quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

'Decadência ocidental' e relevância da América Latina despontam em 1ª coletiva do MRE russo em 2025

O balanço anual do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, feito nesta terça-feira (14), evidenciou ainda mais o peso e a relevância que a América Latina tem para a política externa russa. Ele chamou a região de um dos principais polos da ordem mundial multipolar emergente.

Ao observar a primeira coletiva de imprensa de 2025 da chancelaria russa, o analista Ricardo Cabral, editor do portal História Militar em Debate, avaliou que o discurso de Lavrov tocou em pontos essenciais e na ferida do Ocidente.

Segundo Cabral, a política segregadora e intromissiva das potências ocidentais nos demais países, destacada pelo ministro, é sinal de desespero.

"Há uma decadência. Ela pode ser até relativa em vários aspectos, mas se trata de uma decadência do Ocidente, perdendo espaço para países como a China, como a Rússia, a Índia, e a reação tem sido usar posições militares, coerção, intimidação, para conseguir benefícios econômicos, mudanças de postura política […]. E isso está acontecendo para desespero deles, eles não têm muito a oferecer."

Ele citou as intervenções no Cáucaso e na África como tentativas "desesperadas" do Ocidente de manter o poder e a exploração barata de recursos naturais e humanos. "O processo de emancipação das colônias europeias não foi acompanhado por emancipação econômica. A própria dependência se sustentou inclusive durante a Guerra Fria", exemplificou ele.

O desespero do Ocidente, acrescentou, tem impulsionado ainda operações psicológicas, visando desestabilizar Estados, criar fraturas na sociedade e explorar fraquezas, limitações e antagonismos.

"O famoso dividir para conquistar. Essa tem sido a lógica das potências ocidentais. Posso dizer isso sem errar muito, porque o historiador, quando tenta precisar no tempo, às vezes erra. […] isso tem mais ou menos 20 anos, e nos últimos cinco anos elas ficaram muito mais agressivas, porque o crescimento desses Estados tem incomodado realmente esse Ocidente profundo que são a Europa e os Estados Unidos."

As tentativas de sabotagem dos gasodutos russos, também mencionadas por Lavrov, são outro sintoma desse desespero do Ocidente, que o entrevistado tachou de "atentados terorristas".

"Eles não querem se passar como terroristas, quando na verdade utilizam dessas táticas para obter extorsão, coerção, intimidação, chantagem, que é o uso comum quando você usa esse tipo de instrumento."

Para o historiador, a Europa deu um "tiro no pé" ao compactuar com a estratégia norte-americana de impor sanções a países como a Rússia, ao perder acesso a recursos energéticos de baixo custo e manter uma dependência maior em termos tecnológicos.

"Eles [Europa] estão entrando em recessão por causa de sanções e políticas propostas pelos Estados Unidos, contrárias aos seus interesses e que beneficiam os Estados Unidos na sua competição pelos mercados globais", disse ele. "As sanções […] [são] guerra econômica pura, uma outra face da guerra que os Estados Unidos estão travando com os países concorrentes para manutenção da sua hegemonia."

<><> Trump e Rússia

Ao comentar as declarações de Lavrov sobre as relações da Rússia com o futuro presidente dos EUA, Donald Trump, o historiador afirmou que ainda é cedo para prever as ações de Trump, apesar dos sinais deixados por suas recentes declarações de que seu governo será mais intervencionista.

"Pode não ser sobre o aspecto militar, mas que ele vai ser mais assertivo nas relações internacionais, naquilo que ele considera interesse norte-americano, não tenho dúvida. E as propostas para a Ucrânia deverão considerar muito mais os interesses americanos e russos em relação à Ucrânia do que os interesses ucranianos nessa história", opinou.

<><> Rússia e Brasil

Para Cabral, o apoio da Rússia ao Brasil não é mero simbolismo e isso ficou claro em uma das falas de Lavrov, quando voltou a defender a participação permanente do Brasil e da Índia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, além de um assento permanente africano.

"Nem a China se manifesta tão incisivamente — é que não é a primeira manifestação da Rússia a favor do Brasil e da Índia para um assento no Conselho de Segurança, até porque os Estados Unidos começam o jogo com 3 a 0; a França e o Reino Unido normalmente votam em conjunto com os americanos. E há uma relação de poder que já está amplamente ultrapassada", completou Cabral.

Além do apoio político, o analista destacou vários outros benefícios que a parceria estratégica com a Rússia pode trazer para os países do Sul Global, como em transferência de tecnologia, exploração de metais, produção de alimentos e segurança, entre outros.

"Deveríamos ter uma mente mais aberta, ver melhor a situação russa, até porque o equipamento é tecnologicamente competitivo em relação ao Ocidente, com uma relação custo-benefício muito menor. Então nós deveríamos estar mais atentos às possibilidades de cooperação técnico-científica com a Rússia. […] isso aí não é uma questão ideológica, eu acho que é uma questão de preconceito mesmo. Passa governo, seja ele um governo mais progressista ou mais conservador, e as relações com a Rússia ficam sempre em segundo plano. Tem uma explicação lógica."

¨      Rússia está pronta para colaborar com Vietnã em energia e dar suporte ao país como parceiro do BRICS

A Rússia está pronta para facilitar a adesão do Vietnã ao BRICS como país parceiro, de acordo com uma declaração conjunta assinada no final da visita do primeiro-ministro russo Mikhail Mishustin a Hanói.

"A Rússia acolheu com satisfação a participação ativa do Vietnã nas atividades do BRICS em 2024 e expressou sua prontidão em apoiar sua adesão à organização como país parceiro", diz o documento.

O grupo BRICS, inicialmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi ampliado com a entrada da Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã em 1º de janeiro de 2024. Com a adesão da Indonésia em 1º de janeiro de 2025, a associação passou a contar com 11 associados titulares.

Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã são atualmente países parceiros do grupo.

Setor nuclear do Vietnã

A Rússia está pronta para participar da criação do setor de energia nuclear do Vietnã, disse o comunicado.

Por sua vez, o diretor-geral da empresa estatal russa Rosatom, Aleksei Likhachev, elogiou o desejo do Vietnã de retornar ao projeto da usina nuclear de Ninh Thuan 1, acordado em 2010 e rejeitado por Hanói em 2015.

"Estamos começando a trabalhar na atualização dos acordos de dez anos atrás. Está claro que o tempo passou e uma série de parâmetros precisa ser revistos", disse Likhachev aos repórteres.

A Rússia, disse o chefe da Rosatom, está propondo à nação asiática a construção de "uma usina [nuclear] mais moderna, segura e eficiente, baseada em dois reatores".

Ele também disse que a corporação começará a construir um novo reator de pesquisa nuclear no Vietnã em 2027. Segundo Likhachev, este novo reator de fabricação russa terá capacidade de 15 megawatts.

¨      Economia alemã recua pelo segundo ano consecutivo

A economia da Alemanha sofreu uma contração de 0,2% em 2024, de acordo com dados preliminares divulgados nesta quarta-feira (15/01) pelo Departamento Federal de Estatística (Destatis), marcando o segundo ano consecutivo de recessão. Em 2023, a economia alemã já havia caído 0,3%.

A maior economia da Europa está sofrendo com uma crise persistente em seu modelo industrial e de exportação, o que pode ter efeito sobre toda a União Europeia (UE).

A desaceleração veio de vários lados no ano passado. O esperado boom nos gastos do consumidor em face do aumento real dos salários não se concretizou porque a perda de poder aquisitivo nos anos anteriores ainda não foi compensada. Além disso, muitos alemães estão ficando cada vez mais preocupados com seus empregos e preferem economizar. "Apesar do aumento da renda, as famílias se abstiveram de comprar por causa da evolução incerta da situação econômica", segundo o Destatis.

Também encargos conjunturais e estruturais impediram um melhor desenvolvimento econômico em 2024, disse a presidente do Destatis, Ruth Brand, acrescentando que isso inclui o aumento da concorrência para o setor de exportação alemão em importantes mercados, os altos custos de energia, as taxas de juros persistentemente altas e uma perspectiva econômica incerta.

A desaceleração de 2024 está de acordo com as estimativas do governo e do Bundesbank [banco central], enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI), mais otimista, esperava uma estagnação. Para 2025, entretanto, o banco central alemão reduziu sua projeção de crescimento para apenas 0,2%, bem abaixo da estimativa anterior de uma expansão de 1,1%.

<><> Queda nas exportações

De acordo com as estimativas preliminares, que são baseadas em dados ainda incompletos, o PIB alemão sofreu uma contração de 0,1% no quarto trimestre de 2024 em comparação com os três meses anteriores, já com ajustes de preço, sazonais e de calendário. A difícil situação econômica do ano passado também se refletiu no comércio exterior, com as exportações de bens e serviços caindo 0,8%, em comparação com um leve aumento de 0,2% nas importações.

As exportações alemãs, um pilar histórico do sucesso econômico do país, "diminuíram apesar do aumento geral do comércio mundial em 2024", comentou Brand. No setor automotivo em particular, as principais empresas do país perderam terreno para suas concorrentes chinesas.

<><> Déficit estatal

A economia lenta também prejudicou as finanças públicas no ano passado. O estado alemão registrou um endividamento mais alto em 2024. De acordo com a estimativa preliminar do Departamento Federal de Estatística, as despesas do governo federal, dos estados, dos governos locais e da previdência social excederam a receita em 113 bilhões de euros. "Isso foi cerca de 5,5 bilhões de euros a mais do que em 2023", disse o Destatis, o que corresponde a um déficit de 2,6% do PIB.

"Isso se deveu principalmente ao aumento das despesas com aposentadorias." Também foi gasto um valor significativamente maior em assistência social. Somente o governo federal conseguiu reduzir significativamente seu déficit, de cerca de 95 bilhões de euros em 2023 para pouco mais de 59 bilhões de euros.

¨      Alemanha tem mais de meio milhão de pessoas sem teto

Mais de 531 mil pessoas estão sem moradia na Alemanha, segundo dados do governo federal divulgados nesta quarta-feira (08/01).

As estatísticas dizem respeito ao início do ano de 2024 e consideram não só moradores de rua como também pessoas abrigadas temporariamente graças à ajuda do Estado, de organizações da sociedade civil ou de amigos.

Desses, a maioria – cerca de 439,5 mil pessoas – dependia de abrigos emergenciais geridos pelo sistema público. Outros 60,4 mil estavam na casa de parentes, amigos ou conhecidos, e 47,3 mil estiveram nas ruas ou em abrigos precários, como barracas, trailers ou choupanas. O número ultrapassa os 531 mil porque algumas pessoas vivenciaram mais de uma situação.

O número dos sem-teto mais que dobrou em dois anos. Em 2022, eram 263 mil nessa situação. As autoridades alemãs, porém, argumentam que os números do relatório anterior eram subnotificados, e apontam ainda o papel da pandemia e da guerra na Ucrânia – à época do levantamento, 136,9 mil refugiados ucranianos estavam em abrigos.

De cada três pessoas sem teto, duas eram homens. E mais da metade dos que não tinham um lar para chamar de seu relatou ter sido vítima de violência após perder sua casa. Quanto mais velhas eram essas pessoas, mais precária tendia a ser sua situação habitacional.

<><> Alemanha tem déficit de habitação social

Ministra alemã para Habitação, Desenvolvimento Urbano e Obras (BMWSB), Klara Geywitz afirma que os dados "mostram que a falta de moradia tem diferentes faces e causas, e não é de jeito nenhum um problema puramente urbano".

Geywitz assegurou que o governo alemão – cujo mandato termina em breve – está trabalhando para amenizar o problema, investindo mais de 20 bilhões de euros (R$ 126,3 bilhões) em habitação social até 2028, e tem a meta de eliminá-lo completamente até 2030.

O governo alemão, liderado pelo chanceler federal e social-democrata Olaf Scholz, tinha como meta construir 400 mil novas moradias por ano, mas nunca chegou a atingi-la; na verdade, o número de alvarás expedidos foi decaindo ano a ano. Para o ano de 2024, Geywitz estima que foram construídos 265 mil moradias.

O preço dos aluguéis disparou na Alemanha nos últimos anos, e conseguir um imóvel tem se tornado um desafio cada vez maior. No início de 2024, uma organização da sociedade civil calculou que o país precisava de mais de 910 mil habitações sociais.

A falta de moradia não é algo definido por critérios internacionais padrões, e as definições estatísticas variam de país para país. Os dados também podem variar de acordo com a metodologia para coleta de dados.

Apesar disso, a Federação Europeia de Organizações Nacionais em prol dos Sem-Teto estimou no ano passado que há pelo menos cerca de um milhão de pessoas sem teto na União Europeia e no Reino Unido.

¨      Como a Noruega se tornou líder em veículos elétricos

A Noruega se tornou a maior referência na transição dos veículos movidos a combustíveis fósseis para a eletromobilidade. No ano passado, estatísticas oficiais do governo mostraram que quase nove em cada dez automóveis vendidos eram elétricos.

Em 2023 – o ano mais recente para o qual há dados disponíveis – a taxa global de adoção de veículos elétricos foi de apenas 18%, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).

O país nórdico assumiu um compromisso notável com o combate às mudanças climáticas, impulsionado por fortes políticas governamentais, uma infraestrutura robusta e uma população cooperativa.

A meta da Noruega é que todos os automóveis de passeio comercializados no país sejam veículos com emissão zero até o fim de 2025, uma década antes da meta da União Europeia (UE), da qual não é um dos estados-membros.

