sábado, 11 de janeiro de 2025

Musk faz campanha para ultradireita na Alemanha em live no X

O bilionário Elon Musk realizou nesta quinta-feira (09/01) uma transmissão ao vivo em sua plataforma de mídia social X  ao lado da líder do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD)Alice Weidel, candidata à chefia de governo nas eleições gerais de 23 de fevereiro.

O envolvimento de Musk nas eleições alemãs gera preocupações em toda a Europa, também em relação a uma possível interferência do proprietário do X, Tesla e SpaceX no processo eleitoral.  Após apoiar Donald Trump nas eleições americanas e abrir negociações para financiar populistas no Reino Unido, Musk voltou suas atenções para a próxima eleição federal alemã, afirmando repetidas vezes que "só a AfD pode salvar a Alemanha" – frase repetida por ele na live desta quinta-feira.

O apoio foi celebrado e reproduzido inúmeras vezes pelos líderes do partido, que é rotineiramente acusado de abrigar neonazistas e que tem vários diretórios estaduais monitorados de perto por serviços de inteligência por suspeita de afronta aos valores constitucionais.

Há poucos dias, Musk publicou um artigo de opinião no jornal alemão Welt am Sonntag afirmando que a AfD seria a "última centelha de esperança" para a Alemanha. Ele alegou que o país, sob o governo do chanceler de centro-esquerda Olaf Scholz, estaria "oscilando à beira do colapso econômico e cultural". Em dezembro, Musk chamou Scholz de "tolo incompetente" e disse que o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, era um "tirano antidemocrático".

<><> Críticas a Merkel

Na transmissão ao vivo, acompanhada por mais de 200 mil perfis no X, Musk e Weidel trataram de uma série de temas controversos. Na primeira parte da conversa, ambos discutiram a política energética alemã.  A ultradireitista se referiu à ex-chanceler Angela Merkel como "a primeira chanceler verde da Alemanha", aparentemente em referência aos seus esforços em prol das energias renováveis, um movimento que começou muito antes do mandato de Merkel. A ex-chanceler pertence ao partido conservador tradicional União Democrata Cristã (CDU).

Weidel criticou o fato de a Alemanha ter se afastado da energia nuclear e investido em energia solar e eólica, e disse que a dependência alemã do gás natural russo foi evidenciada em meio à invasão da Ucrânia, criticando o uso temporário do carvão para cobrir as lacunas energéticas. Weidel, porém, omitiu que seu partido – tido como pró-Rússia – defende justamente as usinas de carvão e o reabastecimento da Alemanha com gás russo, ao lado da retomada da energia nuclear.

A líder da AfD alegou que Merkel "arruinou" o país, principalmente devido à sua atuação durante a crise migratória de 2015, quando centenas de milhares de migrantes chegaram ao país, fugindo de guerras e da pobreza em países como SíriaAfeganistão e Iraque. A dupla também abordou tópicos como a baixa avaliação dos alunos alemães nos estudos internacionais como o Pisa, com Weidel alegando que a queda nas notas alemãs pode ser atribuída a fatores como as "questões de gênero socialistas" que estariam tomando tempo demais durante as aulas.

<><> Hitler "comunista"?

Em certo ponto, Musk fez alusão ao passado nazista da Alemanha e pediu que Weidel comentasse sobre a associação comumente feita entre a AfD e a extrema direita. Ela se queixou do tratamento público dedicado ao seu partido na mídia tradicional alemã e disse que a alternativa "libertária" representada pela AfD foi injustamente rotulada como sendo de extrema direita, embora haja inúmeros fatores que permitam essa interpretação.

Weidel também alegou falsamente que o próprio Adolf Hitler não era de direita, e sim de esquerda, e que a prova disso seria o fato de regime nazista identificar sua ideologia como "nacional-socialismo", reavivando uma tese que já foi amplamente debatida e refutada por especialistas, inclusive no Brasil, de que o nazismo seria de esquerda. Apontando para as políticas econômicas e para os gastos pesados do regime nazista, enquanto rearmava a Alemanha e a preparava para a guerra com quase toda a Europa, Weidel argumentou que a palavra que definia Hitler e os nazistas era "socialista", e não "nacional".

