criador da CPI das Milícias, em 2007.
• Anderson Gomes, motorista
Anderson Pedro Mathias
Gomes tinha 39 anos e não era o motorista oficial de Marielle. Desempregado, na
noite do crime que também o mataria ele fazia um bico ao volante do Agile que
servia à vereadora. Havia um mês trabalhava para a Marielle, substituindo o
titular, que estava de licença médica. Era casado e pai de um menino, que tinha
um ano e dez meses quando seu pai foi assassinado.
• Fernanda Chaves, assessora
Era chefe de gabinete
da vereadora e sobreviveu sem ferimentos graves. Estava no Agile conduzido por
Anderson, sentada à esquerda de Marielle, no banco traseiro. Não foi atingida,
porque os disparos foram dados na diagonal, concentrados na parlamentar, atingindo
Anderson por estar na mesma linha reta.
>>>> Os
mandantes, segundo a polícia
• Domingos Brazão
Ex-deputado estadual e
empresário do ramo de combustíveis, Domingos Inácio Brazão, de 58 anos, é
carioca e venceu sua primeira eleição em 1996, quando se tornou vereador na
capital fluminense.
Sua base eleitoral é a
zona oeste carioca, berço das milícias no Estado. Em 2000, concorreu a
prefeito, mas ficou em oitavo lugar - sua atuação sempre foi regional. Teve
mais cinco mandatos, como deputado estadual. Interrompeu o quinto em 2015, ao
ser eleito conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). integrou, como
político, o PL, o PT do B e o PMDB (hoje MDB).
Polêmico, Brazão teve
seu nome incluído no Relatório Final da CPI das Milícias da Assembleia
Legislativa do Rio, em 2007. Foi citado no depoimento do vereador Josinaldo
Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras, como político que fizera
campanha na comunidade.
Nadinho confirmou que
a favela era dominada por uma milícia. "Toda criança de 10, 12 anos em Rio
das Pedras, se você perguntar, vai responder que existe milícia", disse.
Aquela teria sido uma das primeiras quadrilhas de policiais a dominar criminosamente
um território no Rio.
O hoje conselheiro do
Tribunal de Contas sempre negou as acusações de suposto envolvimento em crimes
e irregularidades. Atribuía-as a disputas políticas e à briga por votos e
redutos eleitorais.
Em entrevista a O
Globo em janeiro, o conselheiro afirmou ser inocente e não ter ligação com o
caso Marielle: "Não conheci essa gente, graças a Deus".
O advogado Ubiratan
Guedes, defensor de Domingos Brazão, também negou, na manhã deste domingo,
envolvimento de seu cliente nos homicídios de Marielle Franco e Anderson Gomes.
“(Domingos Brazão) não
tem nenhuma ligação com a Marielle, agora cabe à defesa provar que ele é
inocente”, afirmou o advogado, ao chegar à sede da Superintendência da Polícia
Federal no Rio. “Estamos surpresos.”
Brazão já admitira,
porém, já ter matado um homem. Contou o episódio por causa de bate-boca com a
deputada Cidinha Campos (PDT), no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro, em junho de 2014. A parlamentar acusou o adversário de homicídio.
"Matei, sim, uma
pessoa", disse Brazão, que também reconheceu ter sido preso por causa do
crime, mas alegou ter sido absolvido, segundo o jornal O Dia. "Mas isso
tem mais de 30 anos, quando eu tinha 22 anos. Foi um marginal que tinha ido à
minha rua, na minha casa, no dia do meu aniversário, afrontar a mim e a minha
família. A Justiça me deu razão."
Brazão também negou
outra acusação de Cidinha, a de que a ameaçara dizendo à deputada que "já
matara vagabundo, vagabunda, não, mas tinha vontade". A deputada fizera um
dossiê contra ele e outro parlamentar. Acusou-os de envolvimento com a máfia
dos combustíveis e pediu proteção, alegando temer por sua vida. Brazão disse
que a denúncia tinha fins eleitorais. O processo foi arquivado.
O mandato de Brazão na
Alerj foi cassado em 2011 pela Justiça Eleitoral. A acusação era de compra de
votos no pleito de 2010, em urnas da zona oeste. Não durou muito. Uma liminar
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lhe devolveu o lugar na Casa e na política.
Uma delação premiada
do ex-presidente do TCE Jonas Lopes de Carvalho Júnior levou à prisão
temporária Brazão e outros quatro conselheiros da Corte, além de um conselheiro
aposentado, em março de 2017. Na Operação Quinto do Ouro da Polícia Federal,
desdobramento local da Lava Jato, Lopes delatou um suposto esquema de propinas.
após ser acusado por empreiteiras de pedir propina.
Os presos, afastados
dos cargos, negaram envolvimento em irregularidades e foram soltos em abril de
2017. Brazão voltou a seu cargo no TCE, em março de 2023, por ordem da Justiça.
O nome de Brazão
circulou nas investigações sobre o homicídio de Marielle e Anderson desde o
início. O conselheiro depôs em junho de 2018, sob a suspeita de plantar
informações falsas para atrapalhar o inquérito. Negou essa acusação.
Em 2019, Brazão foi
denunciado pela Procuradoria Geral da República, com mais quatro pessoas, por
supostos crimes cometidos para atrapalhar as investigações, mas foi inocentado.
A pedido do MP estadual, que considerou superficiais as provas apresentadas pelo
MPF, a denúncia -que baixara do Superior Tribunal de Justiça para o Judiciário
fluminense - foi rejeitada em 2021. A ação foi definitivamente arquivada em
janeiro do ano passado.
Também foram
inocentados o delegado da PF Hélio Khristian Cunha de Almeida e o policial
federal aposentado Gilberto Ribeiro da Costa, assessor de Brazão no TCE-RJ.
Outros dois acusados, que já respondiam no Judiciário estadual pelos mesmos
crimes denunciados na esfera federal, continuaram a ser processados.
Brazão, agora foi
denunciado por Ronnie Lessa, que teve sua delação premiada homologada pelo STF,
como mandante do duplo homicídio, sempre negou envolvimento no crime. Em seu
primeiro depoimento, afirmou ter ouvido falar de Marielle duas vezes: quando foi
eleita, por ter sido a quinta mais votada; e quanto foi assassinada.
• Chiquinho Brazão
Irmão de Domingos,
Chiquinho Brazão é deputado federal pelo União Brasil e chegou a ser secretário
especial de Ação Comunitária da prefeitura do Rio de Janeiro.
Ele deixou o cargo
depois de o nome da sua família ter sido citado na delação de Elcio Queiroz,
ex-PM preso sob acusação de ter dirigido o carro usado no dia do assassinato.
Na quarta-feira (20),
Chiquinho havia negado envolvimento com o caso.
Foi a menção a
Chiquinho que teria levado o caso para o Supremo, corte onde parlamentares
federais têm prerrogativa de foro (processo e julgamento). Isso aconteceu
depois que, por iniciativa do então ministro da Justiça, Flávio Dino, a Polícia
Federal incorporou-se às investigações.
>>>> Os
assassinos, segundo a polícia
• Ronnie Lessa, PM inativo e expulso - fez
os disparos, está preso
Segundo sargento
reformado da PM, Ronnie Lessa é carioca do Méier, bairro do subúrbio carioca.
Em 1989, aos 19 anos, ingressou na Scuderie Detetive LeCoq, criada nos ano 60
em memória do policial civil Milton LeCoq, morto a tiros durante a perseguição
a um criminoso em Vila Isabel. A entidade é apontada como embrião dos
Esquadrões da Morte que agiram na ditadura. Depois do serviço militar
obrigatório no Exército, Lessa ingressou por concurso, em 1991, na Polícia
Militar do Rio de Janeiro, como soldado.
De 1993 a 1997, Lessa
integrou o Batalhão de Operações Especiais (Bope). Na unidade, era conhecido
por sua precisão como atirador, sua bravura em situações de combate e sua
habilidade e rapidez para montar e desmontar armas. Nunca fez, porém, o Curso
de Operações Especiais, indispensável para ser oficialmente um “caveira”.
