Por que você
provavelmente não está lavando suas toalhas com a frequência necessária
Será que a toalha que você usou
para se enxugar hoje estava realmente
limpa?
Muita gente coloca
a toalha na máquina de lavar uma vez por semana. Alguns demoram mais. Um
estudo publicado em 2020 com 100
participantes apontou que que cerca de um terço lavava as toalhas uma vez por mês e, em uma
pesquisa no Reino Unido, entrevistados chegaram a admitir que só faziam a
lavagem uma vez por ano.
As fibras felpudas
podem não necessariamente exibir sinais de sujeira, mas elas são berço de
milhões de micróbios. Estudos demonstraram que as toalhas podem ficar
rapidamente contaminadas por bactérias comumente encontradas na pele e até
no intestino.
Parte dos
micro-organismos vem de nós mesmos. Isso porque mesmo depois do banho o corpo
ainda está cobertos por micróbios — e alguns deles passam para as
toalhas.
Fungos e bactérias suspensas
no ar também
podem chegar às fibras quando a toalha está no varal e algumas bactérias vêm da
água utilizada para lavagem.
No Japão, algumas
pessoas chegam a usar a água residual do banho para lavar as roupas no dia
seguinte, um costume que, conforme um estudo feito por
pesquisadores da Universidade de Tokushima, ainda que economize água, pode
transferir diversas bactérias presentes na água da banheira para as roupas.
A prática de deixar
a toalha secando dentro do banheiro também é problemática. Cada vez que a
descarga é utilizada, a peça provavelmente vai receber uma leve pulverização de
bactérias do vaso sanitário, sem falar nas partículas de resíduos corporais de
quem usa o lavatório.
Ao longo do tempo,
esses micróbios podem começar a formar biofilmes com capacidade inclusive para
alterar a aparência das toalhas.
Depois de dois
meses, mesmo com lavagem regular, as bactérias presentes nas fibras das toalhas
de algodão começarão a tirar o brilho aparente do tecido.
·
Nesse
sentido, o quanto devemos nos preocupar com as bactérias que vivem nas toalhas?
A professora de
biologia Elizabeth Scott, uma das diretoras do Centro Universitário Simmons de
Higiene e Saúde Doméstica e Comunitária de Boston, nos Estados Unidos, ressalta
que nossa própria pele é habitat de mais de mil espécies diferentes de
bactérias, ao lado de muitos outros fungos e vírus.
A maioria, ela
acrescenta, faz bem ao organismo, protegendo o corpo contra infecções causadas
por outras bactérias, decompondo parte das substâncias com as quais entramos em
contanto no dia a dia e desempenhando papel importante no desenvolvimento do
sistema imunológico.
Muitas das
bactérias encontradas nas toalhas são das mesmas espécies que encontramos na
pele e que habitam os ambientes em que circulamos.
Incluem espécies
de Staphylococcus e
Escherichia coli,
frequentemente encontradas no intestino humano, além de Salmonella e Shigella, causadoras comuns
de doenças alimentares e diarreia.
Algumas são
patógenos oportunistas, inócuas até atingirem um local em que possam causar
danos, como um corte. Podem desenvolver a capacidade de produzir certas toxinas
ou conseguir infectar pessoas com sistema imunológico enfraquecido.
A pele também é uma
barreira natural contra infecções. Ela é a primeira linha de defesa contra
bactérias e outros patógenos. Por isso, a transferência de bactérias da toalha
para a pele não deveria causar grandes preocupações.
Mas existem
evidências de que essa função de barreira pode ser comprometida dependendo do
contato que o corpo tenha com a toalha.
O maior problema
talvez ocorra caso micróbios potencialmente perigosos cheguem às mãos enquanto
nos secamos e depois a áreas mais sensíveis ao tocarmos a boca, o nariz ou os
olhos.
Por isso, as
toalhas de rosto, que usamos com mais frequência para enxugar as mãos, merecem
maior atenção. Assim como os panos de prato, que podem ser outra fonte de
difusão de patógenos alimentares.
