sábado, 11 de janeiro de 2025

Mundo rompe pela 1ª vez a marca crítica de 1,5 ºC

O ano de 2024 foi o mais quente desde que se iniciaram os registros de temperaturas, e o primeiro a romper o limite de aquecimento global de 1,5 ºC em relação à era pré-industrial.

O anúncio desta sexta-feira (10/01) do Copernicus Climate Change Service (C3S), órgão da União Europeia que monitora as mudanças climáticas, confirma oficialmente projeções anteriores, e atribui o calor recorde sobretudo à ação humana. Outro fator importante seria o fenômeno meteorológico El Niño no Oceano Pacífico, que eleva as temperaturas globais.

Análises do Met Office, da Universidade de East Anglia e do Centro Nacional de Ciência Atmosférica, no Reino Unido, confirmaram o recorde de temperatura, considerando porém só "provável" que 2024 tenha sido o primeiro a ultrapassar a marca de 1,5 ºC. Resguardar esse limite é um dos compromissos-chave do acordo global sobre o clima fechado em Paris em 2015.

·        Mundo à beira no ponto sem retorno?

Climatologistas ressalvam que tal ocorrência em um ano isolado não significa que o planeta tenha alcançado esse nível de aquecimento global, alertando, no entanto, que agora ele está muito próximo dessa marca sensível. Por outro lado, segundo um dos cientistas, o calor recorde deveria ser uma "confrontação com a realidade", num ano em que eventos meteorológicos extremos lembram como é perigosa a vida acima de 1,5 ºC.

Segundo as análises britânicas, a temperatura média global em 2024 esteve 1,53 ºC acima da média de 1890-1900, com uma margem de erro de mais ou menos 0,08 ºC. Foi ainda o 11º ano sucessivo com 1 ºC ou mais acima da era pré-industrial.

Para constatar uma quebra efetiva da meta do Acordo de Paris, seria preciso registrar-se uma superação da marca sensível por um período mais longo, ressalvam. "No entanto, o que [os atuais registros] mostram é que agora é mínima a margem para se evitar uma ultrapassagem do 1,5 ºC por um período mais longo."

Por sua vez, o C3S documentou médias de 1,6 ºC acima do período 1850-1900, e 0,12 ºC acima de 2023 – até então o ano mais quente da série histórica, com 1,47 ºC acima da média da década de referência 1991-2000. A análise ressalta, ainda, que, em nível global, de todos os períodos de dez anos já registrados, o último foi o mais quente.

Samantha Burgess, do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF), a que o C3S pertence, advertiu: "Essas temperaturas globais altas, associadas ao recorde global de vapor atmosférico em 2024, provocaram ondas de calor sem precedentes e eventos pluviais pesados, causando miséria para milhões."

Rowan Sutton, diretor do Centro Hadley do Met Office, reforçou que cada fração de grau centígrado a mais "aumenta o risco de ultrapassar pontos de inflexão com potencial de alterar o mundo, como os colapsos do bioma da Amazônia, ou da calota de gelo da Groenlândia ou da Antártida".

·        Impactos climáticos

Até o momento, as temperaturas médias globais – medidas ao longo de décadas – atingiram 1,3 grau, um aumento que já teve consequências devastadoras.

Em 2024, incêndios florestais queimaram partes do Pantanal no Brasil e afetaram vários países da região, enquanto regiões como o Rio Grande do Sul, partes do Sudão, dos Emirados Árabes Unidos e da Espanha foram atingidas por fortes inundações. Ondas de calor atingiram a Europa e a África Ocidental e tempestades tropicais varreram partes dos Estados Unidos e das Filipinas.

Os cientistas que trabalham como parte da World Weather Attribution, uma organização que estuda os vínculos entre o clima extremo e a mudança climática, descobriram que 26 dos eventos que analisaram no ano passado se tornaram piores ou mais prováveis de ocorrer devido ao aumento das temperaturas.

A queima de combustíveis fósseis pelo homem para atividades como aquecimento, indústria e transporte é o principal fator do aquecimento global, mas fenômenos naturais, como o El Niño, também contribuíram para o aumento das temperaturas nos últimos dois anos, disseram os cientistas da C3S.

¨      Brasil registra aumento 'alarmante' de desastres climáticos, segundo estudo

O Brasil está em um "cenário alarmante" de quase dobrar o número de desastres climáticos a cada ano nos últimos quatro anos do que os que registrou anualmente nas duas décadas anteriores, de acordo com um novo estudo científico.

"Os desastres climáticos têm se tornado mais frequentes e intensos nas últimas décadas, refletindo os impactos das mudanças climáticas", afirma o relatório elaborado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica com apoio do governo brasileiro e da Unesco.

O estudo, realizado pelo braço de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgado na sexta-feira, aponta que entre 2020 e 2023, os dados oficiais mostraram uma média anual de 4.077 desastres relacionados ao clima no Brasil. O número é quase o dobro dos 2.073 desastres registrados anualmente, em média, nas duas décadas de 2000 a 2019.

O relatório descreveu a situação como um "cenário alarmante". Os desastres variam desde secas e enchentes até tempestades violentas, temperaturas extremas, ciclones e deslizamentos de terra. Por outro lado, o estudo mostrou uma correlação entre os desastres climáticos sofridos no país e o aquecimento das temperaturas da superfície oceânica.

Observa também que secas e enchentes recordes no Brasil em 2024 contribuem para os desafios climáticos que o país sul-americano enfrenta.

"Os prejuízos econômicos causados por desastres climáticos no Brasil têm aumentado significativamente ao longo das últimas décadas, refletindo os impactos crescentes das mudanças do clima", destacou o estudo.

O custo desses danos no Brasil entre 1995 e 2023 foi estimado em cerca R$547,2 bilhões. Os pesquisadores sublinharam a "urgência de medidas para mitigar os impactos das mudanças climáticas e aumentar a resiliência socioeconômica no país".

 

Fonte: DW Brasil/AFP

 

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