No entanto, o próprio Hitler afirmou à época que queria resgatar o termo "socialismo" da forma como era empregado pelos marxistas que, segundo disse, mancharam o que poderia ter sido uma base viável de política econômica de Estado. Durante o nazismo, comunistas e socialistas foram sistematicamente perseguidos e reprimidos. Parte da propaganda nazista se baseava na antagonização com o "mal vermelho" representado pelo comunismo, cujas pontas de lança seriam os judeus e soviéticos. 

<><> Antissemitismo

Musk e Weidel se disseram preocupados com o aumento do antissemitismo, sinalizando um contraste com algumas atitudes anteriores do bilionário. Em 2023, ele endossou uma postagem no X que alegava falsamente que membros da comunidade judaica estavam alimentando o ódio contra os brancos. A mensagem também se referia a uma teoria da conspiração que argumenta que os judeus apoiaram a chegada da população não branca aos países ocidentais – teoria apoiada pelo homem que atacou uma sinagoga em Pittsburg em 2018 e matou 11 pessoas. "Você disse a pura verdade", respondeu Musk ao usuário na época. No entanto, ao discutir o conflito Hamas-Israel, Musk citou o provérbio que diz "olho por olho deixa um homem cego", e Weidel concordou, numa crítica à ação militar de Israel na Faixa de Gaza.

                          <><> UE monitora abusos nas redes

A conversa de Musk e Weidel foi acompanhada de perto pela Comissão Europeia, que acusou o X de violar a Lei de Serviços Digitais (DSA, na sigla em inglês) do bloco. A regulamentação foi criada para controlar as atividades das plataformas de mídia social e proteger usuários da internet de danos online. Autoridades da Comissão dizem que Musk tem o direito de expressar suas opiniões, mas ressaltam que a DSA foi criada para conter os riscos de que as plataformas sejam utilizadas para amplificar conteúdo ilegal, incluindo discurso de ódio ou desinformação relacionada a eleições. Também ressaltam que a plataforma não pode ser usada para favorecer um partido em detrimento de outro na campanha, conferindo-lhe uma vantagem indevida na corrida eleitoral.

Atualmente, uma equipe de até 150 funcionários da entidade investiga se o X age em conformidade com as leis europeias. Eles possuem poderes investigativos de longo alcance que lhes permitem visitar os escritórios do X, solicitar acesso ao seu algoritmo e monitorar correspondências internas. Na live com Musk, Weidel chamou a DSA de "ridícula" e acusou o conjunto de leis de "censurar a liberdade de expressão".

                              <><> Musk amplia influência na Europa

As incursões de Musk na política geram alarme em toda a Europa. Além de endossar a AfD, Musk exigiu a libertação do extremista anti-islâmico do Reino Unido Tommy Robinson, chamou o primeiro-ministro britânico Keir Starmer de tirano maligno e disse que ele deveria estar na prisão. Na Polônia, há preocupações de que Musk possa usar sua influência para interferir na eleição presidencial do país, em maio.

<><> AfD em segundo lugar nas pesquisas

A AfD vem ganhando popularidade nos últimos anos, com as pesquisas de opinião mostrando que o partido já é o segundo mais popular do país atrás apenas da CDU, à medida em que a ultradireita tem deixado de ser tabu na Europa. Os democratas cristãos são os favoritos para vencer a eleição, com 31% de apoio, segundo as últimas pesquisas. A AfD, por sua vez, teria 20% das intenções de voto, à frente de outras legendas tradicionais, como Partido Social-Democrata (SPD) de Olaf Scholz e os Verdes. É improvável, porém, que o partido integre qualquer coalizão de governo, dada a aversão dos partidos tradicionais alemães à AfD em razão da experiência traumática do país com o nazismo. O apoio à AfD cresceu como resultado do descontentamento com o governo liderado por Olaf Scholz. Sua popularidade também reflete uma frustração cada vez maior com a economia alemã e o envolvimento do país na União Europeia, na Otan e na guerra na Ucrânia.

