segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

O que é Nunchi, a sutil arte coreana para se sintonizar com os pensamentos e emoções não expressadas pelos outros

Você já cometeu uma gafe ao dizer algo tão inoportuno que chegou a ecoar no silêncio constrangedor que se seguiu, enquanto desejava cavar imediatamente um buraco para se esconder?

Isso já aconteceu com muita gente.

Muitas vezes, o comentário não estava nem errado, mas foi feito fora de hora.

E o que faltou foi nunchi, que significa algo como "medida visual".

Este é um conceito tradicional coreano que exige a observação e a consequente avaliação não apenas dos indivíduos, mas também do contexto geral e da atmosfera em qualquer ambiente social.

"Se pensarmos em coisas que dissemos e que soaram estranhas, inapropriadas ou ofensivas, na maioria das vezes poderíamos ter evitado se simplesmente diminuíssemos a velocidade", explica a jornalista e escritora coreana-americana Euny Hong à BBC.

É disso que se trata: reservar um momento para entender a dinâmica das situações a fim de lidar corretamente com as interações sociais.

"É uma espécie de sensibilidade ao ambiente em que você se encontra", diz Jin Park, professora e presidente do Departamento de Filosofia e Religião da Universidade Americana em Washington.

"Quando você entra em uma sala, avalia rapidamente a situação — o que as pessoas estão pensando, o que as pessoas estão sentindo —, e a partir daí decide como se comportar. Este é o início do nunchi no mundo real."

No mundo real, ela acrescenta, há todos os tipos de situações diferentes em que você encontra pessoas precisando de ajuda.

"Quando isso acontece, você pode usar o nunchi e fazer alguma coisa. Então, o nunchi tem uma qualidade de aqui e agora."

Para Park, o nunchi não é exatamente uma habilidade.

"Se chamarmos apenas de habilidade, se torna funcional demais. Acho que começou como uma forma de convivência."

"A Coreia do Sul é um país muito densamente povoado, e se você precisa viver com pessoas num espaço pequeno, tem que encontrar uma maneira de coexistir."

Em países mais "espaçosos", ela explica, se você não gosta de alguém, pode ir para casa e continuar com sua vida.

"Na Coreia, é muito difícil fazer isso. É uma espécie de sociedade comunitária e coletivista. Você precisa encontrar uma maneira de tratar as pessoas. É por isso que acho que o nunchi começou a se desenvolver", avalia Park.

Em suas palavras, trata-se de discernir "qual a melhor maneira de se relacionar com outras pessoas sem ferir a si mesmo, mas ao mesmo tempo sem ferir os sentimentos dos outros".

·        Desde a infância

O nunchi, portanto, não só ajuda você a saber se comportar bem, como também a estar atento às necessidades dos outros... muitas vezes, sem a necessidade de palavras.

É passar um lenço para alguém sem que a pessoa tenha pedido; ou cumprimentar discretamente os demais ao chegar a um evento para não interromper uma conversa em andamento; é ouvir e observar antes de falar.

Quando se trata de silêncios, em vez de temê-los e preenchê-los com palavras, muitas vezes vale a pena valorizá-los.

"O nunchi também tem a ver com o papel da linguagem", diz Hong, autora do livro O poder do Nunchi: O segredo coreano para a felicidade e o sucesso.

"A cultura do Leste Asiático valoriza o silêncio, eles dizem que o silêncio vale ouro."

"Você deve ser capaz de entender o outro lado olhando-o nos olhos, sem precisar verbalizar 'Eu te amo' ou 'Eu gosto de você' ou 'Você está certo' ou 'Você está errado', porque as pessoas nem sempre expressam claramente o que precisam, como se sentem."

"O nunchi desempenha um papel muito importante nisso."

Hong adverte, no entanto, que o nunchi não se limita apenas a interpretar o ambiente ao seu redor ou a entender outras pessoas.

"É algo constante, você tem que ser treinado. É essencial ser uma espécie de observador silencioso", explica.

E está profundamente enraizado na sociedade coreana.

"As crianças são ensinadas desde o momento em que conseguem se comunicar."

"Quando os pais dizem aos filhos: 'Olhem para os dois lados antes de atravessar a rua', os pais coreanos estão fazendo isso, e dizendo que a maneira de saber como se comportar em qualquer situação, por mais estranha que seja, é olhar para o que está acontecendo ao seu redor."

"O nunchi é fundamental na sociedade coreana, e uma das maneiras pelas quais se manifesta na escola, por exemplo, é que os professores não dizem aos alunos tudo o que eles precisam saber".

"Eles avisam que há um projeto, mas são vagos em relação aos detalhes, e as crianças precisam entender o que se supõe que devam trazer para o projeto."

"Ou elas são informadas de que vai ter uma prova, mas não recebem mais nenhuma informação, e tudo isso faz parte da sua educação. Você tem que descobrir por conta própria. Os coreanos acreditam nisso desde o início."

·        Ferramentas

De acordo com o livro de Hong, nunchi é a "arte de compreender o que as pessoas pensam e sentem", uma qualidade daqueles que são sensíveis à dinâmica dentro de um grupo.

Na prática, o nunchi consiste em observar, quando se está acompanhado, aspectos como quem está falando, quem está ouvindo, quem está interrompendo, quem está se desculpando e quem está fazendo gestos de desespero ou complacência.

A partir daí, podem ser feitas avaliações sobre a natureza das relações e hierarquias dentro de um grupo e o estado de espírito geral, e saber como se comportar de acordo.

Os coreanos dizem que aqueles que são realmente habilidosos têm um "nunchi rápido" — ou seja, a capacidade de processar rapidamente informações sociais variáveis.

Suas chances de serem bem-sucedidos em qualquer ambiente social são altas: é mais provável que se mesclem e façam contatos, e é menos provável que pareçam sem noção ou incompetentes, ou que cometam gafes constrangedoras como as que mencionamos no início.

Mas será que alguém que não foi treinado desde pequeno pode aprender a discernir todos esses sinais para desenvolver o nunchi?

Hong, que sofreu de ansiedade social durante toda sua vida, observa que as ferramentas recomendadas para lidar com a condição são semelhantes às que servem para o nunchi.

"De forma simplificada, há uma coisa que é ensinada às pessoas com ansiedade: se você se sentir muito agitado ou estiver prestes a ter um ataque de pânico, pergunte a si mesmo se está com fome, com raiva, sozinho ou cansado."

"Você deve analisar a si mesmo. Conhecer a si mesmo também é nunchi, não se trata apenas de observar os outros."

"E outra coisa que te ensinam é a parar e nomear 5 coisas que você pode ver, 4 coisas que você pode ouvir, 3 coisas que você pode cheirar."

"Trata-se, em primeiro lugar, de desacelerar e, em segundo lugar, de se envolver diretamente com o ambiente, e estas são ferramentas de nunchi que você pode usar, quer sinta ansiedade ou não."

O nunchi pode, portanto, ser uma ferramenta de autoproteção para evitar momentos constrangedores.

Mas também pode ser um meio de desenvolver relacionamentos mais próximos, de entender as entrelinhas do que os outros dizem, talvez não em voz alta.

Para Park, isso significa olhar para além de nós mesmos.

Segundo ela, a coisa mais valiosa que as pessoas poderiam aprender para agregar valor às suas vidas é "tentar se ver como membro de uma comunidade, em vez de apenas um simples indivíduo, e tentar entender os outros e se encaixar nesse contexto".

"Cada vez mais se fala sobre a comunidade global e, neste contexto, o nunchi pode ser visto como uma forma de entender os outros e de encontrar uma maneira de vivermos juntos".

¨      As 6 técnicas japonesas que podem te motivar e melhorar sua produtividade

Quantas vezes você demorou para começar uma tarefa pendente? Ou para finalmente se inscrever naquele curso que você sempre quis fazer?

Às vezes, a preguiça, o medo de não fazer tudo perfeito ou a desmotivação nos afastam de realizar várias atividades. Ou adiamos tanto que acabamos perdendo um tempo precioso que poderíamos estar aproveitando.

Há muitos motivos que podem nos levar a isso. Mas também existem soluções.

Para esses casos, os japoneses têm diversas técnicas que podem nos ajudar a superar a preguiça e encontrar motivação.

Abaixo contamos algumas delas para você.

<><> Ikigai

Sem tradução direta do japonês, o termo representa a ideia de felicidade de viver. Essencialmente, é a razão pela qual você se levanta todas as manhãs.

Para quem, no Ocidente, está mais familiarizado com o conceito, ele é frequentemente associado a um diagrama de Venn com quatro qualidades que se sobrepõem: o que você ama, aquilo em que é bom, o que o mundo precisa e pelo que você pode ser pago.

Ken Mogi, neurocientista e autor de Awakening Your Ikigai, afirma que o ikigai é um conceito antigo e familiar para os japoneses, podendo ser traduzido de forma simples como "uma razão para se levantar pela manhã" ou, mais poeticamente, "despertar com alegria".

Já a psicóloga japonesa Michiko Kumano (2017) descreve o ikigai como um estado de bem-estar que surge da dedicação às atividades que se gosta de fazer, trazendo também uma sensação de plenitude.

Em poucas palavras: encontre algo que o motive diariamente, uma razão para seguir em frente. Pode ser desde ter um pequeno espaço com plantas, cuidar de um animal de estimação ou aprender algo novo todos os dias.

<><> Kaizen

A filosofia Kaizen tem como base realizar pequenas mudanças e melhorias constantes em todas as áreas da vida.

Essa abordagem contrasta com a ideia de querer dominar algo desde o primeiro dia, um pensamento que, além de irrealista, gera frustração e pode levar ao abandono das metas que estabelecemos.

A aplicação prática dessa filosofia envolve definir pequenas metas diárias e concentrar-se nas pequenas melhorias. O segredo é se comprometer a dar pelo menos um passo que te aproxime do seu objetivo.

