segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Sara Goes: A política dos viciados em fake news

Distante 120 quilômetros da capital, a cidade de Canindé fica em um pequeno vale no sertão central cearense. Conhecida principalmente pelas romarias de São Francisco, atrai milhares de fiéis em busca de devoção, mas a pobreza local faz com que essa movimentação pouco se configure como turismo propriamente dito. Embora seja, por vezes, comparada a Juazeiro do Norte, Canindé não alcança a mesma dinâmica econômica e cultural da cidade caririense. Pouco se fala sobre a produção cultural local, apesar de o município abrigar um número considerável de Mestres da Cultura — guardiões de saberes e fazeres tradicionais que representam a identidade popular do lugar. Ainda assim, Canindé costuma se destacar por situações inusitadas, que chamam a atenção de quem passa por ali e ajudam a manter viva a memória regional. Sustentada, em grande parte, pelos serviços públicos, a cidade sobreviveu à margem do desenvolvimento até 2011, quando a instalação de um campus do Instituto Federal (IF) modificou o cenário. A chegada da instituição trouxe novas oportunidades e impulsionou a economia, oferecendo cursos técnicos e profissionais que abriram portas para a juventude local.

Cheguei a Canindé junto com o IF, quando o campus ainda estava em construção e funcionava em uma escola estadual, sob a desconfiança de toda a comunidade. Até a conclusão das obras do Campus, as grandes atrações do município eram a estátua de 32 metros de São Francisco — cujas mãos esticadas desencadearam uma polêmica que abalou emocionalmente seu autor, o Mestre Bibi — e o complexo da Basílica dedicada ao santo. Era nesse complexo, destoando do cenário tenebroso da Gruta e da crueza da Sala dos Milagres, onde ex-votos são exibidos ao lado de cartas e fotos de mazelas, que se destacava um zoológico bastante conhecido na região. O zoológico era composto por animais abandonados por circos, uma prática que, embora não saiba se é oficial, já se tornou um padrão no país. Quando as companhias ficavam sem recursos ou não conseguiam transportar os bichos, acabavam deixando-os no sertão, onde eles enfrentavam a sede e a fome até serem resgatados de um destino pior. Consequentemente, cada um desses animais carregava uma história de grande tristeza.

Nos dias mais tranquilos do zoológico, o funcionário, ao abandonar seu posto, fazia questão de acompanhar os visitantes e compartilhar detalhes trágicos sobre as vidas dos animais, complementando o conteúdo descrito nas placas de identificação. Uma história especialmente comovente era a do urso Simão, cuja vida tão breve e trágica chegou a ser tema de um especial na TV.

No espaço reservado aos macacos-prego, havia uma placa particularmente curiosa. Além das informações zoológicas, a placa exibia, em letras garrafais: “Por favor, não ofereça cigarros aos macacos, mesmo que eles insistam.” Conforme o porteiro relatou, a apresentação principal dos macacos no circo consistia em imitar o comportamento de homens em um bar: bebiam, fumavam e terminavam brigando entre si, arrancando risadas justamente de quem também bebia, fumava e, não raro, acabava brigando em bares de verdade.

O porteiro, no seu jeito característico de aprofundar cada história, descreveu em detalhes o vício e a astúcia daqueles animais. Não bastava apenas negar cigarros: era necessário esconder qualquer objeto ou imagem que os fizesse lembrar do vício. Ao identificar a silhueta de uma carteira de cigarros no bolso de alguém, os macacos ficavam inquietos e agitados, provocando um efeito em cadeia no pequeno zoológico e acabando de vez com a paz do local.

Passados 14 anos da minha primeira visita ao zoológico de Canindé, em um país cujo destino degringolou, envergou mas não quebrou, penso novamente naqueles macacos. A lembrança da agitação deles, presos a um vício imposto, não sai da minha cabeça. Sua inquietude, gerada pela simples presença de um objeto que os remetia ao comportamento que não podiam evitar, me faz refletir sobre a repetição cega de comportamentos que, de alguma forma, se espalham pelas ruas, pelas redes sociais e até pela política. Em um país onde a desinformação se torna uma força potente, figuras de diferentes esferas começam a se encaixar nesse padrão de imitação, agindo como se estivessem seguindo um impulso popular sem realmente compreender as consequências de suas ações.

Recentemente, a política nacional foi tomada por uma onda de figuras públicas que, como os macacos-prego, imitam comportamentos populares sem entender as reais necessidades dessa população. Pablo Marçal, Gusttavo Lima e outros se sentiram à vontade para se lançar como pré-candidatos à presidência da República, acreditando que, ao adotarem um discurso "popular" e se apresentarem como representantes de um Brasil fora do "sistema", conseguiriam angariar apoio. Eles emularam uma linguagem, um comportamento, uma retórica que achavam ser a chave para atrair eleitores, mas sem perceberem que o que estavam realmente oferecendo era uma falsa solução, uma imitação vazia de uma transformação que nunca se concretizaria.

No circo Jair Bolsonaro se destaca como um "case de sucesso". Abandonado depois do espetáculo para morrer de fome ou sede, o ex-presidente, menos competente do que um pequeno símio, utiliza toda sua verborragia e tenta emular os mesmos gestos de "homem do povo", com uma linguagem vulgar e seus discursos polarizadores. Como os macacos que imitam sem entender, Bolsonaro tenta criar uma conexão com as massas, mas sem compreender de fato suas lutas, seus desafios ou que não se joga um pão carioquinha sobre a mesa sem um duralex que seja. Ele é, em muitos aspectos, o reflexo de um líder que busca incessantemente a aceitação popular, se utilizando de um discurso de “anti-establishment”, de proteção contra um sistema corrupto, mas, ao mesmo tempo, reforçando um ciclo vicioso que fortalece os interesses de uma elite e- e de sua família - enquanto ignora as reais necessidades do povo.

Essas figuras públicas, ao imitarem os comportamentos populares, acabam refletindo, também, comportamentos que são reproduzidos em pessoas comuns, que se tornam militantes inconscientes, repetindo e espalhando fake news e narrativas que não só prejudicam a verdade, mas, muitas vezes, fortalecem os interesses dos poderosos. Há aqueles que, sem refletir sobre o impacto de suas palavras e ações, se dedicam a defender o direito de bilionários das big techs de desrespeitar seu próprio país, suas leis e até sua cultura. Eles militam em nome de grandes corporações, acreditando que, de algum modo, isso os colocará em um patamar mais elevado, como se fossem parte de algo maior, de um sistema que, na realidade, os explora, ao invés de servi-los.

A recente decisão de grandes plataformas como Facebook, Google e Twitter de reduzir ou descontinuar os checadores de fatos tem um reflexo direto nesse processo. Essa mudança expõe os usuários a um risco elevado de desinformação, ampliando as brechas pelas quais fake news podem se propagar sem restrições. A psicologia social das fake news é clara nesse contexto: sem mecanismos confiáveis de verificação, as pessoas ficam mais suscetíveis a consumir e compartilhar informações distorcidas que confirmam suas crenças preexistentes, mesmo quando essas informações são falsas. Isso alimenta a polarização social, criando bolhas de desinformação nas quais os indivíduos se isolam e só são expostos a narrativas que reforçam suas visões de mundo, muitas vezes sem qualquer filtro de verdade.

Ao espalharem informações falsas e ao defenderem a imoralidade das grandes empresas, essas pessoas se tornam como os macacos, reagindo a um sistema de desinformação sem entender que, ao defenderem interesses de gigantes como Google e Facebook, estão, na verdade, prejudicando seus próprios direitos e a soberania de seu país. Elas se tornam defensoras de um sistema que enfraquece a democracia, que manipula a verdade e que só fortalece aqueles que já têm um controle imenso sobre a economia e as informações. Sem as ferramentas de verificação, a desinformação se espalha sem freios, e as pessoas acabam alimentando um ciclo vicioso de confusão e polarização.

A falta de regulação das plataformas reflete as pressões econômicas e políticas que essas empresas enfrentam. Muitas vezes, elas se esquivam de implementar medidas rigorosas de verificação para não perder engajamento e audiência. No entanto, esse comportamento não só agrava a disseminação de fake news, mas também mina a confiança nas fontes legítimas de informação. O fenômeno é agravado pela psicologia da conformidade social, que leva as pessoas a seguirem as crenças e comportamentos de seus grupos, o que acelera o processo de desinformação, tornando ainda mais difícil corrigir ou desafiar o conteúdo falso.

Assim, como os macacos-prego, que imitam comportamentos sem refletir sobre os danos que causam, muitos se tornam defensores de um status quo que só os aprisiona mais. E no processo, espalham ideias destrutivas, que afetam tanto a eles mesmos quanto à sociedade como um todo. O país, imerso nesse ciclo de imitação, desinformação e defesa de interesses escusos, segue enveredando por um caminho perigoso, onde a verdadeira mudança e a justiça social são constantemente afastadas, enquanto a ilusão de poder e liberdade é alimentada por narrativas falsas que escondem a realidade do que está realmente acontecendo.

