Mercenários
ficariam sem apoio jurídico do Brasil e podem ser presos na Rússia, diz
analista
Moscou reafirma que
mercenários estrangeiros são alvos militares legítimos e passíveis de prisão na
Rússia como criminosos comuns. Brasil ainda é o segundo país latino-americano
que mais fornece mercenários para Kiev e faz pouco para reprimir grupos de
recrutadores atuando em solo nacional, disseram analistas à Sputnik Brasil.
Nesta quarta-feira
(15), o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, declarou que mercenários
estrangeiros lutando ao lado de Kiev são alvos militares legítimos para a
Rússia. A afirmação foi feita em resposta à pergunta de jornalistas sobre
suposto desaparecimento de mercenário australiano na zona de combate.
"[A Rússia]
está bem ciente - e isso se reflete no terreno - que mercenários estrangeiros
participando das hostilidades ao lado do regime de Kiev, lutando com armas nas
mãos contra nossas Forças Armadas, são alvos legítimos", afirmou Peskov.
Conforme o déficit
crônico de soldados nas Forças Armadas da Ucrânia se torna agudo, o papel dos
mercenários estrangeiros no campo de batalha fica evidente. Nesta sexta-feira
(16), militares russos
relataram à Sputnik terem eliminado mercenários estrangeiros durante a
libertação do vilarejo de Peschanoe, na direção de Pokrovskoe.
"Havia
mercenários entre os inimigos. Identificamos bandeiras da Polônia e da
Bulgária", disse um soldado da tropa de choque à Sputnik. "Para ser
mais preciso, eram parte da 425ª brigada de assalto aerotransportada das Forças
Armadas da Ucrânia, o batalhão nacionalista 'Skala', composto por mercenários e
nazistas."
Segundo militares
que participaram da libertação de Peschanoe ouvidos pela Sputnik,
o inimigo usava exclusivamente armas da OTAN, sem nenhuma arma de
fabricação nacional identificada durante a operação.
·
América
Latina
Mercenários
latino-americanos também arriscam as suas vidas na linha de frente do conflito
ucraniano. Apesar da presença massiva de
colombianos,
o Brasil é o segundo país que mais fornece soldados para as forças de
Kiev. De acordo com o jornalista Lucas Leiróz, que pesquisa a atividade
mercenária no Brasil, os motivos que levam os latino-americanos a optar por
lutar na Ucrânia são sociais, políticos e econômicos.
"O cenário
brasileiro é de desindustrialização econômica e desemprego. Por
isso, parte das classes mais baixas veem no serviço militar obrigatório a
chance de um primeiro emprego", disse Leiróz à Sputnik Brasil.
"Muitos brasileiros conseguem estender o serviço militar obrigatório até o
período máximo de oito anos [...], mas depois disso não conseguem se manter nas
Forças Armadas."
Confrontado com
a escassez de postos
de trabalho, esses militares buscam oportunidades fora do país, o que explica não
só a presença de brasileiros no campo de batalha ucraniano, mas também a
profissionalização militar do crime organizado nacional.
"Vemos que
pessoas egressas das Forças Armadas acabam transmitindo conhecimentos para
traficantes, uma situação muito comum no Brasil hoje", lamentou Leiróz.
"Vemos cidadãos brasileiros que entraram nas Forças Armadas ainda
jovens, que obtiveram toda sua formação profissional voltada para a área
militar, e, no final, precisam aplicar esses conhecimentos fora dela."
De acordo com
o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, Rodolfo
Queiroz Laterza, o retorno destes mercenários ao Brasil também preocupa, dada a
falta de acompanhamento psicológico e material.
"[O retorno] é
um grave problema e risco para a segurança nacional. A imensa maioria não se
adequa à sociedade em uma vida regular e em conformidade com a lei, ficando
suscetíveis a cooptação por facções criminosas", disse Laterza à Sputnik
Brasil.
Para o jornalista e
pesquisador Leiróz, a exposição de
mercenários brasileiros à ideologia neonazista em voga entre
combatentes na Ucrânia também preocupa.
"Por mais que
muitos mercenários sejam motivados pelo ganho financeiro, quando chegam ao
contexto da guerra, eles se tornam ideologizados e fanatizados pelo contexto
ideológico e político da Ucrânia", alertou Leiróz. "De fato, há muitos
brasileiros na Ucrânia, muitos já morreram, mas muitos continuam em atividade.
Existem vários relatórios mostrando a presença de brasileiros [na região russa]
de Kursk."
·
Mercenários
em território russo
A presença de
mercenários latino-americanos na região de Kursk foi destaque na mídia russa
nesta semana. A procuradoria geral do país iniciou processo judicial
contra o mercenário paraguaio Jorge Adrian Lugo Jiménez, por crimes de
terrorismo e atividade mercenária.
De acordo com as
autoridades russas, Jiménez não só violou as fronteiras da Rússia ilegalmente,
mas também cometeu crimes contra a população civil.
"Com o
objetivo de intimidar a população, causar danos significativos à propriedade e
desestabilizar as atividades das autoridades, o réu cometeu crimes contra
civis", disse o Comitê de Investigação russo em comunicado à imprensa.
Segundo Leiróz,
como a atividade mercenária não é regulada internacionalmente, "a
partir do momento que ele viola as fronteiras da Rússia, as autoridades russas
têm todo o direito de atuar".
"Isso explica
por que ele será processado na esfera criminal civil, e não na esfera do
direito da guerra. Quando ele entra no território russo, ele passa a ser um
cidadão estrangeiro comum, cometendo crimes na Rússia", explicou Leiróz.
"Ele não será coberto pelo direito militar, já que tomou a decisão
individual e voluntária de se engajar no conflito."
O processo movido
contra o paraguaio deve servir de alerta para demais mercenários
latino-americanos. Em função da sua posição internacional ambígua, na qual luta
por um país do qual não possui cidadania, o mercenário frequentemente fica
sem apoio jurídico de nenhum ente estatal.
"Ao se prestar
ao trabalho de participar como mercenário em uma guerra, a pessoa se coloca em
uma situação de total vulnerabilidade", disse Leiróz. "A única
proteção legal que eles podem ter é aquela permitida pelo próprio país que os
capturou."
O presidente da
Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, Laterza concorda, afirmando
que o mercenário se encontra "totalmente vulnerável do ponto de vista
jurídico".
"Havendo
cooperação jurídica da Rússia com os países envolvidos, pelo princípio da
justiça universal que norteia a extraterritorialidade da Lei penal, [os
mercenários] serão processados criminalmente pela Rússia, com as possibilidades
de expedição de mandados de prisão com acionamento da Interpol", disse
Laterza.
Caso o país de
origem, como o Brasil, intercedesse em favor do mercenário, isso configuraria
"grave quebra de acordos jurídicos internacionais que pautam a extraterritorialidade
da Lei Penal de cada Estado-nação".
"O princípio
da justiça penal universal [...] estabelece que o agente do crime deve ser
sujeito à lei do país onde for encontrado, independentemente de sua
nacionalidade, do local do crime ou do bem jurídico lesado", explicou
Laterza. "No Brasil, o princípio da justiça penal universal está previsto
no artigo 7º do Código Penal."
Para ele, o Brasil não age de
maneira suficiente para mitigar a atividade mercenária entre os seus cidadãos.
"[O Brasil
deveria] investigar a cooptação e recrutamento de cidadãos
brasileiros para agirem em conflitos internacionais como mercenários,
mediante pagamento de recompensas", acredita Laterza. "Como se trata
de crime com repercussão interestadual, [isso deveria ser feito] pela Polícia
Federal com apoio das Polícias Civis."
O analista Leiróz
acredita ser necessário ampliar a cooperação
jurídica internacional para mitigar a atividade mercenária e controlar
grupos de recrutadores atuando em solo brasileiro.
"Temos muitos
grupos extremistas, neonazistas e neofascistas que atuam nas sombras no
Brasil, incentivando esse tipo de atividade", disse Leiróz. "Temos
também o próprio trabalho irresponsável da mídia hegemônica, que retrata a
guerra como algo fácil [...], iludindo brasileiros a irem para lá achando que
vão ganhar dinheiro fácil."
Processos judiciais
como o iniciado pela Rússia contra o mercenário paraguaio demonstram
que as consequências penais da atividade mercenária são
reais. "São cidadãos que abandonaram sua pátria para cometer crimes
no exterior. E deve estar a par das consequências dessas decisões",
concluiu Leiróz.
¨ Reino Unido
firma "pacto de 100 anos" com a Ucrânia
O
primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e o
presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, assinaram nesta quinta-feira (16/01)
um acordo chamado "100 anos de parceria", focado não apenas na
cooperação militar entre os dois países, mas também em áreas como agricultura,
saúde, tecnologia aeroespacial e comércio.
Starmer
chegou a Kiev pela manhã para a sua primeira visita ao país do leste europeu
desde que assumiu o posto de primeiro-ministro, em julho de 2024. Ele foi
recebido pelo ex-chefe do Exército e atual embaixador ucraniano em Londres,
Valeri Zaluzhn.
O
"tratado de 100 anos" também busca fortalecer a segurança nos mares
Báltico, Negro e Azov e, desta forma, impedir agressões russas nessas áreas.
"Juntos,
assinamos um acordo histórico, o primeiro do gênero, uma nova parceria entre o
Reino Unido e a Ucrânia que reflete o enorme afeto que existe entre nossas duas
nações", declarou Starmer a jornalistas.
Após
a assinatura do pacto, Zelenski afirmou que
"hoje é um dia verdadeiramente histórico", reforçando que o
relacionamento entre Ucrânia e Reino Unido está "mais próximo do que
nunca".
O
político trabalhista visitou a unidade de queimados de um dos centros
hospitalares de Kiev, classificando as cenas que observou como "um
lembrete claro do alto preço que a Ucrânia está pagando", referindo-se à
invasão russa.
"Devemos
fornecer todo o apoio necessário. Nunca devemos desistir disso, e nós [o Reino
Unido] temos liderado o caminho. É muito importante que nos certifiquemos de
que a Ucrânia esteja na posição mais forte possível em 2025", acrescentou.
Europeus
marcam presença antes de posse de Trump
De
acordo com Starmer, seu governo deverá fornecer um novo sistema de defesa aérea
móvel à Ucrânia, "desenvolvido para atender às necessidades do país".
Antes
da viagem, ele havia dito que "a ambição do [presidente russo
Vladimir] Putin de afastar a
Ucrânia de seus parceiros mais próximos foi um fracasso estratégico monumental.
Em vez disso, estamos mais próximos do que nunca, e essa parceria levará essa
amizade a um nível ainda mais alto".
Ainda
que essa seja a primeira visita de Starmer à Ucrânia como primeiro-ministro,
ele já havia visitado o país em 2023, quando era líder da oposição, e
conversado com Zelenski em
Londres duas
vezes.
A
viagem, que não foi anunciada, é a mais recente demonstração de apoio à Ucrânia
por parte de líderes europeus antes do retorno de Donald Trump à Casa
Branca. O presidente eleito assumirá o governo dos EUA na próxima
segunda-feira.
O
ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, também está visitando Kiev nesta
quinta-feira. E o ministro da
Defesa da Alemanha,
Boris Pistorius, esteve no país esta semana.
A
volta de Trump ao poder nos EUA levantou preocupações de que a Ucrânia poderia
ter de ceder grandes partes de seu território para a Rússia caso concordasse
com uma trégua no conflito.
<><>
Ajuda constante
É
esperado que o Reino Unido também anuncie mais 40 milhões de libras (47,5
milhões de euros ou 49 milhões de dólares) para a recuperação econômica da
Ucrânia pós-guerra.
Zelenski
havia dito anteriormente que ele e Starmer discutiriam ainda a possibilidade de
tropas ocidentais serem estacionadas na Ucrânia para
monitorar um acordo de cessar-fogo, uma proposta originalmente apresentada pelo
presidente francês Emmanuel Macron.
O
Reino Unido é um dos maiores apoiadores financeiros da Ucrânia, tendo oferecido
12,8 bilhões de libras em ajuda militar e civil desde o início da invasão
russa,
há quase três anos. Mais de 50 mil soldados ucranianos foram treinados em solo
britânico.
¨
Ucrânia
está decepcionada com abordagem 'cautelosa' do premiê britânico, diz mídia
A Ucrânia está
desiludida com a abordagem "cautelosa" do premiê do Reino Unido, Keir
Starmer, em relação ao apoio à Ucrânia, enquanto o líder britânico espera
fortalecer sua reputação de "defensor" do país com o anúncio de um
novo pacote de ajuda durante sua visita a Kiev, relatou a agência Bloomberg na
quinta-feira (16).
A agência ressalta que a
administração de Vladimir Zelensky e seus apoiadores estão preocupados com a
abordagem cautelosa de Londres depois que Starmer tomou o poder no Reino Unido.
"Autoridades
próximas a Zelensky expressaram há meses privadamente sua decepção com Starmer,
e acreditam que ele seguiu a abordagem mais cautelosa do presidente
norte-americano Joe Biden em vez de pressionar os aliados a dar à Ucrânia o que
ela precisa para vencer a guerra", afirma a Bloomberg.
Além disso, a
imprensa sublinha que a equipe de Zelensky se
perguntou por que Starmer precisou de mais tempo para visitar a Ucrânia do
que os seus predecessores.
"Starmer
espera que o pacote de ajuda que ele anunciará na quinta-feira (16) vai
fortalecer sua reputação de defensor da Ucrânia", acrescentou a agência.
A Rússia tem afirmado
que o fornecimento de armas à Ucrânia dificulta a negociação de um acordo
de paz e envolve diretamente os países da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) no conflito. O ministro das Relações Exteriores da
Rússia, Sergei Lavrov, observou que qualquer carga contendo armas para a
Ucrânia é um alvo legítimo para a Rússia.
¨
Forças Armadas da
França fizeram treinamentos para possível envio de tropas à Ucrânia, diz mídia
As Forças Armadas
da França realizaram treinamentos no outono europeu de 2024 para se prepararem
para um possível envio à Ucrânia, informou o portal de notícias Intelligence
Online nesta quarta-feira (15).
Forças especiais,
operadores de drones e especialistas em guerra cibernética do Comando
de Forças Especiais do Exército francês foram mobilizados durante uma semana
para testar pessoal e equipamentos, relatou o portal.
Os
exercícios, que envolveram 3.200
soldados,
ocorreram em uma área com topografia semelhante à curva do rio Dniepre, ao
norte de Kiev. Segundo o relatório, a França implementou um cenário de
intervenção na Ucrânia com o objetivo de conter uma suposta ofensiva russa
a partir de Belarus.
Além dos drones
franceses Parrot Anafi MK3, os exercícios também utilizaram drones Mavic
3T da empresa chinesa DJI devido à escassez de quadricópteros táticos no
país. Essa escolha gerou críticas devido à capacidade dos
sistemas chineses de
rastrear informações coletadas.
<><> Discussão
com Zelensky
Recentemente,
o líder ucraniano
Vladimir Zelensky discutiu
com o presidente francês Emmanuel Macron a iniciativa de implantar contingentes
militares na Ucrânia, sua possível expansão e envolvimento de outros
países.
No ano passado, a
agência Reuters informou com referência a um funcionário europeu não
identificado que não há consenso na União Europeia sobre o envio de tropas
estrangeiras para a Ucrânia após o fim do conflito, e em conexão a isso está
sendo considerada a possibilidade de criação de uma coalizão de cinco a oito
países sobre esse assunto.
Segundo Moscou, os
EUA e a OTAN participam diretamente do conflito, não apenas com o envio de
armas, mas também com o treinamento de tropas no Reino Unido, na
Alemanha, na Itália e em outros países.
¨
Alemanha receia que
a divisão para proteger a infraestrutura se torne um 'exército fantasma'
Devido a problemas
logísticos no Bundeswehr, os planos para criar uma quarta divisão, que seria
responsável pela proteção de importantes infraestruturas, ameaça ficar no papel
e os soldados da nova unidade tática não passariam de almas mortas, declarou
Patrick Sensburg, presidente da associação dos reservistas da Alemanha.
Anteriormente, a
agência de notícias DPA, referindo-se ao representante oficial das forças
terrestres do Bundeswehr, informou que uma quarta divisão seria criada no
Exército, sendo responsável pela proteção de
infraestruturas importantes.
Foi relatado que a
unidade seria composta tanto por reservistas como pessoal ativo. A nova
divisão está prevista para estar à disposição até 1º de abril.
"Para [divisão
da] segurança nacional, isso também significa veículos, equipamentos de
comunicação, drones, morteiros e, em particular,
munições. O
país ainda carece de tudo o que é necessário para uma capacidade de
defesa", disse Sensburg em entrevista à Bild.
Segundo
ele, existe um grande risco de que seja criado um
"exército-fantasma", que basicamente só existirá no papel e
nunca realizará exercícios. Em meio a uma
escassez no Bundeswehr em cerca de 20 mil pessoas, Sensburg, cuja associação
inclui até 100 mil reservistas, apelou que todos os esforços sejam direcionados
para o recrutamento de mais pessoal da reserva.
Fonte: Sputnik
Brasil/DW Brasil
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