Transferido, Lessa
passou por diferentes unidades da corporação. Apesar de episódios de desvio de
conduta, nunca sofreu punição e foi promovido a cabo e a terceiro sargento.
Transformado em 1999 em “adido” (emprestado) à Polícia Civil, trabalhou em
delegacias e tornou-se segurança da contravenção.
O policial sofreu um
atentado em 2009, quando a explosão de uma bomba levou à amputação de parte da
sua perna esquerda. Também foi preso pela Polícia Federal em 2011, na Operação
Guilhotina. A ação fechou a Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE)
e prendeu policiais por desvio de material apreendido e por dar proteção a
caça-níqueis, negócio dos bicheiros.
Mas Lessa não virou
réu no processo da Guilhotina. Foi reformado (aposentado) em 2012. De acordo
com policiais, aproximou-se de milicianos e do Escritório do Crime, consórcio
de matadores profissionais que age no Estado, atuando no negócio de assassinatos
por encomenda.
Um dos investigados em
2022 na Operação Calígula, sobre jogos de azar, Lessa já tem pelo menos três
sentenças desfavoráveis da Justiça.
Uma o condenou a cinco
anos de cadeia por tráfico de armas (quebra-chamas para fuzil) no Aeroporto
Internacional do Galeão. Outra lhe deu pena de 13 anos e seis meses de prisão,
por comércio ilegal de armamento (117 fuzis desmontados, apreendidos no Méier).
O sargento reformado
também cumpre cinco anos de cárcere por ocultar armas supostamente usadas para
matar Marielle e Anderson. O armamento foi jogado no mar, para apagar provas do
caso.
Lessa responde ainda a
processo por um duplo homicídio, do ex-policial André Henrique da Silva Souza,
o Zóio, e da namorada dele, Juliana de Oliveira, em 2014. Zóio estaria
disputando o domínio da Gardênia Azul com o ex-vereador e miliciano Cristiano
Girão.
Ronnie Lessa foi preso
no condomínio Vivendas da Barra em 12 de março de 2019. Está na Penitenciária
Federal de Campo Grande (MS). Foi expulso da PM no início do ano passado.
Cumpre prisão preventiva e vai ser submetido a júri popular. Até pouco tempo, negava
ter matado Marielle.
• Élcio de Queiroz, ex-PM - dirigiu o
Cobalt prata, está preso
Diferentemente de
Ronnie Lessa, Élcio Vieira de Queiroz foi expulso da Polícia Militar em 2015,
após 20 anos na corporação, perdendo a patente de segundo sargento. O motivo
foi a mesma Operação Guilhotina.
Os dois réus eram
amigos havia muitos anos. Morador do Engenho de Dentro, bairro vizinho ao
Méier, na zona norte, Élcio era amigo de infância da mulher de Ronnie Lessa.
Aproximaram-se no fim da década de 80 - são compadres e se viam com frequência.
Na Policia Militar,
Élcio era motorista de viatura. Conduzia carros de patrulha durante operações
policiais ou perseguições a suspeitos, em alta velocidade e sob intensa
pressão, às vezes sob fogo de criminosos. Depois da expulsão, trabalhou como
condutor de carros fortes. Levava vida modesta. Foi acusado de pilotar o Cobalt
prata usado no crime contra Marielle e preso no mesmo dia que Lessa.
Até 2023, Élcio também
alegou inocência no caso. Em julho do ano passado, no presídio federal de
Brasilia, mudou de posição. Assinou delação premiada, confessou ter participado
do crime e apontou Lessa como matador. Está preso preventivamente. Denunciado,
também vai ser submetido a júri popular.
>>>> Os
comparsas, segundo a polícia
• Maxwell Simões Corrêa, ex-bombeiro, está
preso
Também conhecido com
Suel, o ex-bombeiro militar Maxwell Simões Corrêa foi delatado por Élcio de
Queiroz por ter monitorado os passos de Marielle Franco antes do crime. Foi
preso na Operação Élpis da Polícia Federal e do MP do Rio, em 2023. Condenado
em maio do ano passado a quatro anos de prisão por atrapalhar as investigações,
ele também teria participado de uma primeira tentativa de matar a vereadora. A
ação foi frustrada, porque Suel alegou problemas mecânicos no carro que seria
usado na ação. Foi expulso do Corpo de Bombeiros.
• Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé
Morto em 2019, o
policial reformado Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé, foi apontado na
delação de Élcio de Queiroz como intermediário entre Ronnie Lessa e o mandante
do assassinato de Marielle. O nome do PM apareceu e diferentes investigações
sobre crimes do jogo do bicho e de milicianos. Depois de um atentado contra
Shanna Garcia, filha do contraventor Waldemir Paes Garcia, já morto, a Polícia
apontou Macalé como um dos integrantes da “organização criminosa” do bicheiro
Bernardo Bello. Na época (outubro der 2019), Bello negou as acusações.
Atualmente, está foragido.
>>>> A
testemunha falsa
• Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha,
policial militar
Foi apresentado pelo
delegado Hélio Khristian Cunha de Almeida à Delegacia de Homicídios da Polícia
Civil como suposta “testemunha-chave” do homicídio de Marielle e Anderson,
pouco mais de um mês após o crime. O depoente disse ter testemunhado reuniões
do miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, como é conhecido,
com o vereador Marcelo Sicilliano. Nesses encontros, teriam acertado matar
Marielle. Nessa versão, a vereadora estaria atrapalhando os negócios do
parlamentar, por isso teria sido eliminada.
A história, porém,
revelou-se falsa. Ferreirinha posteriormente admitiu à Polícia Federal ter
mentido, porque queria se vingar de seu ex-chefe Curicica.
O comandante da
milícia teria lhe tomado uma central clandestina de TV a cabo, revoltando o
ex-comparsa. Além disso, segundo trecho de inquérito da PF divulgado pelo UOL,
Hélio Khristian, meses antes do crime, teria tentado uma extorsão contra
Sicilliano, por supostas irregularidades em um negócio do parlamentar.
Hélio Khristian, por
meio de sua defesa, negou na época as acusações de extorsão. Ele foi inocentado
da suspeita de ter agido dolosamente para plantar a testemunha e tumultuar a
apuração.
Ferreirinha foi
denunciado pelo MP do Rio, com uma advogada, por tentar atrapalhar o caso
Marielle.
>>>> Os
suspeitos plantados
• Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando
Curicica, miliciano
Preso pela Polícia
Civil, negou qualquer envolvimento no caso Marielle. era o chefe de uma milícia
em Curicica, na região de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. Em um presídio
federal, afirmou em depoimento ao MPF que policiais civis do Rio tentaram convencê-lo
a assumir o duplo homicídio. Foi descartado como suspeito das mortes da
vereadora e seu motoristas.
• Vereador Marcelo Sicilliano
Denunciou uma suposta
tentativa de extorsão como motivo para a acusação que sofreu de Ferreirinha.
Também foi descartado como suspeito de ter matado Marielle Franco e Anderson
Gomes.
O delegado da Polícia
Federal Leandro Almada investigou a investigação do caso Marielle e as
tentativas de atrapalhá-la. Foi ele que concluiu que uma quadrilha de policiais
e advogados plantou a falsa testemunha Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha,
nas apurações, para acusar, sem fundamento em provas, Orlando Curicica e
Marcelo Sicilliano. Atualmente, Almada é o superintendente da PF no Rio.
• O Escritório do Crime
Consórcio de matadores
profissionais que age no Rio de Janeiro, com alto grau de organização e
compartimentação de informações e operações, segundo a Polícia.
O ex-oficial do Bope
Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, era apontado por policiais
como chefe do grupo, que teria integrantes com ligações com a milícia de Rio
das Pedras.
Nóbrega, que foi
expulso da PM e se dizia comerciante e pecuarista, foi interrogado no inquérito
sobre o caso Marielle em 2018, mas negou ter participação no crime. Denunciado
na Operação Intocáveis do Ministério Público estadual, foi morto em 9 de fevereiro
de 2020 em Esplanada, na Bahia, por policiais militares. Sua participação no
duplo homicídio foi descartada.
