segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

MST denuncia agronegócio, imperialismo e acordo UE-Mercosul no G20

Cerca de mil militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de várias partes do país estão no G20 Social, no Rio de Janeiro, e denunciam no evento os “crimes” do imperialismo, por meio de um tribunal popular, o papel do agronegócio na crise climática e o acordo entre Mercosul e União Europeia. Além disso, promovem ato em defesa da Palestina.

Na avaliação do MST, o documento elaborado por representantes dos movimentos participantes no G20 Social, que será entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no sábado (16), não é o mais importante do encontro, uma vez que os países do G20 – que reúne as 19 maiores economias do planeta, além da União Europeia e da União Africana – não têm qualquer obrigação de adotar, ou mesmo considerar, as propostas da sociedade civil.

“A nossa presença aqui é a mensagem que queremos passar e envolve os três  temas selecionados pelo Brasil para o G20: combate à fome; reforma da governança global e crise climática”, afirmou Cássia Bechara, da direção nacional do MST e coordenadora do setor de internacionalismo do movimento.

Para Cássia, não há como falar de combate à fome sem falar de reforma agrária, nem falar de crise climática sem discutir o papel do agronegócio em países como o Brasil.

“Só se combate à fome com reforma agrária, não se combate à fome investindo no agronegócio para produzir soja ou outras commodities. Não vamos conseguir enfrentar a crise ambiental se não enfrentarmos o modelo agrícola implementado nos países do Sul Global”, destacou Cássia. Sul Global é o termo usado para se referir aos países pobres ou emergentes que, em sua maioria, estão no Hemisfério Sul do planeta.

Diferentemente do que ocorre nos países mais ricos, no Brasil, o desmatamento e a agricultura são os maiores emissores de gases do efeito estufa. O país é o quinto maior emissor de poluentes do planeta.

“Não podemos enfrentar a crise climática sem debater o papel do agronegócio na exploração dos bens naturais, na poluição das águas e dos solos a partir dos agrotóxicos, na emissão de gases a partir do monocultivo e da pecuária extensiva, na promoção das queimadas para a expansão da fronteira agrícola. O agronegócio está no centro da crise ambiental dos países do Sul Global”, acrescentou a dirigente do MST.

<><> Economia Verde

Uma das especialistas convidadas pelo MST para discutir a crise climática no G20 Social foi a advogada socioambiental Larissa Packer, da organização não governamental (ONG) Grain, que fez uma crítica do modelo de economia verde promovido por bancos e fundos de investimento para combater a crise climática por meio de mercado de créditos de carbono ou da venda de “títulos verdes” para financiar dívidas dos países.

“É uma proposta encaminhada por corporações e setores financeiros que geraram a crise. Isso para manter o modo de produção e consumo da forma como está, além da manutenção do estado mínimo, delegando para o mercado financeiro a solução da crise que eles mesmo criaram”, destacou Larissa.

<><> Tribunal

Entre as várias atividades realizadas pelo MST durante o G20 Social, no Rio de Janeiro, o movimento promove nesta sexta-feira (15), em conjunto com outros movimentos sociais, o Tribunal Popular O Imperialismo no Banco dos Réus, em que será feito um julgamento simbólico de “crimes” do imperialismo, conceito muito usado nas relações internacionais.

Segundo o sociólogo Raphael Seabra, professor do Departamento de Estudos Latinos Americanos da Universidade de Brasília (UnB), o conceito de imperialismo é usado para situações em que “um país central se vale de seu maior poderio econômico, político e militar para subordinar e influenciar/pressionar países periféricos de acordo com seus próprios interesses comerciais, políticos e diplomáticos”.

Entre os casos analisados, estão a guerra na Faixa de Gaza, considerado um genocídio; o caso do Haiti, considerado uma violação à soberania e à autodeterminação dos povos; os efeitos nocivos do acordo Mercosul e União Europeia; o bloqueio de 60 anos contra Cuba; a destruição ambiental provocada pelo rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, e o chamado extermínio dos povos negros e originários no Brasil.

<><> Filha de Che

A filha mais velha de Ernesto Che Guevara, um dos principais líderes da Revolução Cubana, veio de Havana à convite do MST para participar do G20 Social e falar sobre os impactos do bloqueio contra a ilha. Aleida Guevara, que tinha 4 anos quando o pai foi morto na Bolívia, disse à Agência Brasil que o mundo mudou pouco nas últimas seis décadas.

“O mundo segue com um poder dominante que economicamente esmaga os demais. Esses Estados Unidos (EUA) fazem o que querem com a Europa. Provocaram uma guerra entre dois países que foram irmãos, Ucrânia e Rússia, e se beneficiam disso porque o gás russo era muito mais barato para a Europa. Agora, a Europa tem que pagar mais pela energia vinda dos EUA”, afirmou.

Ao falar para o público no G20, a filha de Che questionou o modelo de democracia que existe nos países capitalistas. “Que democracia é essa em que as multinacionais levam toda a riqueza e em que a terra está nas mãos de poucas famílias?”, perguntou, lembrando que a origem da palavra democracia vem do grego e significa governo do povo.

“Enquanto o dinheiro segue para os bancos dos Estados Unidos, eles têm o poder de vetar o que eles quiserem. Não podemos continuar assim. Fazem falta muitas mudanças, mas sobretudo falta poder do povo. Levar à prática essa famosa democracia e tomar o poder que nos corresponde como povo”, defendeu a filha mais velha do líder da Revolução Cubana.

<><> União Europeia

Uma das principais críticas trazidas pelo MST para o G20 Social é o acordo que vem sendo costurado entre Mercosul e União Europeia. No entendimento do movimento, esse projeto de acordo de livre comércio reforça a posição do Brasil de exportador de matérias-primas e importador de produtos industrializados.

“É um acordo que vai potencializar a desindustrialização dos países do Sul Global”, destacou Cássia Bechara. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil entendem que a proposta pode inibir a indústria brasileira.

<><> Palestina

Outro foco do MST é a denúncia do que ocorre atualmente na Faixa de Gaza, que o movimento considera um genocídio contra o povo palestino. Um ato foi convocado para este sábado (16), em Copacabana, para denunciar as ações de Israel.

“Os maiores financiadores do genocídio estão aqui, no G20. Sejam os financiadores de armamentos e de recurso, como os Estados Unidos e países da União Europeia, sejam os financiadores políticos do Estado de Israel”, destacou Cássia Bechara. Para a dirigente do MST, o discurso do governo brasileiro contra Israel é importante, mas é preciso ainda que o país rompa relações comerciais com Tel-Aviv.

¨      Ataque a assentamento do MST em SP deixa 2 mortos

Um ataque a tiros contra um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Tremembé, no interior de São Paulo, resultou na morte de dois integrantes do movimento e deixou outros seis feridos, alguns em estado grave, denunciaram ativistas de direitos humanos neste sábado (11). 

As vítimas fatais são Valdir do Nascimento, conhecido como “Valdirzão”, de 52 anos, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28. No assentamento, estavam abrigadas 10 famílias, entre crianças e idosos.

Os ativistas de direitos humanos, citando militantes do MST, disseram que o grupo criminoso, composto por cerca de 10 homens, invadiu o local altamente armado em carros e motos.

Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, o crime já foi comunicado ao secretário de Segurança Pública de São Paulo. Ele disse ainda que pediu as providências para a investigação dos autores do crime e a prisão deles.

¨      Gleisi exige prisão dos criminosos responsáveis por ataque armado a assentamento do MST

A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, foi às redes sociais exigir a punição dos responsáveis pelo ataque armado a um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no interior de São Paulo, que resultou na morte de dois militantes e feriu alguns outros gravemente.   

Mais cedo neste sábado (11), ativistas de direitos humanos denunciaram um ataque a tiros contra o assentamento do MST, que resultou na morte de dois integrantes do movimento e deixou outros seis feridos, alguns em estado grave.

A dirigente afirmou que o ataque violento é "inadmissível" e prestou sua solidariedade às famílias abrigadas no assentamento Olga Benário, em Tremembé. Ela também cobrou uma "resposta imediata" das autoridades estaduais e que a Polícia Federal acompanhe o caso. 

"O ataque armado ao Assentamento Olga Benário do MST em Tremembé (SP), na noite de ontem (10/01), exige resposta imediata das autoridades de São Paulo, com prisão dos criminosos e dos mandantes e acompanhamento da Polícia Federal. Dez homens fortemente armados invadiram a área atirando contra famílias que estavam reunidas, assassinando três pessoas e deixando outras dez feridas. Violência inadmissível que não pode ficar impune. Toda solidariedade às famílias do Olga Benário", escreveu Gleisi na plataforma X. 

 

¨      Mato Grosso aprova lei que pode gerar desmatamento de mais de 5 milhões de hectares

Na última quarta-feira (8), a Assembleia Legislativa do Mato Grosso aprovou um Projeto de Lei Complementar (PLC) que pode gerar a derrubada de até 5,5 milhões de hectares de floresta – área equivalente ao tamanho da Croácia – de acordo com estudo apresentado pelo Observatório Socioambiental do Mato Grosso (Observa MT), que publicou uma nota de repúdio à proposta.

O PLC 18/2024 permite que áreas do bioma amazônico no estado sejam reclassificadas como Cerrado. Com isso, a reserva legal (porcentagem de mata que deve ser preservada) nas propriedades rurais nessas áreas cai de 80% para 35%, já que o Código Florestal Brasileiro é mais tolerante com o desmatamento no Cerrado. Como consequência da flexibilização, o país fica mais longe da meta estabelecida pelo Governo Federal de zerar o desmatamento até 2030.

“Esse desmonte acontece em um contexto de agravamento da crise climática. Em 2023, Mato Grosso foi o segundo estado com a maior emissão bruta de gases de efeito estufa, responsável por 11,4% das emissões totais do Brasil”, informa a nota de repúdio emitida pelo Observa MT, que aponta os riscos da aprovação do projeto. O estado líder em emissões de gases do efeito estufa é o Pará.

O observatório destaca que parte dessas emissões é resultado das mudanças de uso do solo. Atualmente, cerca de 38% do território do Mato Grosso é ocupado por atividades agropecuárias, com destaque para pastagens, que ocupam mais de 21 milhões de hectares; e plantações de soja, ultrapassando os 10 milhões de hectares. A maior parte do desmatamento concentra-se no Cerrado mato-grossense. As áreas com cobertura florestal representam 54% do território, com concentração na Amazônia, ao norte do estado.

“O avanço do desmatamento tanto na Amazônia quanto no Cerrado mato-grossense é uma ameaça ao clima global e à biodiversidade”, destaca a nota.

Para Alice Thuault, diretora-executiva do Instituto Centro de Vida (ICV), organização dedicada a pesquisas socioambientais há mais de 30 anos no Mato Grosso, a proposta responde a uma demanda do mercado internacional.

“O agronegócio brasileiro está muito confortável em termos de demanda. Vai ter nova demanda, tem uma pressão sobre o território e, com isso, uma pressão para aumentar a área de plantio e buscar a expansão”, avalia.

O PLC 18/2024 foi apresentado pelo deputado estadual Nininho (PSD), ruralista, cujo patrimônio declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições de 2022 ultrapassa os R$ 6 milhões. Entre bens do deputado, estão dez fazendas, em municípios dos estados de Mato Grosso e Pará.

<><> Pressão do agronegócio

Na avaliação de Marcondes Coelho, membro do Observa MT, a aprovação do PLC 18/2024 é mais um sinal da articulação entre as câmaras legislativas para o desmonte de políticas ambientais.

“Projetos com redações muito similares surgiram no Congresso Nacional e nos estados de Goiás, Rondônia e Pará. Esse padrão reflete uma estratégia coordenada de desmonte das políticas ambientais, incluindo o Código Florestal, com propostas que desconsideram evidências científicas e ignoram os impactos ambientais e climáticos”, diz.

Em outubro de 2024, em outro golpe contra a preservação da floresta, o governador do estado do Mato Grosso sancionou a lei 12.709, que restringe a concessão de benefícios fiscais a empresas que aderirem à Moratória da Soja no estado. A moratória é um pacto firmado em 2006 entre empresas que se comprometem a não comprar o produto de fazendas com lavouras em áreas abertas após 22 de julho de 2008 na Amazônia.

A decisão foi celebrada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja MT). “Agora temos certeza de que além da justiça aos produtores, isso também movimentará ainda mais e ajudará no crescimento da economia do Estado do Mato Grosso”, celebrou Lucas Beber, presidente da Aprosoja MT, em vídeo publicado em seu perfil no Instagram.

Em texto publicado em novembro de 2024 no site da Aprosoja Pará, o presidente da associação, Vanderlei Silva de Ataídes, acusa a moratória de ser um embargo ao futuro do estado.

 

¨      Racha entre aldeias Kaigangs após eleição de cacique deixou feridos e 200 desabrigados no Paraná

As aldeias indígenas da etnia Kaingang que entraram em um confronto que terminou com feridos e mais de 200 pessoas desabrigadas viviam em uma só comunidade até 2024, quando se dividiram.

O "racha" aconteceu no início daquele ano, após divergências durante a eleição pelo novo cacique da região central do Paraná.

As informações constam nas atas das reuniões que foram realizadas com representantes das aldeias após a briga - quando pelo menos sete vítimas tiveram ferimentos graves e 60 casas foram queimadas. Os encontros foram mediados por instituições, mas não chegaram a nenhum acordo. Saiba mais abaixo.

"Foi relatado que o conflito vem acontecendo devido às famílias que estão ocupando o povoamento de Campina não aceitarem a eleição do cacique Domingos, da terra indígena de Ivaí", aponta um dos documentos.

Segundo informações apuradas pela RPC, os grupos viviam em conjunto em um território na cidade de Manoel Ribas, chamado de "aldeia Ivaí", até fevereiro de 2024, quando houve uma nova eleição para cacique.

"A eleição foi motivada por um grupo de oposição ao atual Cacique Domigues. Porém, esse grupo perdeu a eleição e foi mantido o Cacique Domingues. Insatisfeitos, eles se negaram a permanecer na aldeia Ivaí e iniciaram uma nova aldeia a uns 8 km da aldeia principal, que passaram a chamar de 'aldeia da Serrinha'", detalhou uma fonte que prefere não ser identificada.

As informações também apontam que a nova aldeia se instalou no território da cidade vizinha de Pitanga e passou a ser liderada por um novo cacique.

"De lá pra cá, começaram os conflitos", relata a fonte.

Reuniões terminaram sem acordos e indígenas continuam desabrigados

Na terça-feira (7) duas reuniões foram realizadas - uma em cada aldeia. Elas reuniram representantes dos grupos indígenas, do Conselho Estadual dos Povos Indígenas, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), prefeituras municipais da região, entre outros.

Segundo as atas, não se chegou a nenhum acordo porque nenhum dos lados cedeu.

O vice-presidente do Conselho Estadual dos Povos Indígenas, cacique Miguel Alves, explica que os indígenas da Ivaí não concordam que a comunidade da Serrinha continue vivendo nas terras em que estava e, por outro lado, os indígenas da Serrinha não pretendem sair do local.

Com isso, 242 indígenas, entre eles 35 crianças, seguem desabrigados. Eles tiveram as casas incendiadas e estão alojados no Colégio Estadual do Campo São João da Colina - que deve iniciar o ano letivo em 5 de fevereiro.

Em nota, a Funai disse que acompanha o caso.

"Ao ser informada sobre o conflito, a instituição entrou em contato com as lideranças indígenas locais e acionou a Polícia Federal para que as providências necessárias fossem adotadas. Além disso, a Funai mantém diálogo com as comunidades indígenas e as autoridades locais para que o impasse seja solucionado com a maior rapidez possível", diz o texto.

De acordo com a Polícia Militar (PM-PR), a briga aconteceu na madrugada de sábado (6)

A corporação afirma que o conflito começou depois que indígenas da aldeia Ivaí, da cidade de Manoel Ribas, foram de carro até o limite com a aldeia da Serrinha, em Pitanga, para cuidar de máquinas agrícolas que estavam aplicando veneno em uma lavoura.

No local, ainda segundo a PM, os indígenas de Ivaí foram espancados pelos membros da aldeia rival.

O registro da PM diz, também, que após as primeiras agressões, indígenas da aldeia Ivaí souberam da confusão e foram até o local onde começou uma briga generalizada.

Seis pessoas ficaram gravemente feridas e foram internadas em um hospital de Manoel Ribas. Outras pessoas tiveram ferimentos leves e foram socorridas por equipes da Secretaria Municipal de Saúde de Pitanga.

No conflito, os indígenas que viviam na aldeia da Serrinha tiveram as casas e veículos incendiados.

O caso está sendo investigado.

 

Fonte: Agencia Brasil/Brasil 247/Brasil de Fato/g1

 

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