Infecções
gastroentéricas resultantes de Salmonella, norovírus e E.
coli "são transmissíveis pelas toalhas", segundo Scott.
Estudos também
demonstraram que vírus como a covid-19 podem sobreviver sobre algodão por até
24 horas, ainda que a transmissão pelo toque de superfícies contaminadas não
seja considerada a principal forma de difusão do vírus.
Outros vírus
transmitidos pelo contato, como o mpox, podem representar
riscos maiores, e as autoridades de saúde recomendam não compartilhar toalhas
ou roupas de cama com pessoas infectadas.
Pesquisas também
demonstraram que papilomavírus humanos, que costumam causar verrugas, também
podem ser transmitidos por meio de contato com toalhas compartilhadas com
outras pessoas.
O risco de
transmissão de infecções com lenços reutilizáveis é um dos motivos que levaram
hospitais e banheiros públicos a adotar toalhas de papel descartáveis e
secadores a ar.
Claramente, quanto
mais tempo a toalha for usada e quanto mais tempo ficar úmida, mais acolhedora
ela será micróbios, o que aumenta a possibilidade de crescimento de organismos
nocivos.
Scott diz que, para
além de um bom hábito, pensar na higiene das toalhas também pode ajudar a
combater um dos maiores problemas de saúde hoje no mundo, as bactérias
resistentes a antibióticos, como a MRSA, que podem ser
transmitidas pelo contato com objetos contaminados.
O professor de
microbiologia farmacêutica Jean-Yves Maillard, da Universidade de Cardiff, no
Reino Unido, destaca que práticas como a lavagem regular das toalhas podem
ajudar a reduzir as infecções bacterianas e, consequentemente, diminuir o uso
de antibióticos.
"A higiene
doméstica tem tudo a ver com prevenção, e é melhor prevenir do que
remediar", pontua.
·
Então,
de quanto em quanto tempo precisamos lavar nossas toalhas?
Elizabeth Scott
sugere uma vez por semana, e diz que a recomendação não é uma regra fixa.
"Se uma pessoa
estiver doente, vomitando e com diarreia, ela precisa ter toalhas só pra ela,
que precisam ser lavadas todos os dias", exemplifica. "É o que
chamamos de higiene dirigida, você enfrenta o risco quando ele aparece."
A higiene dirigida
é uma técnica de gestão de riscos voltada para a higiene, desenvolvida por
pesquisadores associados ao Conselho Global de Higiene e ao Fórum Científico
Internacional sobre Higiene Doméstica.
A higiene é
importante e deve ser considerada todo o tempo. Mas a higiene dirigida se
concentra nos momentos e locais onde essas práticas são fundamentais.
Scott indica que as
toalhas exigem lavagem mais longa e mais quente (40-60°C) do que a maioria dos
tecidos e que, muitas vezes, é preciso acrescentar detergentes antimicrobianos.
Mas é preciso
lembrar que a lavagem frequente sob altas temperaturas também traz custos para
o meio ambiente.
Para lavagens sob
temperaturas mais baixas, aplicar enzimas ou alvejante pode ajudar a combater
os micróbios das toalhas.
Um estudo realizado
na Índia concluiu que lavar as toalhas com detergente, aplicar desinfetante
durante o enxágue e secá-las ao sol, em combinação, reduzem a carga fúngica e
bacteriana com mais eficácia.
Scott considera que
a higiene doméstica é uma forma de altruísmo muito parecida com a vacinação.
Cada pequena prática para se proteger irá também proteger as pessoas à sua
volta.
"Chamamos de modelo
'queijo suíço'", ela conta. "Pensamos em todos os componentes como
fatias de higiene, como fatias de queijo suíço, e cada fatia de higiene cobre
um daqueles buracos, reduzindo o risco de movimentação de patógenos através
deles."
"As toalhas
são um componente relativamente pequeno, mas elas certamente trazem riscos e é
fácil lidar com eles."
Fonte: BBC Future
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