sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Vídeo Fake de Nikolas foi tática eleitoral pró-Bolsonaro paga pelo PL, mostra jornal

O marqueteiro de Jair Bolsonaro, Duda Lima, foi contratado pelo PL para coordenar a disseminação das Fake News sobre o Pix, escalando o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) para a atuação contra o governo Lula, repercutindo no vídeo que gerou a principal crise de comunicação do governo.

A informação foi divulgada por reportagem de O Globo, nesta quinta-feira (16). Segundo o jornal, o marqueteiro de Bolsonaro e de Ricardo Nunes à Prefeitura de São Paulo, em 2024, reuniu-se com o presidente do PL, nesta semana, e convidou o deputado bolsonarista para iniciar uma grande campanha de oposição contra o governo Lula, tendo como alicerce o recente anúncio de monitoramento da Receita Federal sobre o Pix.

O Globo informou que Duda Lima não fez o roteiro do vídeo de Nikolas Ferreira, que ultrapassou 200 milhões de visualizações, mas ele “ajudou na estratégia sobre como explorar o tema”.

Se confirmada a contratação do marqueteiro para a disseminação das Fake News, o caso poderá ser levado como prova na Justiça sobre as mentiras divulgadas, de forma intencional, controlada e, inclusive, paga.

A reportagem de O Globo não trata a contratação do marqueteiro, pelo PL, como crime, mas como uma simples batalha comunicacional entre a oposição e o governo Lula: “Agora, Duda Lima trava uma disputa particular com Sidônio Palmeira, marqueteiro de Lula na última campanha presidencial.”

O que a publicação revela, contudo, é que o vídeo do deputado bolsonarista não foi uma estratégia pessoal do político, mas uma tática do PL e da oposição, em torno a Jair Bolsonaro, para atacar o governo Lula, por meio da disseminação de Fake News:

“Nos últimos dias, Lima conversou com integrantes do PL sobre a forte rejeição popular ao tema. Segundo aliados, Nikolas foi escolhido para liderar o embate por ter um grande número de seguidores nas redes sociais e ser diretamente atrelado a Bolsonaro”

A publicação traz, ainda, que o marqueteiro está sendo usado pelo PL com vistas às eleições presidenciais 2026, para reforçar antecipadamente a imagem de Jair Bolsonaro “como o único nome da direita” na disputa.

¨       Fake News do Pix: como o governo tenta manejar os estragos

Enquanto o governo tenta mediar e entender a sucessão de erros para a avalanche que se tornou o caso das Fake News do Pix, a oposição ainda colhe os frutos do estrago para o governo Lula e se debruça em mais narrativas distorcidas.

A noite desta quarta e manhã desta quinta foram dedicadas, pelo governo Lula, a entender e tentar evitar a continuidade da propagação das mentiras sobre novas regras de monitoramento das transações via Pix, que foram alvo de desinformação e mentiras por parte da oposição nas redes sociais, com destaque para um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL).

O referido vídeo no instagram foi visto mais de 200 milhões de vezes e o tema chegou a bater recorde de buscas no Google com a palavra “Pix”, com as maiores visualizações nas publicações que distorciam e mentiam sobre o caso. Juntamente com o vídeo de Nikolas, as publicações dos deputados do PL totalizaram mais de 4,5 milhões de interações.

Do outro lado, as publicações de governistas tentando desmentir as postagens atingiram pouco mais de 218 mil interações nas redes sociais, segundo mostra um levantamento da Bites. O vídeo oficial do presidente Lula desmentindo não passou de 16 milhões de visualizações.

Para tentar conter os danos, Lula decidiu trocar completamente o Ministério da Comunicação e solicitou, de forma imediata, que o novo ministro, o publicitário Sidônio Palmeira, atue para enfrentar a crise de comunicação. Sidônio assumiu no lugar do deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), nesta terça (14).

Ao mesmo tempo, nos últimos dias, Lula chegou a contratar uma equipe de especialistas externos para ouvir sugestões e tentar encontrar soluções para o caso.

Foi na tentativa de conter a crise que o novo ministro Sidônio Palmeira entendeu que a guerra já estava perdida e que era preciso suspender, revogar a medida econômica criada pelo governo, mais especificamente a Receita Federal, de monitorar as transações Pix.

Mas, como já era previsto pelo governo, a revogação foi também explorada pela oposição, que além de inicialmente acusar o governo de ser favorável ao “aumento dos impostos dos pobres e da classe média”, agora afirma que se não houvesse um erro na medida, o governo não teria suspendido a decisão.

