terça-feira, 14 de janeiro de 2025

5 eleições que vão moldar rumos da América Latina

América Latina tem diversas eleições presidenciais e legislativas previstas para 2025. E existe algo em comum em todas elas: os pleitos irão julgar governos que foram eleitos para contornar enormes crises.

Cinco países da região têm eleições marcadas ao longo deste ano, para eleger presidentes, renovar congressos ou ambos.

A questão que irá orientar cada um desses pleitos é até que ponto cada país avançou em relação aos seus graves problemas políticos, econômicos ou de segurança, herdados pelos governantes atuais.

A diretora da pesquisa regional Latinobarómetro, Marta Lagos, explica que, nas eleições deste ano na América Latina, "existe zero ideologia" e os cidadãos avaliam "apenas os resultados" dos seus governantes.

"As pessoas não esperam mais, o que elas fazem é exigir", declarou Lagos à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC. "Se não estiver indo bem, elas cortam a cabeça [do governo] e colocam para fora."

Mas o que os eleitores exigem dos governos convocados a lidar com situações extremas?

Talvez as eleições deste ano na América Latina ajudem a decifrar isso e enviem uma mensagem para toda a região.

·        Calendário eleitoral da América Latina em 2025

Equador: eleições gerais em 9 de fevereiro; possível segundo turno presidencial em 13 de abril.

Bolívia: eleições gerais em 17 de agosto; possível segundo turno presidencial em 19 de outubro.

Argentina: eleições legislativas em 26 de outubro.

Chile: eleições gerais em 16 de novembro; possível segundo turno presidencial em 14 de dezembro.

Honduras: eleições gerais em 30 de novembro.

·        Os presidentes serão reeleitos?

O ciclo eleitoral latino-americano de 2025 começa no dia 9 de fevereiro, com as eleições legislativas e o primeiro turno das eleições presidenciais no Equador.

O presidente atual, Daniel Noboa, tentará ampliar por mais quatro anos o curto mandato obtido em 2023 para completar o período correspondente ao ex-presidente Guillermo Lasso (2021-2023), que antecipou as eleições ao enfrentar julgamento político por supostos casos de corrupção.

A ascensão meteórica de Noboa ao poder ocorreu em meio a uma crise de violência no país. Os índices de homicídios dispararam, devido à ação das gangues criminosas e à frequente cumplicidade da polícia.

Noboa declarou um "conflito armado interno" e convocou os militares a desempenhar suas tarefas de segurança. Agora, os eleitores irão avaliar se ele cumpriu a contento sua promessa de devolver a paz à sociedade, com políticas de "mão firme" contra o crime.

No momento, 16 militares estão sendo investigados pelo desaparecimento forçado e pela morte de quatro crianças, cujos corpos foram incinerados. O incidente gerou fortes questionamentos ao poder concedido pelo governo aos militares.

Além de Noboa, outros 15 candidatos foram registrados nestas eleições equatorianas. Entre eles, está Luisa González, que já enfrentou Noboa em 2023, representando a esquerda do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017). E os problemas econômicos e energéticos do Equador também podem influenciar os resultados.

O segundo turno, se necessário, está previsto para 13 de abril.

Já a Bolívia tem eleições gerais marcadas para 17 de agosto. Espera-se que o atual presidente, Luis Arce, busque a reeleição, embora tenha evitado definir sua candidatura até o momento.

Arce foi eleito em 2020 para solucionar a crise democrática que surgiu na Bolívia no ano anterior, quando o então presidente Evo Morales (2006-2019) tentava obter seu quarto mandato. Após acusações de irregularidades no pleito, Morales renunciou, denunciando uma tentativa de golpe de Estado.

A Bolívia ainda não atingiu sua plena normalidade. Surgiram recentemente momentos de tensão, como o levante militar de junho passado que, segundo Arce, procurava derrubá-lo. Some-se a isso a atual crise econômica, agravada pela falta de dólares no país.

O partido do governo, Movimento ao Socialismo, está dividido por uma intensa disputa interna entre Arce e Morales. Já a oposição tentará ir unida às urnas, depois de um acordo entre os ex-presidentes Jorge Quiroga (2001-2002) e Carlos Mesa (2003-2005), entre outros políticos e empresários.

O eventual segundo turno na Bolívia ocorre no dia 19 de outubro.

·        'Frustração gigantesca'

O Chile também tem eleições presidenciais e legislativas marcadas para este ano. O primeiro turno será realizado em 16 de novembro e o eventual segundo turno presidencial, no dia 14 de dezembro.

O atual presidente, Gabriel Boric, foi eleito em 2021, depois de protestos sociais no país. A Constituição chilena não permite a reeleição, mas sua coalizão de esquerda Frente Ampla será avaliada pelos seus atos no governo.

Ainda sem candidatos definidos, as pesquisas espontâneas de intenção de voto indicam nomes como a ex-prefeita de direita Evelyn Matthei, a ex-presidente socialista Michelle Bachelet (2006-2010 e 2014-2018) e o ex-candidato de direita radical José Antonio Kast. Mas nenhum deles surge como franco favorito.

Marta Lagos, diretora do Latinobarómetro, mora no Chile e explica que existem no país lideranças políticas "muito mais fracas do que antes" e "uma frustração gigantesca das pessoas pelo que não foi feito".

"Existe a sensação de que nem a direita, que governava durante os protestos, nem a esquerda, que passou a governar em seguida, conseguiram atender às exigências dos protestos", destaca ela. "Não foram solucionados os problemas de saúde, educação, aposentadorias e não ocorreu a reforma tributária."

No dia 30 de novembro, devem também ser realizadas as eleições gerais de Honduras.

A atual presidente, Xiomara Castro, foi eleita em 2021, em meio a uma crise de corrupção e narcotráfico que levou à extradição e condenação nos Estados Unidos do seu antecessor, Juan Orlando Hernández (2014-2022).

A Constituição hondurenha impede Castro de buscar outro mandato. E, com o recente escândalo causado por um vídeo que mostrava seu cunhado reunido com poderosos narcotraficantes, existem diversos candidatos à sua sucessão, no governo e na oposição.

Os partidos hondurenhos devem escolher seus candidatos em votações primárias, a serem realizadas em março.

·        'Uma espécie de referendo'

O calendário de 2025 também inclui eleições legislativas na Argentina, no dia 26 de outubro. O pleito irá renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado.

Estas eleições serão "uma espécie de referendo" sobre a gestão do presidente ultraliberal Javier Milei, ante a grave crise econômica do país na época de sua posse, em dezembro de 2023, segundo o analista político argentino Orlando D'Adamo.

Mas ele alerta que o voto será "mais simbólico do que quantitativo", já que as cadeiras a serem renovadas no Congresso são insuficientes para que Milei atinja maiorias próprias. Ou seja, ele "continuará dependendo de alianças circunstanciais com outras forças políticas" para aprovar suas reformas.

Também deveriam ser realizadas este ano eleições regionais e parlamentares na Venezuela.

Mas este pleito ainda não tem data.

A oposição venezuelana precisará decidir se irá participar, após as denúncias de fraude nas eleições presidenciais de julho do ano passado. O presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor do pleito, sem a publicação das atas de votação.

Com a clara vitória do governo nas eleições do México, El Salvador e República Dominicana em 2024, a América Latina interrompeu a franca tendência de anos anteriores, que mostrava a vitória da oposição nas urnas em quase todas as eleições.

Por outro lado, a pesquisa Latinobarómetro 2024, divulgada recentemente, indicou que 52% dos latino-americanos (excluindo a Nicarágua) apoiam a democracia.

O número representa quatro pontos percentuais a mais que o ano anterior – o maior crescimento do índice nos últimos 14 anos.

O relatório também concluiu que, nos países da região, "aumenta a satisfação com a democracia em relação a 2023, exceto em Honduras (18%), que perde dois pontos percentuais, e na Bolívia (10%), com 12 pontos percentuais de redução. A Bolívia aparece como o país mais crítico em relação à democracia em 2024."

E a pesquisa destaca que, na América Latina, "existem mais democratas entre os que aprovam os governos atuais (56%) do que entre os que os desaprovam (48%)".

Resta saber como tudo isso irá influenciar as eleições de 2025 nos países da região que sofreram crises colossais recentemente.

<><> Trudeau afirma que o Canadá imporá tarifas aos EUA se Trump cumprir sua ameaça

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, garantiu que qualquer coisa que possa complicar a fronteira entre os países – em referência à promessa do presidente eleito de impor um imposto de 25% sobre os produtos canadianos – prejudica os cidadãos norte-americanos.

Em entrevista à jornalista da MSNBC Jen Psaki, ex-porta-voz do governo de Joe Biden, Trudeau ameaçou impor tarifas sobre produtos americanos se o presidente eleito Donald Trump cumprir a sua promessa – que também inclui o México – de estabelecer impostos especiais sobre produtos canadenses.

"Como fizemos da última vez, estamos prontos para responder com tarifas, se necessário", disse Trudeau.

As declarações do primeiro-ministro faziam referência à guerra comercial anterior iniciada por Trump durante o seu primeiro mandato, quando ameaçou impor tarifas de 10% ao Canadá alegando razões de segurança nacional.

Perante a advertência do magnata republicano, que na altura se dirigia principalmente ao alumínio e ao aço canadenses, o governo Trudeau anunciou que iria impor imediatamente impostos sobre uma série de produtos importados dos EUA.

Apesar de ter os dias contados como primeiro-ministro, depois de anunciar nesta semana a sua demissão como líder do Partido Liberal, no poder, Trudeau, que deixará o poder em março, recorre mais uma vez à mesma estratégia de ameaçar retaliações contra os EUA.

"Somos o principal parceiro de exportação de cerca de 35 estados dos EUA e qualquer coisa que complique a fronteira entre nós acabará custando mais aos cidadãos e aos empregos americanos", alertou Trudeau durante a entrevista.

Questionado sobre as declarações de que Trump tentará anexar o Canadá como mais um estado do seu país durante a sua presidência, uma ideia que o republicano repetiu em inúmeras ocasiões nas últimas semanas, chegando mesmo a chamar Trudeau de "governador" em mensagens na rede social, Trudeau respondeu:

"A questão de ser o 51º estado [dos EUA] não vai acontecer. Mas as pessoas estão falando sobre isso, em vez de falar sobre o impacto que as tarifas de 25% terão sobre o aço e o alumínio que entram nos Estados Unidos".

Na última terça-feira (7), na mesma conferência de imprensa em que disse não descartar o uso da força militar para se apropriar do Canal do Panamá ou da Groelândia, o presidente eleito dos Estados Unidos disse que recorreria ao uso de "recursos econômicos e força" para anexar o Canadá.

 

¨      Quantas bases militares os EUA têm na América Latina?

O interesse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de avançar sobre o Canal do Panamá, deportar hondurenhos e até mesmo mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América já provoca reação de líderes latino americanos. No começo de janeiro, por exemplo, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, reagiu às declarações do republicano e ameaçou expulsar americanos da base militar "La Palmerola", ocupada por forças dos EUA há mais de 40 anos.

"Frente a uma atitude hostil de expulsão massiva de nossos irmãos, teríamos que considerar um ajuste em nossas políticas de cooperação com os Estados Unidos, especialmente na área militar, onde, sem pagar um centavo por décadas, mantêm bases militares em nosso território, que, neste caso, perderiam toda a razão de existir em Honduras", disse Castro sobre a instalação que abriga cerca de 500 militares americanos.

A base de Honduras, no entanto, não é a única que os Estados Unidos têm na região. A mais conhecida e mais antiga dessas instalações é a Base Naval de Guantánamo, gerida pelos EUA com base em um acordo de arrendamento perpétuo firmado em 1903. Na instalação, que também abriga uma prisão, há cerca de 1.500 fuzileiros navais destacados.

·        Luta contra o narcotráfico

"Na realidade, os Estados Unidos não têm tantas bases na região", diz à DW Adam Isacson, diretor do programa de Supervisão de Defesa do Washington Office on Latin America (Wola). "Além das de Honduras e Cuba, devemos considerar um posto avançado onde usam uma pista em El Salvador, e em Curaçao há algo semelhante", explica o especialista. No caso de El Salvador, ele se refere ao aeroporto de Comalapa, onde aviões americanos apoiam missões de rastreamento de tráfico de drogas.

Em Curaçao, por sua vez, os Estados Unidos têm um acordo assinado com a Holanda, que detêm a soberania da ilha caribenha, para permitir a presença americana no aeroporto internacional de Hato. Uma situação semelhante ocorre em Aruba, onde os americanos mantêm um número limitado de forças no aeroporto internacional Reina Beatrix. Em ambos os casos, a missão oficial é a luta contra o narcotráfico.

No entanto, a Venezuela vem denunciando que aviões americanos que decolam de Curaçao violam seu espaço aéreo e realizam missões de vigilância. Em 2015, o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, afirmou que um avião militar DACH-8 dos Estados Unidos entrou em águas territoriais venezuelanas. E em 2018, um Boeing C17 teria feito reconhecimento sobre território da Venezuela. .

Presença em declínio que pode mudar

Os EUA já tiveram maior presença na região. No entanto, o Tratado Torrijos-Carter, que entregou o controle do Canal do Panamá aos panamenhos, influenciou uma presença cada vez menos massiva das forças americanas no país e, por extensão, na região.

Nesse contexto, em dezembro de 1999, os Estados Unidos fecharam o Fort Clayton, a última de suas bases militares no Panamá, que já abrigou 20.000 soldados. Um mês antes, a Base Aérea Howard também havia sido encerrada. E duas décadas antes, em 1979, a Base Albrook deixou de operar.

Após um acordo assinado em 1999, o Equador permitiu que os Estados Unidos instalassem uma base em Manta, na costa do país, por dez anos. Esse acordo expirou em 2009 e não foi renovado pelo governo de Rafael Correa, que proibiu novas bases estrangeiras no país.

"Desde que os Estados Unidos saíram do Canal do Panamá em 1999, não há mais bases nesse país. Claro, há militares que visitam e colaboram com seus parceiros em toda a região, e isso acontece frequentemente com a Colômbia, por exemplo, mas não há bases formais, não há quartéis dedicados cem por cento aos soldados dos Estados Unidos", além das já mencionadas, afirma Isacson. Embora isso possa mudar no médio prazo.

O atual presidente equatoriano, Daniel Noboa, tem apresentado propostas para abrir novamente as portas para tropas americanas apoiarem a luta contra o narcotráfico. E o presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou em abril de 2024 a instalação de uma base militar americana na Patagônia, em um projeto de longo prazo cujo objetivo seria a "recuperação" das Ilhas Malvinas.

 

Fonte: BBC News Mundo/Sputnik Brasil/DW Brasil

 

Nenhum comentário: