Mundo rompe
pela 1ª vez a marca crítica de 1,5 ºC
O ano de 2024 foi o mais
quente desde que se iniciaram os registros de temperaturas, e o primeiro a
romper o limite de aquecimento global de 1,5 ºC em relação à era
pré-industrial.
O anúncio desta sexta-feira
(10/01) do Copernicus Climate Change Service (C3S), órgão da União Europeia que
monitora as mudanças climáticas, confirma
oficialmente projeções anteriores, e atribui o calor recorde sobretudo à ação
humana. Outro fator importante seria o fenômeno meteorológico El Niño no Oceano
Pacífico, que eleva as temperaturas globais.
Análises do Met Office, da
Universidade de East Anglia e do Centro Nacional de Ciência Atmosférica, no
Reino Unido, confirmaram o recorde de temperatura, considerando porém só
"provável" que 2024 tenha sido o primeiro a ultrapassar a marca de
1,5 ºC. Resguardar esse limite é um dos compromissos-chave do acordo global sobre o
clima fechado em Paris em 2015.
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Mundo à beira no ponto sem retorno?
Climatologistas ressalvam
que tal ocorrência em um ano isolado não significa que o planeta tenha
alcançado esse nível de aquecimento global, alertando, no entanto, que agora
ele está muito próximo dessa marca sensível. Por outro lado, segundo um dos
cientistas, o calor recorde deveria ser uma "confrontação com a
realidade", num ano em que eventos meteorológicos extremos lembram como é
perigosa a vida acima de 1,5 ºC.
Segundo as análises
britânicas, a temperatura média global em 2024 esteve 1,53 ºC acima da média de
1890-1900, com uma margem de erro de mais ou menos 0,08 ºC. Foi ainda o 11º ano
sucessivo com 1 ºC ou mais acima da era pré-industrial.
Para constatar uma quebra
efetiva da meta do Acordo de Paris, seria preciso registrar-se uma superação da
marca sensível por um período mais longo, ressalvam. "No entanto, o que
[os atuais registros] mostram é que agora é mínima a margem para se evitar uma
ultrapassagem do 1,5 ºC por um período mais longo."
Por sua vez, o C3S
documentou médias de 1,6 ºC acima do período 1850-1900, e 0,12 ºC acima de 2023
– até então o ano mais quente da série histórica, com 1,47 ºC acima da média da
década de referência 1991-2000. A análise ressalta, ainda, que, em nível
global, de todos os períodos de dez anos já registrados, o último foi o mais
quente.
Samantha Burgess, do Centro
Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF), a que o C3S
pertence, advertiu: "Essas temperaturas globais altas, associadas ao
recorde global de vapor atmosférico em 2024, provocaram ondas de calor sem
precedentes e eventos pluviais pesados, causando miséria para milhões."
Rowan Sutton, diretor do
Centro Hadley do Met Office, reforçou que cada fração de grau centígrado a mais
"aumenta o risco de ultrapassar pontos de inflexão com potencial de
alterar o mundo, como os colapsos do bioma da Amazônia, ou da calota de gelo da Groenlândia ou da Antártida".
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Impactos climáticos
Até o momento, as
temperaturas médias globais – medidas ao longo de décadas – atingiram 1,3 grau,
um aumento que já teve consequências devastadoras.
Em 2024, incêndios
florestais queimaram partes do Pantanal no Brasil e afetaram vários países da região, enquanto regiões como o Rio Grande do Sul, partes
do Sudão, dos Emirados Árabes Unidos e da Espanha foram
atingidas por fortes inundações. Ondas de calor
atingiram a Europa e a África Ocidental e tempestades tropicais varreram partes
dos Estados Unidos e das Filipinas.
Os cientistas que trabalham
como parte da World Weather Attribution, uma organização que estuda os vínculos
entre o clima extremo e a mudança climática, descobriram que 26 dos eventos que
analisaram no ano passado se tornaram piores ou mais prováveis de ocorrer
devido ao aumento das temperaturas.
A queima de combustíveis
fósseis pelo homem para atividades como aquecimento, indústria e transporte é o
principal fator do aquecimento global, mas fenômenos naturais, como o El Niño,
também contribuíram para o aumento das temperaturas nos últimos dois anos,
disseram os cientistas da C3S.
¨ Brasil registra aumento 'alarmante' de
desastres climáticos, segundo estudo
O Brasil está em um "cenário
alarmante" de quase dobrar o número de desastres climáticos a cada ano nos
últimos quatro anos do que os que registrou anualmente nas duas décadas
anteriores, de acordo com um novo estudo científico.
"Os desastres climáticos têm se
tornado mais frequentes e intensos nas últimas décadas, refletindo os impactos
das mudanças climáticas", afirma o relatório elaborado pela Aliança
Brasileira pela Cultura Oceânica com apoio do governo brasileiro e da Unesco.
O estudo, realizado pelo braço de pesquisa
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado na sexta-feira,
aponta que entre 2020 e 2023, os dados oficiais mostraram uma média anual de
4.077 desastres relacionados ao clima no Brasil. O número é quase o dobro dos
2.073 desastres registrados anualmente, em média, nas duas décadas de 2000 a
2019.
O relatório descreveu a situação como um
"cenário alarmante". Os desastres variam desde secas e enchentes até
tempestades violentas, temperaturas extremas, ciclones e deslizamentos de
terra. Por outro lado, o estudo mostrou uma correlação entre os desastres
climáticos sofridos no país e o aquecimento das temperaturas da superfície
oceânica.
Observa também que secas e enchentes
recordes no Brasil em 2024 contribuem para os desafios climáticos que o país
sul-americano enfrenta.
"Os prejuízos econômicos causados por
desastres climáticos no Brasil têm aumentado significativamente ao longo das
últimas décadas, refletindo os impactos crescentes das mudanças do clima",
destacou o estudo.
O custo desses danos no Brasil entre 1995 e
2023 foi estimado em cerca R$547,2 bilhões. Os pesquisadores sublinharam a
"urgência de medidas para mitigar os impactos das mudanças climáticas e
aumentar a resiliência socioeconômica no país".
Fonte: DW
Brasil/AFP
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