sexta-feira, 17 de janeiro de 2025


 Aliadas da Ditadura, Globo contratou censores e Folha só apoiou Diretas Já para ganhar mercado

Embora hoje se afirmem como defensores da democracia, o fato é que muitos dos grandes jornais brasileiros estiveram ao lado dos militares que deram o golpe de 1964, e não há ação de marketing capaz de apagar esse passado.

O Grupo Globo, por exemplo, fez editoriais apoiando a ruptura e até contratou censores profissionais para analisar previamente suas produções e evitar problemas com o regime de exceção.

O jornal Folha da Tarde, por sua vez, deu uma guinada à direita após a morte do guerrilheiro Mariguella, e Folha de S. Paulo só se engajou com as campanhas das Diretas Já para cumprir com o objetivo financeiro de abocanhar a fatia do mercado ávida pela abertura democrática.

Essas e outras histórias que revelam como os grandes grupos de mídia se relacionaram com a ditadura militar foram pauta de entrevista do jornalista Luis Nassif com a historiadora Beatriz Kushir, que publicou em 2001 uma tese de doutorado pela Unicamp que aborda o tema, mas que ainda hoje se faz muito atual.

No bate-papo  veiculado no canal do GGN no Youtube na noite de terça (14), Beatriz Kushir avaliou que ainda hoje os donos dos grupos de mídias e alguns jornalistas têm dificuldade de digerir a verdade dos fatos: admitir que as redações faziam até mesmo autocensura para não melindrar a ditadura.

“As empresas de comunicação vão jogar o tempo todo com o Poder que tem no momento, tentando navegar para perder menos anéis possíveis”, disse Beatriz Kushir.

Na semana passada, dois jornais centenários, O Globo e o Estadão, se meteram em uma polêmica por conta da veiculação de uma peça publicitária feita por ocasião de aniversário de 150 anos do Estadão, que dizia que ambos os diários atuaram nas “trincheiras da democracia”, como se jamais tivessem apoiado a ditadura militar.

Pela distorção da verdade, O Globo, que vendeu o espaço publicitário ao Estadão, foi acionado no Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) pelo deputado Ivan Valente (PSOL), que chamou de “escárnio” o fato de que a peça publicitária usou a frase “Ainda estamos aqui”, se aproveitando “cinicamente” do sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, ambientado na ditadura.

“Todo mundo sabe que o Grupo Globo não só apoiou o golpe, como participou das benesses do golpe e foi um dos maiores beneficiários do regime militar da ditadura”, declarou Ivan Valente ao ICL Notícias.

Para Kushnir, o que sobrevive ainda hoje é a defesa, pelos grandes meios de comunicação, de seus próprios interesses.

“Os donos de jornais querem manter controle econômico e social. (…) A gente tem a ilusão de que eles são um quarto poder”, mas na verdade, desde antes da democracia ser reestabelecida, esses jornais só publicam o que os donos querem.

 

¨       A Agenda Antipatriótica da Extrema Direita Brasileira. Por Luiz Henrique Lima Faria

Os representantes políticos da elite do atraso brasileiro, também conhecidos pela alcunha de extrema direita brasileira, têm demonstrado um padrão alarmante de ações que não apenas comprometem a soberania nacional, mas também colocam em risco a estabilidade democrática e econômica do país. Dois eventos ilustram essa agenda antipatriótica: a visita de parlamentares brasileiros ao Capitólio dos Estados Unidos, no início de 2024, pedindo sanções contra o Brasil, e a disseminação de fake news sobre a suposta vigilância do PIX pela Receita Federal, recentemente, no primeiro mês de 2025.

O termo “elite do atraso brasileiro” foi popularizado pelo sociólogo Jessé Souza em sua obra A Elite do Atraso: Da Escravidão à Lava Jato (2017). Descreve uma parcela das elites econômicas e políticas brasileiras que, historicamente, têm operado em benefício próprio, mantendo privilégios às custas do desenvolvimento nacional e da maioria da população. Essa elite atua como um entrave à construção de uma nação mais igualitária, ao perpetuar um modelo socioeconômico marcado pela concentração de riquezas, exploração dos trabalhadores e dependência econômica em relação a potências estrangeiras. No contexto atual, a extrema direita brasileira tem se aliado a essa elite, promovendo interesses alinhados ao neoliberalismo e às agendas internacionais, em detrimento de um projeto nacional soberano e inclusivo.

Essa lógica de aliança entre a elite do atraso e a extrema direita não é recente no Brasil, mas adquire nova dimensão no cenário político contemporâneo. A convergência de interesses entre essas forças revela-se em estratégias que minam o fortalecimento do país como uma nação soberana e inclusiva, ao promover narrativas que justificam a perpetuação das desigualdades e a subserviência a agendas internacionais. Os dois eventos analisados nesse artigo exemplificam como essas ações articuladas se manifestam no presente, reforçando a continuidade de um padrão histórico de compromissos que priorizam a obtenção de privilégios em detrimento do bem-estar popular e da soberania nacional.

Em um ato sem precedentes, em março de 2024, parlamentares alinhados à extrema direita brasileira viajaram aos Estados Unidos com o objetivo de pedir intervenção internacional na política brasileira. A justificativa apresentada, de que o Brasil estaria se afastando dos princípios democráticos, carece de evidências concretas e revela mais um interesse em desestabilizar o governo legitimamente eleito do que uma preocupação genuína com a democracia. Esse pedido ignora os princípios fundamentais de soberania e autodeterminação, colocando interesses ideológicos acima do bem-estar nacional. Além disso, a solicitação de sanções contra o próprio país tem o potencial de gerar repercussões graves, comprometendo a posição do Brasil no cenário internacional, afastando investidores e dificultando relações comerciais.

No ano seguinte, em janeiro de 2025, a disseminação de desinformação sobre o PIX tornou-se outro exemplo de como a extrema direita se utiliza de fake news como uma ferramenta de manipulação. Implementado pelo Banco Central em 2020, o PIX revolucionou o sistema financeiro brasileiro, oferecendo um meio de pagamento rápido, gratuito e eficiente. No entanto, ele foi alvo de uma campanha orquestrada que espalhou boatos alarmistas sobre uma suposta vigilância massiva pela Receita Federal. Essa narrativa, amplamente compartilhada em redes sociais, visava minar a confiança dos brasileiros no sistema financeiro oficial e promover a informalização da economia, prejudicando especialmente pequenos empreendedores e trabalhadores informais.

Nesse contexto, cabe colocar em relevo que a agenda neoliberal, promovida pela extrema direita brasileira, desempenha um papel central na desarticulação das políticas voltadas ao desenvolvimento soberano do país. Sob o pretexto de modernizar a economia e atrair investimentos externos, medidas neoliberais têm sido responsáveis pela privatização de setores estratégicos, desmonte de políticas sociais e enfraquecimento do papel regulador do Estado. Como aponta David Harvey, em sua obra O Neoliberalismo: História e Implicações (2007), o neoliberalismo frequentemente se apresenta como uma solução inevitável para os problemas econômicos, mas na prática opera como um projeto político que consolida o poder das elites econômicas, aprofundando desigualdades e precarizando as condições de vida das populações mais vulneráveis. Ao alinhar-se a interesses financeiros internacionais e negligenciar o fortalecimento das cadeias produtivas nacionais, essa agenda não apenas exacerba os problemas estruturais do país, como também perpetua a dependência econômica em relação a potências estrangeiras, em total descompasso com os objetivos de um projeto nacional soberano.

Sob esse último entendimento, os dois episódios revelam uma agenda antipatriótica articulada, marcada pela submissão ao neoliberalismo e por ataques diretos ao desenvolvimento e à soberania nacional. A visita ao Capitólio simboliza uma grave renúncia à autodeterminação brasileira, ao submeter os interesses nacionais a uma potência econômica estrangeira, enquanto a campanha de fake news contra o PIX compromete uma das mais importantes inovações tecnológicas do país, que democratizou o acesso aos serviços financeiros e beneficiou milhões de brasileiros. Em ambos os casos, a extrema direita expõe seu alinhamento com forças externas em detrimento do fortalecimento do Brasil como nação soberana.

