Moisés
Mendes: Traficantes são mais transparentes do que as quadrilhas das emendas
parlamentares
Poucos
brasileiros sabem dizer como funcionam as facções e os mecanismos das emendas
parlamentares. Mas já sabem que as emendas mobilizam políticos articulados com
organizações criminosas paroquiais.
Muitos
também já sabem, na Polícia Federal, no Ministério Público e dentro do
Congresso, que essa talvez seja a maior estrutura do crime organizado já
montada a partir de deliberações de políticos que movimentam bilhões.
Os
poucos que sabem como funcionam essas estruturas são das áreas de investigação
ou estão dentro das próprias engrenagens ou delas se beneficiam.
Nem o
ministro Flavio Dino, que foi deputado federal, tem clareza de como a coisa foi
acionada no mais recente movimento que liberou R$ 4,2 bilhões na Câmara. Tanto
que pediu e a PF vai investigar como destinaram dinheiro das tais emendas em
comissão em meio à votação do pacote de cortes do governo.
Agora
leia o seguinte e tente entender como funciona. As emendas em comissão são
indicadas por colegiados temáticos no Congresso, na Câmara e no Senado. Esse
formato ludibria a proibição pelo STF das emendas de relator, depois liberadas
com restrições.
Entenderam?
Não tem como entender. Dino exige que, para que se cumpram as regras de
transparência e rastreabilidade, o Congresso informe a origem da indicação da
emenda (por qual parlamentar) e o destino dos recursos (onde e como serão
aplicados).
Pois o
governo do Estado e a prefeitura de São Paulo têm, por informações resultantes
de investigações, a transparência e os rastros de atividades do crime
organizado dentro do setor público paulista e paulistano.
Tanto
que sabem, por movimentações financeiras, anotações, contabilidade vazada e
delações, quem são os policiais do governo de Tarcísio de Freitas envolvidos
com o PCC. E quais são as empresas que prestam serviços à prefeitura de Ricardo
Nunes e também pertencem ou têm vínculos com o crime organizado.
Mas
Arthur Lira não diz a Flavio Dino, porque sabe mas não pode delatar, quem pega
dinheiro público secretamente, para destinar a não se sabe quem e ao quê. Mesmo
que venha a dizer, a investigação não estará completa.
Só irá
se completar quando soubermos quem, na ponta de prefeitos e vereadores, está
envolvido com empresários e gangues locais na aplicação do dinheiro. Porque a
identificação da origem é só a pista para que se chegue ao destino.
E aí,
quando essa primeira investigação em torno dos R$ 4,2 bilhões estiver completa,
a PF e o Ministério Público terão referências para saber como chegar ao resto.
E o resto envolve algo ao redor de R$ 50 bilhões, se é que alguém tem a conta
certa.
Descobriremos
por que as quadrilhas do tráfico têm uma contabilidade mais transparente do que
a turma de Lira. As quadrilhas identificam quem produz, quem faz
intermediações, quem vende e compra. São dados dos cadernos do crime
organizado.
As
emendas da turma de Lira não aparecem em nenhuma contabilidade que possa ser
auditada. Porque formalmente não existem ou são escondidas ou camufladas.
Tarcísio
de Freitas, Ricardo Nunes e seus altos assessores sabem bem que o crime
organizado de São Paulo registra suas movimentações e suas relações com o
poder.
Os
profissionais da turma de Arthur Lira precisam ensinar essa gente a ser mais
mafiosa, a deixar menos rastros e a ser menos transparente.
¨ “O
Congresso Nacional hoje serve ao rentismo e se beneficia com as emendas”, diz
José Genoino
O
ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoino,
criticou duramente o papel do Congresso Nacional na atual estrutura de poder no
Brasil, além de apontar problemas no modelo econômico e na política de
segurança pública. Ele defendeu a necessidade de enfrentamento contra o que
chamou de “sistema de rentismo” e propôs uma nova coalizão política para
viabilizar mudanças no país.
“O
Congresso Nacional serve à política do rentismo. Essa política favorece o
centrão, daquilo que é mais conservador. Ele é ligado à currutela, às emendas
individuais. Você vê algo atrasado da história política da República com algo
aparentemente moderno, que é o sistema de administração de ativos, mais grave
do que os bancos tradicionais. Nós temos que fazer um enfrentamento”, afirmou
Genoino.
Segundo
ele, o governo enfrenta três grandes tutelas: a segurança pública, o rentismo e
o Congresso Nacional, que, na visão dele, busca “capturar o papel do presidente
da República como chefe de Estado e chefe de governo”. Ele destacou que o
rentismo vai além dos bancos tradicionais, pois envolve a administração de
ativos, o que, em sua avaliação, “leva a um grau de especulação, um grau de
terrorismo econômico que não tem limite”.
Para
Genoino, a crise é aprofundada pela existência das emendas impositivas, que
enfraquecem o Executivo e criam instabilidade institucional. “Enquanto existir
emenda impositiva, que é automaticamente liberada sem passar pelo crivo de quem
é o chefe do governo, nós vamos ter um agravamento da crise institucional. O
Parlamento quer governar com medidas impositivas. Não há solução com emenda
impositiva para transparência ou rastreabilidade”, destacou.
Ele
também fez críticas ao modelo de segurança pública, que classificou como uma
“guerra social” direcionada contra a população mais vulnerável. “Essa população
destituída de direitos tem que ser eliminada, ou pela violência do Estado
através do sistema de segurança punitivista, ou pelas milícias do crime
organizado. A população pobre e excluída é alvo dessa política”, afirmou.
Genoino
defendeu que o governo deve criar um novo modelo de coalizão política baseado
na mobilização da classe trabalhadora, consumidores, pequenos proprietários e
movimentos da sociedade civil. “Esse modelo de coalizão que vem com a
institucionalidade do golpe tem que ser enfrentado. Nós precisamos de um
enfrentamento democrático, de polarização e de um novo diálogo com a sociedade.
Governar hoje é enfrentar dois grandes obstáculos: o atraso e o moderno que
serve ao sistema financeiro e ao rentismo”, concluiu.
A
entrevista ocorre em um contexto de tensão entre o Executivo e o Legislativo,
especialmente após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu o
pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares. A medida foi criticada
por líderes partidários, mas o presidente Lula tentou acalmar os ânimos em
reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira, na última quinta-feira (26),
reafirmando que o governo federal não interferiu no julgamento do STF e
buscando alternativas para resolver o impasse.
¨ "Não
tem cabimento um deputado ter mais recursos que um ministério”, diz Glauber
Braga
Glauber Braga (PSOL-RJ) fez
duras críticas à gestão de emendas parlamentares liderada por Artur Lira
(PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados. O deputado destacou o
descumprimento de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e irregularidades
na distribuição de recursos públicos, com foco na concentração de verbas no
estado de Alagoas, reduto eleitoral de Lira.
“Hoje, um deputado federal
indica mais recursos do que um ministério na Esplanada. Isso não tem
cabimento!”, afirmou Glauber, ressaltando que o atual modelo de distribuição de
emendas cria um sistema de poder desproporcional. Segundo ele, Lira não apenas
desrespeitou decisões do STF sobre a transparência nas emendas, mas também
ignorou normas internas da própria Câmara para beneficiar seu estado e
consolidar seu projeto político.
Denúncias de irregularidades e favorecimento
político
Glauber explicou que o STF
determinou que emendas parlamentares devem ser rastreáveis e contar com atas em
comissões para identificar a origem e o destino dos recursos. Apesar disso,
Artur Lira teria alocado, de forma arbitrária, cerca de R$ 180 milhões, sendo
R$ 70 milhões direcionados exclusivamente para Alagoas. "O que justifica
que Alagoas receba a maior fatia das emendas parlamentares, em um esquema que
começa e permanece secreto?", questionou o parlamentar.
Ele também citou o caso dos
"kits de robótica", em que recursos do orçamento secreto foram
supostamente usados para beneficiar aliados políticos de Lira. Glauber
mencionou ainda a ligação entre familiares de Lira e Luciano, articulador do
PP, em empresas que estariam envolvidas em práticas suspeitas durante o governo
Bolsonaro. "O que está sendo feito com essas emendas parlamentares é
inconfessável", afirmou.
<><> Mandado de segurança e ações
judiciais
Diante das irregularidades,
Glauber e o PSOL protocolaram um mandado de segurança no STF e apresentaram uma
representação ao Supremo, apontando o descumprimento das regras de
transparência pela Câmara. O parlamentar elogiou a postura do ministro Flávio
Dino, que determinou a suspensão da liberação de R$ 4 bilhões em emendas sem
deliberação adequada. "Flávio Dino está fazendo o correto e merece nosso reconhecimento",
declarou.
Além disso, o deputado
criticou a estrutura de poder construída por Lira, baseada no controle de
bilhões de reais em emendas. “Se não enfrentarmos esse esquema agora, no futuro
será tarde demais”, alertou. Glauber também propôs que as emendas fiquem
congeladas até o término do recesso parlamentar e sejam discutidas em sessões
extraordinárias, garantindo a transparência necessária.
<><> Impactos no governo e na
governabilidade
A denúncia de Glauber Braga
reflete as tensões crescentes entre o Legislativo e o Executivo, sobretudo no
contexto do orçamento secreto e do manejo de recursos públicos. Segundo o
deputado, a atual situação obriga ministérios a "implorar" por verbas
enquanto parlamentares têm à disposição somas desproporcionais. "Não é
justificável que um ministério tenha que ficar de pires na mão enquanto
deputados concentram mais de R$ 50 bilhões em emendas", criticou.
As declarações de Glauber
Braga colocam luz sobre o poder desmedido do presidente da Câmara e levantam
questões sobre o uso de recursos públicos no Brasil. A falta de transparência e
a centralização de emendas parlamentares apontam para um modelo político que
favorece interesses particulares em detrimento do interesse público. Para
Glauber, é essencial que as instituições atuem de forma firme para frear o que
considera "um esquema insustentável".
¨ "Este
legislativo começou toda essa bagunça", diz Fernando Horta sobre
concentração de poder no Congresso
O
historiador Fernando Horta fez duras críticas ao papel do Congresso Nacional na
gestão de recursos públicos e na condução política do país. Para ele, a atual
configuração das emendas parlamentares, aliada ao controle do Legislativo sobre
grande parte do orçamento, representa um grave desequilíbrio institucional que
enfraquece a democracia brasileira.
Horta
apontou que o modelo atual das emendas parlamentares cria distorções na
distribuição de recursos públicos e no papel do Legislativo. “O Congresso
decide que, dessa quantidade de dinheiro que todo mundo produziu, ele vai abocanhar
R$ 50 bilhões por ano. Nenhum país do mundo tem verbas discricionárias
proporcionais tão grandes quanto o Brasil” (disse Horta, destacando a
concentração de recursos nas mãos dos parlamentares).
Para o
historiador, essa situação não é fruto apenas de decisões recentes, mas de um
processo histórico que ganhou força em governos passados. Ele alertou para os
riscos de institucionalização dessa prática: “Se esse acordo não for rompido,
quando Arthur Lira sair da presidência, ele vai institucionalizar o que foi
feito, transformando o Brasil em um parlamentarismo de fato, muito menos
democrático do que se tivéssemos votado isso lá atrás” (afirmou Horta,
referindo-se ao impacto das emendas no sistema político).
Horta
também ligou o problema das emendas à recente atuação do governo federal e do
Supremo Tribunal Federal (STF), que têm buscado reverter parte das distorções
criadas. Ele destacou a importância de medidas como a suspensão de emendas pelo
ministro da Justiça, Flávio Dino, mas alertou para os desafios dessa disputa:
“O Dino está comprando uma briga tremendamente complicada. Espero que ele saia
ganhando” (observou, mencionando a relevância das ações judiciais para conter
abusos).
O
historiador concluiu que a sociedade precisa acompanhar e pressionar o
Legislativo para evitar retrocessos, argumentando que a mobilização social é
indispensável para garantir mudanças. “A luta social é essencial, e o povo
precisa mostrar o que quer. Só assim haverá força para enfrentar interesses
instalados” (ressaltou Horta, enfatizando a necessidade de engajamento
popular).
Fonte: Brasil 247
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