Esses pequenos passos ajudam a superar a inércia e a criar um impulso constante rumo à produtividade. Além disso, permitem identificar gradualmente os pontos que podem ser aprimorados.

A técnica remonta ao período do pós-guerra no Japão e, por exemplo, no site da renomada empresa Toyota, esse sistema é reconhecido como um dos princípios básicos do seu modelo de produção.

A tradução de Kaizen para o português, de forma geral, é "melhoria constante". “Kai” significa “mudança” e “zen” significa “para melhor”.

Trata-se de uma filosofia que ajuda a garantir máxima qualidade, eliminação de desperdícios e melhorias na eficiência, tanto em equipes quanto em processos de trabalho.

<><> Técnica Pomodoro

Quando uma tarefa parece difícil de realizar, seja por ser cansativa ou por exigir muita concentração, essa técnica pode ser bastante útil.

Embora tenha sido criada pelo italiano Francesco Cirillo no final da década de 1980, ela é amplamente utilizada no Japão para aumentar a produtividade e tornar as tarefas diárias mais leves. A técnica é conhecida como "pomodoro", em referência a cronômetros em forma de tomate usados para marcar o tempo.

Matthew Bernacki, professor associado da Faculdade de Educação da Universidade da Carolina do Norte (UNC), nos Estados Unidos, explicou à BBC que essa abordagem, baseada em blocos de tempo, é eficaz para evitar distrações.

Por exemplo, ajuste o cronômetro para 25 minutos e, nesse período, dedique-se exclusivamente a estudar um conteúdo ou realizar uma tarefa, seja ela intelectual ou física, desconectando-se de todas as distrações.

Depois, você tem cinco minutos para recompensar o cérebro com alguma distração, como fazer um lanche ou verificar suas mensagens. Em seguida, retorne para mais um bloco de 25 minutos de estudo ou trabalho.

Essa técnica não apenas ajuda a evitar a perda de tempo com distrações, mas também mantém o cérebro motivado com a perspectiva de uma "recompensa".

<><> Hara Hachi Bu

"Não coloque no estômago (Hara) mais do que 80% do que você gostaria de comer (Hachi Bu)."

Essa é, basicamente, a ideia por trás dessa técnica, que consiste em evitar comer até ficar completamente cheio.

E o que isso tem a ver com produtividade e preguiça? Basta pensar em como você se sente após uma refeição exagerada, quando fica completamente satisfeito. Dá vontade de tirar um cochilo, certo?

A solução está nesta prática, que tem origem na cidade de Okinawa, onde as pessoas seguem esse conselho como uma forma de controlar seus hábitos alimentares.

A psicóloga Susan Albers explica que essa abordagem é útil porque ensina a parar de comer quando você se sente apenas satisfeito.

Segundo a Cleveland Clinic, ao olhar para o seu prato, defina qual quantidade o faria sentir-se cheio e, então, calcule como seria 80% dessa porção. Talvez isso corresponda a dois terços da comida no prato.

O objetivo é sentir-se satisfeito, sem fome, em vez de completamente cheio.

<><> Shoshin

Esse conceito vem do budismo zen e significa "mente de principiante".

A ideia foi apresentada pelo monge Shunryū Suzuki, que escreveu: "Na mente do principiante há muitas possibilidades. Mas na do especialista, poucas".

Essa técnica consiste em abordar tudo o que fazemos com uma atitude aberta, sem preconceitos ou ideias pré-concebidas, independentemente do nível de experiência que já tenhamos no assunto. Exatamente como faria um iniciante.

Isso nos permite aceitar que não sabemos tudo. Segundo a revista Forbes India, vários estudos científicos demonstraram que essa postura de humildade traz muitos benefícios para quem a adota.

Por quê? Porque encarar algo com curiosidade e mente aberta nos incentiva a perseverar, ser inovadores e ter coragem para ousar.

<><> Wabi Sabi

O termo wabi-sabi não é apenas intraduzível, como também é considerado indefinível na cultura japonesa.

Ele tem origem no taoísmo, durante a dinastia Song na China (960-1279), e foi posteriormente incorporado ao budismo zen.

Inicialmente, wabi-sabi era visto como uma forma de apreciação austera e contida. Hoje, o termo engloba uma aceitação mais serena do que é transitório, natural e melancólico, valorizando o imperfeito e o incompleto em tudo, desde a arquitetura até a cerâmica e os arranjos florais.

"Enquanto nos esforçamos para criar coisas perfeitas e depois lutamos para preservá-las, negamos seu propósito e perdemos a alegria que vem com a mudança e o crescimento", escreveu Lily Crossley-Baxter em um artigo da BBC Mundo.

Quando pensamos em produtividade, em realizar uma tarefa ou nos dedicar a um hobby, o wabi-sabi propõe abraçar a imperfeição em vez de nos estressarmos com os detalhes. Ou, em outras palavras: "o perfeito é inimigo do bom".

Isso porque, ao insistirmos em alcançar a perfeição, nos fixando em cada pequena minúcia, podemos estar desperdiçando um tempo precioso.

 

Fonte: BBC Rádio 4

 

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