Ao longo de sua história, o Brasil tem enfrentado a ingerência de interesses estrangeiros, frequentemente respaldada pela cumplicidade de elites nacionais que, em troca de privilégios imediatos, não hesitam em sacrificar os interesses populares e a soberania do país. Esse padrão de subserviência crônica não apenas gerou ciclos de desgraça social e econômica, mas contribuiu para materializar e perpetuar desigualdades estruturais que marcam e demarcam a sociedade brasileira. Essa dinâmica, longe de ser superada, permanece ativa, revelando-se em ações que enfraquecem as bases de nossa autonomia política e econômica. Em resposta a esse desafio, é dever das instituições brasileiras e do conjunto da sociedade civil mobilizarem-se para romper com esse ciclo histórico, fortalecendo um projeto nacional que coloque a soberania, o desenvolvimento sustentável e o bem-estar de todo o povo brasileiro no centro de suas prioridades.

Diante desses fatos, torna-se inevitável a compreensão de que a disposição da extrema direita brasileira em promover episódios nitidamente antipatrióticos também está ligada à falta de celeridade das instituições em responsabilizar os mentores e financiadores da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2024. Essa demora alimenta a percepção de impunidade e encoraja a perpetuação de estratégias que desestabilizam o país, abrindo espaço para suas agendas autoritárias de poder.

Para dissuadir a extrema direita de seguir articulando sua agenda nefasta, é fundamental que as instituições democráticas atuem com clareza, estabelecendo limites inequívocos e aplicando sanções exemplares contra aqueles que atentam contra a ordem constitucional. Esse enfrentamento deve ser estratégico, combinando a aplicação rigorosa da lei com medidas que enfraqueçam as bases de mobilização desses grupos, como o combate à desinformação, a interrupção de fluxos de financiamento ilícito e a redução de espaços para práticas antidemocráticas.

Mais do que punir, é necessário criar um ambiente político e institucional que torne inviável a perpetuação de agendas autoritárias. Isso inclui fortalecer a transparência no funcionamento das instituições e assegurar que as respostas do Estado sejam suficientemente robustas para desestimular qualquer tentativa de minar a democracia. A dissuasão, nesse caso, não se limita ao presente, mas deve projetar uma mensagem clara para o futuro: a democracia brasileira é inegociável, e quaisquer esforços para subvertê-la encontrarão uma barreira institucional sólida, eficaz e, dolorosamente, intransigente.

¨       Maioria dos brasileiros acham que Bolsonaro tentou aplicar golpe, segundo pesquisa

De acordo com a pesquisa divulgada nesta quinta-feira (16), a maior parte dos brasileiros (45,6% dos entrevistados) consideram que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da tentativa de golpe de estado, após a última eleição presidencial, em 2022, enquanto 44,4% discordam da hipótese. Os demais 10% não souberam ou não responderam.

A suposta tentativa de golpe visava em impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para tanto, o plano era executá-lo, junto com seu vice Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Vale ressaltar que o Bolsonaro já foi indiciado outras vezes. Entre as acusações estão a participação em organização criminosa no caso das jóias sauditas, que deveriam ter sido incorporadas ao patrimônio do Estado Brasileiro, e a fraude no cartão de vacinação.

A pesquisa abordou cidadãos de todo o Brasil, em que 93,6% dos entrevistados estão cientes que Bolsonaro vem sendo alvo de uma investigação, enquanto, enquanto 6,4% dizem desconhecer o fato. Diante disso, 44,8% consideram a medida justa, já 42,6% não concordam com a investigação ou acham injusta, os demais 12,6% não souberam ou não quiseram responder a pergunta. 

A Paraná Pesquisas entrevistou 2.108 pessoas de 16 anos ou mais em 26 Estados e em Brasília de 7 a 10 de janeiro de 2025. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o intervalo de confiança é de 95%.

 

Fonte: Jornal GGN

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