sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Chris Hedges: A farsa do cessar-fogo

Ao longo das últimas décadas, Israel tem feito um jogo dúbio. Ele assina um acordo com os palestinos que deve ser implementado em fases. A primeira fase dá a Israel o que quer — neste caso, a liberação dos reféns israelenses em Gaza — mas Israel habitualmente falha em implementar as fases subsequentes que levariam a uma paz justa e equitativa. Ao final de contas, provoca os palestinos com ataques militares indiscriminados para que eles revidem, define a resposta palestina como uma provocação e anula o acordo de cessar-fogo para reiniciar o massacre.

Se este último acordo de cessar-fogo de três fases for ratificado — e não há certeza de que Israel o fará — será, como espero, pouco mais do que uma pausa dos bombardeios na inauguração presidencial dos EUA. Israel não tem intenção alguma de interromper o seu ciclo de morte.

O gabinete israelense adiou uma votação sobre a proposta de cessar-fogo enquanto continua a bombardear Gaza. Pelo menos 81 palestinos foram mortos nas últimas 24 horas.

Na manhã seguinte ao anúncio de um acordo de cessar-fogo, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu acusou o Hamas de descumprir parte do acordo “em uma tentativa de extorquir concessões de última hora.” Ele advertiu que o seu gabinete não se reunirá “até que os mediadores notifiquem Israel de que o Hamas aceitou todos os elementos do acordo.”

O Hamas descartou as acusações de Netanyahu e repetiu o seu compromisso com o cessar-fogo conforme acordado com os mediadores.

O acordo inclui três fases. A primeira fase, que dura 42 dias, prevê a cessação das hostilidades. O Hamas libertará alguns reféns israelenses — 33 israelenses que foram capturados em 7 de outubro de 2023, incluindo todas as cinco mulheres restantes, os maiores de 50 anos e os que estão doentes — em troca de até 1.000 palestinos presos por Israel.

O exército israelense se retirará das áreas povoadas da Faixa de Gaza no primeiro dia do cessar-fogo. No 7º dia, os palestinos deslocados poderão retornar ao norte de Gaza. Israel permitirá a entrada de 600 caminhões de ajuda com alimentos e suprimentos médicos em Gaza diariamente.

A segunda fase, que começa no 16º dia do cessar-fogo, verá a liberação dos reféns israelenses restantes. Israel completará a sua retirada de Gaza durante a segunda fase, mantendo presença em algumas partes do corredor Filadélfia, que se estende pela fronteira de pouco menos de 13 quilômetros entre Gaza e o Egito. Israel entregará o controle da passagem de Rafah para o Egito.

<><>  A terceira fase verá negociações para um fim permanente da guerra.

Mas é o escritório de Netanyahu que parece já ter descumprido o acordo. Ele emitiu uma declaração rejeitando a retirada das tropas israelenses do Corredor Filadélfia durante a primeira fase de 42 dias do cessar-fogo. “Na prática, Israel permanecerá no Corredor Filadélfia até novo aviso,” enquanto alega que os palestinos estão tentando violar o acordo. Ao longo das diversas negociações de cessar-fogo, os palestinos têm exigido que as tropas israelenses se retirem de Gaza. O Egito condenou a apreensão de suas passagens de fronteira por Israel.

As profundas divisões entre Israel e Hamas, mesmo que os israelenses finalmente aceitem o acordo, ameaçam implodir o processo. O Hamas busca um cessar-fogo permanente. Mas a política israelense é inequívoca sobre o seu “direito” de retomar o envolvimento militar. Não há um consenso sobre quem governará Gaza. Israel deixou claro que a continuidade do Hamas no poder é inaceitável. Não há menção ao status da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para os Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA), a agência da ONU que Israel proibiu e que fornece a maior parte da ajuda humanitária destinada aos palestinos, 95% dos quais foram deslocados. Não há um acordo sobre a reconstrução de Gaza, que está em ruínas. E, claro, não há um caminho no acordo para um estado palestino independente e soberano.

