Bepe Damasco: Não se
combate fake news sem inteligência estratégica e confronto
Ainda estava com a entrevista do professor e especialista em comunicação
Wilson Ferreira bem viva na cabeça quando estourou a crise das fake news sobre
o Pix. Ouvido por Luis Nassif, na TV GGN, Ferreira propôs a criação, no âmbito
do governo, de um grupo interdisciplinar de inteligência, voltado para a guerra
semiótica.
O professor acerta o alvo ao explicar que há uma enorme confusão no
governo Lula e nos setores progressistas da sociedade em geral entre
publicidade e informação. Uma coisa é comunicar fatos e realizações do governo,
o que é, por óbvio, muito importante. Outra, bem diferente, escreve Nassif no
Jornal GGN, é entender as nuances da guerra de informações praticada
especialmente pela direita, valendo-se do que Ferreira chama de "bombas de
semiótica", que são maneiras de abordar fatos para que eles se tornem o
centro da narrativa.
O bolsonarismo e o trumpismo fazem isso bem, embora apelem para o
ridículo, na visão do professor. Eu acrescentaria que, além do ridículo, o
centro da estratégia dos neofascistas inclui a mentira, a calúnia e a difamação,
ou seja, o crime.
O problema para o governo dar o passo adiante necessário para combater
com mais eficácia as fake news, ou melhor, se antecipar a elas, é sua decisão
política de evitar o confronto a todo custo.
Só que a avalanche de fake news que inundou as redes no episódio do Pix,
quando uma medida corriqueira da Receita Federal foi transformada em taxação
dos mais humildes, só reforça a convicção de que sem confronto, sem disputa
política a céu aberto, a governo está condenado a ver sua imagem se corroer
cada vez mais.
Outra constatação dura, mas inescapável para o campo progressista, é o
crescimento exponencial de uma verdadeira legião de idiotas entre os
brasileiros, fruto de uma espécie de lavagem cerebral moderna, centrada nos
algoritmos. Enganou-se redondamente quem achou que a "mamadeira de
piroca" nas eleições de 2018 tinha sido o ápice da imbecilização galopante
que afeta a nossa sociedade.
As mais de 140 milhões de visualizações que o deputado Nikolas Ferreira
teve em suas redes sociais ao propagar as fake news mais toscas e grotescas
sobre o Pix são de cair o queixo. Aonde vamos parar como nação se um
desqualificado oportunista como Nikolas prende a atenção e influencia tantas
pessoas?
Quem se deu ao trabalho de ver seu vídeo se choca mais ainda. Com uma
atuação mais competente nas redes por parte do governo e do PT, Nikolas seria
desmoralizado com relativa facilidade. O sujeito teve a coragem de disparar
contra a política atual do salário mínimo, quando o governo Bolsonaro o congelou
por quatro anos. Insistiu na tese de que a Receita queria monitorar o Pix,
quando ela sempre fez isso. Apontou como falso o discurso do governo de isentar
quem ganha menos do Imposto de Renda, quando foi Lula quem descongelou a
tabela, garantiu a isenção já para a faixa de dois salários mínimos, rumo aos
R$ 5 mil de isenção, projeto a ser votado este ano pelo Congresso Nacional.
Uma pergunta: um estrago como o causado pelo episódio do Pix não
justificaria uma cadeia de rádio e TV do presidente Lula ou, no mínimo, do
ministro Haddad? Ou uma entrevista coletiva dos dois? Tamanha letargia só pode
ser explicada pela aversão ao confronto já mencionada neste texto.
O que não falta neste governo são bons quadros, capazes de formar o tal
grupo multidisciplinar de inteligência estratégica proposto pelo professor
Ferreira. Esse núcleo pensante anteveria as ações da extrema direita e proporia
os antídotos adequados.
Por exemplo: no momento em que a Receita começou a rascunhar as mudanças
na fiscalização do Pix, o grupo de inteligência analisaria o caso, pesando a
reação da extrema direita e aconselharia o governo sobre a viabilidade da
medida no momento, ou as ações de prevenção necessárias para enfraquecer os
ataques.
¨ A questão do
Pix e os embates de fake news em redes sociais. Por Arnóbio Rocha
Hábitos saudáveis para pessoas públicas, especialmente as de esquerda:
1.
Ir ao supermercado
2.
Ir à feira livre
3.
Andar de transporte público
4.
Tomar café na padaria
5.
Ir à periferia, tomar café, comer
feijoada
6.
Ligar em call-center de operadoras
(Internet, telefone, cartão de crédito)
7.
Ir à missa, culto, mesmo sendo ateu,
se for o caso
Saber como a maioria das pessoas vive ajuda a entender a importância do
Pix (por exemplo), não por intermediários, por gráficos, planilhas, tutoriais
de YouTube, mas por experiência real.
