César Fonseca: Mártires do
MST pressionam Lula pela reforma agrária
A
presença prometida do presidente Lula no acampamento do MST em Tremembé, São
Paulo, onde foram assassinados dois representantes do movimento de
trabalhadores que lutam pela reforma agrária joga pressão sobre a proposta
governamental para acelerá-la, tirá-la apenas das cogitações e do
‘enrola-enrola’ político.
Chegou
a hora de agir.
O MST
vem ao longo dos últimos dois anos tendo relação difícil com o governo por
conta da promessa não cumprida do governo de dar passos mais decididos pela
reforma agrária.
O teto
de gasto neoliberal comprometido com déficit zero em nome do combate à inflação
para tentar segurar a taxa elevada de juros, Selic, que só favorece os
banqueiros e impede a reforma agrária.
Aumentar
os gastos públicos, com a reforma agrária, levanta a ira do mercado financeiro.
Os
especuladores dirão que mais gastos sociais para financiar reforma agrária
ferem a meta de inflação que reclama juro alto, quando déficit público aumenta
além do que promete o ministro Haddad, da Fazenda, na casa de 0,5% do PIB.
Em
2024, o déficit ficou em 0,1% do PIB, enquanto o crescimento do PIB ficará em
3,6%.
A
pressão do MST para a reforma agrária elevaria o déficit e levantaria
resistência da Faria Lima, que reclamará juro mais alto como preço a pagar pelo
crescimento do déficit, rompendo restrição do teto de gastos.
E as
mortes e os assassinos dos agricultores sem-terra, o que fazer com elas e eles,
para dar resposta efetiva ao movimento social mais organizado do país?
Trata-se
de luta de classe na disputa pela renda nacional entre o MST e o mercado
financeiro.
Sem
recursos para atender a demanda da reforma pelo MST, cresce a tensão política
que polariza a burguesia rural e financeira representada pelo agronegócio X
MST, que prioriza organização política para democratizar a propriedade rural.
MST X neoliberalismo - O
Brasil ainda não fez a reforma agrária porque a resistência do latifúndio e do
mercado financeiro fortalecem o tripé neoliberal que os banqueiros impõem:
metas inflacionárias rígidas, câmbio flutuante e superávit primário irrealista.
Por
trás dessa armadilha econômica e financeira tem a apoiá-la a direita e
ultradireita, com maioria no Congresso que impede avanços da reforma agrária.
A luta
renhida entre agro e mercado financeiro, de um lado, e MST, de outro, em defesa
da democratização da propriedade, para fortalecer o mercado consumidor e a
modernização do capitalismo nacional não se realiza, como aconteceu nos
principais países capitalistas do mundo, desde final do século 18 e ao longo do
século 19, como arma para a revolução industrial.
O
confronto de dois interesses em choque acirra a luta ideológica entre MST e o
neoliberalismo financeiro que suga os recursos do orçamento público, deixando
pouco para os agricultores rurais sem terra e muito para os especuladores
financeiros e latifundiários.
Faria
Lima e agronegócio exportador sugam as energias do MST e forçam o Congresso a
ficar de braços cruzados, enquanto o governo, sob o arrocho fiscal neoliberal,
prolonga a tormenta que toma conta do campo e acirra os assassinatos, como os
que aconteceram em Tremembé.
A
disputa Faria Lima e do agro X MST e a esquerda radical que apoia o movimento
de luta histórico pela reforma agrária ganha força quando a luta de acirra.
Combustível da revolta - As
mortes dos mártires do MST são o combustível da resistência pela reforma
agrária que o governo colocou em banho maria por se render ao mercado
financeiro e à sua política neoliberal, responsável pela escassez de capital
estatal para fazer programa social, como é o caso da reforma agrária.
A
expansão do mercado interno, que leva à industrialização, à maior
profissionalização do mercado de trabalho e consequente aumento da renda média
nacional em cenário desenvolvimentista nacionalista não alavanca enquanto a
reforma agrária não deslancha.
A
primeira providência objetiva a ser tomada é utilizar as terras devolutas e
criar programa de mecanização para os agricultores pobres comprarem suas
máquinas.
A
China está disposta a ajudar nesse sentido, pois o MST, em contato com os
chineses, reclamam os tratores chineses de pequeno porte adequados à
agricultura familiar que fazem sucesso na chinesa e também são sensação na
África, onde o processo está se desenvolvendo.