<><> A mendacidade e manipulação israelenses são previsivelmente patéticas.

Os Acordos de Camp David, assinados em 1979 pelo presidente egípcio Anwar Sadat e o primeiro-ministro israelense Menachem Begin, sem a participação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), normalizaram as relações diplomáticas entre Israel e o Egito. Mas as fases subsequentes, que incluíam uma promessa de Israel de resolver a questão palestina junto com a Jordânia e o Egito, permitindo a autogovernança palestina na Cisjordânia e Gaza dentro de cinco anos, e encerrando a construção de colônias israelenses na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, jamais foram cumpridas.

Ou considere os Acordos de Oslo de 1993. O acordo, assinado em 1993, que fez com que a OLP reconhecesse o direito de Israel de existir e Israel reconhecesse a OLP como os representantes legítimos do povo palestino, e o Oslo II, assinado em 1995, que detalhava o processo em direção à paz e a um estado palestino, foi um fracasso. Ele estipulava que qualquer discussão sobre os “assentamentos” judeus ilegais seria adiada até as conversações sobre o “status final”, momento em que as retiradas militares israelenses da Cisjordânia ocupada deveriam ter sido concluídas. A autoridade governamental seria transferida de Israel para a suposta Autoridade Palestina temporária. A Cisjordânia foi dividida nas Áreas A, B e C. A Autoridade Palestina tem autoridade limitada nas Áreas A e B. Israel controla toda a Área C, mais de 60% da Cisjordânia.

O direito dos refugiados palestinos de retornarem às terras históricas que lhes foram tomadas em 1948, quando Israel foi criado — um direito consagrado no direito internacional — foi abandonado pelo líder da OLP, Yasser Arafat, alienando instantaneamente muitos palestinos, especialmente aqueles em Gaza, onde 75% são refugiados ou descendentes de refugiados. Edward Said chamou o acordo de Oslo de “um instrumento de rendição palestina, um Versailles palestino” e criticou Arafat como “o Pétain dos palestinos.”

As retiradas militares israelenses previstas sob os Acordos de Oslo nunca ocorreram. Não havia disposição no acordo intermediário para pôr fim à colonização judaica, apenas uma proibição de “passos unilaterais”. Havia cerca de 250.000 colonos judeus na Cisjordânia na época do acordo de Oslo. Esse número aumentou para pelo menos 700.000 atualmente. Nenhum tratado final foi concluído.

O jornalista Robert Fisk chamou os Acordos de Oslo de “uma farsa, uma mentira, um truque para enredar Arafat e a OLP no abandono de tudo o que eles buscaram e lutaram por mais de um quarto de século, um método de criar falsas esperanças para emascular a aspiração à criação de um estado.”

O primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, que assinou os Acordos de Oslo, foi assassinado em 4 de novembro de 1995 por Ygal Amir – um estudante de direito judeu da extrema direita - após um comício em apoio ao acordo. Itamar Ben-Gvir, agora Ministro da Segurança Nacional de Israel, foi um dos muitos políticos de direita que emitiram ameaças contra Rabin. A viúva de Rabin, Leah, culpou Netanyahu e seus apoiadores — que distribuíam panfletos em comícios políticos com Rabin vestido com um uniforme nazista — pelo assassinato do seu marido.

Israel tem realizado uma série de ataques assassinos a Gaza desde então, chamando cinicamente o bombardeio de “aparar a grama.” Esses ataques, que deixam muitos mortos e feridos e degradam ainda mais a frágil infraestrutura de Gaza, têm nomes como Operação Arco-íris (2004), Operação Dias de Penitência (2004), Operação Chuvas de Verão (2006), Operação Nuvens de Outono (2006) e Operação Inverno Quente (2008).

