Como a
alimentação saudável pode reduzir a dor crônica
Alguns caldos, ensopados,
sopas e curries têm fama de curar males da saúde. "Que a comida seja seu
remédio", já escrevia no século 4 a.C. o médico grego Hipócrates,
conhecido como pai da medicina.
E a ciência moderna dá
alguma validade a essas antigas tradições, reconhecendo a capacidade dos
alimentos saudáveis de sustentar um corpo forte e robusto.
Um novo estudo sugere que a
adoção de uma dieta saudável pode reduzir a dor crônica. A pesquisa, publicada
na revista científica Nutrition Research, explorou a associação entre gordura corporal, hábitos alimentares e
dor.
"Em nosso estudo, o
maior consumo de alimentos essenciais – vegetais, frutas, grãos, carnes
magras, laticínios e alternativas – foi associado a menos dor, e isso
independentemente do peso corporal", disse a autora da pesquisa, Sue Ward,
da Universidade da Austrália Meridional.
"É de conhecimento
comum que comer bem é bom para a sua saúde e bem-estar. Mas saber que mudanças
simples em sua dieta podem reduzir a dor crônica pode mudar sua vida",
afirmou.
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Escolhas alimentares e intensidade de dor
"A dor crônica é um
problema de saúde comum e incapacitante que, segundo estimativas, afeta de 20%
a 30% das pessoas em todo o mundo. Aqueles que sofrem de dor crônica geralmente
têm um peso maior em comparação com a população em geral", disse Ward à
DW.
Sua pesquisa com adultos
australianos explorou se a dieta era diretamente associada à dor no corpo, e se
fatores como peso ou gordura corporal influenciavam essa relação.
"Nosso estudo descobriu
que muitos participantes tinham altos níveis de gordura corporal e não seguiam as diretrizes dietéticas australianas, ou seja,
tinham uma dieta de baixa qualidade. Mas as pessoas que seguiam as diretrizes
mais de perto tinham níveis mais baixos de dor no corpo", disse Ward.
Ela concluiu que ter mais
gordura corporal não estava correlacionado a ter mais dor corporal. Mas a
intensidade de dor corporal correlacionava-se com os alimentos que as pessoas
consumiam.
·
Dieta pobre leva a inflamação crônica
Paul Durham, especialista em
dor e biologia da Universidade Estadual do Missouri, nos EUA, mostrou-se cético
em relação a esse achado. "O estudo não foi muito robusto, pois não
foi projetado com força suficiente nas análises estatísticas para chegar a
conclusões definitivas. É mais como um estudo piloto", disse.
Apesar disso, Durham
concorda que a dieta afeta a dor crônica e a enxaqueca. "Está bem
estabelecido que níveis mais altos de dor crônica estão correlacionados com
menor ingestão de frutas, vegetais, laticínios e gorduras insaturadas",
disse.
A teoria de Durham é que o
estilo de vida moderno, com dietas de baixa qualidade e privação de sono,
contraria a forma como nossos corpos evoluíram para funcionar de forma
saudável.
Ele acredita que a maioria
das pessoas que vivem em países que seguem a chamada "dieta
ocidental", também conhecida como SAD (do inglês Standard American Diet), está em estado de desequilíbrio corporal.
Uma dieta ocidental é aquela
que contém grandes quantidades de alimentos processados, como
pizza e doces, e carece de produtos in natura em quantidade suficiente –
vegetais frescos, frutas, grãos e certos produtos de origem animal.
Durham explicou que uma
dieta não saudável como essa tem muitos efeitos prejudiciais para o corpo, que
levam a uma "tempestade perfeita para piorar a dor crônica".
"Com isso [a dieta
ocidental], estamos tão fora do jogo que temos uma inflamação crônica
acontecendo. O metabolismo fica bagunçado e acabamos com a síndrome do
intestino permeável", disse Durham.
O problema é que a dieta
ocidental não fornece os nutrientes certos de que você precisa para seu corpo.
O pão branco, por exemplo, não tem "basicamente nenhum valor
nutricional" porque o gérmen do trigo – a parte que contém os minerais, as
vitaminas e as fibras – é descartado no processo industrial de fabricação.
E sem os nutrientes certos,
nossas células e nosso sistema imunológico não conseguem quebrar substâncias
químicas nocivas que produzimos naturalmente o tempo todo. Essas substâncias
químicas têm efeitos inflamatórios em nosso corpo. Em níveis elevados, eles
podem exacerbar a dor crônica, problemas cardíacos, diabetes, etc.
Uma dieta não saudável
também afeta a microbiota intestinal, composta por microorganismos que vivem no
trato digestivo. Dietas sem fibras naturais basicamente deixam a microbiota
faminta, o que significa que ela não produz substâncias químicas importantes
das quais precisamos para o nosso corpo.
"Precisamos das bactérias
intestinais para produzir ácidos graxos de cadeia curta, que são moléculas que
quebram as moléculas inflamatórias em nosso corpo. E precisamos de bactérias
para produzir neurotransmissores suficientes", disse Durham.
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A busca por alimentos que reduzem dor e inflamação
Alguns pesquisadores estão
tentando descobrir os compostos de alimentos que têm o impacto mais benéfico
sobre a saúde, e como fazem isso.
Embora esse campo de
pesquisa ainda esteja no início, alguns trabalhos, como o do laboratório de Durham,
têm sido promissores. Eles demonstraram que suplementos alimentares como
extrato de semente de uva ou cacau podem reduzir a dor
crônica e a enxaqueca. Eles contêm compostos chamados polifenóis, que ajudam a
quebrar as moléculas inflamatórias no corpo e, assim, a reduzir a dor.
Mas Durham não acredita que
os suplementos ou uma alimentação mais saudável tenham força suficiente para
serem analgésicos por si só. O extrato de semente de uva nunca substituirá o
ibuprofeno ou o tramadol.
"[Os suplementos]
funcionam para restaurar o equilíbrio do corpo, o que significa que as pessoas
com dor crônica que tomam suplementos não precisariam depender tanto de
produtos farmacêuticos", disse. Também é provável que eles tenham um
"efeito teto" e não sejam benéficos para pessoas que já têm uma dieta
saudável.
Os pesquisadores estão
apenas começando a procurar conexões entre a nutrição e a intensidade da dor.
A mãe de Durham disse uma
vez sobre sua pesquisa: "Então, o que você está fazendo é gastar muito
dinheiro para provar o senso comum?"
Ele não
discorda: "É nesse ponto que acho que estamos. Um corpo saudável tem
a ver com essas coisas simples: alimentação saudável, sono e exercícios."
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Excesso de proteínas pode prejudicar a saúde, aponta
estudo
Proteína, o nutriente
essencial glorificado no TikTok para a musculatura, a força e até mesmo o
controle do estresse. Mas e se lhe dissessem que abusar dela pode aumentar o
risco de doenças cardiovasculares? Um estudo recente da Universidade de
Pittsburgh, publicado na revista especializada Nature Metabolism,
parece confirmar isso.
De acordo com a pesquisa, a
ingestão de mais de 22% de proteína na dieta diária aumenta significativamente
o risco de aterosclerose, o acúmulo de gordura, e outras substâncias nocivas
nas artérias que podem levar a doenças cardiovasculares.
Os autores, da faculdade de
medicina da Universidade de Pittsburgh, já haviam demonstrado, por meio de
experimentos com camundongos em 2020, que uma dieta rica em proteínas e o
consequente aumento do aminoácido leucina promovem aterosclerose e danos
cardiovasculares, e agora deram um passo adiante, analisando o efeito no corpo
humano.
Embora a proteína seja um
nutriente necessário, os pesquisadores destacam que quase um quarto da
população recebe mais de 22% de todas as calorias diárias somente de proteína.
De fato, as dietas ricas em proteínas estão se tornando uma tendência como método
de perda de peso nos países desenvolvidos.
·
Consequências
Os cientistas realizaram
dois experimentos controlados em humanos usando quantidades graduais de
ingestão de proteína em um total de 23 participantes do sexo masculino e
feminino cujo índice de massa corporal foi classificado como sobrepeso.
02:28
No primeiro experimento, 14
participantes ingeriram duas refeições líquidas de 500 quilocalorias, a
primeira muito rica em proteínas e a segunda muito pobre em proteínas.
No segundo experimento, 9
participantes consumiram duas vezes uma refeição padrão de 450 quilocalorias
com 16 ou 25 gramas de proteínas.
·
Aumento do aminoácido leucina na circulação
Os autores coletaram
amostras de sangue antes e depois de ambos os experimentos, entre 1 e 3 horas
após a ingestão, e descobriram que a proteína superior a 25 gramas por refeição
aumenta os níveis do aminoácido leucina na circulação, o que pode afetar os
monócitos e macrófagos (células que fazem parte do sistema imunológico).
Em um experimento de
acompanhamento com camundongos, os autores usaram três dietas equivalentes
(alta, moderada e baixa proteína) e descobriram que a ingestão de proteína
acima de 22% das necessidades energéticas da dieta também aumentou os níveis de
leucina, que ativa processos patológicos no sistema imunológico que levam à
aterosclerose.
<><> Implicações
nutricionais
"Nosso estudo mostra
que aumentar a ingestão de proteínas para melhorar a saúde metabólica não é uma
panaceia. Podemos estar danificando as artérias", diz um dos autores, Babak
Razani, professor de cardiologia da Universidade de Pittsburgh.
Os autores enfatizam que as
descobertas desse estudo são particularmente relevantes para a área médica,
pois os nutricionistas geralmente recomendam alimentos ricos em proteínas para
pacientes que precisam preservar ou ganhar massa muscular e força.
"Aumentar cegamente a
carga de proteína pode ser um erro, o importante é considerar a dieta como um
todo e ter refeições balanceadas que não agravem inadvertidamente as condições
cardiovasculares, especialmente em pessoas com risco de doença cardíaca e
distúrbios vasculares".
Fonte: DW Brasil
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