Os
chineses querem transformar o continente africano em celeiro agrícola para
abastecer a China, como já acontece com o Brasil.
Faz-se,
portanto, urgente juntar as oportunidades da distribuição das terras devolutas
+ programa de financiamento de pequenas máquinas agrícolas para que o MST
alavanque a produção de alimentos para abastecer mercado interno e exportações.
Essa
proposta, aliás, o MST já está desenvolvendo na Venezuela, onde o presidente
Nicolás Maduro convidou os agricultores para desenvolver esse trabalho lá com
total apoio do Estado venezuelano, com o dinheiro do petróleo, a fim de
alavancar a reforma agrária e a industrialização.
Portanto,
os assassinatos dos agricultores em Tremembé pelo agro e pelo mercado
financeiro, que não deixam o governo priorizar a agricultura familiar, botam
fogo em forma de pressão para que o presidente Lula cumpra a promessa de
campanha eleitoral.
Em ano
eminentemente eleitoral, véspera da disputa presidencial em 2026, o assunto vai
certamente esquentar mediante mobilização popular.
Mas o
dinheiro oficial não sai porque o teto de gastos não deixa.
A
batalha está sendo, até agora, vencida pelos neoliberais financeiros, adeptos
da restrição fiscal e monetária controlada especulativamente pela Faria Lima em
sintonia com o Banco Central Independente.
Desafios de Galípolo - De
janeiro para frente, o desafio será a administração da política monetária pelo
Banco Central, presidido por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula.
Ele
ficará submetido ao mercado ou por um consenso econômico nacional que reclama
redução dos juros para promover o crescimento econômico sustentável?
A CNI
reclama pacto nacional.
Os
sindicatos patronais e laborais tendem a entrar em pacto pelo desenvolvimento,
pela redução das taxas de juros e etc.
Se não
for equacionada essa luta de classe na qual os pobres perdem sistematicamente
para os ricos na disputa da renda nacional, o MST radicalizará para se defender
dos que querem destruí-lo como resistência social.
Lula
terá que dar recado forte: não basta só discurso pró-reforma, tem que dar
passos mais firmes em relação a ela, metendo a mão no bolso para romper o cerco
do déficit zero neoliberal.
Isso
não vai agradar o agronegócio.
Mas, é
um custo político que Lula tem que enfrentar para garantir a unidade de forças
políticas que garantiria sua reeleição em 2026.
Sem
dúvida, aumentarão as pressões para derrubá-lo, mas essa é a luta sucessória
que já começou.
O
assassinato dos mártires do MST acelera relógio da história brasileira,
balançando o neoliberalismo antidesenvolvimentista.
¨ Gilmar
Mauro do MST rebate delegado sobre o massacre ao assentamento
Logo após a prisão do homem que
liderou o ataque a tiros que
resultou na morte
de duas pessoas em um assentamento de agricultores
do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) na cidade de Tremembé, no Vale do Paraíba (SP),
o delegado da seccional de Taubaté, Marcos Ricardo Parra, disse em
entrevista coletiva que o crime teria sido cometido no contexto de uma
"briga interna".
Gilmar Mauro, membro da direção nacional do MST, entretanto, rechaça a tese de
que o ataque teria sido cometido por membros do próprio movimento e afirma que
o atentado teria como pano de fundo a pressão da especulação
imobiliária contra assentamentos da reforma agrária
na região.
Em cinco carros e duas
motocicletas, dez homens armados invadiram um espaço coletivo do assentamento
Olga Benário, na noite da última sexta-feira (10), e abriram fogo contra as
famílias. Crianças e idosos estavam no local no momento do ataque. Valdir do Nascimento,
conhecido como Valdirzão, de 52 anos, e o jovem Gleison Barbosa de Carvalho,
de 28 anos, não resistiram aos ferimentos causados pelos disparos e morreram.
Outros seis membros do movimento foram baleados e estão internados – um deles,
em estado gravíssimo, foi colocado em coma induzido.
Ao falar sobre o caso,
o delegado afirmou que a motivação exata para o crime ainda é investigada,
mas que num primeiro momento o que se sabe é que pessoas do assentamento
estariam em discordância em relação à entrada de novos assentados no local, ou
seja, contra a venda ou aquisição de lotes na área, que é legalizada.
“Com o assentamento
fechado que é, eles têm ali um entendimento de existir concordância para a
admissão de pessoas novas no local. Até onde a gente apurou, essa concordância
não teria acontecido nessa comercialização do terreno”, declarou.
O dirigente nacional do
movimento, Gilmar Mauro, contudo, afirmou em vídeo divulgado
nas redes sociais que a especulação imobiliária que visa tomar lotes dos
assentados para construir condomínios seria a razão que motivou o ataque.
"Essa é uma
região de muitos assentamentos próximos às zonas urbanas e, portanto, motivo da
senha do capital imobiliário local. Primeiro, invadindo áreas de reservas
florestais e, depois, invadindo lotes dentro dos assentamentos com o objetivo
de transformar esses em áreas de condomínios", disse.
"É o conluio
de parte de políticos regionais e obviamente a utilização de forças das
milícias para fazer a execução e o massacre que fizeram no
assentamento. As famílias estavam lá para impedir a entrada dessa milícia
mas foram abordados com um arsenal armamentista muito grande e, por sorte, não
morreu mais gente", prosseguiu.
<><> Lula
vai visitar assentamento e Polícia Federal entra no caso
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva informou que visitará o assentamento do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Tremembé (SP) que foi alvo de
um atentado na última sexta-feira (11). O ataque resultou
na morte de 2 militantes do movimento e deixou outras 6 pessoas
feridas.
Gilmar Mauro, da
direção nacional do MST, foi quem anunciou a visita de Lula ao assentamento. O
dirigente recebeu um telefonema do presidente prestando solidariedade pelo
ocorrido e informando que determinou a entrada da Polícia Federal (PF) na
investigação do caso. Neste sábado (11), um homem apontado como líder do
grupo que promoveu o ataque foi preso pela Polícia Civil de São
Paulo.
"Agora há pouco
falamos pessoalmente com o presidente Lula e ele anunciou que colocará a
Polícia Federal para fazer as investigações e ele pessoalmente, assim que puder
viajar de avião, virá para a região. E é isso que a gente quer. Que seja
investigado, que seja punido, mas ao mesmo tempo que o Incra ( Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o MDA (Ministério do
Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) resolvam definitivamente esse
problema das invasões de lotes da reforma agrária aqui no Vale do Paraíba e em
todo o Brasil", declarou Gilmar Mauro.
<><> Governo Lula oferece assistência às
famílias
O governo Lula tomou
medidas imediatas após o ataque ao assentamento do MST. O ministro do
Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, anunciou que
irá a Tremembé, a pedido do presidente Lula, para acompanhar as investigações.
Ele também informou que o presidente determinou que a Polícia Federal acompanhe
o caso e classificou o crime como bárbaro, sugerindo que o ataque foi uma
tentativa de subtração de lotes pelo crime organizado.
Além disso, o
Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) anunciou que oferecerá
assistência às lideranças e aos moradores do assentamento. A ministra Macaé
Evaristo declarou que o governo está atuando de forma coordenada com órgãos de
segurança pública e justiça para enfrentar o conflito e evitar novas tragédias.
<><> O que aconteceu
Criminosos armados
promoveram, na noite desta sexta-feira (10), um atentado contra um
assentamento de agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) em Tremembé, no interior de São Paulo, e assassinaram
dois militantes do movimento. Outros seis membros do MST foram
baleados e estão internados no Hospital Regional de Taubaté.
Em cinco carros e duas
motocicletas, dez homens armados invadiram um espaço coletivo do assentamento
Olga Benário e abriram fogo contra as famílias. Crianças e idosos estavam
no local no momento do ataque.
Valdir do Nascimento,
conhecido como Valdirzão, de 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28
anos, não resistiram aos ferimentos causados pelos disparos e morreram.
Em conversa com a Fórum,
integrantes do MST informaram que as famílias haviam se reunido para recuperar
uma área do assentamento que havia sido alvo de invasão e o ataque teria
vindo em retaliação. No boletim de ocorrência consta que o atentado foi
deflagrado em um contexto "possivelmente envolvendo disputa por terras".
O caso segue sob investigação.
