sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Bepe Damasco: Não se combate fake news sem inteligência estratégica e confronto

Ainda estava com a entrevista do professor e especialista em comunicação Wilson Ferreira bem viva na cabeça quando estourou a crise das fake news sobre o Pix. Ouvido por Luis Nassif, na TV GGN, Ferreira propôs a criação, no âmbito do governo, de um grupo interdisciplinar de inteligência, voltado para a guerra semiótica.

O professor acerta o alvo ao explicar que há uma enorme confusão no governo Lula e nos setores progressistas da sociedade em geral entre publicidade e informação. Uma coisa é comunicar fatos e realizações do governo, o que é, por óbvio, muito importante. Outra, bem diferente, escreve Nassif no Jornal GGN, é entender as nuances da guerra de informações praticada especialmente pela direita, valendo-se do que Ferreira chama de "bombas de semiótica", que são maneiras de abordar fatos para que eles se tornem o centro da narrativa.

O bolsonarismo e o trumpismo fazem isso bem, embora apelem para o ridículo, na visão do professor. Eu acrescentaria que, além do ridículo, o centro da estratégia dos neofascistas inclui a mentira, a calúnia e a difamação, ou seja, o crime. 

O problema para o governo dar o passo adiante necessário para combater com mais eficácia as fake news, ou melhor, se antecipar a elas, é sua decisão política de evitar o confronto a todo custo.

Só que a avalanche de fake news que inundou as redes no episódio do Pix, quando uma medida corriqueira da Receita Federal foi transformada em taxação dos mais humildes, só reforça a convicção de que sem confronto, sem disputa política a céu aberto, a governo está condenado a ver sua imagem se corroer cada vez mais. 

Outra constatação dura, mas inescapável para o campo progressista, é o crescimento exponencial de uma verdadeira legião de idiotas entre os brasileiros, fruto de uma espécie de lavagem cerebral moderna, centrada nos algoritmos. Enganou-se redondamente quem achou que a "mamadeira de piroca" nas eleições de 2018 tinha sido o ápice da imbecilização galopante que afeta a nossa sociedade. 

As mais de 140 milhões de visualizações que o deputado Nikolas Ferreira teve em suas redes sociais ao propagar as fake news mais toscas e grotescas sobre o Pix são de cair o queixo. Aonde vamos parar como nação se um desqualificado oportunista como Nikolas prende a atenção e influencia tantas pessoas?

Quem se deu ao trabalho de ver seu vídeo se choca mais ainda. Com uma atuação mais competente nas redes por parte do governo e do PT, Nikolas seria desmoralizado com relativa facilidade. O sujeito teve a coragem de disparar contra a política atual do salário mínimo, quando o governo Bolsonaro o congelou por quatro anos. Insistiu na tese de que a Receita queria monitorar o Pix, quando ela sempre fez isso. Apontou como falso o discurso do governo de isentar quem ganha menos do Imposto de Renda, quando foi Lula quem descongelou a tabela, garantiu a isenção já para a faixa de dois salários mínimos, rumo aos R$ 5 mil de isenção, projeto a ser votado este ano pelo Congresso Nacional.

Uma pergunta: um estrago como o causado pelo episódio do Pix não justificaria uma cadeia de rádio e TV do presidente Lula ou, no mínimo, do ministro Haddad? Ou uma entrevista coletiva dos dois? Tamanha letargia só pode ser explicada pela aversão ao confronto já mencionada neste texto. 

O que não falta neste governo são bons quadros, capazes de formar o tal grupo multidisciplinar de inteligência estratégica proposto pelo professor Ferreira. Esse núcleo pensante anteveria as ações da extrema direita e proporia os antídotos adequados.

Por exemplo: no momento em que a Receita começou a rascunhar as mudanças na fiscalização do Pix, o grupo de inteligência analisaria o caso, pesando a reação da extrema direita e aconselharia o governo sobre a viabilidade da medida no momento, ou as ações de prevenção necessárias para enfraquecer os ataques.

 

¨       A questão do Pix e os embates de fake news em redes sociais. Por Arnóbio Rocha

Hábitos saudáveis para pessoas públicas, especialmente as de esquerda:

1.    Ir ao supermercado

2.    Ir à feira livre

3.    Andar de transporte público

4.    Tomar café na padaria

5.    Ir à periferia, tomar café, comer feijoada

6.    Ligar em call-center de operadoras (Internet, telefone, cartão de crédito)

7.    Ir à missa, culto, mesmo sendo ateu, se for o caso

Saber como a maioria das pessoas vive ajuda a entender a importância do Pix (por exemplo), não por intermediários, por gráficos, planilhas, tutoriais de YouTube, mas por experiência real.

O Pix é a nova moeda, meio de pagamento, troca, compra, venda, uma sensação de não depender de bancos e suas taxas, ainda que ilusória, mas é algo que as pessoas entendem plenamente, sabem como funciona e criam modalidade de negócios baseados na ideia simples. É isso que determina o apego e apelo do Pix.

A derrota do governo na questão do Pix por obra de um espertalhão mentiroso, bem orientado por marqueteiro, diz mais sobre nós do que sobre ele. Não é a primeira vez que fazemos um grande recuo desmoralizante em medidas corretas, mas sem uma preparação para um enfrentamento brutal na arena deletéria das redes sociais, em que a verdade é apenas um mero detalhe, que não conta para o resultado final dos embates.

O maior dos problemas, e de soluções, dos governos de esquerda no Brasil sempre foi de política, de como transformar em ação através de comunicação, cair no gosto popular, no dia a dia das pessoas. Houve grandes vitórias nesse sentido, o Bolsa Família é uma delas, o PAC, crescimento, a correção do salário-mínimo. Outras não soube se explicar, como em ações de educação e saúde, por exemplo, assim como perdeu a bandeira de combate à corrupção.

Apenas para comparar, quase por inércia, governos desastrosos, como o do Capitão Tarcísio de Freitas, sem nenhuma comunicação estratégica, mantêm boa avaliação, conta também que não tem oposição ou espaço de combate na mídia.

O enfrentamento contra os governos de centro-esquerda é ideológico, mesmo nessa versão Lula III, de uma composição ampla até a direita, tendo como vice Geraldo Alckmin, ministros de direita. Nem assim há arrego. A conotação para o capital é que é um governo de esquerda que quer um Estado baseado no bem-estar Social, em contraposição ao ultraliberalismo.

Por mais que a Economia tenha sensível melhora, muitas políticas públicas retomaram a pauleira da extrema-direita, em maioria no parlamento e com uma máquina ideológica destruidora, poucas vezes vista na história. Transforma em pó as iniciativas, mantendo o governo sob pressão diariamente, não lhe rendendo dividendos em suas ações.

Essa arena política disruptiva ainda é um terreno extremamente árido para a esquerda. Não se trata apenas de comunicação, mas como enfrentar uma máquina ideológica extremamente controlada, com peculiaridades completamente diferentes de tudo o que se fez em política em séculos. Há experiências importantes, como a do México, mas se aplicaria ao Brasil?

Uma dura lição e sem saber as suas consequências no futuro.

 

¨       Onda de desinformação em torno do Pix expôs a inabilidade da RF em se comunicar com a sociedade. Por Luís Humberto Carrijo

A Receita Federal do Brasil, sob o comando do secretário Robinson Barreirinhas, enfrentou recentemente duas crises de comunicação que expuseram fragilidades significativas na estratégia de divulgação de informações do órgão. As polêmicas envolvendo a chamada "taxa das blusinhas" e as novas regras de fiscalização do Pix revelaram uma preocupante inabilidade em transmitir mensagens claras e precisas à população.

No caso da "taxa das blusinhas", a Receita Federal falhou ao não antecipar e gerenciar adequadamente a reação pública à nova tributação sobre compras internacionais de até US$ 50. A medida, que entrou em vigor em agosto de 2024, gerou uma queda de 40% nas importações nessa faixa de valor no primeiro mês.

O órgão cometeu erros cruciais:

1.    Falta de transparência: não houve uma comunicação proativa explicando os motivos e benefícios da medida.

2.    Linguagem técnica: as explicações fornecidas eram frequentemente repletas de jargões, dificultando a compreensão do público geral.

3.    Timing inadequado: a divulgação das informações foi reativa, ocorrendo apenas após a polêmica já estar instaurada.

4.    Ausência de campanha educativa: não houve um esforço coordenado para educar os consumidores sobre as mudanças.

A situação se agravou com a polêmica sobre as novas regras de fiscalização do Pix. A instrução normativa que ampliava o monitoramento de transações financeiras gerou uma onda de desinformação e pânico entre os usuários. A Receita Federal demonstrou uma notável inabilidade em lidar com a situação:

1.    Comunicação reativa: o órgão demorou a responder às fake news, permitindo que informações falsas se propagassem rapidamente.

2.    Mensagens confusas: as explicações fornecidas eram muitas vezes contraditórias ou incompletas, alimentando ainda mais a confusão.

