Aliadas da Ditadura, Globo contratou censores e Folha só apoiou Diretas Já para ganhar mercado
Embora hoje se
afirmem como defensores da democracia, o fato é que muitos dos grandes jornais
brasileiros estiveram ao lado dos militares que deram o golpe de 1964, e não há
ação de marketing capaz de apagar esse passado.
O Grupo Globo, por
exemplo, fez editoriais apoiando a ruptura e até contratou censores
profissionais para analisar previamente suas produções e evitar problemas com o
regime de exceção.
O jornal Folha da
Tarde, por sua vez, deu uma guinada à direita após a morte do guerrilheiro
Mariguella, e Folha de S. Paulo só se engajou com as campanhas das Diretas Já
para cumprir com o objetivo financeiro de abocanhar a fatia do mercado ávida
pela abertura democrática.
Essas e outras
histórias que revelam como os grandes grupos de mídia se relacionaram com a
ditadura militar foram pauta de entrevista do jornalista Luis Nassif com a
historiadora Beatriz Kushir, que publicou em 2001 uma tese de doutorado pela
Unicamp que aborda o tema, mas que ainda hoje se faz muito atual.
No bate-papo veiculado no canal do GGN no Youtube na noite de terça (14), Beatriz
Kushir avaliou que ainda hoje os donos dos grupos de mídias e alguns
jornalistas têm dificuldade de digerir a verdade dos fatos: admitir que as
redações faziam até mesmo autocensura para não melindrar a ditadura.
“As empresas de
comunicação vão jogar o tempo todo com o Poder que tem no momento, tentando
navegar para perder menos anéis possíveis”, disse Beatriz Kushir.
Na semana passada,
dois jornais centenários, O Globo e o Estadão, se meteram em uma polêmica por
conta da veiculação de uma peça publicitária feita por ocasião de aniversário
de 150 anos do Estadão, que dizia que ambos os diários atuaram nas “trincheiras
da democracia”, como se jamais tivessem apoiado a ditadura militar.
Pela distorção da
verdade, O Globo, que vendeu o espaço publicitário ao Estadão, foi acionado no
Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) pelo deputado
Ivan Valente (PSOL), que chamou de “escárnio” o fato de que a peça publicitária
usou a frase “Ainda estamos aqui”, se aproveitando “cinicamente” do
sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, ambientado na ditadura.
“Todo mundo sabe
que o Grupo Globo não só apoiou o golpe, como participou das benesses do golpe
e foi um dos maiores beneficiários do regime militar da
ditadura”, declarou Ivan Valente ao ICL Notícias.
Para Kushnir, o que
sobrevive ainda hoje é a defesa, pelos grandes meios de comunicação, de seus
próprios interesses.
“Os donos de
jornais querem manter controle econômico e social. (…) A gente tem a ilusão de
que eles são um quarto poder”, mas na verdade, desde antes da democracia
ser reestabelecida, esses jornais só publicam o que os donos querem.
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A Agenda
Antipatriótica da Extrema Direita Brasileira. Por Luiz Henrique Lima Faria
Os representantes
políticos da elite do atraso brasileiro, também conhecidos pela alcunha de
extrema direita brasileira, têm demonstrado um padrão alarmante de ações que
não apenas comprometem a soberania nacional, mas também colocam em risco a
estabilidade democrática e econômica do país. Dois eventos ilustram essa agenda
antipatriótica: a visita de parlamentares brasileiros ao Capitólio dos Estados
Unidos, no início de 2024, pedindo sanções contra o Brasil, e a disseminação
de fake news sobre a suposta vigilância do PIX pela Receita Federal,
recentemente, no primeiro mês de 2025.
O termo “elite do
atraso brasileiro” foi popularizado pelo sociólogo Jessé Souza em sua obra A
Elite do Atraso: Da Escravidão à Lava Jato (2017). Descreve uma parcela das
elites econômicas e políticas brasileiras que, historicamente, têm operado em
benefício próprio, mantendo privilégios às custas do desenvolvimento nacional e
da maioria da população. Essa elite atua como um entrave à construção de uma
nação mais igualitária, ao perpetuar um modelo socioeconômico marcado pela
concentração de riquezas, exploração dos trabalhadores e dependência econômica
em relação a potências estrangeiras. No contexto atual, a extrema direita
brasileira tem se aliado a essa elite, promovendo interesses alinhados ao
neoliberalismo e às agendas internacionais, em detrimento de um projeto
nacional soberano e inclusivo.
Essa lógica de
aliança entre a elite do atraso e a extrema direita não é recente no Brasil,
mas adquire nova dimensão no cenário político contemporâneo. A convergência de
interesses entre essas forças revela-se em estratégias que minam o
fortalecimento do país como uma nação soberana e inclusiva, ao promover
narrativas que justificam a perpetuação das desigualdades e a subserviência a
agendas internacionais. Os dois eventos analisados nesse artigo exemplificam
como essas ações articuladas se manifestam no presente, reforçando a continuidade
de um padrão histórico de compromissos que priorizam a obtenção de privilégios
em detrimento do bem-estar popular e da soberania nacional.
Em um ato sem
precedentes, em março de 2024, parlamentares alinhados à extrema direita
brasileira viajaram aos Estados Unidos com o objetivo de pedir intervenção
internacional na política brasileira. A justificativa apresentada, de que o
Brasil estaria se afastando dos princípios democráticos, carece de evidências
concretas e revela mais um interesse em desestabilizar o governo legitimamente
eleito do que uma preocupação genuína com a democracia. Esse pedido ignora os
princípios fundamentais de soberania e autodeterminação, colocando interesses
ideológicos acima do bem-estar nacional. Além disso, a solicitação de sanções
contra o próprio país tem o potencial de gerar repercussões graves,
comprometendo a posição do Brasil no cenário internacional, afastando
investidores e dificultando relações comerciais.
No ano seguinte, em
janeiro de 2025, a disseminação de desinformação sobre o PIX tornou-se outro
exemplo de como a extrema direita se utiliza de fake news como uma
ferramenta de manipulação. Implementado pelo Banco Central em 2020, o PIX
revolucionou o sistema financeiro brasileiro, oferecendo um meio de pagamento
rápido, gratuito e eficiente. No entanto, ele foi alvo de uma campanha
orquestrada que espalhou boatos alarmistas sobre uma suposta vigilância massiva
pela Receita Federal. Essa narrativa, amplamente compartilhada em redes
sociais, visava minar a confiança dos brasileiros no sistema financeiro oficial
e promover a informalização da economia, prejudicando especialmente pequenos
empreendedores e trabalhadores informais.
Nesse contexto,
cabe colocar em relevo que a agenda neoliberal, promovida pela extrema direita brasileira,
desempenha um papel central na desarticulação das políticas voltadas ao
desenvolvimento soberano do país. Sob o pretexto de modernizar a economia e
atrair investimentos externos, medidas neoliberais têm sido responsáveis pela
privatização de setores estratégicos, desmonte de políticas sociais e
enfraquecimento do papel regulador do Estado. Como aponta David Harvey, em sua
obra O Neoliberalismo: História e Implicações (2007), o neoliberalismo
frequentemente se apresenta como uma solução inevitável para os problemas
econômicos, mas na prática opera como um projeto político que consolida o poder
das elites econômicas, aprofundando desigualdades e precarizando as condições
de vida das populações mais vulneráveis. Ao alinhar-se a interesses financeiros
internacionais e negligenciar o fortalecimento das cadeias produtivas
nacionais, essa agenda não apenas exacerba os problemas estruturais do país,
como também perpetua a dependência econômica em relação a potências
estrangeiras, em total descompasso com os objetivos de um projeto nacional
soberano.
Sob esse último
entendimento, os dois episódios revelam uma agenda antipatriótica articulada,
marcada pela submissão ao neoliberalismo e por ataques diretos ao
desenvolvimento e à soberania nacional. A visita ao Capitólio simboliza uma
grave renúncia à autodeterminação brasileira, ao submeter os interesses
nacionais a uma potência econômica estrangeira, enquanto a campanha
de fake news contra o PIX compromete uma das mais importantes
inovações tecnológicas do país, que democratizou o acesso aos serviços
financeiros e beneficiou milhões de brasileiros. Em ambos os casos, a extrema
direita expõe seu alinhamento com forças externas em detrimento do
fortalecimento do Brasil como nação soberana.
Ao longo de sua
história, o Brasil tem enfrentado a ingerência de interesses estrangeiros,
frequentemente respaldada pela cumplicidade de elites nacionais que, em troca
de privilégios imediatos, não hesitam em sacrificar os interesses populares e a
soberania do país. Esse padrão de subserviência crônica não apenas gerou ciclos
de desgraça social e econômica, mas contribuiu para materializar e perpetuar
desigualdades estruturais que marcam e demarcam a sociedade brasileira. Essa
dinâmica, longe de ser superada, permanece ativa, revelando-se em ações que
enfraquecem as bases de nossa autonomia política e econômica. Em resposta a
esse desafio, é dever das instituições brasileiras e do conjunto da sociedade
civil mobilizarem-se para romper com esse ciclo histórico, fortalecendo um projeto
nacional que coloque a soberania, o desenvolvimento sustentável e o bem-estar
de todo o povo brasileiro no centro de suas prioridades.
Diante desses
fatos, torna-se inevitável a compreensão de que a disposição da extrema direita
brasileira em promover episódios nitidamente antipatrióticos também está ligada
à falta de celeridade das instituições em responsabilizar os mentores e
financiadores da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2024. Essa demora
alimenta a percepção de impunidade e encoraja a perpetuação de estratégias que
desestabilizam o país, abrindo espaço para suas agendas autoritárias de poder.
Para dissuadir a
extrema direita de seguir articulando sua agenda nefasta, é fundamental que as
instituições democráticas atuem com clareza, estabelecendo limites inequívocos
e aplicando sanções exemplares contra aqueles que atentam contra a ordem
constitucional. Esse enfrentamento deve ser estratégico, combinando a aplicação
rigorosa da lei com medidas que enfraqueçam as bases de mobilização desses grupos,
como o combate à desinformação, a interrupção de fluxos de financiamento
ilícito e a redução de espaços para práticas antidemocráticas.
Mais do que punir,
é necessário criar um ambiente político e institucional que torne inviável a
perpetuação de agendas autoritárias. Isso inclui fortalecer a transparência no
funcionamento das instituições e assegurar que as respostas do Estado sejam
suficientemente robustas para desestimular qualquer tentativa de minar a
democracia. A dissuasão, nesse caso, não se limita ao presente, mas deve
projetar uma mensagem clara para o futuro: a democracia brasileira é
inegociável, e quaisquer esforços para subvertê-la encontrarão uma barreira
institucional sólida, eficaz e, dolorosamente, intransigente.
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Maioria dos
brasileiros acham que Bolsonaro tentou aplicar golpe, segundo pesquisa
De acordo com a
pesquisa divulgada nesta quinta-feira (16), a maior parte dos brasileiros
(45,6% dos entrevistados) consideram que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
participou da tentativa de golpe de estado, após a última eleição presidencial,
em 2022, enquanto 44,4% discordam da hipótese. Os demais 10% não souberam ou
não responderam.
A suposta tentativa
de golpe visava em impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva (PT). Para tanto, o plano era executá-lo, junto com seu vice Geraldo
Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF).
Vale ressaltar que
o Bolsonaro já foi indiciado outras vezes. Entre as acusações estão a
participação em organização criminosa no caso das jóias sauditas, que deveriam
ter sido incorporadas ao patrimônio do Estado Brasileiro, e a fraude no cartão
de vacinação.
A pesquisa abordou
cidadãos de todo o Brasil, em que 93,6% dos entrevistados estão cientes que
Bolsonaro vem sendo alvo de uma investigação, enquanto, enquanto 6,4% dizem
desconhecer o fato. Diante disso, 44,8% consideram a medida justa, já 42,6% não
concordam com a investigação ou acham injusta, os demais 12,6% não souberam ou
não quiseram responder a pergunta.
A Paraná Pesquisas
entrevistou 2.108 pessoas de 16 anos ou mais em 26 Estados e em Brasília de 7 a
10 de janeiro de 2025. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o
intervalo de confiança é de 95%.
Fonte: Jornal GGN
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