Gilmar Mauro, da
direção nacional do MST, detalhou em áudio enviado à Fórum o
contexto que estaria por trás do atentado: "É uma região de alguns
assentamentos muito próximo às áreas urbanas e onde há uma pressão da
especulação imobiliária muito intensa, articulada com políticos
locais e também com milícias para adentrar nos nossos territórios e tomar
alguns lotes para ir expandindo o capital imobiliário".
Em vídeo divulgado nas
redes sociais, o dirigente reforçou que a especulação imobiliária que visa
tomar lotes dos assentados para construir condomínios seria a razão que motivou
o ataque.
"Essa é uma região
de muitos assentamentos próximos às zonas urbanas e, portanto, motivo da senha
do capital imobiliário local. Primeiro, invadindo áreas de reservas florestais
e, depois, invadindo lotes dentro dos assentamentos com o objetivo de
transformar esses em áreas de condomínios", disse.
"É o conluio de
parte de políticos regionais e obviamente a utilização de forças das milícias
para fazer a execução e o massacre que fizeram no assentamento. As
famílias estavam lá para impedir a entrada dessa milícia mas foram abordados
com um arsenal armamentista muito grande e, por sorte, não morreu mais
gente", prosseguiu.
<><> O assentamento
O assentamento Olga
Benário do MST em Tremembé, que abriga cerca de 45 famílias, é regularizado
pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desde
2005.
¨ Gilmar Mauro: Quem está por trás do
ataque ao MST
Vou falar alto e pedir a atenção de todos e todas.
Primeiro, agradecer toda a solidariedade de cada um e cada uma – ontem,
hoje, mas também muito antes, ao MST e à luta pela reforma agrária.
Dois: dizer ao Valdirzão e ao Gleison [Valdir do Nascimento e
Gleison Barbosa Carvalho, assassinados no ataque ao acampamento do MST em
Tremembé, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo] que nós estamos
aqui. Que o MST está aqui. E que, mais que o MST, todos nós estamos aqui para
dizer que vamos defender aquele território do Olga e todos os territórios
conquistados com muita luta e sacrifício nessa região e em todo o Brasil.
Eu não consigo falar da história do Valdirzão aqui. Levaria muito tempo.
Mas dizer a todos e todas que tanto o Valdirzão, o Gleison e outros
companheiros e companheiras desta região que nos ajudaram a construir esse MST
no estado de São Paulo, muitos militantes antigos que hoje se fazem presentes,
que nós continuaremos até que exista um sem terra nesse país; é nossa obrigação
fazer a ocupação de terra e fazer a reforma agrária através da luta popular.
Nós queremos convidar, convocar todos e todas aqui presentes […]. Sábado
próximo, às 9 horas da manhã, vamos fazer […] uma missa de sétimo dia e um
grande ato político para exigir efetivamente investigação e punição aos
responsáveis desses assassinatos.
Porque não são só os assassinos; é o capital imobiliário daqui da região
que está por trás disso. Não é só nesta área; também em outras. Eles estão
invadindo áreas de preservação ambiental e tentando obter lotes conquistados
com o nosso sacrifício para expandir o capital imobiliário – com a anuência de
alguns políticos e das milícias armadas, que são as responsáveis por fazer
isso.
Vamos chamar o nosso povo dos assentamentos próximos e a comunidade para
estarmos aqui de novo. Mas queremos também, e vamos anunciar para todo o
Brasil, que no mesmo horário vamos plantar duas árvores em homenagem ao
Valterzão e ao Gleison. E que em todos os assentamentos do Brasil, nesse mesmo
horário, cada família plante duas árvores em homenagem aos nossos dirigentes.
Por isso, peço que os assentados e as assentadas e a companheirada que
está aí nos ajude a divulgar, para transformar essa luta nossa aqui no Vale do
Paraíba numa luta em nível nacional porque […] esse problema que está ocorrendo
aqui é muito comum e recorrente também em outros espaços do Brasil.
Lutar pela terra, pela reforma agrária. Lutar por transformação social.
Pelo socialismo – vou usar esta palavra, porque o Valterzão era um socialista –
é a luta desses que tombaram, mas é a luta, sobretudo, daqueles e daquelas que
vão continuar esse processo aqui, até um dia nós alcançarmos a reforma agrária
e um outro país para o povo brasileiro.
Fonte: Brasil 247/Fórum/Outras
Palavras
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