¨      Apoio de Musk beneficia AfD, segundo maioria dos alemães

O apoio do bilionário Elon Musk à Alternativa para a Alemanha (AfD) contribuiu para a vantagem do partido de ultradireita nas intenções de voto, às vésperas da eleição legislativa antecipada de 23 de fevereiro, indicou uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (08/01). Na pesquisa do instituto YouGov, encomendada pela agência de notícias DPA, 59% dos participantes declararam que as opiniões de Musk beneficiaram a AfD, enquanto para apenas 4% o efeito teria sido contrário. Para 24% não houve qualquer impacto, e 13% se declararam indecisos. Com uma margem de erro de mais ou menos 2,07 pontos percentuais, a pesquisa realizada entre 3 e 6 de janeiro na Alemanha contou com 2.246 participantes maiores de 18 anos. Consultor de confiança e importante apoiador político do presidente americano eleito, Donald Trump, Musk provocou polêmica ao declarar apoio à AfD em sua plataforma X e, em seguida, num artigo de opinião para o jornal alemão Die Welt.

<><> Maioria duvida de discernimento político de Musk

Por outro lado, a pesquisa do YouGov também sugere que não muitos esperam que os comentários de Musk em sua própria plataforma afetem significativamente as próximas campanhas eleitorais na Alemanha: para apenas 27% dos entrevistados essa influência seria grande ou muito grande, enquanto para 50% ela seria mínima, e para 13%, nula. Uma maioria de 68% questionou a capacidade do magnata da tecnologia de julgar a situação política alemã, enquanto 21% o consideraram apto a tal. Do total, 63% são a favor de uma regulamentação pelo menos parcial das redes sociais, a fim de evitar interferências na política interna. Entre os eleitores da AfD, a maioria (58%) é contra a medida.

Musk não é o único conservador americano poderoso a se imiscuir recentemente nas próximas eleições alemãs, em favor do partido de ultradireita: o vice de Trump, JD Vance afirmou, falsamente que "a AfD é mais popular nas regiões alemãs que foram mais resistentes aos nazistas".

¨      Scholz critica comentários "erráticos" de Musk e apoio à AfD

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD), criticou em uma entrevista publicada neste sábado (04/01) os comentários recentes feitos pelo empresário Elon Musk sobre ele e o presidente alemão, bem como seu apoio ao partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD). Homem mais rico do mundo, dono da Tesla, da SpaceX e da rede social X, Musk foi também o maior doador da campanha de Donald Trump e se posiciona para ter grande influência sobre o governo do novo presidente americano, que toma posse em 20 de janeiro.

Em dezembro, Musk chamou Scholz de "tolo incompetente", disse que o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, era um "tirano antidemocrático", e publicou um artigo de opinião no jornal alemão Welt am Sonntag afirmando que a AfD seria a "última centelha de esperança" para a Alemanha, que realiza eleições antecipadas em 23 de fevereiro. Indagado, Scholz disse à revista que, "tudo está ocorrendo de acordo com os desejos de nossos cidadãos, e não com os comentários erráticos de um bilionário americano", e que era importante "manter a calma" antes das eleições. "O presidente alemão não é um tirano antidemocrático e a Alemanha é uma democracia forte e estável – não importa o que o sr. Musk diga", afirmou Scholz.

<><> Apoio à AfD preocupa

O chanceler federal alemão considera que o apoio público de Musk à AfD era "muito mais problemático do que esses insultos".  A AfD, que está em segundo lugar nas pesquisas atrás dos conservadores da União Democrática Cristã (CDU), "defende laços mais estreitos com a Rússia de Putin e quer enfraquecer os laços transatlânticos", disse Scholz. Questionado se ele também gostaria de debater com Musk, Scholz disse: "Não acho que seja necessário procurar os favores do sr. Musk. Deixarei isso para os outros".

<><> Interesses comerciais

O chanceler federal lembrou que já havia se encontrado com Musk uma vez, em março de 2022, na inauguração da fábrica da Tesla no estado alemão de Brandemburgo "em um momento em que o diretório local da AfD estava protestando contra isso". Naquele ano, Musk fez um pedido pessoal a Scholz em uma ligação telefônica sobre os planos do governo federal alemão de subsidiar estações de recarga elétrica em todo o país. A Tesla opera seu próprio sistema de estações de recarga na Alemanha.

<><> Habeck fala em "ataque frontal à democracia"

O vice-chanceler federal alemão, Robert Habeck, do Partido Verde, usou palavras mais incisivas para Musk. "Tire as mãos de nossa democracia, Sr. Musk!", disse à revista alemã Der Spiegel quando perguntado se Musk era uma ameaça para a Alemanha. Ele também criticou o apoio declarado de Musk à AfD. Habeck disse que o bilionário está fazendo tudo o que pode para promover seus próprios interesses. "A combinação de imensa riqueza, controle sobre informações e redes, o uso de inteligência artificial e a vontade de ignorar regras é um ataque frontal à nossa democracia", afirmou na entrevista, publicada na sexta-feira.Ele ainda descreveu o recente artigo de Musk endossando a AfD como "horrível" e alertou que suas tentativas de influenciar a política alemã não devem ser subestimadas. "O homem mais rico do mundo, dono de uma das plataformas de comunicação mais poderosas, apoia abertamente um partido que é parcialmente de extrema direita. Não devemos cometer o erro de ignorar isso", disse.

<><> Bilionário e a política europeia

A Alemanha não é o único alvo de Musk na Europa, onde muitos governos já estão lutando contra a ascensão da ultradireita. O bilionário também pediu a destituição do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e solicitou a libertação do agitador extremista britânico Tommy Robinson. Em dezembro, Musk conversou com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, um ultranacionalista crítico da União Europeia (UE) e próximo do presidente russo, Vladimir Putin, chamou a UE de antidemocrática e classificou como ditadores os juízes que anularam a eleição presidencial da Romênia em meio a suspeitas de interferência russa. Musk também é um apoiador entusiasmado da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, a líder mais direitista do país desde 1945.

¨      A complexa relação entre Elon Musk e a ultradireita alemã

Os planos do bilionário americano Elon Musk de expandir sua Tesla Gigafactory em Grünheide, nos arredores de Berlim, à custa de 100 hectares da floresta local, atrai uma gama excepcionalmente ampla de opositores, os quais nem sempre se entendem entre si.

Entre as ressalvas à colossal fábrica de automóveis está seu alto consumo de água e a ameaça de poluição que representa. Cerca de 100 manifestantes ocuparam o bosque que a montadora quer comprar, no estado de Brandemburgo, construindo casas de árvore entre os pinheiros e formando uma minicomunidade em apenas duas semanas. Dizeres como "Elon, Eloff" adornam o local.

Unido sob o slogan "Parem a Tesla", esse eclético coletivo de ambientalistas conta basicamente com o apoio dos habitantes de Grünheide, que doam comida ao acampamento e até colocam suas casas à disposição para os ativistas tomarem uma chuveirada e lavarem as roupas.

Menos bem-vinda é a Alternativa para a Alemanha (AfD), embora o partido populista de direita seja o único do parlamento estadual de Brandemburgo que se opõe à expansão. O porta-voz da Grünheide Bürgerinitiative, Steffen Schorcht, que representa a oposição local aos planos de Musk, se incomoda por sua organização ser às vezes publicamente associada à sigla extremista.

"Somos uma aliança muito ampla de associações de proteção ambiental, ativistas do clima, políticos locais, cientistas da Universidade Técnica de Berlim e empresas, mas desde o início somos confrontados com a acusação de ser pelo menos próximos à AfD. Claro que isso é um disparate total: nós nos distanciamos desde sempre, quem trabalha conosco vem principalmente dos movimentos verde e de esquerda."

<><> Antipatia mútua entre ambientalistas e AfD

Schorcht acusa a AfD de cinicamente explorar a situação política do estado, cuja coalizão de governo centrista – formada pelo Partido Social-Democrata (SPD), a União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Verde – saudou o potencial impulso econômico de uma fábrica da Tesla, mas também se preocupa com a impopularidade do projeto entre os residentes.

"A AfD está sempre entrando nas polêmicas", comenta Schorcht. "A gente notou, conversando com outras iniciativas que, onde há problemas, ela sempre tenta adotar uma posição que agrada à maioria e renda votos. Nós colocamos as nossas questões no mundo, e se a AfD tenta se apoderar de algumas delas, então que seja. Não é algo que a gente possa mudar."

