Operação Bolsa
Azul: a teoria que envolve um suposto plano de El Salvador para derrubar Maduro
Um post de
uma bolsa azul no X, uma fala em um vídeo e
um encontro com um mercenário. Isso foi o suficiente para espalhar uma
suposta teoria de que o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, elaborou um plano
para derrubar Nicolás Maduro na Venezuela.
Maduro tomou posse
nesta sexta-feira (10) após declarar ter vencido as eleições de julho de 2024,
sem apresentar provas da vitória e sob contestação internacional.
A teoria, chamada
"Operação Bolsa Azul", ganhou força na internet após a líder da
oposição venezuelana, María Corina
Machado, ser interceptada
por agentes de Maduro ao
deixar uma manifestação. O caso aconteceu nos arredores de Caracas, na
quinta-feira (9).
María Corina ficou
algumas horas sob o poder do regime Maduro. Pouco antes de ela confirmar que
estava em um local seguro, começou a circular nas redes sociais um vídeo em que
ela dizia que estava bem e que tinha deixado cair uma "bolsa azul"
enquanto era perseguida.
"Estou bem,
estou segura. Hoje é 9 de janeiro. Saímos de uma concentração maravilhosa. Me
perseguiram, caiu minha bolsa... uma bolsinha azul que tinha meus pertences.
Caiu na rua. E já estou a salvo. A Venezuela será livre", disse.
O vídeo em questão
não foi divulgado oficialmente pelo partido de María Corina Machado, nem pela
opositora. Na sexta-feira (10), ela disse que foi obrigada a
gravar o vídeo por
agentes de Maduro, como uma prova de vida diante da soltura dela.
Na noite de
quinta-feira, Bukele fez um post em tom cifrado no X: uma foto de uma bolsa
azul, sem legenda. Logo, internautas resgataram a foto de María Corina Machado
com uma bolsa supostamente parecida. Veja a seguir.
A partir daí,
surgiram teorias de que María Corina havia comentado sobre a bolsa no vídeo
como uma espécie de "palavra-chave" para acionar um plano
internacional.
Na internet, houve
quem comentasse que a cor azul seria uma referência aos Capacetes Azuis — as
forças de paz da ONU. Segundo essa hipótese, as Nações Unidas estariam prontas
para restabelecer e democracia na Venezuela.
Já outros disseram
que o azul estaria ligado à cor da bandeira de El Salvador, e que algo poderia
estar sendo planejado para que Edmundo González tomasse posse com a ajuda do
país.
·
Ajuda
de mercenário
Bukele também
publicou um print de celular que mostrava o tempo em Caracas, mais uma vez sem
legenda. Os internautas começaram a se questionar se a temperatura ou os dias
da semana poderiam indicar algo.
Também foi
levantada a possibilidade de o presidente salvadorenho estar na Venezuela
durante a posse de Maduro.
"A partir de
sábado sol? Sexta-feira o último dia nublado?", comentou um usuário do X,
insinuando que Maduro poderia não seguir no poder.
Diante dos prints
surgiu mais um elemento na teoria: um encontro que Bukele teve com o mercenário
Erik Prince há alguns meses. Prince é um ex-militar norte-americano que possui
uma empresa militar privada. Ele é conhecido por operações de segurança e
resgate, principalmente em zonas de conflito.
Nas redes sociais,
o mercenário comenta com frequência a questão da Venezuela. Na quarta-feira
(8), ele escreveu: "Não acredite nas coisas idiotas que um regime
moribundo fará para tentar se agarrar ao poder".
Dias antes, Prince
perguntou se alguém estaria disposto a ganhar US$ 100 mil para capturar o
procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, e levá-lo até águas
internacionais. "Isso é muito dinheiro para se livrar desse lixo
imundo", escreveu.
Segundo a teoria
que está pipocando nas redes sociais, Prince estaria por trás de alguma
movimentação que ajudaria a colocar fim no regime Maduro. Tudo teria sido
planejado com o apoio de Bukele.
Na quinta-feira, o
ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, zombou do fato de María
Corina Machado ter perdido sua bolsa azul. O programa que ele tem na TV estatal
tocou a música "La Cartera", que fala sobre um rapaz que perdeu a
carteira com dinheiro.