 

¨      Big Techs: o poder sem limites levará o mundo ao fascismo. Por Arnóbio Rocha

A adesão definitiva de Zuckerberg ao fascismo de Trump expõe os riscos das redes sociais.

A grande revolução do capitalismo, aquela que derrotou as sociedades do Leste, foi a revolução tecnológica. Um processo de desenvolvimento assombroso que teve vários saltos, iniciados na metade dos anos 1960, impulsionado pelo dinheiro fácil da corrida espacial, enormes investimentos em comunicações, infraestrutura de telecomunicações e o surgimento da microeletrônica e sua derivação de software. Quase tudo era usado na indústria militar, mas rapidamente se converteu em uso civil.

Um conceito de desenvolvimento não apenas baseado em ciência pura, mas em seu desdobramento tecnológico, foi trazido para uso intensivo em todos os ramos da indústria: carros mais modernos, mais rápidos, mais seguros, com menor consumo de petróleo (não menos poluentes); nos setores de serviços, especialmente nos bancos, bolsas e comércio; e chegou às residências com os computadores pessoais no final dos anos 70, se massificando em menos de 20 anos. Isso criou um padrão de vida diferente, que varreu, inclusive, o Muro de Berlim, na mais letal e direta propaganda de “liberdade”.

A virada dos anos 2000 veio com a crise das empresas de tecnologia, provocada pelos ganhos desenfreados e especulativos: a bolha tecnológica derrubou grupos seculares e consolidados com uma primeira geração de tecnologia, abrindo espaço para novos grupos, mais ligados a novas formas de comunicação, que romperam com os parâmetros anteriores. A grande massa humana deixou de ser espectadora e passou a ser ativa comunicadora, em formas embrionárias das redes sociais. O salto definitivo ocorreu com a revolução dos novos celulares, com alta qualidade para enviar e receber textos, vídeos e fotos, tornando-se comunicadores pessoais em qualquer lugar.

Por trás desse novo comportamento, surgiram as chamadas Big Techs, um pequeno grupo fechado de quatro ou cinco empresas que, em menos de uma década, se tornaram o “core” do capitalismo, pari passu com o sistema financeiro, numa simbiose de poder, controle e ideologia. Essa combinação é letal para as liberdades e garantias individuais, mas se apresenta como o oásis da LIBERDADE. É fácil dizer que nunca se teve tão pouca liberdade como agora, com tendência a piorar muito com a introdução massiva da Inteligência Artificial, que absorve completamente nossos conhecimentos, hábitos e modo de vida, sendo manipulados por grupos tecnológicos com tendências neofascistas.

Personagens obscuros como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jeff Bezos sustentam fascistas como Trump, Bolsonaro, Orbán e Milei — pessoas desprovidas de qualquer resquício de valores civilizatórios, humanos e éticos. Eles desprezam a vida, a democracia, o meio ambiente e padrões éticos de verdade. Aceitam como “liberdade de expressão” discursos de ódio, desprezo contra as mulheres, ataques raciais e sexuais, distorções religiosas e manipulações de governos, fustigando-os com fake news de livre circulação em suas poderosas redes.

O risco da hiperconcentração econômica, nas mãos de quatro Big Techs, sem nenhum controle público sobre elas, é alarmante. Ao contrário, são elas que determinam o que o poder público pode ou não fazer. Isso cria uma perspectiva de sociedade nos mesmos moldes do nazifascismo. Os governos locais perdem a capacidade política e econômica de impor qualquer limite, pois já não possuem a chamada SOBERANIA, especialmente a SOBERANIA DIGITAL.

Essa é a nossa tragédia. As Big Techs são maiores e mais fortes do que o poder religioso, por exemplo. Elas sabem quem somos, o que fazemos, conhecem nossos “pecados” (mais do que padres e confessores), nossas idiossincrasias, aprendem tudo sobre nós, controlam nossos desejos, impulsos e vícios com jogos de azar. Sabem de nossos limites humanos, exploram-nos e ainda nos convencem de que tudo isso é em nome da LIBERDADE.

 

¨      Zuckerberg revela influência do FBI em decisão de restringir o alcance de reportagem sobre filho de Joe Biden

Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, admitiu em uma conversa com o podcast de Joe Rogan que as restrições impostas a uma matéria do jornal New York Post sobre Hunter Biden – filho do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden – foram tomadas após alertas do FBI sobre possíveis propagandas de desinformação. As declarações do executivo ocorreram em um episódio do podcast de Joe Rogan, disponível no Spotify, conforme noticiado pela BBC.

