sábado, 11 de janeiro de 2025

As bolhas de milhões de anos que podem resolver mistério da Idade do Gelo

O que provavelmente é o gelo mais antigo do mundo, datado de 1,2 milhão de anos atrás, foi extraído das profundezas da Antártica.

Trabalhando a temperaturas de -35°C, uma equipe de cientistas extraiu um cilindro, ou núcleo, de gelo de 2,8 km de comprimento - maior do que oito torres Eiffel de ponta a ponta.

Suspensas dentro do gelo, estão bolhas de ar antigas que os cientistas esperam que ajudem a resolver um mistério duradouro sobre a história climática do nosso planeta.

Os cientistas europeus trabalharam durante quatro verões na Antártica, competindo contra sete nações para serem os primeiros a chegar à rocha sob o continente gelado.

O trabalho pode ajudar a desvendar um dos maiores mistérios da história climática do nosso planeta: o que aconteceu há 900 mil a 1,2 milhão de anos, quando os ciclos glaciais foram interrompidos e, segundo alguns pesquisadores, nossos ancestrais chegaram perto da extinção.

"É uma conquista incrível", diz Carlo Barbante, professor da Universidade Ca' Foscari de Veneza (Itália), que coordenou a pesquisa.

"Você tem em suas mãos um pedaço de gelo com um milhão de anos. Às vezes, você vê camadas de cinzas provenientes de erupções vulcânicas. Vemos as pequenas bolhas em seu interior, algumas bolhas de ar que nossos ancestrais respiraram há um milhão de anos", diz ele.

A equipe foi liderada pelo Instituto Italiano de Ciências Polares e incluiu 10 países europeus.

Foi necessário transportar o equipamento de perfuração, os laboratórios e o acampamento por 40 km em veículos de neve da base de pesquisa mais próxima.

O local da perfuração, chamado Little Dome C, fica no platô antártico, no leste do continente, a quase 3.000 m de altitude.

Os núcleos de gelo são vitais para a compreensão dos cientistas sobre como nosso clima está mudando.

Eles retêm bolhas de ar e partículas que revelam os níveis de emissões de gases de efeito estufa e a variação de temperatura que ajudam os cientistas a traçar como as condições climáticas se alteraram ao longo do tempo.

Os dados de outros núcleos de gelo, incluindo um chamado Epica, ajudaram os cientistas a concluir que o atual aumento de temperatura ligado às emissões de gases de efeito estufa é causado pela queima de combustíveis fósseis pelos seres humanos.

Mas os cientistas queriam voltar ainda mais no tempo.

Agora, com este projeto Beyond Epica: Oldest Ice (em tradução livre: Além de Epica: o gelo mais antigo), eles ganharam potencialmente mais 400 mil anos de história.

"Há muito do passado em nosso futuro. Olhamos para o passado para entender melhor como o clima funciona e como podemos projetá-lo para o futuro", diz o professor Barbante.

A equipe teve "últimos dias de roer as unhas", pois conseguiu perfurar ainda mais fundo do que o previsto pelos dados do radar, diz Robert Mulvaney, cientista de núcleos de gelo da British Antarctic Survey.

O núcleo foi retirado lentamente da camada de gelo usando uma máquina de perfuração e os cientistas limparam cuidadosamente o gelo com panos.

Agora, ele está sendo cortado em pedaços de um metro para ser transportado de barco da Antártica a -50ºC.

As peças chegarão aos freezers de várias instituições europeias, incluindo o British Antarctic Survey em Cambridge, na Inglaterra, onde os cientistas começarão a análise.

Os especialistas querem entender o que aconteceu em um período de 900 mil a 1,2 milhão de anos atrás chamado de Transição do Pleistoceno Médio.

Nessa época, a duração do ciclo entre glaciais frios e interglaciais quentes passou de 41 mil anos para 100 mil anos. Mas os cientistas nunca entenderam o motivo.

Esse é o mesmo período em que, de acordo com algumas teorias, os ancestrais dos seres humanos atuais quase morreram, talvez caindo para cerca de apenas 1.000 indivíduos.

Os cientistas não sabem se há uma ligação entre essa quase extinção e o clima, explica Barbante, mas isso demonstra que é um período incomum que é importante entender melhor.

"O que eles encontrarão é uma incógnita, mas sem dúvida ampliará nossa janela para o passado do nosso planeta", disse à BBC News o professor Joeri Rogelj, do Imperial College de Londres, que não estava envolvido no projeto.

 

¨                Vórtice polar: o que é o fenômeno que derrubou as temperaturas nos EUA e congelou a costa leste

Pelo menos seis pessoas morreram em uma tempestade de inverno que tomou conta de uma parte dos Estados Unidos e levou ao fechamento em massa de escolas, caos nas viagens e cortes na rede de eletricidade.

Sete Estados dos EUA declararam situação de emergência: Maryland, Virgínia, Virgínia Ocidental, Kansas, Missouri, Kentucky e Arkansas.

Mais de 2,3 mil voos foram cancelados, com quase 23 mil atrasos também relatados devido ao clima extremo relacionado a um fenômeno chamado vórtice polar (entenda mais sobre ele a seguir).

Cerca de 190 mil pessoas estão sem eletricidade nesta terça-feira (7/1) em todos os Estados que estão no caminho da tempestade.