Na televisão,
Cabello também abriu uma bolsa azul cheia de remédios, como ansiolíticos e
tranquilizantes, e que guardava uma nota de dólar. O procurador-geral Tarek
William Saab publicou uma nota no mesmo dia dizendo que María Corina tinha
transtornos de personalidade.
Ainda nesta semana,
Maduro disse que a Venezuela tinha prendido "sete mercenários", entre
os quais dois cidadãos americanos, que estavam planejando ações terroristas no
país.
A posse de Maduro
nesta sexta para um mandato de seis anos ajuda a esfriar a teoria por ora. Sem
dar contexto, Bukele fez um novo post, escrevendo "paciência".
¨ Ex-presidentes
colombianos de extrema-direita pedem intervenção militar na Venezuela para
derrubar Maduro
Os ex-presidentes
colombianos Alvaro Uribe e Ivan Duque pediram neste sábado (11) uma intervenção
militar na Venezuela para derrubar o governo do presidente Nicolas Maduro, que
tomou posse na sexta-feira (10) para um novo mandato de seis anos.
"Nós pedimos uma
intervenção internacional, preferencialmente respaldada pelas Nações Unidas,
que remova esses tiranos do poder e convoque imediatamente eleições
livres", afirmou Uribe em um ato anti-Maduro na cidade de Cúcuta, conforme
citado pelo jornal El Tiempo.
Por sua vez, Duque fez um apelo
por uma "intervenção humanitária" na Venezuela. "Edmundo
Gonzalez, como presidente legítimo da Venezuela, diante da usurpação, deve
convocar a comunidade internacional, especialmente os países do sistema
interamericano, assim como outros países comprometidos com a democracia, para
que promovam uma intervenção humanitária na Venezuela que permita a proteção
dos direitos humanos e o restabelecimento da ordem democrática",
disse.
O atual governo colombiano,
do presidente Gustavo Petro, de esquerda, não mantém relações tão amistosas com
Caracas. Mais cedo na semana, Petro confirmou em seu perfil na plataforma X que
não iria à cerimônia de posse de Maduro. Ele justificou a decisão citando a
prisão de opositores progressistas do governo venezuelano e de ativistas pelos
direitos humanos.
Em um processo eleitoral que
foi contestado pela Colômbia e também pelo Brasil, os venezuelanos votaram para
presidente em 28 de julho do ano passado. Maduro foi declarado vencedor com
mais de 51% dos votos pelas autoridades judiciárias do país.
A oposição, no entanto,
alegou uma vitória esmagadora, citando as atas eleitorais que receberam de
seções de votação em todo o país. Isso levou a grandes protestos de grupos
oposicionistas. Desde então, várias milhares de pessoas foram presas sob
acusações de danos à infraestrutura estatal, incitação ao ódio e terrorismo.
Oficialmente, o governo do presidente Lula ainda não reconheceu Maduro como
vencedor.
¨ Itamaraty confirma fechamento da fronteira entre Brasil
e Venezuela
O
Ministério das Relações Exteriores afirmou nesta sexta-feira que autoridades da
Venezuela decidiram fechar a fronteira do país com o Brasil até a
segunda-feira.
Em um
breve comunicado à imprensa sem citar motivos, o Itamaraty afirmou que
"por decisão das autoridades venezuelanas, a fronteira da Venezuela com o
Brasil foi fechada hoje, até dia 13 de janeiro, segunda-feira".
O
Ministério da Informação da Venezuela não respondeu imediatamente a um pedido
de comentário.
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva não reconheceu oficialmente Maduro como o
vencedor da eleição contestada de julho passado e não comentou sobre Maduro
nesta sexta-feira.
O
governo brasileiro, no entanto, enviou sua embaixadora em Caracas, Glivânia
Maria de Oliveira, para a cerimônia de posse de Maduro.
O
Itamaraty acrescentou que seus funcionários consulares na Venezuela ajudarão os
cidadãos brasileiros em caso de emergência durante o fechamento da fronteira.
¨ Em pronunciamento, María Corina Machado diz que Maduro
consumou golpe de Estado na Venezuela
A líder opositora
venezuelana María Corina
Machado afirmou
que Nicolás Maduro consolidou um
golpe de Estado ao tomar posse para
um terceiro mandato,
nesta sexta-feira (10), sem apresentar provas de que venceu as eleições de
julho de 2024. Essa foi a primeira vez que a opositora se pronunciou após ter
sido detida brevemente na quinta-feira (9).