Nesta quinta (16), o deputado Nikolas Ferreira estava adotando esse discurso em entrevista aos veículos.

Enquanto isso, a estratégia do governo vem sendo a de minimizar, dentro da Secretaria de Comunicação, que se resolva completamente o estrago, que já foi feito, manter as divulgações das informações corretas, e entrar judicialmente com medidas contra as Fake News de Nikolas e demais parlamentares.

Nesse sentido, a Advocacia-Geral da União (AGU) solicitou à Polícia Federal a abertura de um inquérito para investigar a disseminação das Fake News relacionadas ao Pix. Em documento enviado nesta quarta (15), a AGU pede a responsabilização dos autores do crime.

“Manifestações em plataformas digitais não podem ser realizadas para gerar desinformação sobre políticas públicas nem minar a legitimidade das instituições democráticas, nem causar pânico na população, porquanto tal atuar causa prejuízos concretos ao funcionamento eficiente do Estado Democrático de Direito”, escreveu a AGU no pedido à PF.

Além disso, diversas entidades de Direito entraram com ações na Justiça, buscando essa finalidade. O Ministério Público Federal (MPF) e o Conselho de Ética da Câmara foram acionados por petição do Grupo Prerrogativas pelo vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira.

A expectativa é que, do ponto de vista de contenção do problema, a responsabilidade aos disseminadores das Fake News possa trazer um controle para novas e futuras mentiras nas redes.

 

¨       PIX, fake news e a reação do governo, por Fernando Castilho

É difícil saber por onde começar.

O Secretário da Receita Federal, Robson Barreirinhas, com um raciocínio técnico e nada político, pensou certo e agiu errado ao baixar um ato normativo. Estabelecer que transações acima de 5 mil reais de pessoas físicas e 15 mil reais de pessoas jurídicas devem ser alvo de relatório para a Receita, a fim de evitar sonegações, assim como funciona com cartões de crédito e débito, é correto. Mas o timing e a maneira como esse ato foi feito foram errados.

O resultado foi uma enxurrada de fake news partindo da extrema direita. As mais graves vieram através de vídeos e tweets de Eduardo e Jair Bolsonaro, que aterrorizaram os usuários do PIX, afirmando que a modalidade passaria a ser taxada como imposto. O rastilho de pólvora se espalhou rapidamente, principalmente entre os informais mais pobres que utilizam muito o sistema.

O governo, sempre em posição defensiva aos ataques mentirosos dos bolsonaristas, tentou esclarecer a população através de vídeos e entrevistas de Barreirinhas a sites e canais progressistas de alcance limitado dentro da bolha. Não funcionou.

Então, aí está o pecado original que resultou na maior lambança deste terceiro governo Lula.

Barreirinhas deveria ter discutido com Haddad uma estratégia de comunicação ao povo sobre as medidas a serem implementadas. Espero que não o tenha feito, pois, caso Haddad tivesse conhecimento disso, o erro passa a ser dele também. E isso seria gravíssimo, uma vez que se espera do ministro raciocínio político.

Enquanto Haddad e Barreirinhas se esforçavam em inócuas tentativas de explicação, Nikolas Ferreira fez um vídeo que, por incrível que pareça, continha uma possível verdade: o governo não taxou o PIX, mas passou a estabelecer um controle sobre as transações, e isso poderia no futuro se transformar em imposto.

O vídeo bombou, atingindo mais de 200 milhões de visualizações. Se a Meta atuou para inflar esses números, não se sabe e nem é o mais importante. O fato é que os bolsonaristas conseguiram seu objetivo e o estrago estava feito.

Havia, então, duas possibilidades para o governo agir: ou ia à rede nacional de televisão para desmentir as fake news e dar nomes aos bois que estavam enganando o povo – o que defendi desde o início, porque num caso como esse era necessário que o governo saísse das cordas e mostrasse a verdade – ou revogava o ato normativo. As notícias indicam que Lula teria ficado furioso com a lambança e decidiu, após duas reuniões com Haddad e Sidônio Palmeira, pela revogação.

Durante o dia de ontem, os sites e canais progressistas, antes da decisão de Lula, debateram a possível revogação, inicialmente proposta por Breno Altman, posicionando-se contra a medida. Porém, à noite, com o anúncio da revogação, passaram todos a defendê-la.

As consequências do recuo do governo serão inúmeras, mas a mais provável será o crescimento da credibilidade de Nikolas Ferreira e outros bolsonaristas mais radicais, em detrimento da queda de confiança e na falta de transparência do governo Lula. Isso certamente será medido em próximas pesquisas. Além disso, as necessárias informações sobre grandes transações via PIX para controle de sonegação não mais deverão acontecer. Uma avenida passa a estar aberta aos sonegadores.

