Demandas
territoriais de Trump são sinal de redivisão e 'revolução' geopolítica no mundo
As reivindicações
do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, por novos territórios é um sinal de
uma nova redivisão do mundo em andamento e retorno à histórica da expansão
imperialista dos Estados Unidos, opina o vice-diretor-geral do grupo midiático
Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, Aleksandr Yakovenko.
De acordo com ele,
as recentes declarações de Trump sobre a possível anexação da Groenlândia,
Canadá e do canal do Panamá aos EUA refletem o novo
curso de Washington na
política externa.
Essas declarações,
segundo Yakovenko, parecem "extravagantes" no modelo do
mundo formado após a Segunda Guerra Mundial, com os conceitos afirmados da
"soberania, inviolabilidade das fronteiras etc.".
"Mas é
possível olhar para isso de uma maneira diferente – então tudo parecerá muito
mais realista. Especialmente se reconhecermos que a atual mudança de poder
em Washington tem todas as características de uma revolução – tanto
na política interna quanto na externa", disse ele.
O especialista
opina que o "pêndulo
da história" que
atingiu "o fim comunista e liberal-capitalista" oscilou para trás.
Trata-se das épocas
em que os Estados Unidos "autodeterminaram" o Panamá da
Colômbia para construir o canal, compraram a Luisiana da França e o Alasca da
Rússia e conquistaram alguns grandes territórios do Império
Espanhol.
"A julgar pela
resposta do establishment dos EUA ao 'desafio geopolítico' da Rússia, da China
e de toda a maioria do mundo não ocidental/Sul Global, que se deve, em
parte, a quatro décadas de globalização, é necessária uma mudança para o
controle manual, ou seja, a consolidação dos países ocidentais em uma base
abertamente imperial."
Ao defender essa
tese, o especialista citou as ações
do empresário naturalizado
americano Elon Musk, que apoia o partido Reform UK no Reino Unido e afirma a
necessidade de unir os cinco países de cultura inglesa em um só, "o
mesmo Império Britânico, mas sob uma liderança diferente".
¨ Luta pelo Ártico: quem são os principais requerentes da
região estratégica rica em recursos?
O Ártico abriga
vastos recursos naturais inexplorados, oportunidades para novas rotas
comerciais revolucionárias e perspectivas de levar a competição geoestratégica
e militar existente a novos níveis. Não é de se admirar que Donald Trump queira
aumentar as possessões dos EUA na região. Aqui está quem controla (ou busca
controlar) o Ártico agora.
Medido do Polo
Norte ao
Círculo Polar Ártico (67° de latitude ao norte do Equador), o Ártico se estende
por cerca de 20 milhões de quilômetros quadrados de área marítima e terrestre,
com o oceano Ártico cobrindo 15,5 milhões de quilômetros quadrados do
território.
<><> Estados
Unidos
Atualmente
reivindica cerca de 10%* do Ártico.
As possessões
árticas dos EUA incluem cerca de 1/3 do Alasca (cerca de 575.000 quilômetros
quadrados), além de uma zona econômica exclusiva de 200 milhas náuticas ao
largo das costas do estado. Em 2023, Washington
adicionou um
milhão de quilômetros quadrados às suas reivindicações de plataforma
continental, mais da metade disso ao largo do Alasca, no mar de Bering e no
oceano Ártico.
<><> Canadá
Atualmente
reivindica cerca de 25%* do Ártico.
Aproximadamente 40%
dos 9,98 milhões de quilômetros quadrados de massa terrestre do
Canadá e mais de 70% de seu litoral estão situados no Ártico. As reivindicações
da plataforma ártica do Canadá foram estendidas para 1,9 milhão de quilômetros
quadrados, até as águas russas, em 2022, e incluem reivindicações
ao Polo Norte.
<><> Dinamarca
(via Groenlândia)
Atualmente
reivindica cerca de 20%* do Ártico.
A Dinamarca é uma
potência ártica graças ao seu controle
da Groenlândia (embora
por quanto tempo seja desconhecido, dada a deriva da ilha em direção à
independência). Cerca de 2/3 dos 2,17 milhões de quilômetros
quadrados da ilha fica acima do Círculo Polar Ártico, permitindo que
Copenhague reivindique cerca de 900.000 quilômetros quadrados da plataforma
continental, incluindo o Polo Norte.
<><> Rússia
Atualmente
reivindica cerca de 50%* do Ártico.
Cerca de 1/5 dos 17
milhões de quilômetros quadrados da massa terrestre da Rússia fica acima do
Círculo Polar Ártico, e a reivindicação da plataforma
continental de
Moscou se estende por 2,1 milhões de quilômetros quadrados, incluindo o
Polo Norte.
<><> Noruega
Atualmente
reivindica cerca de 5%* do Ártico.
As reivindicações
árticas da
Noruega são comparativamente as mais modestas, com cerca de 1/3 do país de
385.200 quilômetros classificado como norte, e as reivindicações da plataforma
ártica se estendendo por cerca de 235.000 quilômetros quadrados.
¨ Ex-assessor do Pentágono: controle da Groenlândia
colocaria EUA em confronto direto com a Rússia
O coronel reformado
do Exército dos EUA e ex-conselheiro do Pentágono, Douglas Macgregor, considera
que o controle norte-americano da Groenlândia e do Canadá colocará os EUA em
confronto direto com a Rússia.
Macgregor respondeu
a uma postagem na rede
social X, onde um internauta chamou a atenção para o fato de que, com o Canadá,
Groenlândia e países
da OTAN,
os EUA vão cercar a Rússia no norte, o que pode levar a uma Terceira Guerra
Mundial.
"Isso coloca
os EUA em confronto direito com a Rússia, que está lutando pelo controle
das rotas
marítimas do Ártico devido
ao derretimento do gelo, e a Passagem do Noroeste, que liga os oceanos Pacífico
e Atlântico", escreveu o ex-conselheiro do Pentágono em resposta à
publicação do internauta.
Recentemente, o
comandante-chefe da Marinha da Rússia, Aleksandr Moiseev, disse que
os países da OTAN intensificaram as atividades militares no Ártico e estão
aumentando sua presença militar na região.
Segundo ele, a
situação militar e política no Ártico apresenta riscos
crescentes de conflito, tornando vital monitorar as ameaças à segurança. Ele
identificou o Ártico como uma área-chave de confronto entre as principais
potências mundiais.
¨ Oficiais dos EUA e Dinamarca não entendem 'obsessão' de
Trump com Groenlândia, diz mídia
As autoridades
norte-americanas e dinamarquesas não entendem a "obsessão" do
presidente eleito dos EUA, Donald Trump, com a ideia de controlar a
Groenlândia, já que a posse da ilha traria uma série de problemas para
Washington e exigiria investimentos, opina o canal de TV CNN.
Na terça-feira (7),
Trump disse mais uma vez que a Groenlândia deve virar parte dos Estados
Unidos, enfatizando sua importância
estratégica para
a segurança nacional e a defesa de um "mundo livre", inclusive da
China e da Rússia.
No entanto, ele se
recusou a se comprometer a não
usar a força militar para
obter o controle da Groenlândia e do canal do Panamá.
Os Estados
Unidos já têm um acordo de defesa antigo por décadas com a Dinamarca
que permite aos EUA colocar na ilha ártica uma quantidade significativa de
tropas e equipamentos.
"Autoridades
americanas e dinamarquesas dizem que não entendem a obsessão do presidente
entrante com a aquisição da Groenlândia, que [Donald] Trump chamou de 'uma
necessidade absoluta'", diz o artigo da
CNN.
Se os EUA
adquirissem a ilha, explica, teriam que usar sua frota envelhecida de
quebra-gelos para patrulhar as águas costeiras e quebrar o gelo.
Além disso, uma
fonte expressou preocupação com o desejo de independência da Groenlândia, pois
a ilha perderia a estabilidade
política e
supostamente se tornaria mais vulnerável à "influência russa e
chinesa" se deixasse o reino dinamarquês.
A fonte também
expressou dúvidas sobre se a Groenlândia permaneceria como membro
da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) após a
proposta de independência.
A Groenlândia foi
uma colônia da Dinamarca até 1953. Ela continua fazendo parte do reino, mas em
2009 recebeu autonomia com governo próprio e escolha independente na política
interna.
¨ Canadá pode impor tarifas destinadas a infligir 'dor
extrema' aos EUA, adverte ministro
O Canadá planeja
impor tarifas aos produtos dos EUA com o objetivo de infligir "dor
extrema" ao seu vizinho do sul, para forçar o presidente eleito dos EUA,
Donald Trump, a abandonar a ideia de imposição de tarifas sobre os produtos
canadenses, disse o ministro da Energia e Recursos Naturais do Canadá, Jonathan
Wilkinson, ao CTV.
Anteriormente, o
jornal Globe and Mail informou que o Canadá estava considerando a introdução de
tarifas de retaliação sobre produtos de aço
e cerâmica importados dos EUA, incluindo vasos sanitários e pias, bem
como suco de laranja, se Trump avançar com as tarifas sobre produtos
canadenses.
"Esta lista será
certamente focada em buscar infligir o máximo de dor nos Estados Unidos a fim
de garantir que haja pressão sobre o presidente [Donald] Trump para retirar
as tarifas", disse o ministro.
Wilkinson também
não descartou a imposição de taxas de exportação sobre os fornecimentos de
eletricidade aos EUA. No entanto, o ministro disse que Ottawa tem maneiras de
negociar com a administração
do futuro presidente,
senadores dos EUA e representantes de negócios, a fim de evitar as tarifas
prometidas por Trump.
Em 10 de dezembro,
o premiê cessante do Canadá, Justin Trudeau, disse que o seu país
responderia se Trump decidisse introduzir uma tarifa de 25% sobre os
produtos canadenses.
¨ Fim dos laços coloniais? Jamaica pode se livrar da
Coroa britânica neste ano e se tornar república
Apesar da
independência em 1962, a Jamaica permanece uma monarquia constitucional em que
o cargo de chefe de Estado é até hoje ocupado pelo Reino Unido. No fim do ano
passado, o governo local finalmente aprovou o projeto de lei para tornar o país
uma república. Será que o projeto avança em 2025?
Laços coloniais que
permanecem vivos na estrutura política ainda nos dias de hoje. Mesmo com a
independência conquistada há pouco menos de 65 anos, a Jamaica, um dos países
mais pulsantes do Caribe, mantém o monarca
britânico como
chefe de Estado. Isso se dá através da figura do governador-geral, que é
indicado pelo rei Charles III. Essa também é uma realidade de 15 países, a
maioria ligada a esse passado colonialista. Porém o número começou a
diminuir em 2022, após quase três décadas.
Na época,
Barbados decidiu destituir a monarquia britânica e se tornar uma
república — inclusive a cerimônia contou com a presença do rei. Agora, quem
parece querer seguir os mesmos passos é a Jamaica, que no fim do ano passado
viu o governo local aprovar o projeto de lei para que o processo seja iniciado.
O professor de América contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Marco Antônio Serafim explicou ao podcast Mundioka, da Sputnik
Brasil, que a situação
no país caribenho é
de uma "independência tutelada".
"Embora seja
muito mais cerimonial, essa dependência limita bastante a autonomia do governo
e das Casas legislativas, além de incomodar, sobretudo, a vontade popular. A
realização da soberania se vê muito amarrada pela existência desse entulho,
esse penduricalho que é totalmente anacrônico e sobrevive desde
1962", analisa.
Para o
especialista, essa estrutura se manteve em boa parte por conta das elites
latifundiárias da
Jamaica, apesar de refletirem uma parcela pequena da população. "A
Jamaica foi colonizada inicialmente pelos espanhóis, e essa colonização é
tomada à força pelos ingleses, que passam a dominar o Caribe de uma maneira
bastante intensa. Com o tempo, vemos essas formas de controle colonial se
atualizando, com a própria independência do país como uma espécie de
atualização dele, muito mais do que a realização de uma autonomia popular
através da via democrática. Então essa vontade ficou represada",
acrescenta.
E não dá para falar
da Jamaica sem lembrar do movimento rastafari, que marca uma oposição ao
imperialismo e à dominação inglesa, pontua o especialista.
"Isso tanto no
plano cultural quanto no econômico e no político […]. Inclusive um dos grandes
expoentes do movimento é uma personalidade nacional marcante, que é o cantor e
compositor Bob Marley."
<><> Ano
eleitoral pode agilizar destituição do monarca britânico
Com um sistema
parlamentar bipartidário, a Jamaica vai às urnas em 2025 tendo como um dos
principais temas fazer do país uma república, com chefe de Estado próprio. O
especialista acredita que há grande expectativa de concretização desse processo
ainda neste ano. "Se o atual governo conseguir a reeleição, acredito
que esse projeto de abolição da monarquia finalmente vai para frente. O que se
percebe é que há uma vontade popular para isso", diz.
As pesquisas de
opinião, segundo o professor da UFF, são provas desse movimento no país: a
última, realizada em 2022, ano que também marcou o falecimento da rainha
Elizabeth II, mostrou que quase 60% da população era favorável à
total desvinculação ao Reino Unido. "Tanto a situação quanto a oposição
acreditam em vias diferentes para a implementação desse republicanismo.
Enquanto uma quer recorrer ao Tribunal do Caribe para tutelar esse processo, a
outra defende a ideia de formar um tribunal local para empreender essa
mudança."
<><> Como
está a Jamaica atualmente?
Terceira maior ilha
do Caribe, a Jamaica conta com uma população de quase 3 milhões de habitantes e
possui uma das maiores taxas
de homicídio do
mundo: Kingston, inclusive, já chegou a ser chamada de capital mundial do
crime. Para o professor de relações internacionais da Universidade Veiga de
Almeida (UVA) Alexandre Alvarenga, esses índices são reflexo da imensa
desigualdade no país, gerada principalmente por conta do modelo neoliberal
adotado há décadas.
"A Jamaica tem
uma economia forte na região do Caribe e um IDH [Índice de Desenvolvimento
Humano] até elevado para um país em desenvolvimento, porém existem esses
bolsões de pobreza, principalmente nas áreas urbanas, que também convivem com
uma maior favelização. São problemas de países que adotaram esse modelo de
desinvestimento e desestatização que acabaram, de certa forma, vendo alguns
índices sociais caindo", declara.
<><> Jamaica:
país com a cara do Sul Global
Já no campo
geopolítico, apesar de estar ligado ao Reino Unido, o especialista conta
que a Jamaica tem uma agenda externa mais voltada para o Sul Global. Entre as principais
entidades com laços na região está a Comunidade
do Caribe (Caricom).
"A Jamaica participa
de diversas organizações internacionais, não só a Commonwealth [que surgiu
ainda no Império Britânico e hoje funciona como um elo entre as ex-colônias].
Faz parte da ONU [Organização das Nações Unidas], do FMI [Fundo Monetário
Internacional], mas tem uma agenda externa muito mais voltada para o Sul Global
e a busca de desenvolvimento", finaliza.
Fonte: Sputnik
Brasil
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