A oposição garante
que Edmundo González venceu as
eleições presidenciais com base em dados de votação das atas impressas pelas
urnas eletrônicas. No entanto, as autoridades eleitorais, que apoiam Maduro,
declararam que o atual presidente foi reeleito.
María Corina
afirmou que Maduro se apoia nos "ditadores de Cuba e Nicarágua" para
se manter no poder. Ela também acusou o presidente de violar a Constituição
da Venezuela.
"Hoje, 10 de
janeiro, Maduro consolida um golpe de Estado diante dos venezuelanos e do
mundo. Decidiram cruzar a linha vermelha, oficializando a violação da
Constituição Nacional. Pisoteiam nossa Constituição", afirmou.
Sobre a própria
detenção, María Corina disse que foi abordada por policiais enquanto deixava
uma manifestação contra Maduro em Caracas, na quinta-feira (9). O governo
venezuelano nega a prisão e chamou o episódio
de "teatro".
A opositora afirmou
que foi interceptada
enquanto deixava a manifestação em um comboio de três motos. Segundo
ela, agentes armados da Polícia Nacional Bolivariana pararam o grupo.
A opositora relatou
ter sido arrancada de forma violenta da moto onde estava e colocada em outra,
entre dois homens. Segundo ela, houve disparos, e um membro da equipe dela foi
ferido e preso.
"É assim que
eles agem, atacando uma mulher pelas costas", disse.
María Corina disse
que foi levada para um local desconhecido. Em seguida, de acordo com ela, os
agentes disseram ter recebido ordens para liberá-la, mas exigiram a gravação de
um vídeo como prova de vida.
"Estou bem
agora, embora sinta dores fortes e tenha contusões em algumas partes do corpo.
É evidente que o que aconteceu ontem demonstra as profundas contradições dentro
do regime. A atuação errática deles é mais uma prova de como estão divididos
internamente", afirmou.
Ela acredita que a
repercussão internacional sobre sua detenção forçou o regime de Maduro a
reconhecer o erro.
"Todos sabemos
que, a partir de hoje, a pressão aumentará ainda mais, até que Maduro entenda
que isso acabou. Ontem, o regime reprimiu brutalmente, perseguindo e prendendo
mais de 20 venezuelanos."
'Liberdade está
próxima'
Edmundo González,
que foi reconhecido como presidente eleito por países como Estados Unidos e
Argentina, deixou a Venezuela em setembro e se asilou na Espanha. Recentemente,
ele visitou alguns países americanos.
Nos últimos meses,
González declarou várias vezes que retornaria à Venezuela para tomar posse em
10 de janeiro. Contudo, isso não aconteceu.
María Corina
Machado justificou que a volta de González à Venezuela neste momento não é
conveniente, por causa da "paranoia delirante do regime". Ele é alvo
de um mandado de prisão.
"O mundo virá
à Venezuela para que ele tome posse como presidente constitucional no momento
certo, quando as condições forem adequadas", disse a opositora.
Em um recado aos
apoiadores, María Corina pediu para que a população continue se manifestando
contra Maduro e afirmou acreditar que a "liberdade está próxima".
"Venezuelanos,
Maduro não poderá governar à força uma Venezuela que decidiu ser livre. Nosso
país está mais unido do que nunca, tanto na política quanto em seus
lares", disse.
¨ Itamaraty
critica "perseguição" a opositores venezuelanos e pede
"diálogo" após posse de Maduro
O
Ministério das Relações Exteriores divulgou neste sábado (11) nota em que
critica as "prisões", "ameaças" e a "perseguição"
a opositores políticos venezuelanos, um dia após o presidente do país, Nicolas
Maduro, tomar posse para um novo mandato.
A nota
foi divulgada em meio a relatos de que a líder oposicionista Maria Corina
Machado teria sido presa, embora o governo venezuelano negue.
"O
governo brasileiro acompanha com grande preocupação as denúncias de violações
de direitos humanos a opositores do governo na Venezuela, em especial após o
processo eleitoral realizado em julho passado", diz o documento,
acrescentando que reconhece os "gestos de distensão pelo governo
Maduro", ao citar a libertação de mais de 1 mil detidos e a reabertura do
Escritório do Alto Comissário de Direitos Humanos das Nações Unidas em Caracas.
Além
disso, o documento afirma: "O Brasil registra que, para a plena vigência
de um regime democrático, é fundamental que se garantam a líderes da oposição
os direitos elementares de ir e vir e de manifestar-se pacificamente com
liberdade e com garantias à sua integridade física".
O
governo brasileiro pediu ainda diálogo entre as forças políticas venezuelanas
"com vistas a dirimir as controvérsias internas".
Em um
processo eleitoral que foi contestado pelo Brasil, os venezuelanos votaram para
presidente em 28 de julho do ano passado. Maduro foi declarado vencedor com
mais de 51% dos votos pelas autoridades judiciárias do país.
A
oposição, no entanto, alegou uma vitória esmagadora, citando as atas eleitorais
que receberam de seções de votação em todo o país. Isso levou a grandes
protestos de grupos oposicionistas. Desde então, várias milhares de pessoas
foram presas sob acusações de danos à infraestrutura estatal, incitação ao ódio
e terrorismo. Oficialmente, o governo do presidente Lula ainda não reconheceu
Maduro como vencedor.
<><>
Leia abaixo a nota na íntegra:
Nota sobre a situação na Venezuela
O governo brasileiro acompanha com grande
preocupação as denúncias de violações de direitos humanos a opositores do
governo na Venezuela, em especial após o processo eleitoral realizado em julho
passado.
Embora reconheçamos os gestos de distensão pelo
governo Maduro – como a liberação de 1.500 detidos nos últimos meses e a
reabertura do Escritório do Alto Comissário de Direitos Humanos das Nações
Unidas em Caracas, o governo brasileiro deplora os recentes episódios de
prisões, de ameaças e de perseguição a opositores políticos.
O Brasil registra que, para a plena vigência de um
regime democrático, é fundamental que se garantam a líderes da oposição os
direitos elementares de ir e vir e de manifestar-se pacificamente com liberdade
e com garantias à sua integridade física.O Brasil exorta, ainda, as forças
políticas venezuelanas ao diálogo e à busca de entendimento mútuo, com base no
respeito pleno aos direitos humanos com vistas a dirimir as controvérsias
internas.
¨ Altman
cobra posicionamento do Itamaraty sobre tentativas de golpe contra Maduro
O
jornalista Breno Altman foi às redes sociais, neste sábado (11), criticar a
nota emitida mais cedo pelo Ministério das Relações Exteriores, em que a pasta
"deplora" a "perseguição" a opositores venezuelanos e pede
"diálogo" após o presidente Nicolás Maduro tomar posse para um novo
mandato.
A nota
foi divulgada em meio a relatos de que a líder oposicionista Maria Corina
Machado teria sido presa, embora o governo venezuelano negue. O movimento de
ultradireita liderado por Corina Machado é acusado de estar por trás de
tentativas de golpe.
Nesse
sentido, Altman criticou o silêncio do Itamaraty sobre os movimentos golpistas
da extrema-direita venezuelana, apoiada pelos Estados Unidos. Segundo ele, o
documento desta sexta representa uma visão "ultrajante",
"demagógica" e "mentirosa" sobre a posse de Maduro.
"A
nota do Itamaraty sobre a posse do presidente Maduro é ultrajante. Demagógica e
mentirosa a respeito dos direitos humanos na Venezuela, silencia sobre os
movimentos golpistas impulsionando pela extrema-direita com o apoio dos EUA e
da União Europeia", escreveu Altman na plataforma X.
Em um
processo eleitoral que foi contestado pelo Brasil, os venezuelanos votaram para
presidente em 28 de julho do ano passado. Maduro foi declarado vencedor com
mais de 51% dos votos pelas autoridades judiciárias do país.
A
oposição, no entanto, alegou uma vitória esmagadora, citando as atas eleitorais
que receberam de seções de votação em todo o país. Isso levou a grandes
protestos de grupos oposicionistas. Desde então, várias milhares de pessoas
foram presas sob acusações de danos à infraestrutura estatal, incitação ao ódio
e terrorismo. Oficialmente, o governo do presidente Lula ainda não reconheceu
Maduro como vencedor.
Fonte:
g1/Brasil 247/Reuters
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