<><> Pioneirismo

A riqueza e o tamanho da Noruega desempenharam, sem dúvida, um papel nessa história de sucesso. O país tem uma população de 5,5 milhões e é uma das nações mais ricas do mundo graças as suas reservas substanciais de petróleo – as maiores da Europa depois da Rússia. No entanto, esses fatores por si só não explicam os notáveis progressos feitos.

O cientista Robbie Andrew, do Centro Internacional de Pesquisas sobre o Clima (Cicero), sediado em Oslo, avalia que o compromisso de décadas da Noruega com o desenvolvimento local de veículos elétricos foi um fator crítico.

"Na década de 1990, a Noruega se esforçou para criar uma empresa própria para fabricar veículos elétricos", explica Andrew, observando como a ausência de um lobby poderoso da indústria automobilística nacional facilitou essa iniciativa.

Embora as primeiras tentativas de produção de veículos elétricos tenham tido sucesso comercial limitado – apenas alguns milhares foram vendidos –  elas promoveram a conscientização pública e a aceitação da eletromobilidade. Isso abriu caminho para a adoção generalizada de carros movidos a bateria produzidos por fabricantes globais, como Tesla e Volkswagen.

<><> Incentivos do governo

Além disso, políticas estatais favoráveis facilitaram a transição para os veículos elétricos. A Noruega não cobrava Imposto sobre Valor Agregado (IVA) ou taxas de importação sobre esses veículos, o que pode representar entre um terço e quase metade do custo de um carro novo.

Os veículos elétricos também eram isentos de pedágios e taxas de estacionamento. Eles podiam até usar faixas de ônibus dentro e no entorno de Oslo.

As classes sociais de renda mais alta foram as que mais se beneficiaram das isenções fiscais, e os veículos elétricos eram frequentemente o segundo carro da família.

Com a meta para 2025 quase alcançada, o governo recentemente reverteu alguns desses incentivos. O IVA agora é parcialmente aplicado a veículos elétricos grandes e luxuosos que custem mais de 500 mil coroas (R$ 265 mil). Consunidores de baixa renda ainda se beneficiam de muitos dos incentivos e da queda nos preços desses veículos.

O especialista Bjorne Grimsrud, diretor do centro de pesquisas de transporte TOI, sediado em Oslo, entende que os incentivos do governo têm sido "muito dispendiosos", mas pagáveis diante da riqueza do país e do desejo de ser climaticamente neutro até 2050.

"O governo costumava arrecadar 75 bilhões de coroas anualmente em impostos e pedágios sobre carros, mas isso foi cortado pela metade", observa Grimsrud.

Outras nações, como a Alemanha, são acusadas de retroceder em suas metas climáticas ao cortar subsídios para veículos elétricos novos muito antes de atingir seus objetivos. Recentemente a autoridade federal de transportes da Alemanha KBA revelou que o maior mercado automotivo da Europa registrou uma queda de 27,4% no número desses veículos.

Se a Alemanha, uma grande fabricante de carros elétricos, quiser atingir sua meta de ter 15 milhões de veículos elétricos nas ruas até 2030, precisará reavaliar decisões como essa.

<><> Pontos de recarga domésticos

Outra vantagem no caso da Noruega é a sua matriz energética, uma das mais verdes e robustas do mundo. A energia hidrelétrica é responsável por mais de 90% da produção de eletricidade do país, normalmente produzindo um excedente de energia, o que ajudou a facilitar o carregamento de veículos elétricos nas residências.

Se a recarga é um desafio em outras partes da Europa, a maioria dos noruegueses pode carregar seus veículos elétricos em casa em vez de em pontos de recarga públicos.

Um estudo de 2022 da Associação Norueguesa de Veículos Elétricos descobriu que cerca de três quartos dos proprietários vivem em casas isoladas, o que torna mais fácil instalar pontos de recarga em suas moradias. Um relatório da empresa de consultoria LCP, sediada em Londres, revelou que 82% dos veículos elétricos na Noruega são carregados em casa, embora esse número seja menor nas áreas urbanas.

"A ubiquidade da recarga de nível 1 na Noruega provavelmente teve um impacto muito grande [na adoção de veículos elétricos]", diz Lance Noel, gerente de produtos da ONG Centro para Energia Sustentável, sediado em San Diego. O carregamento de nível 1 é a que usa tomadas convencionais, de menor potência, encontradas em residências, empresas e escolas.

Noel disse que outros países fariam bem em "pensar em maneiras mais baratas e visíveis de tornar os veículos elétricos integrados à sociedade", em vez de priorizar infraestruturas públicas de recarga rápida, conhecidas como níveis 2 e 3.

 

Fonte: Sputnik Brasil/DW Brasil

 

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