• A placa quebrada
O caso Marielle também
foi explorado política e eleitoralmente. Um desses episódios se deu na campanha
eleitoral de 2028, quando três candidatos - Wilson Witzel (ao governo), Daniel
Silveira (a deputado federal) e Rodrigo Amorim (a deputado estadual) quebraram,
durante um comício, uma placa de rua fake, com o nome rua Marielle Franco.
Os três foram eleitos,
mais Witzel perdeu o mandato por impeachment, e Daniel, condenado por ameaçar o
Supremo Tribunal Federal, foi preso e perdeu a eleição para o Senado em 2022.
Esse defecho criou nos meios políticos a lenda de uma “maldição” que cercaria a
placa quebrada.
• O caso do porteiro
Em novembro de 2019,
um porteiro do Vivendas da Barra afirmou que, na noite de 14 de março de 2018,
Élcio de Queiroz esteve no condomínio - onde moravam Ronnie Lessa e também Jair
Bolsonaro, à época deputado federal - perguntando pelo parlamentar.
Bolsonaro teria
atendido o interfone e autorizado a entrada do visitante. Mas essa versão foi
depois desmentida pela perícia - a voz do morador que atendeu o visitante,
gravada, era de Lessa, não de Bolsonaro. O próprio porteiro afirmou depois que
se enganara.
Mas o então presidente
considerou o incidente uma tentativa de implicá-lo no caso. Fazia reclamação
semelhante quando lembravam que a mãe e a ex-mulher do Capitão Adriano estavam
na lista de assessores de seu filho Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa.
Eram acusadas de envolvimento no caso das “rachadinhas”, de desvio de salários
por funcionários fantasmas.
O então mandatário
repudiava duramente qualquer envolvimento no caso, embora reconhecesse que
orientara Flávio a conceder a Medalha Tiradentes, honraria da Alerj, a Adriano,
em 2005, por considerá-lo então “um herói”.
Bolsonaro atribuía a
Wilson Witzel, então governador do Rio e que se dizia pré-candidato a
presidente em 2022, as tentativas de envolvê-lo no caso Marielle. Witzel
negava.
>>>> Os
delegados da Polícia Civil
• Giniton Lages (2018-2019)
Então titular da
Delegacia de Homicídios da capital, foi o primeiro condutor das investigações
sobre o duplo homicídio. Ele foi alvo de busca e apreensão na operação da PF
neste domingo.
No livro Quem Matou
Marielle?, que escreveu em parceria com Carlos Ramos, o policial aponta
problemas que enfrentou no início das apurações. Afirma que os laudos de
necropsia das vítimas estavam incompletos.
O aparelho de raios-X
do Instituto Médico-Legal, alegou, estava quebrado, e as perícias traziam
imprecisões. Uma delas foi a altura da vereadora, que tinha 1,76 m, seis
centimetros além do afirmado no documento.
A diferença poderia
prejudicar cálculos sobre a altura do atirador, a partir do ângulo dos
disparos. Só havia duas testemunhas: Fernanda Chaves, que não vira nada, por
estar de costas para o atirador, e um homem que estava nas proximidades e
lembrava de vê-la sair do Agile com o lado direito do corpo coberto com o
sangue da vereadora.
Lages incluiu nas
apurações o Escritório do Crime. Foi ainda sob a chefia de Lages que a Polícia
prendeu Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, em 12 de março de 2019.
• Daniel Rosa (2019-2020)
Substituiu Giniton
Lages no comando da Homicídios, logo após a prisão dos dois suspeitos do crime.
Lages alegou cansaço e disse que tiraria seis meses de férias, mas
informalmente admitiu-se que sua saída se devia a divergências internas na
Polícia Civil.
Antes de ir para a
capital, Rosa era o chefe da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense.
Iniciou a segunda fase das investigações, para determinar motivos e mandantes
do crime.