O Pix é a nova moeda, meio de pagamento, troca, compra, venda, uma
sensação de não depender de bancos e suas taxas, ainda que ilusória, mas é algo
que as pessoas entendem plenamente, sabem como funciona e criam modalidade de negócios
baseados na ideia simples. É isso que determina o apego e apelo do Pix.
A derrota do governo na questão do Pix por obra de um espertalhão
mentiroso, bem orientado por marqueteiro, diz mais sobre nós do que sobre ele.
Não é a primeira vez que fazemos um grande recuo desmoralizante em medidas
corretas, mas sem uma preparação para um enfrentamento brutal na arena
deletéria das redes sociais, em que a verdade é apenas um mero detalhe, que não
conta para o resultado final dos embates.
O maior dos problemas, e de soluções, dos governos de esquerda no Brasil
sempre foi de política, de como transformar em ação através de comunicação,
cair no gosto popular, no dia a dia das pessoas. Houve grandes vitórias nesse
sentido, o Bolsa Família é uma delas, o PAC, crescimento, a correção do
salário-mínimo. Outras não soube se explicar, como em ações de educação e
saúde, por exemplo, assim como perdeu a bandeira de combate à corrupção.
Apenas para comparar, quase por inércia, governos desastrosos, como o do
Capitão Tarcísio de Freitas, sem nenhuma comunicação estratégica, mantêm boa
avaliação, conta também que não tem oposição ou espaço de combate na mídia.
O enfrentamento contra os governos de centro-esquerda é ideológico,
mesmo nessa versão Lula III, de uma composição ampla até a direita, tendo como
vice Geraldo Alckmin, ministros de direita. Nem assim há arrego. A conotação
para o capital é que é um governo de esquerda que quer um Estado baseado no
bem-estar Social, em contraposição ao ultraliberalismo.
Por mais que a Economia tenha sensível melhora, muitas políticas
públicas retomaram a pauleira da extrema-direita, em maioria no parlamento e
com uma máquina ideológica destruidora, poucas vezes vista na história.
Transforma em pó as iniciativas, mantendo o governo sob pressão diariamente,
não lhe rendendo dividendos em suas ações.
Essa arena política disruptiva ainda é um terreno extremamente árido
para a esquerda. Não se trata apenas de comunicação, mas como enfrentar uma
máquina ideológica extremamente controlada, com peculiaridades completamente
diferentes de tudo o que se fez em política em séculos. Há experiências
importantes, como a do México, mas se aplicaria ao Brasil?
Uma dura lição e sem saber as suas consequências no futuro.
¨ Onda de
desinformação em torno do Pix expôs a inabilidade da RF em se comunicar com a
sociedade. Por Luís Humberto Carrijo
A Receita Federal do Brasil, sob o comando do secretário Robinson
Barreirinhas, enfrentou recentemente duas crises de comunicação que expuseram
fragilidades significativas na estratégia de divulgação de informações do
órgão. As polêmicas envolvendo a chamada "taxa das blusinhas" e as
novas regras de fiscalização do Pix revelaram uma preocupante inabilidade em
transmitir mensagens claras e precisas à população.
No caso da "taxa das blusinhas", a Receita Federal falhou ao
não antecipar e gerenciar adequadamente a reação pública à nova tributação
sobre compras internacionais de até US$ 50. A medida, que entrou em vigor em
agosto de 2024, gerou uma queda de 40% nas importações nessa faixa de valor no
primeiro mês.
O órgão cometeu erros cruciais:
1.
Falta de transparência: não houve uma
comunicação proativa explicando os motivos e benefícios da medida.
2.
Linguagem técnica: as explicações
fornecidas eram frequentemente repletas de jargões, dificultando a compreensão
do público geral.
3.
Timing inadequado: a divulgação das
informações foi reativa, ocorrendo apenas após a polêmica já estar instaurada.
4.
Ausência de campanha educativa: não
houve um esforço coordenado para educar os consumidores sobre as mudanças.
A situação se agravou com a polêmica sobre as novas regras de
fiscalização do Pix. A instrução normativa que ampliava o monitoramento de
transações financeiras gerou uma onda de desinformação e pânico entre os
usuários. A Receita Federal demonstrou uma notável inabilidade em lidar com a
situação:
1.
Comunicação reativa: o órgão demorou
a responder às fake news, permitindo que informações falsas se propagassem
rapidamente.
2.
Mensagens confusas: as explicações
fornecidas eram muitas vezes contraditórias ou incompletas, alimentando ainda
mais a confusão.
3.