Israel violou o acordo de cessar-fogo de junho de 2008 com o Hamas, mediado pelo Egito, ao lançar um ataque à fronteira que matou seis membros do Hamas. O ataque provocou, como Israel pretendia, um contra-ataque do Hamas, que disparou foguetes e morteiros rudimentares contra Israel. O bombardeio do Hamas forneceu o pretexto para um massivo ataque israelense. Israel, como sempre, justificou o seu ataque militar com o direito de se defender.

A Operação Chumbo Fundido (2008-2009), que viu Israel realizar um ataque terrestre e aéreo por 22 dias, com a Força Aérea Israelense lançando mais de 1.000 toneladas de explosivos sobre Gaza, matou 1.385 — segundo o grupo israelense de direitos humanos B’Tselem — dos quais pelo menos 762 eram civis, incluindo 300 crianças. Quatro israelenses foram mortos no mesmo período por foguetes do Hamas e nove soldados israelenses morreram em Gaza, quatro dos quais foram vítimas de “fogo amigo.” O jornal israelense Haaretz reportaria mais tarde que a “Operação Chumbo Fundido” havia sido preparada durante os seis meses anteriores.

O historiador israelense Avi Shlaim, que serviu no exército israelense, escreveu que:

“A brutalidade dos soldados de Israel é totalmente compatível com a mendacidade de seus porta-vozes... sua propaganda é um monte de mentiras... Não foi o Hamas, mas as IDF que violaram o cessar-fogo. Elas o fizeram com um ataque a Gaza em 4 de novembro que matou seis homens do Hamas. O objetivo de Israel não é apenas a defesa de sua população, mas a derrubada eventual do governo do Hamas em Gaza, virando o povo contra seus governantes.”

Esses ataques a Gaza foram seguidos por ataques israelenses em novembro de 2012, conhecidos como Operação Pilar de Defesa, e em julho e agosto de 2014, na Operação Margem Protetora, uma campanha de sete semanas que deixou 2.251 palestinos mortos, junto com 73 israelenses, incluindo 67 soldados.

Esses ataques do exército israelense foram seguidos em 2018 por protestos amplamente pacíficos por parte dos palestinos, conhecidos como A Grande Marcha do Retorno, ao longo da cerca que envolve Gaza. Mais de 266 palestinos foram abatidos por soldados israelenses e 30.000 outros ficaram feridos. Em maio de 2021, Israel matou mais de 256 palestinos em Gaza após ataques da polícia israelense a palestinos que oravam no complexo da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. Mais ataques contra os adoradores de Al-Aqsa ocorreram em abril de 2023.

E então, a violação das barreiras de segurança em 7 de outubro de 2023, que cercam Gaza, onde os palestinos haviam definhado sob um bloqueio por mais de 16 anos, em uma prisão a céu aberto. Os ataques de atiradores palestinos deixaram cerca de 1.200 israelenses mortos — incluindo centenas mortos pela própria Israel — e deram a Israel a desculpa que há muito procurava para devastar Gaza, em sua Guerra das Espadas de Ferro.

Esta horrível saga ainda não acabou. Os objetivos de Israel permanecem inalterados – a erradicação dos palestinos de suas terras. Este cessar-fogo proposto é mais um capítulo cínico. Há muitas maneiras de que ele possa, como eu suspeito, que se desintegre.

Mas vamos rezar, ao menos por ora, para que o massacre em massa pare.

 

¨       Acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros: impasses, pressões e implicações geopolíticas. Por Heba Ayyad

Após meses de procrastinação e obstrução, o acordo de troca e o cessar-fogo tornaram-se possíveis e prontos para implementação. O acordo inclui, em sua primeira fase, um cessar-fogo de seis semanas, a libertação de 33 detidos israelenses, a maioria deles vivos, em troca da libertação de cerca de 1.300 prisioneiros palestinos, incluindo aproximadamente 150 cumprindo penas de prisão perpétua, além de uma retirada gradual das áreas de Netzarim e Salah al-Din (Filadélfia) e o retorno dos deslocados.