A substituição causou
apreensão entre familiares de Marielle e Anderson, que temeram que pudesse
haver quebra de continuidade nas apurações. Rosa era o delegado do caso durante
o caso do porteiro do Vivendas da Barra que falou na visita de Élcio de Queiroz
ao condomínio, na noite do crime.
• Moysés Santanna (2020-2021)
Assumiu a DH da
capital (e o inquérito do caso Marielle) em setembro de 2020. A troca de deu em
meio a turbulência política no Estado: o vice-governador, Cláudio Castro,
assumiu o governo em substituição ao titular, Wilson Witzel (PSC), afastado
pela Assembleia Legislativa.
Witzel, em um aceno
aos policiais, extinguira em 2019 a Secretaria de Segurança e transformou em
secretários os chefes das Polícias. Dezessete dias após assumir, em 28 de
agosto, o Palácio Guanabara, Castro anunciou Allan Turnowski como secretário da
Polícia Civil.
A troca de chefias na
corporação que se seguiu levou à substituição de Daniel Rosa por Moysés
Santanna, até então chefe da Delegacia de Homicídios da Baixada.
Turnowski negou que a
nova troca de delegados se devesse a pressões políticas. Santanna investigou um
possível complô envolvendo mandantes e intermediários do crime. Na época,
Ronnie Lessa teria apontado Adriano Magalhães da Nóbrega (do Escritório do Crime
e àquela altura já morto) como autor do crime.
• Henrique Damasceno (2021-2022)
Assumiu a chefia da
DH-capital em julho de 2021. Trazia em seu currículo outro caso de repercussão,
o da morte, provavelmente sob tortura e maus-tratos, do menino Henry Borel.
A criança morreu em 8
de março de 2021, com indicios de espancamento. A Polícia Civil indiciou e
prendeu pelo crime a mãe do garoto, Monique Medeiros da Costa e Silva, e o
namorado dela, vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Doutor Jairinho, com quem
vivia.
• Alexandre Herdy (2022 em diante)
O quinto delegado a
cuidar do caso Marielle passou a comandar a Delegacia de Homicídios da capital
em fevereiro de 2022. Substituiu Henrique Damasceno, que foi promovido a
diretor do Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa Humana.
• O novo inquérito da PF
Menos de dois meses
após assumir o Ministério da Justiça, Flávio Dino determinou a abertura de novo
inquérito para investigar o caso Marielle.
Oficialmente, trata-se
de uma “colaboração” com as autoridades locais, responsáveis pela investigação,
que não foi oficialmente federalizada. Foi designado para comandar a apuração
federal o delegado Guilherme de Paula Machado Catramby.
Foi essa colaboração
que resultou na Operação Elpis (Esperança), que prendeu o ex-bombeiro Maxwell
Simões Corrêa, o Suel. A delação premiada de Élcio de Queiroz foi outro
resultado dessa colaboração da PF com o MP do Rio.
• Os promotores do MP estadual
# Homero das Neves
Freitas Filho
Foi o primeiro
promotor do caso Marielle, mas foi substituído ainda em 2018.
# Simone Sibilio e
Letícia Emile
Assumiram o caso
quando Sibilio era coordenadora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate
ao Crime Organizado) e denunciaram Lessa e o ex-PM Élcio Queirozà Justiça.
Elas permaneceram nas
apurações com a criação de uma força-tarefa para o caso. Renunciaram, porém, à
investigação em julho de 2021, por considerarem ter havido interferência
externa que as excluiu da delação premiada de Júlia Lotufo, viúva de Adriano da
Nóbrega.
# Bruno Gangoni
Assumiu a coordenação
do Gaeco, mas renunciou, assim como outros promotores que integravam o grupo.
Foi um protesto contra o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, que não
foi o mais votado na lista tríplice da corporação, mas aceitou convite do
governador Cláudio Castro para seguir no cargo por mais um mandato.
# Luciano Lessa
Assumiu a coordenação
da força-tarefa que investica o caso Marielle. Em março de 2023, sete outros
promotores foram designados para o grupo.
Fonte: BBC News Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário