sábado, 11 de janeiro de 2025

Demandas territoriais de Trump são sinal de redivisão e 'revolução' geopolítica no mundo

As reivindicações do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, por novos territórios é um sinal de uma nova redivisão do mundo em andamento e retorno à histórica da expansão imperialista dos Estados Unidos, opina o vice-diretor-geral do grupo midiático Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, Aleksandr Yakovenko.

De acordo com ele, as recentes declarações de Trump sobre a possível anexação da Groenlândia, Canadá e do canal do Panamá aos EUA refletem o novo curso de Washington na política externa.

Essas declarações, segundo Yakovenko, parecem "extravagantes" no modelo do mundo formado após a Segunda Guerra Mundial, com os conceitos afirmados da "soberania, inviolabilidade das fronteiras etc.".

"Mas é possível olhar para isso de uma maneira diferente – então tudo parecerá muito mais realista. Especialmente se reconhecermos que a atual mudança de poder em Washington tem todas as características de uma revolução – tanto na política interna quanto na externa", disse ele.

O especialista opina que o "pêndulo da história" que atingiu "o fim comunista e liberal-capitalista" oscilou para trás.

Trata-se das épocas em que os Estados Unidos "autodeterminaram" o Panamá da Colômbia para construir o canal, compraram a Luisiana da França e o Alasca da Rússia e conquistaram alguns grandes territórios do Império Espanhol.

"A julgar pela resposta do establishment dos EUA ao 'desafio geopolítico' da Rússia, da China e de toda a maioria do mundo não ocidental/Sul Global, que se deve, em parte, a quatro décadas de globalização, é necessária uma mudança para o controle manual, ou seja, a consolidação dos países ocidentais em uma base abertamente imperial."

Ao defender essa tese, o especialista citou as ações do empresário naturalizado americano Elon Musk, que apoia o partido Reform UK no Reino Unido e afirma a necessidade de unir os cinco países de cultura inglesa em um só, "o mesmo Império Britânico, mas sob uma liderança diferente".

¨      Luta pelo Ártico: quem são os principais requerentes da região estratégica rica em recursos?

O Ártico abriga vastos recursos naturais inexplorados, oportunidades para novas rotas comerciais revolucionárias e perspectivas de levar a competição geoestratégica e militar existente a novos níveis. Não é de se admirar que Donald Trump queira aumentar as possessões dos EUA na região. Aqui está quem controla (ou busca controlar) o Ártico agora.

Medido do Polo Norte ao Círculo Polar Ártico (67° de latitude ao norte do Equador), o Ártico se estende por cerca de 20 milhões de quilômetros quadrados de área marítima e terrestre, com o oceano Ártico cobrindo 15,5 milhões de quilômetros quadrados do território.

<><> Estados Unidos

Atualmente reivindica cerca de 10%* do Ártico.

As possessões árticas dos EUA incluem cerca de 1/3 do Alasca (cerca de 575.000 quilômetros quadrados), além de uma zona econômica exclusiva de 200 milhas náuticas ao largo das costas do estado. Em 2023, Washington adicionou um milhão de quilômetros quadrados às suas reivindicações de plataforma continental, mais da metade disso ao largo do Alasca, no mar de Bering e no oceano Ártico.

<><> Canadá

Atualmente reivindica cerca de 25%* do Ártico.

Aproximadamente 40% dos 9,98 milhões de quilômetros quadrados de massa terrestre do Canadá e mais de 70% de seu litoral estão situados no Ártico. As reivindicações da plataforma ártica do Canadá foram estendidas para 1,9 milhão de quilômetros quadrados, até as águas russas, em 2022, e incluem reivindicações ao Polo Norte.

<><> Dinamarca (via Groenlândia)

Atualmente reivindica cerca de 20%* do Ártico.

A Dinamarca é uma potência ártica graças ao seu controle da Groenlândia (embora por quanto tempo seja desconhecido, dada a deriva da ilha em direção à independência). Cerca de 2/3 dos 2,17 milhões de quilômetros quadrados da ilha fica acima do Círculo Polar Ártico, permitindo que Copenhague reivindique cerca de 900.000 quilômetros quadrados da plataforma continental, incluindo o Polo Norte.

<><> Rússia

Atualmente reivindica cerca de 50%* do Ártico.

Cerca de 1/5 dos 17 milhões de quilômetros quadrados da massa terrestre da Rússia fica acima do Círculo Polar Ártico, e a reivindicação da plataforma continental de Moscou se estende por 2,1 milhões de quilômetros quadrados, incluindo o Polo Norte.

<><> Noruega

Atualmente reivindica cerca de 5%* do Ártico.

As reivindicações árticas da Noruega são comparativamente as mais modestas, com cerca de 1/3 do país de 385.200 quilômetros classificado como norte, e as reivindicações da plataforma ártica se estendendo por cerca de 235.000 quilômetros quadrados.

¨      Ex-assessor do Pentágono: controle da Groenlândia colocaria EUA em confronto direto com a Rússia

O coronel reformado do Exército dos EUA e ex-conselheiro do Pentágono, Douglas Macgregor, considera que o controle norte-americano da Groenlândia e do Canadá colocará os EUA em confronto direto com a Rússia.

Macgregor respondeu a uma postagem na rede social X, onde um internauta chamou a atenção para o fato de que, com o Canadá, Groenlândia e países da OTAN, os EUA vão cercar a Rússia no norte, o que pode levar a uma Terceira Guerra Mundial.

"Isso coloca os EUA em confronto direito com a Rússia, que está lutando pelo controle das rotas marítimas do Ártico devido ao derretimento do gelo, e a Passagem do Noroeste, que liga os oceanos Pacífico e Atlântico", escreveu o ex-conselheiro do Pentágono em resposta à publicação do internauta.

Recentemente, o comandante-chefe da Marinha da Rússia, Aleksandr Moiseev, disse que os países da OTAN intensificaram as atividades militares no Ártico e estão aumentando sua presença militar na região.

Segundo ele, a situação militar e política no Ártico apresenta riscos crescentes de conflito, tornando vital monitorar as ameaças à segurança. Ele identificou o Ártico como uma área-chave de confronto entre as principais potências mundiais.

¨      Oficiais dos EUA e Dinamarca não entendem 'obsessão' de Trump com Groenlândia, diz mídia

As autoridades norte-americanas e dinamarquesas não entendem a "obsessão" do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, com a ideia de controlar a Groenlândia, já que a posse da ilha traria uma série de problemas para Washington e exigiria investimentos, opina o canal de TV CNN.

Na terça-feira (7), Trump disse mais uma vez que a Groenlândia deve virar parte dos Estados Unidos, enfatizando sua importância estratégica para a segurança nacional e a defesa de um "mundo livre", inclusive da China e da Rússia.

No entanto, ele se recusou a se comprometer a não usar a força militar para obter o controle da Groenlândia e do canal do Panamá.

Os Estados Unidos já têm um acordo de defesa antigo por décadas com a Dinamarca que permite aos EUA colocar na ilha ártica uma quantidade significativa de tropas e equipamentos.

"Autoridades americanas e dinamarquesas dizem que não entendem a obsessão do presidente entrante com a aquisição da Groenlândia, que [Donald] Trump chamou de 'uma necessidade absoluta'", diz o artigo da CNN.

Se os EUA adquirissem a ilha, explica, teriam que usar sua frota envelhecida de quebra-gelos para patrulhar as águas costeiras e quebrar o gelo.

Além disso, uma fonte expressou preocupação com o desejo de independência da Groenlândia, pois a ilha perderia a estabilidade política e supostamente se tornaria mais vulnerável à "influência russa e chinesa" se deixasse o reino dinamarquês.

A fonte também expressou dúvidas sobre se a Groenlândia permaneceria como membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) após a proposta de independência.

A Groenlândia foi uma colônia da Dinamarca até 1953. Ela continua fazendo parte do reino, mas em 2009 recebeu autonomia com governo próprio e escolha independente na política interna.

¨      Canadá pode impor tarifas destinadas a infligir 'dor extrema' aos EUA, adverte ministro

O Canadá planeja impor tarifas aos produtos dos EUA com o objetivo de infligir "dor extrema" ao seu vizinho do sul, para forçar o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, a abandonar a ideia de imposição de tarifas sobre os produtos canadenses, disse o ministro da Energia e Recursos Naturais do Canadá, Jonathan Wilkinson, ao CTV.

Anteriormente, o jornal Globe and Mail informou que o Canadá estava considerando a introdução de tarifas de retaliação sobre produtos de aço e cerâmica importados dos EUA, incluindo vasos sanitários e pias, bem como suco de laranja, se Trump avançar com as tarifas sobre produtos canadenses.

"Esta lista será certamente focada em buscar infligir o máximo de dor nos Estados Unidos a fim de garantir que haja pressão sobre o presidente [Donald] Trump para retirar as tarifas", disse o ministro.

Wilkinson também não descartou a imposição de taxas de exportação sobre os fornecimentos de eletricidade aos EUA. No entanto, o ministro disse que Ottawa tem maneiras de negociar com a administração do futuro presidente, senadores dos EUA e representantes de negócios, a fim de evitar as tarifas prometidas por Trump.

Em 10 de dezembro, o premiê cessante do Canadá, Justin Trudeau, disse que o seu país responderia se Trump decidisse introduzir uma tarifa de 25% sobre os produtos canadenses.

¨      Fim dos laços coloniais? Jamaica pode se livrar da Coroa britânica neste ano e se tornar república

Apesar da independência em 1962, a Jamaica permanece uma monarquia constitucional em que o cargo de chefe de Estado é até hoje ocupado pelo Reino Unido. No fim do ano passado, o governo local finalmente aprovou o projeto de lei para tornar o país uma república. Será que o projeto avança em 2025?

Laços coloniais que permanecem vivos na estrutura política ainda nos dias de hoje. Mesmo com a independência conquistada há pouco menos de 65 anos, a Jamaica, um dos países mais pulsantes do Caribe, mantém o monarca britânico como chefe de Estado. Isso se dá através da figura do governador-geral, que é indicado pelo rei Charles III. Essa também é uma realidade de 15 países, a maioria ligada a esse passado colonialista. Porém o número começou a diminuir em 2022, após quase três décadas.

Na época, Barbados decidiu destituir a monarquia britânica e se tornar uma república — inclusive a cerimônia contou com a presença do rei. Agora, quem parece querer seguir os mesmos passos é a Jamaica, que no fim do ano passado viu o governo local aprovar o projeto de lei para que o processo seja iniciado. O professor de América contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marco Antônio Serafim explicou ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que a situação no país caribenho é de uma "independência tutelada".

"Embora seja muito mais cerimonial, essa dependência limita bastante a autonomia do governo e das Casas legislativas, além de incomodar, sobretudo, a vontade popular. A realização da soberania se vê muito amarrada pela existência desse entulho, esse penduricalho que é totalmente anacrônico e sobrevive desde 1962", analisa.

Para o especialista, essa estrutura se manteve em boa parte por conta das elites latifundiárias da Jamaica, apesar de refletirem uma parcela pequena da população. "A Jamaica foi colonizada inicialmente pelos espanhóis, e essa colonização é tomada à força pelos ingleses, que passam a dominar o Caribe de uma maneira bastante intensa. Com o tempo, vemos essas formas de controle colonial se atualizando, com a própria independência do país como uma espécie de atualização dele, muito mais do que a realização de uma autonomia popular através da via democrática. Então essa vontade ficou represada", acrescenta.

E não dá para falar da Jamaica sem lembrar do movimento rastafari, que marca uma oposição ao imperialismo e à dominação inglesa, pontua o especialista.

"Isso tanto no plano cultural quanto no econômico e no político […]. Inclusive um dos grandes expoentes do movimento é uma personalidade nacional marcante, que é o cantor e compositor Bob Marley."

<><> Ano eleitoral pode agilizar destituição do monarca britânico

Com um sistema parlamentar bipartidário, a Jamaica vai às urnas em 2025 tendo como um dos principais temas fazer do país uma república, com chefe de Estado próprio. O especialista acredita que há grande expectativa de concretização desse processo ainda neste ano. "Se o atual governo conseguir a reeleição, acredito que esse projeto de abolição da monarquia finalmente vai para frente. O que se percebe é que há uma vontade popular para isso", diz.

As pesquisas de opinião, segundo o professor da UFF, são provas desse movimento no país: a última, realizada em 2022, ano que também marcou o falecimento da rainha Elizabeth II, mostrou que quase 60% da população era favorável à total desvinculação ao Reino Unido. "Tanto a situação quanto a oposição acreditam em vias diferentes para a implementação desse republicanismo. Enquanto uma quer recorrer ao Tribunal do Caribe para tutelar esse processo, a outra defende a ideia de formar um tribunal local para empreender essa mudança."

<><> Como está a Jamaica atualmente?

Terceira maior ilha do Caribe, a Jamaica conta com uma população de quase 3 milhões de habitantes e possui uma das maiores taxas de homicídio do mundo: Kingston, inclusive, já chegou a ser chamada de capital mundial do crime. Para o professor de relações internacionais da Universidade Veiga de Almeida (UVA) Alexandre Alvarenga, esses índices são reflexo da imensa desigualdade no país, gerada principalmente por conta do modelo neoliberal adotado há décadas.

"A Jamaica tem uma economia forte na região do Caribe e um IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] até elevado para um país em desenvolvimento, porém existem esses bolsões de pobreza, principalmente nas áreas urbanas, que também convivem com uma maior favelização. São problemas de países que adotaram esse modelo de desinvestimento e desestatização que acabaram, de certa forma, vendo alguns índices sociais caindo", declara.

<><> Jamaica: país com a cara do Sul Global

Já no campo geopolítico, apesar de estar ligado ao Reino Unido, o especialista conta que a Jamaica tem uma agenda externa mais voltada para o Sul Global. Entre as principais entidades com laços na região está a Comunidade do Caribe (Caricom).

"A Jamaica participa de diversas organizações internacionais, não só a Commonwealth [que surgiu ainda no Império Britânico e hoje funciona como um elo entre as ex-colônias]. Faz parte da ONU [Organização das Nações Unidas], do FMI [Fundo Monetário Internacional], mas tem uma agenda externa muito mais voltada para o Sul Global e a busca de desenvolvimento", finaliza.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: