quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

A. Victoria de Andrés Fernández: Por que pênis humano não tem osso para ajudar na ereção como em outros animais?

Todos nós nos preocupamos com o bom funcionamento do nosso corpo. Mas nem todos vivemos da mesma forma nossas deficiências e patologias físicas.

A prioridade número 1 é nos mantermos vivos. Por isso, é claro que órgãos como o cérebro, os pulmões e o coração recebem preferencialmente nosso interesse.

Em relação ao resto do corpo, mesmo que não sejam absolutamente vitais, o funcionamento adequado das engrenagens biológicas que interferem na nossa fisiologia sexual gera muita inquietação. E, no caso específico do sexo masculino, a impossibilidade de atingir a ereção corretamente pode representar um verdadeiro drama.

Mas o que acontece com outros animais? Eles também manifestam problemas de ereção?

O que é, fisiologicamente, uma ereção?

Em condições normais, o ambiente propício para a prática sexual ativa o sistema nervoso autônomo. Isso provoca o aumento dos níveis de óxido nítrico, que é vasodilatador, nas artérias trabeculares da musculatura lisa do pênis.

Consequentemente, ocorre afluência de sangue para os corpos cavernosos penianos e, em menor quantidade, para o corpo esponjoso.

Ao mesmo tempo, os músculos isquiocavernoso e bulboesponjoso comprimem as veias dos corpos cavernosos, restringindo a saída e a circulação daquele sangue para fora do apêndice copulador.

Em consequência da abertura da porta de entrada de sangue e do fechamento das portas de saída, os corpos cavernosos ficam cheios de fluido, incham devido ao aumento progressivo da pressão sanguínea (que pode atingir várias centenas de mmHg) e o pênis fica ereto.

Quando a atividade parassimpática diminui e os músculos se relaxam, o sangue é drenado pelas veias mencionadas e o pênis retorna ao seu estado flácido.

Por isso, é evidente que, para que o pênis entre em ereção, é necessário tempo e estímulo. Mas, frente a determinados problemas de saúde física (basicamente, cardiovascular) ou psicológica, este sistema deixa de funcionar corretamente, impossibilitando a cópula e irritando o usuário.

·        Existem mecanismos alternativos na natureza?

Pode parecer surpreendente, mas a modalidade peniana humana é bastante excepcional. Na verdade, a maioria dos mamíferos conta com "assistência óssea" para manter o pênis ereto.

Trata-se do chamado báculo, um osso localizado no eixo longitudinal do pênis. Ele possibilita ao macho manter penetração eficiente a qualquer momento – mas, sobretudo, proporciona o aumento do tempo de cópula.

Este tronco surpreendente possui formas muito variadas. Ele chegou a ser denominado "o mais diverso de todos os ossos".

O báculo não só adquire diversas formas, mas também manifesta tamanhos muito diferentes. Ele pode ser quase vestigial em algumas espécies de lêmures ou adquirir dimensões surpreendentes, como os 65 cm de comprimento que podem chegar a apresentar os machos das morsas.

Já os marsupiais, as hienas, alguns lagomorfos (como os coelhos) e os equídeos compartilham esta mesma ausência com os seres humanos.

Este grupo de "machos discriminados" também não conta com uma segunda vantagem. O báculo, quando alongado, protege a uretra em cópulas prolongadas, limitando sua constrição distal. Assim, a uretra é mantida aberta, facilitando o fluxo do esperma no seu interior.

·        Mas por que os seres humanos não têm o osso do pênis?

Se os primeiros primatas, que surgiram no fim do período Cretáceo, tinham báculo (que se manteve na maioria dos grupos de mamíferos que surgiram posteriormente), por que esse osso se perdeu na linha evolutiva que gerou a nossa espécie?

A explicação poderia estar no fato de que o báculo favoreceria as estratégias reprodutivas em populações com altos níveis de seleção sexual pós-copulatória.

As espécies primatas poligâmicas (que mantêm concorrência sexual muito intensa) possuem báculos mais longos do que as monogâmicas. Isso permitiria a elas alongar o coito.

Em outras palavras, este processo manteria a fêmea "ocupada" por mais tempo, evitando que ela copulasse com outros machos. Consequentemente, aumentariam as probabilidades de que o feliz "baculado" fizesse seus genes chegarem à geração seguinte.

Esta hipótese foi confirmada em um curioso experimento com dois grupos de ratos, um dos quais foi forçado a praticar a monogamia. E... surpresa! Depois de 27 gerações, o tamanho do osso peniano se reduziu no grupo monogâmico.

Aparentemente, portanto, se formos monogâmicos, a pressão da seleção em favor da manutenção do báculo é reduzida.

Por outro lado, cerca de dois milhões de anos atrás, o pedaço de cromossomo que continha a sequência de DNA codificadora do báculo se perdeu.

Esta mutação (deleção) ocorreu quando nossa linha de primatas bípedes (os hominíneos) já estava bem avançada e separada há quatro milhões de anos. Dela se originaram os chimpanzés e os bonobos, que são polígamos e possuem báculo.

Isso nos levaria à interessante conclusão de que os hominíneos se tornaram monogâmicos nessa forquilha temporal, fazendo desaparecer as pressões evolutivas a favor da manutenção do báculo.

·        Quem realmente perde, os homens ou as mulheres?

No meu livro recentemente publicado, El Sexo Injusto ("O sexo injusto", em tradução livre), explico que as coisas nem sempre são o que parecem, quando contempladas do ponto de vista da evolução.

No caso do osso peniano, aparentemente, precisar "trabalhar" a ereção do pênis parece uma clara desvantagem, ainda mais que qualquer contratempo, físico ou psicológico, pode gerar uma situação mais do que comprometedora para os homens.

No entanto, analisando do ponto de vista evolutivo, não seria tão claro assim. Afinal, sem os altos níveis de concorrência sexual pós-copulatória, o único objetivo dos hominíneos machos durante a cópula se restringiria exclusivamente à ejaculação.

Se, em termos de eficiência biológica, não faz diferença que os coitos sejam "rapidinhos"... não poderíamos concluir que quem sai perdendo, na verdade, são as mulheres?

 

¨      A fascinante vida sexual dos insetos. Por Louise Gentle

Alguns insetos têm pênis destacáveis. Outros produzem espermatozoides 20 vezes maiores que o tamanho do próprio corpo.

Outros evoluíram até ficarem particularmente equipados para dilacerar seus rivais na busca de possíveis parceiros.

Os insetos podem ser assustadores, promíscuos ou assassinos — mas raramente são entediantes.

Os besouros lucanos machos (o maior besouro da Europa) possuem enormes mandíbulas. Elas são chamadas de chifres e permitem separar pares em acasalamento.

Este comportamento é observado em inúmeros besouros, com chifres de diferentes formatos que evoluíram para diferenciar os machos das fêmeas. O besouro-rinoceronte-japonês, por exemplo, possui um chifre que parece uma forquilha.

Os besouros também usam os chifres em batalhas, para enfrentar outros machos pelo acesso às fêmeas.

Em muitas espécies de besouros, os machos menores não têm possibilidade de vencer uma luta. Por isso, eles evoluíram táticas dissimuladas de acasalamento.

Eles esperam os machos maiores lutarem e, enquanto estão distraídos, eles se aproximam sorrateiramente para copular com a fêmea.

Pequenos besouros-do-esterco se esgueiram entre os machos grandes que protegem as entradas para os túneis onde ficam as fêmeas. Eles então cavam passagens secretas para encontrar as fêmeas nos subterrâneos, enquanto os machos maiores estão de costas.

<><> Concorrência pelo esperma

Além da competição física entre os machos, existe também a concorrência entre o seu esperma para fertilizar os ovos.

No reino animal, as fêmeas raramente são fiéis aos seus machos. Por isso, provavelmente existe esperma de diversos machos no trato reprodutivo da fêmea.

Os machos evoluíram diversas formas de combater esta questão, como a produção de esperma em grande quantidade. O esperma da mosca-das-frutas, por exemplo, tem quase 6 cm de comprimento quando desenrolado — cerca de 20 vezes o tamanho da mosca.

Mas o método mais extraordinário de vencer a concorrência pelo esperma talvez seja o observado entre os machos da ordem Odonata (como as libélulas e donzelinhas).

Eles têm pênis ornamentados — completos, com ganchos e chicotes — para deslocar o esperma dos machos rivais e colocar o próprio esperma nos cantos mais distantes do trato reprodutivo das fêmeas, longe dos pênis de outros machos.

E não são apenas os machos que têm pênis elaborados. As fêmeas de insetos cavernícolas no Brasil também competem pelo acesso aos machos.

A genitália desses insetos é invertida entre os sexos. Os machos têm uma abertura e as fêmeas têm um órgão erétil pontiagudo. A fêmea usa o seu "pênis" para sugar o esperma do macho. Ela consegue até escolher em qual das duas câmaras do seu corpo o esperma será armazenado.

Acredita-se que este comportamento tenha evoluído como forma de adaptação à oferta limitada de alimento, enquanto as fêmeas conseguem energia se alimentando do fluido seminal recebido durante a cópula, que pode durar até 70 horas.

Já as borboletas vivem apenas por algumas semanas. Por isso, se os machos quiserem ser pais, eles não podem perder tempo — mas existem exceções.

Muitas borboletas ficam sexualmente maduras assim que saem da crisálida. Por isso, em algumas espécies, os machos emergem poucos dias antes das fêmeas. Eles então se sentam e esperam para copular com as fêmeas o mais rápido possível.

Outro comportamento perturbador é observado entre os percevejos-de-cama.

Os machos simplesmente perfuram o abdômen da fêmea e injetam o esperma através da ferida, até a sua cavidade abdominal. E, como os insetos têm sistema circulatório aberto — sem veias, nem artérias —, o esperma pode migrar facilmente da cavidade abdominal até os ovários, para fertilização.

<><> Canibalismo sexual

O comportamento sexual mais famoso entre os insetos provavelmente é o do louva-a-deus. A fêmea arranca e come a cabeça do parceiro durante ou após o sexo, para conseguir nutrientes para ela e sua ninhada. Esse comportamento aumenta a quantidade de ovos fertilizada pelo macho.

Recentemente, os cientistas descobriram que os machos também atacam as fêmeas. Eles não se alimentam delas, mas, às vezes, causam graves feridas.

Os machos que vencem o combate com as fêmeas têm mais chance de se acasalar, em vez de serem apenas comidos.

<><> Cintos de castidade

Muitos insetos machos só conseguem acasalar uma vez, mesmo quando não são comidos pelas parceiras. Os zangões, por exemplo, ejaculam com tanta força explosiva que os seres humanos conseguem ouvi-los.

Isso garante a transferência do esperma para a fêmea, mas resulta em paralisia e morte do macho. Por isso, eles precisam dar o máximo das suas explosões.

Uma forma de evitar que outros machos se acasalem com uma fêmea é produzir um tampão copulatório — algo que evite que outro macho insira o seu esperma em uma fêmea para fertilizá-la.

A aranha-anã europeia produz um tampão deste tipo. Ela secreta um líquido durante a cópula que endurece ao longo do tempo.

Pesquisadores descobriram que copulações mais longas resultam em tampões maiores, cuja remoção por outros machos é mais difícil.

Para garantir que ninguém mais se acasale com a sua fêmea depois da sua morte, o macho das aranhas orbitelares evoluiu ao extremo seu tampão copulatório. Ele tem um pênis destacável que permanece dentro da fêmea ao término da cópula.

É comum que a ponta do pênis de uma aranha se quebre dentro da fêmea, evitando a penetração por outros machos. Mas o pênis destacável da aranha orbitelar tem mais uma função: ele continua transferindo sozinho o esperma por mais de 20 minutos, aumentando o sucesso do acasalamento.

Como se pode ver, os artrópodes são animais surpreendentes.

 

Fonte: The Conversation

 

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