Ao norte da Faixa de Gaza, haverá um aumento significativo na entrada de ajuda humanitária e a abertura da passagem de Rafah para a saída de pacientes, mantendo-se uma zona de segurança com 1 km de profundidade e 60 km de extensão ao redor da Faixa de Gaza.

Dezesseis dias após a assinatura do acordo, as negociações para a segunda fase terão início, contemplando a conclusão da troca de prisioneiros, uma trégua sustentável e uma retirada abrangente de Gaza. Na terceira fase, está prevista uma troca de corpos e um acordo sobre os arranjos para a reconstrução de Gaza.

Se Netanyahu realmente acreditasse que Trump pretendia lançar o “fogo do inferno” contra o Hamas caso não houvesse acordo, ele teria permitido que isso acontecesse e não teria ajudado a fechar os “portões do inferno”.

Esse acordo poderia ter sido firmado há muitos meses; o principal obstáculo era a posição de Benjamin Netanyahu. Quando ele mudou de ideia e se mostrou disposto a chegar a um acordo, a questão passou a ser apenas uma questão de detalhes solucionáveis. O ministro da Segurança Interna de Israel, Itamar Ben-Gvir, vangloriou-se de ter conseguido impedir, diversas vezes, a concretização de um acordo, o que confirma que o obstáculo era o governo israelense, e não a “teimosia” do Hamas, como Netanyahu, seus porta-vozes e seus apoiadores estadunidenses promoveram.

A questão permanece: Israel cumprirá o que assinou, ou Netanyahu criará novos obstáculos durante a implementação caso sinta que seu governo está em perigo? Isso se basearia em sua alegação de que o Hamas estaria violando o acordo por ser uma “organização terrorista” que não é confiável, como ele frequentemente afirma, responsabilizando-o pelo pior genocídio do século XXI.

Em uma tentativa de distorcer os fatos, a máquina de propaganda de “Bibi” recorreu à promoção de uma narrativa falsa para comercializar a imagem do “heroísmo” de Netanyahu. O secretário do governo israelense, Yossi Fuchs, declarou que o acordo atual é “o mesmo acordo de 27 de maio”, acrescentando: “Eu estava nas reuniões que discutiam a questão dos prisioneiros e desaparecidos, e foi o Hamas quem rejeitou esse acordo por seis meses. Se uma resposta positiva tivesse chegado do Hamas durante esse período, a maioria no gabinete e no governo teria aprovado. Minha informação confirmada é que o Primeiro-Ministro não mudou sua posição nem um pouco. A única parte que fracassou no acordo foi o Hamas.”

Essa prolixidade e abundância de mentiras servem para encobrir Netanyahu e afastar as acusações de que o acordo era possível, mas ele o obstruiu, colocando em risco as vidas dos detidos e soldados. Apesar das repetidas declarações públicas de autoridades estadunidenses, principalmente do Secretário de Estado israelense, Anthony Blinken, de que foi o Hamas quem obstruiu o acordo até agora, o discurso estadunidense a portas fechadas é completamente o oposto e coloca a culpa exclusivamente em Benjamin Netanyahu.

Parece que a variável mais importante que forçou Netanyahu a mudar de posição foi a ameaça de Trump, que afirmou que haverá um “inferno” no Oriente Médio caso um acordo não seja alcançado antes de ele assumir a Casa Branca no dia 20 deste mês. Muitos interpretaram suas palavras como dirigidas ao Hamas e aos países mediadores, Egito, Catar e Turquia, mas o maior impacto foi sobre Israel, simplesmente porque é a parte que está rejeitando, e não o Hamas.

Se Netanyahu realmente acreditasse que Trump pretendia lançar o “fogo do inferno” contra o Hamas caso não houvesse acordo, ele teria permitido que isso acontecesse, em vez de ajudar a fechar os “portões do inferno”. As ameaças de Trump parecem ter influenciado Netanyahu, que aposta em uma cooperação próxima com Trump mais do que com qualquer outra pessoa.

A pressão séria e equilibrada que forçou Netanyahu a mudar de posição pode ser resumida em uma palavra: “Trump”. O “efeito Trump” impacta a classe política israelense em vários níveis e direções, oferecendo recompensas com uma mão e ameaças com a outra. Netanyahu aposta em uma cooperação estreita, íntima e estratégica com Trump e sua administração em questões cruciais, como o acordo nuclear iraniano, a normalização com a Arábia Saudita, a legalização de assentamentos e a anexação na Cisjordânia, o cerco ao Iêmen, a contenção da influência turca na Síria, o aumento do investimento estadunidense na indústria militar israelense e a punição de qualquer pessoa ou entidade que defenda sanções contra Israel em fóruns internacionais.

Netanyahu teme as consequências de perder parte desses avanços caso entre em conflito com Trump nos primeiros dias de seu retorno à Casa Branca. Isso se agrava pelo fato de que o Congresso apoia Trump, e Netanyahu não pode confiar nele da mesma forma que confiou em Biden ou, anteriormente, em Obama.

Netanyahu tenta explorar o apetite da extrema-direita por concessões substanciais de Trump em relação à expansão descontrolada dos assentamentos e ao reconhecimento da anexação dessas áreas. As zonas de influência municipal dos assentamentos ocupam cerca de 12% da Cisjordânia. Além disso, o projeto de anexação israelense está pronto e aguarda apenas a aprovação dos Estados Unidos.

Em reuniões com Ben-Gvir e Smotrich, Netanyahu teria dito que não seria prudente rejeitar o pedido de Trump, argumentando que “grandes coisas serão realizadas com ele”. Assim, Netanyahu busca usar o “efeito Trump” para influenciar os líderes da extrema-direita e dissuadi-los de derrubar o governo em oposição ao acordo.

Os procedimentos para aprovar o acordo em Israel exigem a sua aprovação pelo gabinete de segurança, depois pelo governo, e, por fim, o anúncio oficial da lista de prisioneiros palestinos que serão libertados, seguido de uma oportunidade de 48 horas para recorrer ao Supremo Tribunal Israelense e apresentar petições contrárias à sua libertação. Todos esses procedimentos são relativamente simples, pois há uma maioria esmagadora no governo a favor do acordo, e petições contra a libertação de prisioneiros geralmente são rejeitadas. O medo de Netanyahu é que Smotrich ou Ben-Gvir decidam se retirar do governo, o que o enfraqueceria consideravelmente e aproximaria o fim de sua gestão. Se os dois concordarem em derrubar o governo, ele cairá imediatamente. Netanyahu está tentando convencê-los a votar contra o acordo sem deixar o governo.

Apesar de todo o barulho que ambos, Ben-Gvir e Smotrich, estão fazendo, eles não estão renunciando ao governo neste momento, e há uma possibilidade de que o façam mais tarde, caso acreditem que isso os beneficiará eleitoralmente. A alegação central deles é que o acordo levará ao fim da guerra, e que a primeira fase será seguida por uma segunda, portanto, qualquer acordo para encerrar a guerra resultará inevitavelmente na sua retirada do governo. Netanyahu sabe disso muito bem, por isso não se apressará em avançar para a segunda etapa e buscará uma trégua sustentável.

No entanto, há outros cenários que podem alterar a dinâmica política interna em Israel, trazendo consigo grandes mudanças na situação geopolítica na Palestina e na região. Se a administração Trump informar o governo israelense que não se oporá à anexação de áreas da Cisjordânia ao estado sionista, isso tornará mais fácil para Netanyahu convencer os membros da coalizão de que Israel sairá ganhando ao parar a guerra em troca da anexação de assentamentos e grandes áreas da Cisjordânia. Da mesma forma, caso algumas previsões sobre a postura de Trump em relação ao arquivo iraniano se concretizem, Netanyahu alegará que esse evento é “grande” e que a questão de Gaza é marginal em comparação.

Netanyahu também está construindo a possibilidade de normalização com a Arábia Saudita, e, nesse caso, não precisará de Smotrich e Ben-Gvir, pois os partidos de oposição estarão prontos para se juntar ao governo.

Os procedimentos para aprovar o acordo em Israel exigem a sua aprovação pelo gabinete de segurança, depois pelo governo, e, por fim, o anúncio oficial da lista de prisioneiros palestinos que serão libertados, seguido de uma oportunidade de 48 horas para recorrer ao Supremo Tribunal Israelense e apresentar petições contrárias à sua libertação. Todos esses procedimentos são relativamente simples, pois há uma maioria esmagadora no governo a favor do acordo, e petições contra a libertação de prisioneiros geralmente são rejeitadas. O medo de Netanyahu é que Smotrich ou Ben-Gvir decidam se retirar do governo, o que o enfraqueceria consideravelmente e aproximaria o fim de sua gestão. Se os dois concordarem em derrubar o governo, ele cairá imediatamente. Netanyahu está tentando convencê-los a votar contra o acordo sem deixar o governo.

Apesar de todo o barulho que ambos, Ben-Gvir e Smotrich, estão fazendo, eles não estão renunciando ao governo neste momento, e há uma possibilidade de que o façam mais tarde, caso acreditem que isso os beneficiará eleitoralmente. A alegação central deles é que o acordo levará ao fim da guerra, e que a primeira fase será seguida por uma segunda, portanto, qualquer acordo para encerrar a guerra resultará inevitavelmente na sua retirada do governo. Netanyahu sabe disso muito bem, por isso não se apressará em avançar para a segunda etapa e buscará uma trégua sustentável.

No entanto, há outros cenários que podem alterar a dinâmica política interna em Israel, trazendo consigo grandes mudanças na situação geopolítica na Palestina e na região. Se a administração Trump informar o governo israelense que não se oporá à anexação de áreas da Cisjordânia ao estado sionista, isso tornará mais fácil para Netanyahu convencer os membros da coalizão de que Israel sairá ganhando ao parar a guerra em troca da anexação de assentamentos e grandes áreas da Cisjordânia. Da mesma forma, caso algumas previsões sobre a postura de Trump em relação ao arquivo iraniano se concretizem, Netanyahu alegará que esse evento é “grande” e que a questão de Gaza é marginal em comparação.

Netanyahu também está construindo a possibilidade de normalização com a Arábia Saudita, e, nesse caso, não precisará de Smotrich e Ben-Gvir, pois os partidos de oposição estarão prontos para se juntar ao governo.

Parece, a partir do movimento político regional, internacional e também do contexto interno em Israel, que um acordo sobre a segunda fase não está garantido, mesmo que os mediadores tenham prometido ao Hamas concluir essa fase e estabelecer uma trégua sustentável. O atual governo israelense pode aceitar o primeiro estágio, mas não concordará com um cessar-fogo permanente. No entanto, ainda há a possibilidade de um cessar-fogo permanente se ocorrer uma das três calamidades: um ataque abrangente ao Irã, a normalização com a Arábia Saudita ou a anexação de assentamentos e terras na Cisjordânia.

Há também outra possibilidade, mais positiva e necessária, que é a unidade palestina e um acordo sobre um governo de tecnocratas que administre a situação palestina e proponha um projeto para o futuro, além de trabalhar na reconstrução, com o apoio árabe e internacional. Assim, a Palestina teria uma representação unificada que ninguém poderia ignorar, que representaria o povo palestino e se comunicaria em seu nome, lidando com os assentamentos e com a adesão a eles, sem deixar a Israel qualquer desculpa para continuar a guerra.

 

Fonte: Brasil 247

 

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