Na ocasião, Zuckerberg explicou que, poucos dias antes das eleições presidenciais norte-americanas de 2020, sua equipe recebeu uma orientação do FBI para ficar em alerta máximo quanto à possibilidade de conteúdo falso, possivelmente ligado à Rússia, semelhante ao que teria sido disseminado em 2016. “O histórico aqui é que o FBI veio até nós – algumas pessoas da nossa equipe – e disse algo como: ‘Ei, só para vocês saberem, é melhor ficar atentos. Achamos que houve muita propaganda russa em 2016 e temos indícios de que vai surgir algo parecido agora’”, relatou Zuckerberg.

A reportagem em questão, publicada pelo New York Post, alegava a existência de e-mails comprometedores no laptop de Hunter Biden, que teria sido abandonado em uma oficina de reparos. Segundo o jornal, o conteúdo mostraria que o então vice-presidente Joe Biden estaria envolvido em negociações comerciais do filho na Ucrânia. Contudo, não há registro na agenda oficial de Biden sobre tais reuniões, e os dados permaneceram envoltos em desconfiança por parte de diversas agências de checagem de fatos.

Durante o podcast, Zuckerberg revelou que a equipe do Facebook restringiu, de forma temporária, o alcance do artigo no feed de notícias até que verificadores independentes pudessem analisar o material. “Quando removemos algo que não deveríamos, isso é o pior”, reconheceu ele, em tom de arrependimento, acrescentando que “quando a decisão está equivocada, isso é um péssimo resultado”. A plataforma não impediu completamente que as pessoas compartilhassem o link, mas reduziu significativamente o algoritmo de distribuição. Já o Twitter, por outro lado, baniu totalmente a publicação no início, revertendo a medida após grande pressão pública.

A polêmica se intensificou quando a história foi repassada por Rudy Giuliani, advogado do então presidente Donald Trump, ao jornal. Mais de um ano depois, o Washington Post realizou sua própria análise do disco rígido, concluindo que parte do conteúdo era autêntica, embora boa parte dos dados não pudesse ser verificada devido ao manuseio inadequado. Outros veículos, como o New York Times, também passaram a validar algumas mensagens do laptop.

Zuckerberg afirmou não gostar de se envolver em debates tão delicados: “Não entrei nesse negócio para ficar decidindo o que é ou não aceitável. Entrei para projetar tecnologia que conecta as pessoas. Mas, obviamente, tenho de participar dessas decisões em algum nível, pois, no final das contas, eu dirijo a empresa”. Ele reconhece, porém, que há críticas de ambos os lados do espectro político: “Dependendo de onde você está, pode achar que censuramos demais ou que não censuramos o suficiente”.

Apesar da controvérsia, a entrevista ao podcast de Joe Rogan destacou também os planos da Meta (empresa que controla o Facebook) para realidade virtual e apontou aspectos da vida pessoal de Zuckerberg. Ainda assim, o ponto alto foram as justificativas do empresário sobre como a plataforma lida com a complexa tarefa de impedir a desinformação sem cercear a liberdade de expressão.

<><> Europeus acham que Musk é ameaça maior para Europa do que planos de Trump

Altos funcionários da União Europeia (UE) acham que a ideia do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de incorporar a Groenlândia aos EUA é "maluca", mas acham que as declarações dele não refletem seus planos reais, enquanto Elon Musk, associado de Trump, é "realmente assustador", informa o jornal Financial Times.

"Nós esperávamos algo. Estávamos planejando algo. Mas nada tão louco", comentou um funcionário europeu ao jornal sobre os comentários de Trump a respeito da anexação da Groenlândia. 

Por outro lado, interlocutores europeus da imprensa, que já conversaram com representantes da equipe de Trump, disseram que seus associados são calmos e bastante razoáveis, e o que Trump diz ao seu pessoal sobre seus próprios planos não é o que se ouve em coletivas de imprensa.

No entanto, os europeus veem uma certa complexidade em como lidar com Elon Musk e sua interferência na política europeia.

"Musk é algo realmente assustador", disse outro funcionário da UE.

Anteriormente, Trump anunciou que Elon Musk e o empresário Vivek Ramaswamy liderarão o novo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) durante sua segunda presidência. Além disso, o jornal The Washington Post chamou Musk de "presidente-sombra" dos Estados Unidos após sua interferência ativa no processo de debate de um projeto de lei para financiar o governo federal.

 

Fonte: Brasil 247 

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