A ativista Max, do acampamento de Grünheide, se horroriza com a ideia de qualquer tipo de associação: "Não somos do mesmo lado que a AfD em nenhum aspecto. A sigla é um partido muito à direita, extremamente transfóbico, homofóbico, sexista, racista. Não estamos alinhados com ela de maneira alguma."

A antipatia é mútua. Por seu lado Kathi Muxel, representante da AfD no parlamento estadual e natural de Grünheide, descarta os ocupadores da floresta como "manifestantes nômades", ou seja, não locais: "Não estou segura de que eu goste de ver a bandeira do [movimento descentralizado de esquerda] Antifa hasteada ali, e 'Fora capitalismo' ou sei lá o quê. Não é a nossa linha, não queremos uma situação radical aqui."

<><> "Como é que o Musk vai saber o que acontece na Alemanha?"

A AfD encontrou um jeito de encaixar a questão da Tesla em sua narrativa anti-imigração favorita, alegando que muitos dos 12 mil operários da fábrica vêm das vizinhas Berlim e Polônia, portanto os supostos benefícios econômicos não fluiriam para a comunidade local. Além disso, a legenda costuma apresentar os carros elétricos como parte de uma transição energética "ideológica", a que se opõe.

E, no entanto, Musk já expressou antes simpatia pela AfD e seus posicionamentos. Em outubro de 2023, o empresário usou sua rede social X (ex-Twitter) para disseminar acusações não verificadas de que os líderes do partido teriam sido vítimas de "tentativas de assassinato".

Em setembro ele havia republicado a postagem: "Vamos torcer para a AfD ganhar as eleições", segundo a qual as iniciativas para financiar o resgate de migrantes do Mar Mediterrâneo seriam "subvencionadas pelo governo alemão". Naturalmente os populistas adoraram a interferência.

A deputada Muxel também hesita em condenar o próprio bilionário: "Não somos contra a Tesla em si, somos contra a locação. A responsabilidade de onde Elon Musk constrói uma fábrica não é dele, ela cabe aos políticos. Como é que, lá dos Estados Unidos, ele pode saber como são as circunstâncias aqui? Não acho que ele possa."

Todas as organizações reunidas em Grünheide se distanciaram de um ato de sabotagem ocorrido no início de março, quando a associação de extrema esquerda intitulada Vulkangruppe ateou fogo a uma torre de eletricidade, a poucos quilômetros de distância. O incêndio cortou o abastecimento de energia da fábrica, assim como de algumas centenas de casas próximas, forçando a suspensão da produção por uma semana.

<><> Ponto para os ativistas: Tesla recua

Embora o atentado tenha arrefecido o apoio local ao acampamento florestal, a ativista Max assegura que o clima permanece positivo. O heterogêneo grupo de protesto negou ter tido qualquer conhecimento, afirmando, em comunicado: "Há diversos atores que estão resistindo de seu próprio modo à exploração e destruição por essa companhia. O que me motiva é a frustração", explica Max. "Crescer em meio à crise climática e ver todos os prazos sendo adiados, um atrás do outro, todas essas medidas para proteger o nosso meio ambiente não sendo tomadas. E tenho a sensação de não saber mais o que fazer, além usar o meu corpo físico para tentar proteger a água aqui e a floresta sobre ela."

A situação toda agitou uma casa de marimbondos no conselho municipal de Grünheide, encarregado de decidir se autoriza a ampliação – embora no fim das contas o governo estadual e até mesmo federal possam intervir. O prefeito Arne Christiani, político independente no cargo há mais de 20 anos, pode em breve ser deposto pelo resto do conselho. Ele é a favor da ampliação da Tesla Gigafactory, embora uma consulta não vinculativa em fevereiro tenha indicado que mais de 60% da população local é contra. A despeito de todas as dissensões entre os diversos oponentes do megaprojeto de Musk, os protestos parecem ter logrado efeito. Num encontro do conselho municipal, em meados de março, Christiani anunciou que a multinacional revisara seus planos, reduzindo para 47 hectares o desmatamento da floresta, em vez dos 100 originais.

 

Fonte: DW Brasil

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