Possivelmente Lula não demitiu Barreirinhas porque ele não deve ter errado sozinho e não seria escolhido como o bode expiatório dessa lambança.

Agora o fato está consumado. Fica, porém, uma lição amarga que Haddad e o resto do governo têm que aprender: há uma oposição fascista que está sempre prestes a morder os calcanhares do governo e para a qual não se pode dar um milímetro de espaço. A ficha disso ainda não caiu. É preciso que toda e qualquer medida a ser implementada tenha antes uma estratégia bem definida de comunicação.

Além disso, deve ficar claro para o governo que os canhões do bolsonarismo deixarão de ser apontados somente para as pautas de costumes e passarão a ter como alvo a economia, justamente o setor em que Lula está se saindo melhor.

Tendo essa estratégia como clara, o governo, principalmente através da comunicação, tem que se antecipar a todo e qualquer vídeo que ataque a economia, uma espécie de vacina contra o veneno que os bolsonaristas tentarão inocular na população.

Ou isso, ou a derrota em 2026.

¨       Melhor recuar do que prolongar o sangramento, diz Lavareda após decisão do governo sobre PIX

Um dos cientistas políticos mais renomados do País, pioneiro nos estudos de neuropolítica e referência em marketing político e comportamento do eleitor, Antônio Lavareda avaliou como correta a decisão do governo Lula em revogar a Instrução Normativa que viabilizava o monitoramento de transações financeiras acima de R$ 5 mil, incluindo o PIX. A publicação da IN provocou uma onda de ataques e fake news nas redes sociais.

Em entrevista exclusiva ao jornalista Luis Nassif, no canal TVGGN [assista abaixo], Lavareda disse que a publicação da norma que desagradou sobretudo os trabalhadores informais foi “infeliz” e pontuou que foi melhor recuar da decisão do que “prolongar o sangramento”.

A revogação da norma ocorreu na noite de quarta (15), após a posse do novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira, em meio à crise do PIX. No mesmo dia, um vídeo do deputado Nikolas Ferreira atacando frontalmente a medida e a imagem do presidente Lula ultrapassou a marca dos 230 milhões de visualizações apenas no Instagram.

Segundo Lavareda, Sidônio é conhecido por trabalhar com o tripé “gestão, comunicação e política”, considerando que, a depender das circunstâncias, esse triângulo terá fases distintas, com um lado pesando mais do que o outro. No caso da crise do PIX, o erro da gestão pesou mais e não havia o que a comunicação pudesse fazer para estancar a sangria aberta pela oposição.

 “A instrução normativa é um problema administrativo e a comunicação pouco podia fazer. Na minha experiência, o melhor era recuar em meio ao desgaste. É melhor uma derrota de pequena dimensão, administrável, do que o prolongamento de um sangramento que poderia levar o governo às cordas no curto e médio prazo”, disse Lavareda.

Na opinião do especialista, do ponto de vista comunicação, o que poderia ter sido feito, antes da medida ser lançada, seria um estudo para compreender qual seria o impacto da IN sobre as camadas afetadas. Dessa forma, o governo poderia ter preparado vacinas contra as reações negativas. Mas, ao contrário disso, não houve preparo, e toda a narrativa foi tomada de assalto pela oposição. Segundo Lavareda, isso foi facilitado pelo fato de que a população ficou realmente ultrajada com a norma.

“O cidadão, sobretudo o da informalidade – alguns estudos estimam que são até 35% da força de trabalho brasileira -, ele leu essa instrução normativa como se o governo estivesse entregando uma lupa para o leão da Receita. Obviamente, as pessoas não gostaram”, frisou Lavareda.

<><> Sociedade da atenção

Para Antônio Lavareda, a literatura já firmou que estamos vivendo na “sociedade da atenção”, mas o campo progressista não se adequou à nova realidade, e está longe de fazê-lo.

“Atenção nas redes sociais é tudo, os algoritmos exploram isso à exaustão. Do ponto de vista político, os populistas levam vantagem porque eles não têm compromisso algum com a verdade. A psicologia já mostra isso, há décadas e décadas, que fake news e deturpação da realidade chamam muito mais atenção e transitam muito mais rápido na sociedade. Bolsonaro e Trump têm posição privilegiada nessa sociedade da atenção, levam vantagens sobre setores progressistas que têm que se reinventar. Mas aí é uma questão mais longa. O problema dos progressistas não é mero problema de comunicação.” Vai além.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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