Falta de coordenação: houve uma
evidente desconexão entre a Receita Federal, o Ministério da Fazenda e o Banco
Central na comunicação sobre o tema.
4.
Subestimação do impacto: a Receita
não previu adequadamente o potencial de desinformação e pânico que a medida
poderia gerar.
Para evitar tais crises, a Receita Federal deveria ter adotado uma
estratégia de comunicação mais robusta e proativa:
1.
Antecipação: preparar o terreno com
comunicações claras e acessíveis antes da implementação de novas medidas.
2.
Transparência total: fornecer
explicações detalhadas e compreensíveis sobre os motivos e impactos das
mudanças.
3.
Uso de múltiplos canais: utilizar
diversas plataformas de comunicação, incluindo redes sociais, para alcançar
diferentes públicos.
4.
Coordenação interinstitucional:
alinhar mensagens com outros órgãos governamentais para evitar contradições.
5.
Campanhas educativas: investir em
materiais informativos e campanhas de conscientização para educar o público.
6.
Monitoramento e resposta rápida:
estabelecer um sistema de monitoramento de mídia e redes sociais para
identificar e responder rapidamente a desinformações.
7.
Linguagem acessível: traduzir termos
técnicos para uma linguagem que o público geral possa compreender facilmente.
8.
Engajamento com influenciadores:
trabalhar com formadores de opinião confiáveis para amplificar mensagens
corretas.
A inabilidade da Receita Federal em comunicar efetivamente essas
mudanças não apenas prejudicou a implementação das medidas, mas também minou a
confiança pública no órgão. O recuo forçado na questão do Pix, com a revogação
da norma, é um claro indicativo do fracasso na estratégia de comunicação.
Para recuperar a credibilidade e evitar futuras crises, é imperativo que
a Receita Federal e o secretário Barreirinhas repensem completamente sua
abordagem de comunicação. Só assim poderão garantir que futuras mudanças sejam
compreendidas e aceitas pelo público, evitando o caos informacional que
prejudica tanto o órgão quanto os cidadãos.
¨ Lula considera
que houve sucessão de erros políticos na condução da norma sobre o Pix
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstrou insatisfação com a condução da crise
envolvendo a norma da Receita Federal que ampliaria a fiscalização sobre
transações via Pix. Segundo aliados, Lula avaliou que houve uma sequência de
erros que resultou em uma derrota política do governo para a oposição.
Críticas
internas apontam que a equipe econômica tratou a medida de forma burocrática,
sem elaborar uma estratégia de comunicação eficaz. Nem Lula nem a Casa Civil
foram informados previamente sobre a decisão, tomando conhecimento apenas após
a repercussão negativa nas redes sociais.
A oposição
explorou a situação, acusando o governo de ser favorável ao aumento de
impostos. Um dos vídeos mais compartilhados foi do deputado Nikolas Ferreira
(PL-MG), que alegou que o governo estava focado apenas em arrecadar sem
oferecer contrapartidas. A publicação ultrapassou 200 milhões de visualizações
no Instagram.
Nikolas afirmou
que, embora a norma não previsse taxação direta sobre o Pix, não descartava que
isso pudesse ocorrer no futuro. Ele também criticou os possíveis impactos da
regra para autônomos e microempreendedores individuais (MEIs).
Após reuniões
tensas, Lula optou por revogar a norma, mesmo diante da defesa do ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, que sustentou o mérito da medida até a manhã de
quarta-feira (15). Pesou na decisão o argumento de que uma campanha
publicitária não seria suficiente para conter a onda de críticas,
desinformações e golpes financeiros.
Além disso, o
governo foi alertado sobre a possibilidade de aprovação de um decreto
legislativo para derrubar a norma. Para evitar mais desgaste e conter o clima
de desconfiança popular, Lula aceitou a revogação, atitude comemorada pela
oposição.
O ministro da
Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, foi um dos
principais defensores da revogação, com o respaldo de Rui Costa (Casa Civil).
Sidônio assumiu o cargo recentemente e já havia saído vitorioso ao sugerir a
inclusão da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil em pacotes
de ajuste fiscal.
Antes da
decisão de revogar a medida, cogitou-se um pronunciamento em rede nacional para
explicar a norma. O secretário da Receita Federal, Robson Barreirinhas, chegou
a defender publicamente a regra, afirmando que sua revogação prejudicaria
pequenos contribuintes e beneficiaria criminosos.
Aliados de
Lula reconhecem que o episódio expôs fragilidades na articulação do governo.
Parlamentares da base governista, que haviam defendido a medida, criticaram a
decisão de recuo. Um ministro confidenciou que o caso serve como alerta para a
importância de antecipar e neutralizar narrativas negativas antes da
implementação de medidas de grande impacto.
Fonte: Brasil 247
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