3.    Falta de coordenação: houve uma evidente desconexão entre a Receita Federal, o Ministério da Fazenda e o Banco Central na comunicação sobre o tema.

4.    Subestimação do impacto: a Receita não previu adequadamente o potencial de desinformação e pânico que a medida poderia gerar.

Para evitar tais crises, a Receita Federal deveria ter adotado uma estratégia de comunicação mais robusta e proativa:

1.    Antecipação: preparar o terreno com comunicações claras e acessíveis antes da implementação de novas medidas.

2.    Transparência total: fornecer explicações detalhadas e compreensíveis sobre os motivos e impactos das mudanças.

3.    Uso de múltiplos canais: utilizar diversas plataformas de comunicação, incluindo redes sociais, para alcançar diferentes públicos.

4.    Coordenação interinstitucional: alinhar mensagens com outros órgãos governamentais para evitar contradições.

5.    Campanhas educativas: investir em materiais informativos e campanhas de conscientização para educar o público.

6.    Monitoramento e resposta rápida: estabelecer um sistema de monitoramento de mídia e redes sociais para identificar e responder rapidamente a desinformações.

7.    Linguagem acessível: traduzir termos técnicos para uma linguagem que o público geral possa compreender facilmente.

8.    Engajamento com influenciadores: trabalhar com formadores de opinião confiáveis para amplificar mensagens corretas.

A inabilidade da Receita Federal em comunicar efetivamente essas mudanças não apenas prejudicou a implementação das medidas, mas também minou a confiança pública no órgão. O recuo forçado na questão do Pix, com a revogação da norma, é um claro indicativo do fracasso na estratégia de comunicação.

Para recuperar a credibilidade e evitar futuras crises, é imperativo que a Receita Federal e o secretário Barreirinhas repensem completamente sua abordagem de comunicação. Só assim poderão garantir que futuras mudanças sejam compreendidas e aceitas pelo público, evitando o caos informacional que prejudica tanto o órgão quanto os cidadãos.

 

¨       Lula considera que houve sucessão de erros políticos na condução da norma sobre o Pix

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstrou insatisfação com a condução da crise envolvendo a norma da Receita Federal que ampliaria a fiscalização sobre transações via Pix. Segundo aliados, Lula avaliou que houve uma sequência de erros que resultou em uma derrota política do governo para a oposição.

Críticas internas apontam que a equipe econômica tratou a medida de forma burocrática, sem elaborar uma estratégia de comunicação eficaz. Nem Lula nem a Casa Civil foram informados previamente sobre a decisão, tomando conhecimento apenas após a repercussão negativa nas redes sociais.

A oposição explorou a situação, acusando o governo de ser favorável ao aumento de impostos. Um dos vídeos mais compartilhados foi do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que alegou que o governo estava focado apenas em arrecadar sem oferecer contrapartidas. A publicação ultrapassou 200 milhões de visualizações no Instagram.

Nikolas afirmou que, embora a norma não previsse taxação direta sobre o Pix, não descartava que isso pudesse ocorrer no futuro. Ele também criticou os possíveis impactos da regra para autônomos e microempreendedores individuais (MEIs). 

Após reuniões tensas, Lula optou por revogar a norma, mesmo diante da defesa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que sustentou o mérito da medida até a manhã de quarta-feira (15). Pesou na decisão o argumento de que uma campanha publicitária não seria suficiente para conter a onda de críticas, desinformações e golpes financeiros.

Além disso, o governo foi alertado sobre a possibilidade de aprovação de um decreto legislativo para derrubar a norma. Para evitar mais desgaste e conter o clima de desconfiança popular, Lula aceitou a revogação, atitude comemorada pela oposição.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, foi um dos principais defensores da revogação, com o respaldo de Rui Costa (Casa Civil). Sidônio assumiu o cargo recentemente e já havia saído vitorioso ao sugerir a inclusão da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil em pacotes de ajuste fiscal.

Antes da decisão de revogar a medida, cogitou-se um pronunciamento em rede nacional para explicar a norma. O secretário da Receita Federal, Robson Barreirinhas, chegou a defender publicamente a regra, afirmando que sua revogação prejudicaria pequenos contribuintes e beneficiaria criminosos.

Aliados de Lula reconhecem que o episódio expôs fragilidades na articulação do governo. Parlamentares da base governista, que haviam defendido a medida, criticaram a decisão de recuo. Um ministro confidenciou que o caso serve como alerta para a importância de antecipar e neutralizar narrativas negativas antes da implementação de medidas de grande impacto.

 

Fonte: Brasil 247

 

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