sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Netanyahu diz que não vai aprovar cessar-fogo enquanto Hamas não recuar de exigências de última hora

O primeiro-ministro de IsraelBenjamin Netanyahu, acusou nesta quinta-feira (16) o Hamas de mudar termos do cessar-fogo na Faixa de Gaza e disse que o grupo terrorista causou uma "crise de última hora" no acordo.

Netanyahu afirmou que, por conta disso, não vai reunir seu gabinete para aprovar o cessar-fogo enquanto o Hamas não recuar.

"O Hamas voltou atrás em partes do acordo alcançado com os mediadores e Israel numa tentativa de extorquir concessões de última hora", afirmou comunicado do gabinete do premiê.

O premiê israelense tinha previsto fazer uma reunião com seu Conselho de Ministros nesta quinta-feira para aprovar o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza. Ainda não se sabe se o impasse com o Hamas atrasará a implementação do cessar-fogo, prevista para domingo (19).

Netanyahu não especificou quais foram os pontos que, segundo ele, o grupo terrorista disse que não vai mais cumprir. Membros do Hamas negaram o recuo e afirmaram às agências de notícias Reuters e Associated Press nesta quinta que o grupo está respeitando os termos do acordo anunciado pelos mediadores.

Catar e Estados Unidos anunciaram na tarde de quarta-feira o acordo, que prevê a libertação de dezenas de reféns e a retirada gradual das tropas israelenses de Gaza. Os dois países, junto com o Egito, mediaram as negociações que se arrastaram por meses. Leia mais detalhes sobre os termos do cessar-fogo abaixo.

Tecnicamente, o aceite do acordo por Israel não é oficial até que seja aprovada pelo gabinete de segurança e pelo governo do país. Israel afirma que alguns detalhes do documento ainda precisam ser finalizados.

Um porta-voz do governo israelense confirmou, em coletiva, o posicionamento de Netanyahu. "O Hamas fez mudanças nos pontos [do cessar-fogo] após termos chegado a um acordo, e os mediadores sabem disso", afirmou o porta-voz.

Um time de negociadores de Israel ainda está no Catar para finalizar os últimos detalhes do cessar-fogo, que é de interesse do governo israelense, ainda segundo o porta-voz.

Membros mais linha-dura do governo de Netanyahu ainda tentam impedir que o acordo seja efetivado, no entanto, ainda é esperado que a maioria dos ministros israelenses apoiem a medida. Ao mesmo tempo, famílias de soldados do Exército mortos no conflito protestam contra o cessar-fogo na frente do Parlamento.

O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, disse que seu partido —Tkuma— só permaneceria no governo se Israel retomasse a guerra com força total até que o Hamas fosse derrotado. O ministro da Polícia, Itamar Ben Gvir, da extrema direita, também ameaçou deixar o governo se o cessar-fogo for aprovado.

Como a guerra começou

O conflito na Faixa de Gaza começou quando terroristas do Hamas fizeram uma invasão inesperada ao sul de Israel, matando mais de 1.200 pessoas e sequestrando mais de 200. No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou guerra ao Hamas, que governava a Faixa de Gaza.

Gaza é um território palestino reivindicado para a criação de um Estado próprio, junto com a Cisjordânia. Desde 2007, quando foram realizadas eleições locais, o braço político do Hamas governava o território, mas os israelenses controlavam os pontos de entrada e saída, todos em fronteiras com Israel e com o Egito

Ao longo de mais de um ano de guerra, bombardeios de Israel e incursões terrestres reduziram grandes áreas da Faixa de Gaza — principalmente no norte — a escombros e causaram uma crise humanitária na população de 2,3 milhões de habitantes.

Até esta quinta-feira (16), um total de 46.788 palestinos morreram na guerra, segundo levantamento oficial do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. A maioria dessas mortes é de mulheres e crianças, segundo órgãos internacionais. Ao menos 70 foram mortos desde o anúncio do cessar-fogo.

¨      Israel ataca Gaza e deixa mais de 70 mortos após anúncio de cessar-fogo

Mais de 70 pessoas morreram na Faixa de Gaza desde o anúncio do acordo entre Israel e o grupo terrorista Hamas por um cessar-fogo na guerra no território, informou o serviço de emergência da Defesa Civil de Gaza nesta quinta-feira (16).

Israel intensificou os ataques aéreos contra Gaza horas após do anúncio do acordo por Catar e Estados Unido, ocorrido na quarta-feira (15), afirmaram moradores e autoridades do enclave palestino à agência de notícias Reuters.

Catar e Estados Unidos anunciaram na tarde de quarta-feira o acordo, que prevê a libertação de dezenas de reféns e a retirada gradual das tropas israelenses de Gaza. Os dois países, junto com o Egito, mediaram as negociações que se arrastaram por meses. Leia mais detalhes sobre os termos do cessar-fogo abaixo.

Os ataques são um contraste com o clima em Gaza, que é de euforia desde quarta, com o anúncio oficial. Os bombardeios israelenses ocorrem porque, apesar de acordado, o cessar-fogo entrará em vigor apenas no domingo (19).

Segundo a Defesa Civil de Gaza, um total de 77 pessoas morreram nos ataques aéreos desde o anúncio do cessar-fogo e 188 ficaram feridos. Entre os mortos estão 19 crianças e 24 mulheres.

Um porta-voz do Exército israelense afirmou que está investigando os números informados pela Defesa Civil de Gaza.

Segundo balanço do Ministério de Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, divulgado na manhã desta quinta-feira, 81 mortes foram registradas no território nas últimas 24 horas em ataques israelenses, com 188 feridos. Com isso, o número oficial de mortos palestinos na guerra chega a 46.788.

De acordo com o órgão de Saúde, há várias vítimas sob os escombros e nas ruas que as equipes de ambulância e da Defesa Civil ainda não conseguiram socorrer.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahuacusou o Hamas nesta quinta-feira (16) de não respeitar os termos do cessar-fogo e causar uma "crise de última hora" no acordo. O Hamas nega.

Os palestinos pedem uma implementação mais veloz da trégua, que pode ser atrasada pelo impasse entre Israel e Hamas mencionado por Netanyahu.

"Perdemos casas a cada hora. Exigimos que essa alegria não desapareça, a alegria que foi desenhada em nossos rostos - não a desperdicem adiando a implementação da trégua até domingo", disse o morador Mahmoud Abu Wardeh.

Um dos bombardeios israelenses atingiu a escola de al-Falah, transformada em abrigo para deslocados da guerra, na Cidade de Gaza, na parte central do enclave. Esse ataque matou quatro pessoas, incluindo duas crianças, até o momento e deixou 20 feridos, segundo autoridades palestinas.

Tamer Abu Shaaban afirmou à Reuters que sua sobrinha estava brincando no pátio do local quando o bombardeio ocorreu. Ela foi atingida nas costas por estilhaços e morreu.

"Essa é a trégua de que estão falando? Ela era uma garotinha, uma criança, brincando no pátio. O que ela fez para merecer isso?", disse Shaaban.

¨      Hamas diz que refém israelense estava em local bombardeado por Israel 

Hamas afirmou, em um comunicado nesta quinta-feira (16), que uma refém israelense estava em um dos locais atingidos por ataques realizados em Gaza pelas Forças de Israel nas últimas horas.

No entanto, o grupo extremista, que controla o território palestino, não revelou o estado de saúde da refém.

O braço armado do movimento palestino alertou que o contínuo bombardeio israelense em Gaza coloca em risco os reféns que seriam libertados:

“Nesta fase, qualquer agressão e bombardeio do inimigo pode transformar a libertação de um prisioneiro em uma tragédia”, disseram as Brigadas Ezedin Al Qasam no Telegram.

Mais cedo, anunciou, através da Defesa Civil, que bombardeios israelenses deixaram mais de 70 mortos e 200 feridos desde que seus representantes e o governo de Israel assinaram um acordo de trégua.

Os ataques desta quinta são um contraste com o clima em Gaza, que é de euforia desde quarta, com o anúncio oficial.

Um porta-voz do Exército israelense afirmou que está investigando os números informados pela Defesa Civil de Gaza, mas confirmou os bombardeios:

“A Força Aérea atingiu nas últimas 24 horas aproximadamente 50 alvos terroristas em toda a Faixa de Gaza. Entre os alvos atingidos estavam membros das organizações terroristas Hamas e Jihad Islâmica, infraestrutura militar, depósitos de munição, posições de lançadores de foguetes, locais de fabricação de armas e postos de observação”, detalhou. 

¨       Como funcionará cessar-fogo em Gaza e libertação de reféns após acordo fechado

Israel e o Hamas fecharam um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns nesta quarta-feira (15/1).

O anúncio oficial foi feito pelo primeiro-ministro da Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, responsável pelas reuniões com os negociadores do Hamas e, separadamente, os negociadores israelenses. O acordo também envolveu negociadores do Egito.

"Esperançosamente, esta será a última página", declarou o primeiro-ministro catari sobre a guerra.

De acordo com ele, o cessar-fogo começará no próximo domingo (19/1).

O acordo foi confirmado logo em seguida pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Ele disse que o acordo "interromperá os combates em Gaza, enviará a assistência humanitária tão necessária para os civis palestinos e reunirá os reféns com suas famílias após mais de 15 meses de cativeiro".

Nas redes sociais, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump disse: "Temos um acordo para os reféns no Oriente Médio. Eles serão libertados em breve", escreveu.

De acordo o serviço de verificação da BBC, dos 251 reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, 94 continuam em Gaza — acredita-se que 60 estejam vivos e 34, mortos.

Ainda não foram divulgados os detalhes do acordo, mas o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o Hamas "cedeu" devido à "postura firme" do líder israelense contra as demandas de última hora relacionadas ao posicionamento de forças israelenses no chamado Corredor Filadélfia, entre Gaza e Egito.

No entanto, o gabinete de Netanyahu destacou que "ainda há várias cláusulas não resolvidas" no acordo que precisam ser tratadas.

A expectativa é de que os detalhes sejam finalizados nas próximas horas desta quarta e que o acordo seja aprovado pelo gabinete israelense na manhã de quinta-feira (16/1).

Segundo o correspondente da BBC em Gaza, Rushdi Abualouf, o acordo permitirá que centenas de milhares de pessoas deslocadas voltem para suas casas, vilas e cidades na Faixa de Gaza.

O acordo incluiria a entrada de 600 caminhões de ajuda humanitária por dia de cessar-fogo com suprimentos médicos, incluindo tendas, vindos da fronteira de Rafah, em Gaza, com o Egito.

Também devem estar inclusos 50 caminhões de combustível para operar os hospitais que ainda estão funcionando, consertar as estações de energia e reparar os sistemas de esgoto e água.

Logo após a notícia do cessar-fogo, moradores de Gaza e de Israel foram para as ruas celebrar o acordo.

O exército israelense iniciou uma campanha contra o Hamas em resposta ao ataque sem precedentes do grupo no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 251 outras foram feitas reféns.

Mais de 46 mil pessoas foram mortas em Gaza desde então, de acordo com o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas.

·        Detalhes do acordo

O esboço deste acordo já havia sido amplamente divulgado e envolve várias fases

>>> Fase 1

Biden confirmou nesta quarta que, durante a primeira fase do acordo de cessar-fogo, os palestinos poderão retornar aos seus bairros e a assistência humanitária na Faixa de Gaza aumentará.

A primeira fase envolveria um cessar-fogo inicial de seis semanas. Durante esse período, o Hamas libertaria 33 dos reféns capturados no ataque de 7 de outubro. Não está claro quantos desses 33 ainda estão vivos.

Entre o grupo libertado, estariam crianças, mulheres, homens acima de 50 anos, além de pessoas feridas ou doentes.

Em troca de cada refém libertado, Israel soltaria dezenas de prisioneiros palestinos.

Israel retiraria seus soldados das áreas mais densamente povoadas da Faixa de Gaza, movendo-os para uma zona de segurança no lado leste.

Mais ajuda e combustível seriam permitidos imediatamente — e haveria um retorno organizado dos 2 milhões de deslocados de Gaza para suas casas ou o que restou delas.

As pessoas que viajarem a pé terão que seguir pela estrada costeira. As pessoas que viajarem com veículos ou carrinhos poderão viajar pelo centro da Faixa de Gaza.

Quase todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza tiveram que deixar suas casas devido a ordens de evacuação israelenses, ataques aéreos e combates em terra.

>>>> Fase 2

Na segunda fase, cujas negociações começaria 16 dias após o início do cessar-fogo, os reféns vivos restantes — soldados masculinos e homens civis mais jovens — seriam liberados e os corpos dos reféns mortos seriam retornados a Israel.

Em troca, Israel liberaria prisioneiros e detidos palestinos, incluindo condenados a longas penas por ataques mortais.

Um oficial palestino que falou à BBC estimou o número em 1 mil, enquanto um oficial do governo israelense afirmou que seriam "muitas centenas".

A agência de notícias Reuters e outras fontes afirmam que combatentes do Hamas que participaram do ataque a Israel em 7 de outubro de 2023 não seriam liberados.

Israel afirmou que só retirará totalmente suas tropas quando todos os reféns forem liberados.

Após isso, seriam mantidas zonas de segurança de 800 metros de largura nos lados leste e norte de Gaza, na fronteira com Israel, e o controle de segurança sobre Gaza.

Biden declarou que a fase dois envolve negociar "um fim permanente da guerra". Se as negociações durarem mais de seis semanas (prazo da fase um), o cessar-fogo continuará, disse Biden.

>>>> Fase 3

As negociações sobre a fase envolvendo a reconstrução de Gaza também começariam no 16º dia do cessar-fogo preliminar.

No entanto, ainda existiriam pontos de impasse. Um deles seria a questão de quem governará Gaza.

Israel insiste que qualquer acordo de paz duradouro deve remover o Hamas do poder em Gaza e se recusa a permitir que a Autoridade Palestina (AP), que já controla a Cisjordânia, governe o território.

Israel também quer manter o controle de segurança sobre Gaza após o fim do conflito.

Os israelenses estão, no entanto, trabalhando com os Estados Unidos e os Emirados Árabes Unidos em um plano para uma administração provisória em Gaza enquanto a AP é reformada.

Essa nova administração assumiria posteriormente como governo permanente.

Além disso, membros da direita do Parlamento de Israel, como Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, se opõem ao acordo de paz atual, o que pode dificultar a aprovação do processo.

·        Trump e Biden celebram cessar-fogo

Na rede social Truth Social, Donald Trump declarou que o "acordo épico de cessar-fogo só poderia ter acontecido como resultado de nossa vitória histórica em novembro", referindo-se à sua eleição nos EUA.

Ele afirmou que sua volta para a Casa Branca sinalizou ao mundo que sua administração "buscará a paz e negociará acordos para garantir a segurança de todos os americanos e de nossos aliados".

Trump disse estar "entusiasmado" com o retorno de reféns americanos e israelenses para casa.

Segundo análise de Tom Bateman, repórter que cobre o Departamento de Estado americano em Washington para a BBC, "a transição para a presidência de Trump e o prazo iminente de sua posse — em 20 de janeiro — efetivamente deram um prazo para essas negociações".

"Ambos os lados sabiam que os termos atualmente propostos, garantidos pelos Estados Unidos, poderiam enfrentar muita incerteza após essa data", disse.

Em Jerusalém, o editor internacional da BBC, Jeremy BoweI, também avalia que a iminência da posse da Trump contribui para a chegada a um acordo, que está na mesa de negociações desde maio do ano passado.

"Este é um grande feito, não há dúvida disso. Eles chegaram até aqui, mas o grande desafio agora é o que acontecerá na primeira fase – 42 dias, durante os quais haverá a liberação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos", escreve Bowel.

Já em seu comunicado, Biden ressaltou que "apresentou os contornos precisos deste plano em 31 de maio de 2024, após o que foi endossado de forma unânime pelo Conselho de Segurança da ONU."

"Ele é o resultado não apenas da pressão extrema sob a qual o Hamas tem estado e da mudança na equação regional após um cessar-fogo no Líbano e o enfraquecimento do Irã, mas também da diplomacia americana persistente e minuciosa. Minha diplomacia nunca cessou em seus esforços para concretizar isso", disse Biden.

O presidente dos EUA afirmou ainda que o caminho para esse acordo "não foi fácil" e o considera uma das negociações mais difíceis que já vivenciou.

 

Fonte: g1/BBC News Mundo

 

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