Neve e granizo devem continuar a cair durante o dia em grande parte do nordeste dos EUA, de acordo com o Serviço Nacional de Clima (NWS, na sigla em inglês).

Quando a chuva se dissipar por uma área maior do país, espera-se que o ar frio do Ártico mantenha as condições geladas na América do Norte por mais algumas semanas.

Em Washington — onde aconteceu na segunda-feira (6/1) a reunião para certificar a vitória de Donald Trump na eleição de novembro — houve um acúmulo de 13 a 23 cm de neve.

A ex-esquiadora olímpica americana Clare Egan foi encontrada praticando esqui cross-country no National Mall, a via central da capital dos EUA.

Ela disse à Associated Press que pensava que seus "dias de esqui talvez estivessem para trás", depois de se mudar para a cidade.

As crianças, que deveriam voltar às aulas na segunda-feira após as férias de inverno, aproveitaram um dia de neve enquanto os distritos escolares estavam fechados de Maryland até o Kansas.

Em outras partes dos EUA, a tempestade de inverno trouxe condições perigosas nas estradas.

No Missouri, a patrulha rodoviária do Estado disse que pelo menos 365 pessoas sofreram acidentes no domingo (5/1), o que deixou dezenas de feridos e pelo menos um morto.

No Kansas, um dos locais mais atingidos, as notícias relataram que duas pessoas morreram em um acidente de carro durante a tempestade.

Na cidade de Houston, no Texas, uma pessoa foi encontrada morta por causa do frio em frente a um ponto de ônibus na manhã de segunda-feira, divulgaram as autoridades.

Na Virgínia, onde 300 acidentes de carro foram relatados após a meia-noite de segunda-feira, as autoridades pediram que os moradores evitem dirigir em grandes partes do Estado.

Pelo menos um motorista morreu, de acordo com relatos da mídia local.

Matthew Cappucci, meteorologista sênior do aplicativo MyRadar, disse à BBC que Kansas City viu a neve mais pesada em 32 anos.

Algumas áreas perto do rio Ohio se transformaram em "pistas de patinação" com as temperaturas gélidas, acrescentou ele.

"Os arados estão presos, a polícia está presa, todo mundo está preso. Portanto, fique em casa", orientou.

<><> O que é o vórtice polar

O vórtice polar é um fenômeno climático que ocorre o tempo todo: são ciclones que se formam nos polos, na região da média e da alta troposfera (região mais baixa da atmosfera) e da estratosfera.

Eles se mantêm em diferentes velocidades — e graças a eles o ar frio permanece sobre os polos.

Esses ciclones permanentes ficam mais fortes e mais amplos durante o inverno, e perdem a força no verão.

Segundo especialistas, múltiplos fatores climáticos podem fazer com que esse ar acabe liberado, desça em direção ao sul e vá para camadas inferiores da atmosfera.

O resultado é o atual quadro de frio intenso que assola a América do Norte, que ganhou o nome de tempestade Blair.

Em partes do Canadá, foram registradas temperaturas de -40 °C.

A onda de frio também é resultado de outro fenômeno que ocorre no alto da atmosfera: a corrente de jato polar, um fluxo forte e concentrado de ar em uma direção específica.

Isso é o que impulsiona a forte frente fria e faz com que áreas de baixa pressão se movimentem.

Esses sistemas de baixa pressão produziram as grandes nevascas dos últimos dias. Mas, atrás dessas áreas de baixa pressão, vem o ar frio de verdade: os ventos glaciais que trazem as baixas temperaturas do polo norte.

A força do vento combinada com o ar extremamente frio é que causa os problemas que acontecem nessas ocasiões.

A previsão é que essa massa de ar frio que vem do Ártico siga para o sul, atravesse grande parte do país durante a próxima semana, e chegue até a Costa do Golfo.

O fenômeno acontece com certa frequência no inverno do hemisfério norte. Em 2014, mais de cinco mil voos foram cancelados e ao menos 16 pessoas morreram em uma onda de frio congelante no meio-oeste dos Estados Unidos.

Em 2019, o vórtice polar deixou dezenas de milhões de pessoas abaixo de 0 ºC na mesma região.

<><> A culpa é das mudanças climáticas?

O meteorologista Simon King, apresentador da BBC, explica que é bem incomum ver uma tempestade de inverno tão grande nos EUA e com temperaturas tão abaixo da média, tão ao sul.

Segundo ele, mesmo em alguns Estados nas Planícies Centrais, no fim de semana, houve de 30 a 38 centímetros de neve — a mais pesada nevasca da última década.

King destaca que, embora exista um aquecimento global geral, há algumas áreas, como as regiões do Ártico, que estão esquentando mais rápido do que o resto do globo.

Algumas pesquisas sugerem que a diferença na mudança de temperatura provavelmente enfraquecerá ainda mais o Vórtice Polar e, portanto, resultará em mais interrupções, permitindo que o ar frio do Ártico seja deslocado para latitudes mais baixas.

Então, embora muitos possam pensar que em um mundo em aquecimento não haverá tempestades de inverno, esse não é necessariamente o caso.

Ainda que as temperaturas médias geralmente aumentem nos Estados, haverá esses períodos curtos, mas potencialmente severos, de inverno intenso, pontua o meteorologista.

 

Fonte: BBC News

 

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